Num belo dia de inverno - minha estação preferida - Jonas veio até minha casa. Ele parecia preocupado, e tenso, mas não deixou de ser cuidadoso comigo.

  - Precisamos conversar, Zoe.

  - O que aconteceu? - Perguntei, já pensando em coisas terríveis.

  - Antes eu quero que você saiba que eu te amo, e vou te amar sempre, não importa o que aconteça. - Dizia ele, segurando as lágrimas. - E que eu não quero te perder. - Ele se aproximou, segurou minhas mãos entre as dele.

  - Fala logo, Jonas. - Eu já estava ficando aflita, desesperadamente aflita.

  - É a editora. Eles querem me mandar pro outro lado do estado pra fazer uma divulgação com um autor novo que emplacou um best seller. - Disse ele, quase sem respirar. - Duraria meses.

  - Entendo. - Foi a única palavra que saiu da minha boca. Embora minha mente gritasse para ele ficar, aquele emprego era o sustento dele. Eu não podia ser egoísta a esse ponto.

  - Eu disse que não iria, que não podia te deixar, mas... - Uma lágrima rolou pelo seu rosto. - Eles me demitiriam se eu não fosse, e eu não posso perder esse emprego, você sabe! Me perdoa!

Meu coração parou de bater naquele momento (metafóricamente, claro). Eu não consegui chorar. Algo em mim se fechou ali, eu parei de sentir. Entrei em estado de choque, ou algo do tipo. Ele me chamava, me chacoalhava, mas eu não conseguia responder. Não sei por quanto tempo fiquei ali parada, mas sei que algo se quebrou dentro de mim naquele momento.

Eu entendia suas razões, mas não podia evitar a dor de perdê-lo. E eu sabia que aquele era o fim. Eu sentia que ele me amava, e que queria ficar, mas também sentia que aquele fardo era pesado demais pra ele. E eu queria vê-lo feliz, ainda que não fosse comigo.
Ele foi. Eu passei semanas afundada em mim mesmo, perdida em meio às lembranças. Não conseguia chorar, mas estava despedaçada por dentro, e sem forças para me recompor.

Chega uma hora que perder cansa, e eu estava cansada de perder. Deus sabe como eu me sentia, e a raiva que estava crescendo dentro de mim. Raiva de mim mesmo, por não conseguir me levantar; por ter me tornado aquele ser inútil, e sozinho. Raiva por não ser mais forte. E quando tudo isso estava me queimando por dentro, eu chorei. As lágrimas queimavam meus olhos, e minha garganta doía num grito silencioso.

Eu finalmente estava de volta. Sentindo tudo à flor da pele; sorrindo ao ver a chuva cair, chorando ao ver um filme triste; SENTINDO.

As memórias daquele amor me fortalecem, e eu me sinto privilegiada por ter tido um amor assim. São sentimentos que nunca morrem de verdade. E, de repente uma brisa te leva de volta àquele passeio na praia, uma canção te faz lembrar aquela noite de amor, e você sorri. Sorri porque amou, e porque foi amada na mesma medida.

E isso não há dinheiro no mundo que pague!