Capítulo Vinte e Quatro
Vincenzo Alves:
Saímos da casa da Dona Tereza, e Dylan me deixou em casa, prometendo que voltaria assim que estacionasse o meu carro. Entrei no apartamento, acompanhando os gêmeos que corriam animados para seus quartos, animados com a visita de Liz e, claro, do cachorro Biscoito, que era sempre o centro das atenções.
Isadora estava com eles, mas quando nossos olhares se encontraram, havia algo diferente em sua expressão. Uma certa dúvida que me deixou alerta.
— O que você descobriu? — perguntei, direto, sentindo meu estômago revirar. Algo não estava certo, e a forma como Isadora hesitou antes de responder só piorou a sensação.
— Bem... foi o Demitre quem descobriu — ela começou, coçando a nuca, um claro sinal de nervosismo. — Tem algo a ver com a Lilly e os esquemas dela. Parece que a família Montgomery está financiando o esquema dela.
Aquelas palavras atingiram como um soco no estômago.
— A família Montgomery está fazendo o quê? — gritei, incrédulo. Isadora me lançou um olhar culpado antes de me entregar uma pilha de papéis.
— Eles estavam financiando, pelo menos — ela disse, com cuidado. — Agora, não sei até que ponto eles têm conhecimento do que ela está fazendo de fato.
Soltei um palavrão antes que pudesse me segurar. A família Montgomery, uma das mais influentes, financiando os esquemas da Lilly... Isso complicava tudo.
— Precisamos descobrir até onde eles sabem das coisas — falei, minha mente já a mil, considerando todas as possibilidades.
Isadora assentiu, mas seu rosto mostrava que ela tinha mais a dizer.
— Bem, temos um jeito de descobrir o que eles sabem. Você conhece a filha da família Montgomery, Emily, certo? Demitre acha que podemos colocar uma escuta no telefone dela. Assim, conseguimos todas as informações que ela possa ter.
Suspirei, esfregando o rosto com as mãos.
— E querem usar o Dylan como bode expiatório para pegar o celular dela e grampear — concluí, sabendo exatamente onde essa conversa estava indo.
Isadora me olhou com seriedade. — Isso seria feito da forma mais discreta possível, claro. Mas, se conhece o Demitre, ele provavelmente já está pensando em outras soluções para isso.
Balancei a cabeça.
— Façam isso de outra maneira. Não vou envolver o Dylan nesse esquema. Se algo der errado, pode ser a pior coisa do mundo. — A ideia de colocar Dylan no meio disso me deixava nauseado. Ele não merecia ser arrastado para os segredos obscuros da minha família, pelo menos não dessa maneira.
Isadora suspirou, mordeu o lábio, mas acabou concordando.
— Entendo. Mas, eventualmente, Dylan vai precisar saber do seu trabalho... e de tudo o que envolve sua família.
Seu olhar me dizia mais do que ela falava. Tudo o que envolve a Lilly. E Bela.
Bela, a menina que meu irmão Pedro adotou, que todos nós descobrimos ser um clone da nossa mãe. Aquela história ainda me perturbava. Lilly tinha feito isso por alguma razão que ninguém entendia completamente, e quando Bela começou a mostrar sinais de rebeldia, Lilly a descartou como se fosse algo descartável. Era nojento.
— Eu vou contar tudo a ele na hora certa — falei, mais para me convencer do que para tranquilizar Isadora.
Ela me olhou com compreensão, seu sorriso era um misto de apoio e paciência.
— Vou entender. Mas você sabe que terá que contar a ele em algum momento.
Eu não queria admitir, mas ela estava certa. Dylan teria que saber de todos os segredos eventualmente.
— Eu vou contar — repeti, tentando parecer mais decidido. — Não precisa se preocupar com isso agora. Vou deixar fluir.
Isadora deu de ombros, um sorriso doce no rosto.
— Faça aos poucos, então. Mostre seus sobrinhos, irmãos, e depois... bem, depois você pode ir revelando as grandes bombas.
Antes que eu pudesse responder, ouvi um latido, e Biscoito estava brincando animadamente com as crianças no corredor. As risadas deles enchiam a casa de vida, me acalmando um pouco, mesmo com o turbilhão de pensamentos que giravam na minha cabeça.
O celular de Isadora vibrou, e ela olhou rapidamente para a tela.
— Parece que minha mãe quer que eu vá para a agência agora. Demitre e Helena já estão lá. — Ela se aproximou, colocando a mão no meu ombro. — Você deveria descansar um pouco. Daqui a pouco, Dylan estará de volta para ver como você e as crianças estão.
Eu dei um meio sorriso, ainda sentindo a leve ressaca.
— Estou só com um pouco de dor de cabeça — falei, mas acabei me jogando no sofá, sentindo o cansaço tomar conta.
Isadora soltou uma risada enquanto se dirigia à porta. — Aproveite para relaxar — disse, antes de sair, deixando-me com meus pensamentos.
Olhei para o teto, ouvindo ao fundo as risadas das crianças e o som alegre de Biscoito correndo pelo apartamento. Aquela era a minha vida agora. Uma mistura de caos, amor e, claro, segredos perigosos.
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As risadas das crianças ecoavam pela sala, e eu imediatamente reconheci a voz de Dylan no meio delas. O som era caloroso, cheio de alegria, e me deu uma sensação de conforto, sabendo o quanto eles estavam se divertindo juntos.
— Tio Dylan, agora você e meu pai vão ser namorados? — perguntou Bonnie, com aquela inocência desconcertante que só as crianças têm. Ouvi a risada de Dylan em resposta.
— Vamos ser seus enteados? Isso vai ser fantástico! — completou Stephen, sempre animado com suas ideias malucas.
— Bem, seremos namorados se ele me pedir, ou se eu fizer o mesmo com ele — respondeu Dylan, sua voz soando tranquila, mas cheia de significado.
Liz, sempre mais observadora, não deixou passar. — Está dizendo que você e o tio Vincenzo são um casal?
— Certamente podemos dizer que somos algo mais do que amigos — Dylan respondeu calmamente, e foi nesse momento que ele percebeu que eu estava observando. Nossos olhares se cruzaram por um breve instante, e eu pude ver a sinceridade em seus olhos.
Os quatro, as crianças e Dylan, estavam agora em cima de mim, e foi Bonnie a primeira a notar.
— Papai já acordou! — exclamou ela, com aquele entusiasmo infantil. — O tio Dylan disse para não te acordar até você se sentir melhor.
— Na verdade, estou me sentindo muito bem agora — falei, me espreguiçando no sofá. Bonnie me encarou com uma expressão séria, o que me fez sorrir por dentro.
— Não estrague as coisas com o tio Dylan — ela disse, como se fosse uma advertência oficial.
— Isso mesmo, senão vamos contar para a vovó e o vovô! — Stephen completou, cheio de convicção.
Eu os olhei, os dois me lembravam tanto de mim e dos meus irmãos quando éramos pequenos, sempre conspirando juntos. Dylan soltou uma risada baixa, apreciando a cena diante dele.
— Eu não tenho medo dos seus avós — falei, tentando soar calmo, mas o olhar cético deles me atingiu em cheio. Até o Biscoito, o cachorro, parecia me olhar com desdém, o que só aumentava a comédia da situação.
Liz, sempre a mais perspicaz, lançou um golpe certeiro. — Não é o que parece. Minha irmã disse que você se treme todo quando vê a expressão de raiva da tia Gisele e do tio Edson.
Eu pisquei, incrédulo. — Até vocês estão conspirando contra mim? — perguntei, atônito.
Stephen deu de ombros com toda a calma do mundo. — Só estamos dizendo o que vemos.
Antes que eu pudesse reagir, eles já estavam rindo e se escondendo atrás de Dylan, como se ele fosse o escudo protetor perfeito contra minhas represálias. Eles olhavam para mim com expressões de pura diversão, sabendo que estavam me provocando e adorando cada segundo disso.
Eu ri, balançando a cabeça. — Estou surpreso que vocês estejam usando o Dylan como escudo — falei. — Provocam e depois se escondem. Muito espertos.
— Sabemos que o tio Dylan é a melhor opção que você vai encontrar — Bonnie falou, com uma confiança surpreendente para uma criança.
— Isso mesmo! Ele é a melhor opção para você — Liz concordou, com uma sabedoria além da idade. — E ele tem as habilidades para te incapacitar, caso precise.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei, olhando confuso para Dylan.
Dylan deu um sorriso divertido e levemente envergonhado. — Eu meio que contei para eles sobre as habilidades que aprendi para incapacitar alguém em segundos... só por diversão.
Eu o encarei, surpreso. — Sério? E você achou que isso era algo bom para compartilhar com eles?
— Ele pode acabar com você em segundos se vacilar — Bonnie continuou, sem perder o ritmo. — Mas eu também vou ajudar a te machucar, papai, se fizer alguma coisa contra o tio Dylan.
Eu não pude conter a risada. A cena era tão absurda e ao mesmo tempo tão cheia de carinho que era impossível levar a sério. As crianças estavam completamente encantadas com Dylan, e, de certa forma, aquilo só reforçava o quanto ele já fazia parte de nossas vidas.
— Vocês são demais — falei, entre risos, enquanto olhava para Dylan, que agora sorria de orelha a orelha.
— Só estamos protegendo nosso tio favorito — disse Stephen, se apoiando no ombro de Dylan.
Eu me inclinei para frente e balancei a cabeça, ainda rindo. — Acho que estou em desvantagem aqui.
— Isso você pode apostar — Dylan respondeu, piscando para mim. — Mas prometo que estou do seu lado, mesmo que elas pensem o contrário.
Sorri, olhando para todos eles. Ali, no meio daquelas brincadeiras e provocações, estava a minha família. E com Dylan ao meu lado, tudo parecia incrivelmente... certo.
Bonnie fez uma pose dramática, me olhando com uma expressão irritada que era tão adorável que eu mal conseguia conter o riso. Stephen, como sempre, acompanhou a irmã, e até Liz, normalmente mais séria, decidiu participar, cruzando os braços com um ar desafiador. Dylan, vendo a cena, soltou uma risada divertida enquanto abraçava as crianças, trocando um olhar cúmplice comigo.
Eu ri com eles, me sentindo completamente à vontade. Quem diria que me sairia tão bem com esses três? Talvez estivesse subestimando minhas habilidades como pai. E, pelo sorriso de Dylan, parecia que até ele estava satisfeito com o jeito como as coisas estavam se desenrolando. O simples fato de estar ali, rodeado por essas pessoas que amo, me enchia de uma felicidade que nem sempre sabia expressar.
— Vocês acham que podem me assustar com essas caras? — falei, com um tom brincalhão. E, antes que pudessem responder, peguei as crianças nos braços e comecei a fazer cócegas em suas barrigas, arrancando risadas altas de cada um.
Foi então que, no meio daquela confusão alegre, Dylan se aproximou, rindo junto com a gente, e sem aviso, me deu um beijo suave na boca. Foi rápido, mas o suficiente para fazer minhas bochechas esquentarem de surpresa, enquanto as crianças continuavam rindo. Quando ele se afastou, percebi que o próprio Dylan estava com o rosto vermelho, claramente envergonhado, mas com aquele sorriso que fazia meu coração acelerar.
As crianças nos observavam com expressões adoráveis, misturando curiosidade e diversão. E eu? Bem, eu estava completamente imerso naquele momento. Os raios de sol que entravam pela janela iluminavam a sala, criando uma atmosfera calorosa, quase mágica. O som das risadas das crianças preenchia o ar, e por um segundo, tudo parecia perfeito.
Troquei um olhar cúmplice com Dylan, e sem pensar muito, o puxei para mais perto, envolvendo-o em um abraço apertado. Senti o calor do corpo dele contra o meu e soube que não importava o que o futuro reservava, estaríamos juntos. Mas, claro, eu sabia que ainda tinha muito a resolver. Precisava descobrir mais sobre Emily e sua relação com Lilly. A ideia de que uma das amigas mais antigas de Dylan pudesse estar envolvida em algo tão perigoso me deixava inquieto. Ele não merecia ser traído assim, e eu faria o que fosse necessário para protegê-lo.
— Crianças, temos uma novidade para contar — disse Dylan, puxando minha atenção de volta para o presente.
Imediatamente, seis pares de olhos curiosos se voltaram para ele, expectantes.
— O que é, Tio Dylan? — perguntou Bonnie, sempre a mais impaciente.
— Em breve, vocês vão ter que nos ajudar com algo muito especial — começou Dylan, colocando as mãos sobre sua barriga, os olhos brilhando de emoção. — Estou esperando um bebê.
Os gêmeos ficaram boquiabertos, claramente surpresos. Mas foi Bonnie quem teve a reação mais expressiva, pulando e abraçando Dylan pela cintura com tanta força que quase o derrubou.
— Pode ser uma menina! — ela exclamou, olhando de soslaio para Stephen. — Não pode ser um garoto igual ao Stephen, ele é muito bagunceiro!
— Eu não sou um porco! — protestou Stephen, visivelmente irritado. — E se for um menino? Eu prefiro um menino.
Liz, sempre a observadora, ficou em silêncio por um momento antes de sugerir:
— Por que não podem ser gêmeos?
Dylan olhou para mim, claramente tentando segurar a risada, enquanto eu acariciava suas costas com um sorriso no rosto. A ideia de mais gêmeos já estava nos deixando com os cabelos em pé, mas era impossível não achar graça da sugestão de Liz.
Bonnie, determinada, se aproximou da barriga de Dylan, inclinando-se para tentar ouvir algo, e logo Stephen fez o mesmo. Eles estavam concentrados, como se pudessem descobrir o sexo do bebê naquele exato momento.
— Não estou escutando nada — disse Bonnie, com um biquinho de frustração.
Dylan sorriu e acariciou o cabelo dela com carinho.
— Ele ainda é muito pequeno para ser ouvido, vai demorar um pouco.
Ela fez uma cara de desapontamento, mas assentiu, aceitando a explicação. Eu, por outro lado, me senti completamente realizado. Aquele momento, com Dylan e as crianças, era tudo o que eu poderia ter desejado. Beijei a bochecha de Dylan, sentindo-me incrivelmente sortudo por tê-lo em meus braços, por estar construindo uma vida ao lado dele e por poder compartilhar essa jornada com nossos filhos.
O futuro ainda reservava desafios, mas naquele instante, nada mais importava.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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