Capítulo Vinte
Dylan Watson:
Tudo já estava praticamente pronto quando entramos. Bianca e Mark organizavam a mesa, enquanto Emily lançava um olhar fulminante para Vincenzo, como se estivesse pronta para jogá-lo pela janela.
— E aí, Vincenzo — Mark disse, acenando com a cabeça. — Faz um bom tempo, hein?
— Culpa do trabalho — Vincenzo respondeu, mantendo um sorriso educado. — Mas é bom ver vocês, Mark e Bianca. E ótimo conhecer a Emily e o Carl. Obrigado por me receberem.
Ele cumprimentou todos com uma calma quase ensaiada, em um comportamento tão educado que até minha mãe parecia surpresa. Eu e Bianca trocamos olhares e soltamos uma risada baixa, notando o quão diferente ele estava se comportando em comparação à última vez que o viu.
Minha mãe, depois de um momento de confusão, recuperou a compostura e retribuiu a saudação.
— Já conheceu minha filha Bianca e meu genro, Mark — ela comentou, lançando um olhar de desaprovação para Bianca, como se soubesse de algo que nós não sabíamos. Emily apareceu da cozinha, tirando a touca de cozinheira dos cabelos. — E essa é Emily, amiga do Dylan. Ela estava nos ajudando com o jantar, mas é como parte da família.
— Já nos vimos brevemente uma vez no restaurante — Emily disse, olhando de lado para Vincenzo. — Fico triste que você não tenha trazido os gêmeos.
— Carl, não toque na comida ainda! — Madison repreendeu, dando um tapa leve na mão dele, que fez uma expressão emburrada.
— Estou faminto! A Emily e a dona Tereza me proibiram de comer por vinte e quatro horas! — Carl reclamou, quase em tom dramático.
— Por que vocês fizeram isso? — Vincenzo perguntou, franzindo a testa, claramente sem entender.
— A Tereza não gosta de desperdiçar comida — Mark explicou. — Se alguém ajuda a cozinhar, ela faz questão de que essa pessoa não coma até tudo estar pronto. Parece maldição.
Era verdade. Minha mãe tinha essa estranha regra de que qualquer um que a ajudasse com uma reunião ou evento importante ficava sem comer, como se fosse uma espécie de teste de resistência. Apenas biscoitos e sucos em quantidades mínimas eram permitidos.
— Parem de resmungar — Emily revirou os olhos, exasperada.
— Não fique aí parado, sente-se — minha mãe disse, assumindo o controle da situação de maneira calma, mas firme, como se quisesse equilibrar o ambiente.
Eu e Vincenzo nos sentamos lado a lado, com minha mãe e Bianca diretamente à nossa frente. Mark estava ao lado de Bianca, e Carl, Emily e Madison completavam o círculo.
Me aproximei um pouco de Vincenzo, sentindo o olhar atento da minha mãe. Ela percebeu imediatamente a tensão entre nós e franziu o cenho, como se algo ali não a agradasse. Bianca, percebendo a expressão de desaprovação, tocou no cotovelo dela, tentando suavizar o momento.
— Então, Vincenzo, com o que você trabalha? — Emily perguntou, provavelmente tentando quebrar o silêncio desconfortável.
— Trabalho na empresa da minha família, com meus irmãos — ele respondeu, tentando soar casual.
— E o que exatamente vocês fazem? — Minha mãe perguntou, com um interesse um tanto forçado.
— Deve ser algo importante, pelo que Bianca e Mark mencionaram outro dia — Carl comentou, curioso.
— Sim, parece bem impressionante — Madison acrescentou, sorrindo educadamente.
— Ajudamos as pessoas a resolverem seus problemas... — Vincenzo começou, mas parecia hesitar por um segundo. — Fazemos de tudo um pouco, na verdade.
O clima ficou ainda mais pesado após essa resposta vaga. Todos na sala pareciam estar esperando mais, mas Vincenzo ficou em silêncio, visivelmente desconfortável. Eu sabia que ele estava se sentindo fora de lugar, sem saber o que dizer para impressionar a família da pessoa que ele gostava.
O silêncio se arrastou, e eu senti minha garganta secar. Sabia que precisava dizer algo, afinal, todos estavam reunidos por mim. Mas minhas palavras pareciam presas, e o peso do que eu precisava revelar me deixava com a língua presa.
Eu engoli em seco, mordendo o lábio. Precisava de coragem.
A sala estava cheia de expectativa enquanto Vincenzo se levantava e colocava um pequeno aparelho sobre a mesa, que logo se abriu, revelando diversas caixinhas para cada um de nós. Bianca foi a primeira a abrir a sua, e seus olhos brilharam ao ver a pulseira delicada que tinha ganhado. Mark e Carl, por sua vez, receberam pingentes de colar com as iniciais de seus nomes e dos de suas companheiras. Eu observava tudo em silêncio, surpreso com a generosidade e o cuidado de Vincenzo.
Minha mãe, no entanto, olhava desconfiada para sua caixa. Com cautela, abriu-a e encontrou um pingente em forma de coração. Seu olhar vacilava entre a desconfiança e a curiosidade.
Então, Vincenzo colocou uma caixa de madeira em minha frente. Quando a abri, fiquei sem fôlego. Lá estavam as joias mais magníficas que eu já tinha visto: um diamante azul chamado 'Lágrimas do Sol', um diamante rosa 'Bênçãos da Alegria', e outras peças inestimáveis, cada uma mais deslumbrante que a outra. A caixa estava dividida em compartimentos, todos preenchidos com joias de tirar o fôlego. Era algo surreal.
— Essas são pequenas demonstrações da minha sinceridade para todos vocês — Vincenzo falou, com um brilho de orgulho nos olhos. — E, claro, a caixa mais especial é para o Dylan.
Eu estava paralisado. Como ele conseguiu fazer tudo isso? E mais importante, quanto dinheiro ele tinha para presentear tantas joias inestimáveis assim?
Minha mãe, ainda desconfiada, não conseguiu esconder o comentário ácido.
— Espera aí. Você acha que pode nos comprar com joias e palavras bonitas? — Ela disse, franzindo o cenho. — Tenho medo que você esteja enganando meu filho.
Revirei os olhos e soltei um suspiro. — Mãe, por favor, para com isso. Vincenzo é uma pessoa completamente diferente. Eu sei me cuidar, e ele não tem más intenções.
Peguei a mão de Vincenzo por cima da mesa, e ele entrelaçou seus dedos nos meus, lentamente, como se quisesse me transmitir calma e confiança. Ao sentir o calor de sua mão, senti algo mais profundo, uma conexão mais forte. Ele me olhou nos olhos com tanta seriedade que fez meu coração acelerar.
— Vincenzo não é mais o homem complicado que era no passado — acrescentei. — Ele mudou, e eu vejo isso claramente.
Minha mãe, que havia observado tudo em silêncio até então, finalmente suspirou, com uma expressão mais suave.
— Honestamente, eu estou surpresa — ela disse. — Nunca imaginei que o Dylan se envolveria com alguém com quem teve um passado tão complicado.
— Hum? — Vincenzo murmurou, claramente confuso, enquanto eu olhava para minha mãe com um pouco de desconfiança.
— Se você não se importa, gostaria de saber por que está fazendo tudo isso. Por que se importa tanto com a nossa opinião? — ela perguntou, com a voz mais controlada, mas ainda carregada de dúvida.
Vincenzo, sem hesitar, olhou diretamente nos olhos dela. — Faço isso porque amo o Dylan. Quero me dar bem com as pessoas que ele ama. Simples assim.
Eu fiquei sem palavras. Foi a primeira vez que ele disse, em voz alta, que me amava. Meu rosto ficou vermelho, e vi que as orelhas dele também estavam no mesmo tom. O silêncio que se seguiu foi desconcertante. Todos na sala pareciam estar digerindo a declaração.
— Você disse que ama o Dylan? — Minha mãe perguntou, como se quisesse confirmar.
— Sim — ele respondeu, firme.
— E quando você começou a amá-lo? — A pergunta da minha mãe parecia carregada de ceticismo.
Vincenzo respirou fundo e, com a mesma calma, respondeu. — No início, eu o odiava. Nosso primeiro encontro foi horrível, e eu estava cheio de orgulho, só me importava comigo mesmo. Mas com o tempo, quanto mais eu conhecia o Dylan, mais percebia que não conseguia imaginar minha vida sem ele. Percebi que estava o afastando, e isso me fez mudar. Hoje, sou outra pessoa por causa dele.
Havia sinceridade em cada palavra, e minha mãe não pôde deixar de notar. Ela cruzou os braços, ainda processando a confissão.
— Dylan é uma pessoa forte, determinada. Ele não se deixa influenciar pelos outros, e essa é uma das coisas que mais admiro nele. Eu... amo o Dylan de verdade — Vincenzo disse, olhando para mim com um sorriso suave.
Eu estava completamente emocionado. Não esperava que ele fosse falar tão abertamente sobre seus sentimentos, e isso me fez segurar sua mão ainda mais forte.
— Eu quero me casar com o Dylan — Vincenzo disse de repente, sua voz firme. — Ele é minha ambição. Quero ser seu marido, quero estar ao lado dele para sempre.
Minha mãe, que até então se mantinha séria, não conseguiu conter um sorriso satisfeito.
— De alguma forma, isso me lembra de quando seu pai se declarou para mim — ela disse, com doçura na voz. — Vejo que você realmente se importa com o Dylan, e estou começando a entender que quer tê-lo ao seu lado para sempre. Só espero que cuide bem dele.
Carl, do outro lado da mesa, estava secando as lágrimas que escorriam pelo rosto. Emily, sempre prática, entregou um lenço para ele e o observou com um sorriso divertido.
Minha mãe continuou.
— Só posso pedir que cuide do meu filho. Assim como eu fiz quando me casei com o pai dele, você vai enfrentar desafios. Mas se você realmente o ama, sei que será capaz de superar qualquer coisa.
— Obrigado — Vincenzo respondeu, com um sorriso aliviado, visivelmente emocionado.
Eu olhei para ele, com meu coração transbordando de felicidade.
O clima na sala parecia mais leve agora, com minha mãe finalmente baixando a guarda. Senti como se um enorme peso tivesse sido tirado dos meus ombros, mas ao mesmo tempo, havia uma eletricidade no ar entre mim e Vincenzo que não conseguia ignorar.
Ainda segurando sua mão, olhei para ele. Seus olhos encontraram os meus com aquela intensidade que sempre fazia meu coração disparar. Sem precisar de palavras, sabia que ambos estávamos pensando o mesmo: de alguma forma, tudo estava dando certo.
Ele apertou minha mão suavemente, um gesto que parecia simples, mas carregava muito significado. Era como se ele estivesse dizendo "estamos juntos nisso". E eu sentia isso profundamente. Me aproximei um pouco mais, tentando não ser óbvio, mas o calor que irradiava dele parecia me puxar, me envolvendo.
— Você está bem? — Vincenzo perguntou em um sussurro, inclinando-se um pouco mais perto, sua voz baixa para que só eu pudesse ouvir.
Assenti, sentindo meu rosto esquentar com a proximidade.
— Sim, estou... Só um pouco surpreso com tudo isso. Não esperava que você fosse ser tão aberto.
Ele riu baixinho, e seu sorriso fez meu coração saltar.
— Nem eu, para ser sincero. Mas quando estou com você, as coisas parecem mais fáceis. Mesmo quando são complicadas — ele confessou, sua voz suave, e o jeito como ele me olhou fez com que cada palavra parecesse uma promessa.
Eu sabia que todos ao redor estavam nos observando, mas naquele momento, parecia que éramos só nós dois ali. Sem pensar muito, deslizei minha mão até o braço dele, sentindo a textura do tecido de sua camisa contra minha pele. Vincenzo se inclinou mais um pouco, até nossos ombros quase se tocarem, seu corpo caloroso contra o meu.
— Você realmente me pegou de surpresa hoje — admiti, tentando não me perder naquele olhar que ele me lançava. — Não esperava que falasse... tudo isso. Muito menos na frente da minha família.
Vincenzo sorriu, aquele sorriso lento e confiante que fazia meu estômago dar voltas. — Quando você ama alguém, às vezes você faz coisas que nem imaginava ser capaz.
— Isso é verdade. — Sorri de volta, mas senti meu coração acelerar ainda mais quando ele passou o polegar pelo dorso da minha mão, um gesto pequeno, mas íntimo. Era como se estivéssemos sozinhos na sala, mesmo com o murmúrio suave de conversa ao nosso redor.
— Você... acha mesmo que podemos fazer isso funcionar? — Perguntei, minha voz mais baixa do que eu pretendia, mas precisava ouvir de novo. Queria sentir que estávamos na mesma página, que ele acreditava tanto quanto eu.
Ele me olhou por um longo momento, seus olhos fixos nos meus.
— Eu não acho — ele disse, sua voz firme. — Eu sei que vamos fazer isso funcionar. Você e eu, Dylan... Não existe outra opção. Eu vou lutar por você. Sempre.
Essas palavras me atingiram de forma profunda, fazendo meu coração bater ainda mais rápido. Eu estava tentando manter a compostura, mas sentia a emoção crescendo dentro de mim. Vincenzo se inclinou um pouco mais, e por um segundo, eu pensei que ele fosse me beijar ali, na frente de todos.
Mas, em vez disso, ele encostou sua testa na minha, um gesto suave e íntimo que me fez fechar os olhos por um instante. Estávamos tão próximos que eu podia sentir a leve respiração dele contra minha pele.
— Você é tudo para mim, Dylan — ele sussurrou, tão baixinho que quase não consegui ouvir, mas o bastante para fazer meu coração querer sair do peito.
— Você também é tudo para mim — respondi, num fio de voz, sentindo a verdade dessas palavras se espalhar por cada célula do meu corpo.
O momento entre nós foi interrompido por uma risadinha vinda do outro lado da mesa. Abri os olhos e vi Bianca nos observando com um sorriso divertido.
— Vocês dois são tão fofos que chega a ser irritante — ela brincou, piscando para mim.
Soltei uma risada envergonhada e me afastei um pouco de Vincenzo, embora ainda segurasse sua mão.
— Vocês vão fazer todo mundo chorar se continuarem assim — Emily acrescentou, com um sorriso no rosto.
Vincenzo riu, dessa vez sem tentar disfarçar, e me olhou com aquele brilho nos olhos que só ele tinha.
— Bom, se for para chorar, que seja de felicidade, certo?
E enquanto eu olhava para ele, com todos ao nosso redor sorrindo, senti que, de alguma forma, tudo estava exatamente como deveria ser.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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