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28 - Verdade inevitável


Gael estava vidrado na reportagem da manhã se sábado, ainda de pijama, com o cabelo todo bagunçado. Encaixava-se tão facilmente ali que parecia sempre ter feito parte.

Aparentemente uma falha mecânica tinha gerado um curto-circuito que culminou no incêndio que se alastrou do quadro de energia para o restante do parque de diversões. Três pessoas estavam em estado crítico no hospital.

Boatos de criaturas estranhas foram relatados, mas nenhuma prova fora encontrada.

— O que eu fiz? — deu as costas ao aparelho e se sentou na bancada da cozinha.

— Não foi sua culpa. — desliguei a televisão e fui até ele.

— Não foi? — as esmeraldas estavam quebradas de tristeza, embora os lábios sorrissem. — Quase deixei você morrer.

— Você salvou a minha vida.

— Mas a coloquei em perigo primeiro. Os amnatos estavam lá porque eu estava lá. Você não precisava estar com medo porque nunca deveria ter visto aquilo. Ninguém teria se ferido se eu estivesse longe.

Um medo totalmente novo esfriou o meu corpo como uma pedra de gelo.

— O que está tentando dizer?

— Que a minha presença é uma ameaça para você.

Lutei para manter a respiração sob controle e não começar a ofegar.

— Nunca imaginei que viriam até este mundo. — Gael olhou no fundo dos meus olhos se recriminando. — Eu deveria ter notado a aproximação deles, mas estava distraído e só percebi quando já era quase tarde demais. Você ficaria mais segura se eu me afastasse.

As minhas mãos estavam tremendo, agarrei a barra da blusa para controlá-las.

— Por que estavam atrás de você?

— Por que sou um desertor. Aquelas bestas são os caçadores mais exímios de todo o mundo natural, eles podem seguir qualquer rastro, em qualquer lugar. São usados no nosso treinamento. Uma jaula fechada, dois oponentes. Só um sai. Ninguém ensina tão bem como a morte do que você é capaz. Eu me transformei em inimigo e por isso vieram atrás de mim. Estou expondo-a a perigos que sequer lhe passam pela cabeça.

O pensamento que enchia a minha mente ameaçava destruir o meu coração.

— Isso é um adeus? — nunca tive tanto medo de fazer uma pergunta.

Ele correu as duas mãos pelo cabelo com aflição e desespero. Soltou um suspiro profundo e angustiado.

— Não. — o verde dourado me encarava sem armaduras. — Amenos que me peça. E você realmente deveria me pedir para ir.

E mesmo depois do horror da noite passada e do relato que ele acabava de fazer, eu tinha muito mais medo de perdê-lo do que de me arriscar.

— Me peça para ir. — falou sério.

— Fica. — isso era uma verdade e também uma loucura.

— Não estou brincado, Alma.

— Fica.

O rosto se contorceu num sinal claro de desagrado. Não era o que ele queria ouvir.

— Você não é normal. — Gael tentou me repreender.

— Falou o cara que tem uma tatuagem que sai das costas e vira asa.

O olhar dele mudou.

— Está me insultando, carissimi? — um sorriso com malícia. — Devia pedir para esse cara estranho desaparecer da sua vida. — apoiou as mãos sobre o balcão, uma em cada lado do meu corpo.

— Fica comigo, estranho.

— Onde está a sua autopreservação?

— Você vai cuidar bem de mim.

— Posso defendê-la de muitas coisas, mas eu preciso me concentrar... — ele me beijou no pescoço. — e você me distrai. Porque é muito mais gostoso olhar para você do que para as sombras. É muito mais gostoso me concentrar nos seus traços do que no de qualquer outra criatura. — o hálito quente brincando na minha garganta. — É muito mais gostoso sentir o seu cheiro, procurar os seus rastros e seguir as pistas que você deixa nas coisas que toca.

A boca dele cobriu a minha em um convite irresistível. Mãos fortes me ergueram pelas coxas e me sentaram sobre o balcão. Absorvi o calor da sua nuca exposta, meus sentidos saboreando cada gosto, cada toque, cada cheiro.

O timer do forno apitou. Gael aspirou profundamente o cheiro dos meus cabelos.

— Está particularmente linda esta manhã.

— É porque já tirei o pijama. — dei-lhe um cutucão na barriga.

Ele se curvou e levando as mãos ao abdome instantaneamente. O corte!

— Desculpa!

— Acho melhor... — ele gemia — trocar o curativo.

Corri até o armário de remédios. Ele se jogou no sofá com uma careta horrorosa. O meu coração se apertou com o sofrimento dele.

Puxei o esparadrapo, o abdome dele se contraiu ao meu toque.

— Está doendo?

— Não exatamente.

Como assim? Não exatamente?!

Me concentrei outra vez no machucado. Sem sinal de infecção. Não era para doer como ele demonstrava. Passei uma solução iodada sobre a ferida e reparei em cicatrizes antigas as quais a nova se juntaria.

— Pronto.

— Ainda está doendo. — Gael fez outra careta. — É melhor passar mais um pouco disso aí.

— Mas não serve para dor.

— Não custa tentar.

Não discuti. E se o problema fosse interno?

— Vamos ao hospital. — prendi uma gaze nova com esparadrapos.

Ele pousou a mão sobre a minha, espalmando-a sobre o curativo.

— Seus cuidados serão o suficiente. — encontrei um semblante de pura satisfação.

— Não está doendo tanto assim, está? — perguntei desconfiada. O riso brincou no canto da boca. — Seu miserável! — cuspi com ódio enquanto ele ria. Peguei uma almofada e joguei na cara dele.

— Foi lindo ver como se importa.

— É claro que me importo!

— Quanto?

— Muito.

— Muito quanto? — o verde ouro se aproximava, inquiridor e exigente.

— Muito mais do que deveria! — eu o empurrei para longe, é preciso alguma distância para manter a lucidez! — Vá se trocar! Já!

Passamos o dia todo jogados no sofá. Os meus pais só chegariam no dia seguinte, então ele ficou mais uma noite.

Deitado ao meu lado, no espaço pequeno da cama de solteiro, Gael adormeceu em um instante. Meus lábios sussurraram, uma verdade que o meu coração não foi valente o suficiente para evitar:

— Eu te amo.

Olá, olá! Espero que tenham gostado, é meloso, eu sei, mas eu adoro! kkkkkk

No próximo capítulo vou apresentar a vocês um personagem que eu amei escrever e que trará à nossa protagonista uma revelação. Como será que a Alma vai reagir ao descobrir sobre sua própria origem?

Bjos e até lá!

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