Jonas me compreendia como ninguém, e nós vivemos dias de pura poesia.

Mas nem ele era capaz de diminuir a escuridão. Após sete meses sem trabalhar, o sentimento de inutilidade estava me sufocando, e a depressão começou a governar meus dias. Eu parei de sair de casa, meu mendiga style estava de volta, e eu não tinha mais vontade de viver.

Parece radical quando eu falo sobre escuridão, mas é a única palavra capaz de descrever o grande nada que habita a minha mente as vezes. E é sofrido culpar-se pelo sofrimento das pessoas que te amam enquanto você tá morando nesse grande nada.

Jonas sofreu, assim como minha mãe. Mas eu não tinha forças pra fazer nada, além de esperar aquilo passar. E sempre passa.

  - Como você está se sentindo hoje? - Perguntou o médico.

  - Dolorida. - Respondi. - Estou com muita dor nas costas, e meus braços estão fracos. E tenho sentido falta de ar também.

  - Você tem caminhado? Anda dentro de casa, ajuda nas tarefas?
  - Não tenho feito muita coisa esses dias. Tenho passado muito tempo deitada. Tô muito cansada.

  - Então, essas dores estão sendo causadas pela falta de movimentação. Depois de um certo tempo deitada, é normal que se sinta fraca quando levanta. - Explicou o médico. - Você precisa encontrar alguma atividade para movimentar um pouco seu corpo durante o dia.

Após mais algumas instruções, a consulta terminou e eu pude voltar pra casa. Odiava sair. A claridade, as pessoas, o barulho, tudo me irritava. Esses eram dias de reclusão total. Dias em que eu evitava ao máximo responder perguntas de qualquer natureza, ou desenvolver qualquer tipo de diálogo com qualquer pessoa. O silêncio era meu melhor amigo nesses momentos, e era uma bênção quando eu conseguia ficar sozinha.

Eu me sentia muito mal por Jonas. Ele estava sempre comigo, e eu nem sempre estava de fato ali. Mas ele me fazia ter forças pra lutar, e sempre que eu melhorava, meus dias eram dedicados à fazê-lo sorrir, e recompensar todas as noites que ele me acalmou quando eu tive pesadelo, ou que ficou acordado comigo enquanto eu tremia de medo do nada!

Uma das lembranças mais doces das que colecionamos foi um dia de chuva, que passamos embaixo das cobertas, assistindo TV. Naquele dia passou "Curtindo a Vida Adoidado". Um clássico que nós dois amamos. A presença dele ali naquele dia foi além do físico, foi como compartilhar meu coração. Esses momentos simples são o que me mantém viva por dentro. O poder de uma boa lembrança jamais deve ser subestimado. (Harry Potter que o diga!)