Capítulo Vinte e Sete
Dylan Watson:
Na manhã seguinte, acordei com calma, sem pressa. Era um daqueles dias em que eu queria que o tempo passasse devagar, permitindo que eu me recuperasse mentalmente do turbilhão de emoções do dia anterior. Fiz minhas tarefas matinais de forma quase automática – escovar os dentes, preparar o café, organizar a bagunça do apartamento. Quando finalmente me sentei, decidi dar uma olhada no grupo da família, apenas para ver se havia alguma atualização sobre os planos do dia.
E claro, minha mãe já estava sendo... ela mesma.
Ela tinha mandado uma mensagem animada, sugerindo que Vincenzo e Mark fossem beber com ela de novo. Ah, não... Pensei automaticamente. Vincenzo já tinha mencionado o quão "divertida" minha mãe podia ser depois de algumas doses, mas eu sabia que aquilo era apenas o começo. Agora, parecia que havíamos liberado um monstro sem igual.
Logo em seguida, minha irmã Bianca, sendo a voz da razão como sempre, respondeu dizendo que mamãe precisava dar uma acalmada na bebida ou iria passar mal de novo, lembrando o episódio da última vez. **Grande erro.** Aquela única mensagem foi o suficiente para acender a fúria de Tereza Watson. Minha mãe era conhecida por não aceitar bem qualquer forma de crítica, mesmo quando era construtiva e dita com carinho. E claro, não demorou para que a troca de mensagens se transformasse em um verdadeiro campo de batalha virtual.
Minha mãe começou a mandar várias mensagens de puro orgulho ferido, defendendo sua capacidade de beber como se fosse um superpoder inquestionável. Bianca, mantendo a calma que eu sabia que ela estava forçando, tentava manter a conversa racional, o que, francamente, era quase inútil diante do furacão emocional que minha mãe se tornava nesses momentos. Eu, claro, me vi no meio, tentando ser o mediador. Sempre me metia nessas discussões familiares com a esperança, geralmente infundada, de conseguir manter a paz.
— Mãe, não é nada pessoal. A gente só se preocupa, sabe? — Mandei, tentando jogar água na fervura.
Minha tentativa de ser o pacificador pareceu ter um efeito momentâneo. Meia hora depois, minha mãe finalmente mandou uma mensagem de "desculpas", embora cheia de orgulho ferido. Ela admitiu que podia ser um pouco teimosa, mas, claro, não sem uma ameaça dramática no final: "Da próxima vez que um de vocês tentar me julgar assim, vão se arrepender de ter nascido."
Suspirei, balançando a cabeça. Clássica Tereza Watson.
Sentei-me na beira da cama, rindo sozinho da ironia da situação. Mesmo nesses momentos caóticos, havia algo profundamente familiar e reconfortante no jeito como minha família funcionava. Disfuncional? Sem dúvida. Mas, de alguma forma, fazíamos tudo funcionar. Sabia que, apesar das brigas e das ameaças dramáticas de "arrependimento por ter nascido", no fundo, tudo acabaria em risadas e reconciliação – geralmente com minha mãe sugerindo outro encontro para beber, como se nada tivesse acontecido.
Olhei para o relógio. Ainda havia bastante tempo até a visita ao Senhor Henke. Decidi responder a Vincenzo para confirmar os planos do dia e mandar um aviso brincalhão para ele sobre o "convite" da minha mãe para beber mais tarde. Ele teria que se preparar emocionalmente para isso, especialmente se Mark também estivesse envolvido.
Suspirei de novo, desta vez com um sorriso, e levantei para continuar o dia. A bagunça familiar era uma constante, mas, de alguma forma, era exatamente o que me mantinha ancorado.
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Quando finalmente a tarde chegou, Vincenzo, eu e os gêmeos nos preparamos para a visita ao Senhor Henke. Mantenho o destino em segredo deles, o que fez surgir olhares curiosos e ansiosos enquanto subíamos no carro. Dei instruções apenas para Vincenzo, que, no volante, seguia sem questionar muito, mas com um sorriso de leve, apreciando o mistério. Quando chegamos ao local, a expressão de surpresa de todos era palpável.
Descemos do carro e os três – Vincenzo, Bonnie e Stephen – me encararam com uma mistura de curiosidade e espanto. Não consegui conter a risada ao ver suas expressões. Acenei para os funcionários do hotel, que me cumprimentaram educadamente enquanto passávamos pelo amplo e elegante pátio do Hotel Imperador. As flores estavam em plena floração, e a brisa suave carregava o perfume floral que preenchia o ar. Era um cenário quase de conto de fadas, mas mal tive tempo de apreciar a paisagem.
A cena que se desenrolava à minha frente me fez parar e piscar várias vezes, confuso. Sob uma árvore majestosa, com a luz dourada do fim da tarde criando uma moldura quase romântica, vi duas silhuetas que me eram bastante familiares. Minha mãe... e o Senhor Henke?
— Johny... — A voz suave da minha mãe flutuou pelo ar, me atingindo com surpresa. Ela estava envolta nos braços do Senhor Henke, descansando a cabeça em seu peito com uma intimidade que eu nunca imaginaria presenciar.
Henke parecia um pouco hesitante, e depois de um momento, ele a afastou delicadamente, como se ainda estivesse avaliando a situação.
Quando minha mãe finalmente notou nossa presença, rapidamente se escondeu atrás dele, tentando agir como se nada estivesse acontecendo. Mas o choque em meu rosto e o de Vincenzo dizia tudo.
— Vocês se conhecem? E ainda estão... namorando? — Perguntei, a descrença evidente na minha voz.
Minha mãe, sempre tão despreocupada, acenou com a mão como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
— Começamos a sair antes dele viajar e, bom, fomos nos conhecendo melhor. Ele me contou bastante sobre seus treinamentos, filho.
— Só não quis contar por saber que você escondeu coisas de mim — ela disse, piscando com uma atitude que só piorava meu espanto.
— Esconder? Eu só escondi que estava treinando! — Retruquei, cruzando os braços com indignação. — Você escondeu uma relação inteira de mim e da Bianca!
— Ah, uma coisa não anula a outra, querido. — Minha mãe rebateu com um sorriso despreocupado, ignorando completamente meu choque.
Bonnie e Stephen passaram por mim, indo diretamente até minha mãe, totalmente indiferentes ao drama que se desenrolava.
— Como estão essas duas fofuras? — Minha mãe perguntou, sua atenção voltando-se imediatamente para os gêmeos.
— Muito bem, tia Tereza! — Bonnie disse com um sorriso delicado, sempre a educada da dupla.
Stephen, por outro lado, deu de ombros. — Bem... esse lugar é bem grande. Deve ser caro.
— Stephen! — Vincenzo exclamou, pegando o filho pelo ombro e lhe dando um leve apertão. — Desculpe por ele, Tereza.
— Sem problemas, meu jovem. — O Senhor Henke respondeu calmamente, um leve sorriso em seu rosto, como se estivesse curtindo toda aquela confusão. — Vamos começar em breve. Só estamos esperando o restante do pessoal.
Enquanto ele falava, me virei para ver Bianca e Mark chegando, suas expressões de surpresa refletindo a minha. Bianca, ao ver nossa mãe abraçada com o Senhor Henke, mal conseguia esconder sua descrença. Ela parou abruptamente, os olhos arregalados.
— Mãe, desde quando a senhora tem um namorado? — Bianca perguntou, incrédula. Eu quase podia ver sua cabeça tentando processar a cena.
Minha mãe, sem perder o bom humor, soltou uma risada divertida.
— Ah, estamos namorando há alguns meses, mas mantive segredo de todos. — Ela piscou para nós, como se fosse uma adolescente confessando uma travessura. — Posso estar velha, mas ainda dou pro gasto, meus filhos! — disse, puxando o Senhor Henke para mais perto, com uma expressão de pura diversão. Para completar o espetáculo, ela deu um tapinha na bunda dele.
Bianca e eu ficamos completamente horrorizados. Eu podia sentir meu rosto esquentando de constrangimento, enquanto Vincenzo rapidamente tapava os olhos das crianças. A reação de Mark foi imediata; ele riu nervosamente, puxando a mim e Bianca para longe da visão do casal apaixonado.
— Acho que estamos testemunhando algo que não era pra ser visto... — Mark murmurou, ainda rindo da nossa evidente mortificação.
Caminhamos juntos em direção à entrada do hotel, tentando processar tudo o que havia acontecido. Minha mente estava a mil, mas no fundo, eu não podia deixar de sentir uma mistura estranha de felicidade e choque. Minha mãe estava namorando o Senhor Henke. Minha vida definitivamente nunca seria normal.
Ao menos, pensei enquanto entrávamos no hotel, essa seria uma história interessante para contar para Vincenzo e os gêmeos.
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Sentados à mesa, a atmosfera estava aconchegante. O chá foi servido para os adultos e chocolate quente para as crianças, junto com uma generosa bandeja de biscoitos que rapidamente capturou a atenção dos gêmeos. Enquanto eles mordiscavam os doces, eu sabia que era a oportunidade perfeita para abordar a questão mais intrigante do dia.
— Então, podemos ir direto ao ponto sobre essa... relação de vocês dois? — Bianca perguntou, com uma mistura de curiosidade e leve incredulidade. — Como vocês se conheceram?
Minha mãe, sempre calma, explicou com um olhar casual, mas havia uma pontada de julgamento na sua voz, como se eu tivesse cometido algum tipo de erro.
— Foi num dia em que eu estava no mercado. Eu esbarrei nele, e ele estava conversando com alguém por mensagem, que por acaso era o seu irmão, Dylan. — Ela fez uma pausa e sorriu de leve, como se estivesse se divertindo com a confusão. — Comecei a segui-lo discretamente e acabei vendo Johnny e Dylan conversando e depois... treinando artes marciais.
O choque foi imediato. Eu podia sentir os olhares surpresos de Bianca, Mark e Vincenzo fixos em mim, e uma onda de calor subiu ao meu rosto. Como assim ela me seguiu?. Antes que eu pudesse reagir, minha mãe soltou uma risada divertida, o que só fez aumentar a curiosidade dos gêmeos, que nos observavam entre mordidas de biscoitos.
O Senhor Henke, sempre sereno, acrescentou sua parte da história.
— Um dia, Tereza veio até mim e perguntou sobre tudo. Expliquei calmamente que estava treinando Dylan em lutas há um bom tempo. Ela ficou fascinada em saber mais sobre esse lado do filho que não conhecia. E a partir daí... bom, quando não estávamos treinando ou trabalhando nas minhas instituições, estávamos juntos. Conversando, saindo... e, com o tempo, me apaixonei por essa mulher incrível. — Ele pegou a mão da minha mãe sobre a mesa, com um sorriso sincero.
Bianca, ainda surpresa, exclamou:
— Isso explica por que você estava tão feliz ontem à noite e nem ligou para o jantar. Estava ocupada pensando no seu namorado!
Minha mãe olhou diretamente para mim, os olhos brilhando com sinceridade.
— Dylan, sei que você sabe se cuidar, e depois de ontem, com Vincenzo, tenho certeza de que ele é a escolha certa para você. — Ela fez uma pausa e olhou para Bianca. — Assim como eu sei que vocês dois, minha filha, também são capazes de se cuidar. Tendo dois homens maravilhosos ao lado de vocês, fico em paz.
O sorriso dela era sincero, e por um momento, vi uma vulnerabilidade que raramente mostrava. Ela amou meu pai profundamente, isso era claro para todos nós. E desde que ele faleceu, parecia que parte dela havia se perdido também. Ver minha mãe encontrando alguém, alguém como o Senhor Henke, trazia um calor inesperado ao meu coração.
— Dylan, Bianca, sinto muito por termos mantido isso em segredo. Não era nossa intenção — disse o Senhor Henke, com um tom humilde.
— Não só em segredo... mas namorar de verdade! — Minha mãe soltou, rindo. — Vocês estão reagindo como se fosse a coisa mais louca que já viram! — Ela deu de ombros, brincando. — Amei o pai de vocês e fui fiel a ele. Ele sempre será meu primeiro amor, mas esperei tempo demais para sair e conhecer alguém novo. E, mesmo que vocês não concordem, isso não muda o que eu quero. Sou uma mulher adulta e sei o que estou fazendo.
Mark e Vincenzo trocaram olhares e soltaram risadinhas, o que fez com que Bianca e eu tivéssemos que bater discretamente nos dois.
— Mãe, você não precisa se preocupar com o que estamos pensando — Bianca disse com um sorriso afetuoso. — O importante é que você está feliz.
Eu assenti, sentindo meu coração mais leve. — Verdade. Você merece ser feliz depois de tudo que passou cuidando de nós. E saber que o Senhor Henke é essa pessoa só me deixa mais tranquilo. Ele é como um herói para mim, e ver vocês dois juntos é incrível.
Minha mãe riu, mas o Senhor Henke ficou visivelmente emocionado, coçando a nuca de forma envergonhada. — Dylan, assim você vai me deixar sem jeito.
Foi então que ele estalou os dedos, e de repente, homens de terno começaram a entrar na sala, carregando pilhas de presentes.
— Como sua mãe mencionou que você e sua irmã estão grávidos, pensei que seria apropriado trazer alguns presentes para os bebês — ele explicou, enquanto os presentes começavam a ser empilhados ao nosso redor. Eu e Bianca ficamos boquiabertos.
— Isso é... é muita coisa — Bianca murmurou, claramente impressionada com a generosidade.
— E não só isso — Senhor Henke continuou. — Também soube dos gêmeos de Vincenzo, então trouxe alguns presentes para eles também.
Os gêmeos, que já estavam vidrados nos pacotes ao redor, agora estavam completamente hipnotizados.
— Olha, Stephen! — Bonnie exclamou, com um brilho nos olhos enquanto pegava um dos pacotes e o balançava animadamente. — Isso é para nós!
Stephen, sempre o prático, abriu um sorriso enquanto começava a rasgar um dos embrulhos, já curioso para descobrir o que havia dentro.
Vincenzo, com um sorriso genuíno, me olhou com admiração.
— Isso é... muito generoso, Senhor Henke. Obrigado.
Eu apertei a mão de Vincenzo, sentindo o calor e o amor no gesto.
— É um pouco demais — ele sussurrou, mas antes que ele pudesse continuar, os olhos das crianças brilharam, e eu sabia que eles já estavam encantados com os presentes.
— Tudo bem, você venceu. — Ele sorriu, aceitando o momento.
— Estamos muito gratos, Senhor Henke — falei, tentando processar a generosidade do homem. — Você não precisava fazer isso, mas obrigado. De verdade.
Ele sorriu para mim, com os olhos calorosos e uma expressão de pura ternura.
— Dylan, Bianca, Vincenzo... tudo o que eu quero é o melhor para vocês. Vocês são uma família maravilhosa, e eu me sinto abençoado por fazer parte disso.
Minha mãe assentiu, os olhos brilhando com orgulho.
— Estamos todos juntos nisso. E é assim que vai ser de agora em diante.
Olhando para a sala, para os risos das crianças e a felicidade nos rostos de todos, senti meu coração transbordar de gratidão. Estávamos, de fato, começando um novo capítulo. E com pessoas tão incríveis ao nosso lado, sabia que essa jornada seria repleta de amor, desafios e, acima de tudo, união.
Com um sorriso largo, mergulhei naquele momento, sabendo que estávamos prontos para enfrentar o que viesse, com a certeza de que, juntos, sempre encontraríamos o caminho certo.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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