Capítulo Trinta e Sete
Dylan Watson:
Eu e Helena caímos com tudo na brecha, o vento batendo forte em nossos rostos até que, com um impacto doloroso, atingimos o chão metálico com força. O barulho do choque ecoou pelo espaço, e minha cabeça girava enquanto tentava entender onde estávamos. Levantei um pouco a cabeça, tentando focar minha visão turva. A alguns metros de nós, um monstro — se é que aquilo podia ser chamado de monstro — se erguia, grotesco e indefinível, sua forma era algo que minha mente não conseguia processar. Ao lado dele, três figuras imponentes: dois homens e uma mulher, todos tão musculosos que pareciam esculpidos em pedra, prontos para qualquer coisa. No meio deles, uma mulher que se destacava, de cabelos brancos como a neve e olhos castanhos profundos, quase hipnóticos. Ela usava um jaleco que não combinava com o ambiente sombrio, mas que de alguma forma a fazia parecer ainda mais ameaçadora.
Ela me encarou com um sorriso que fez minha pele arrepiar. Não era um sorriso normal, era algo... perturbador. Calculado. Frio. Aquela mulher exalava uma malícia silenciosa que fazia meu estômago se revirar.
— Lilly — ouvi Helena murmurar enquanto se levantava lentamente, a dor evidente em sua expressão. Apenas o nome daquela mulher fez meus músculos congelarem.
Lilly riu, um som seco e cruel, e começou a caminhar em nossa direção, seus passos ecoando com uma lentidão assustadora, como se estivesse saboreando o momento.
— Helena, minha querida — a voz dela era suave, mas carregada de um veneno inconfundível —, ainda achou que poderia escapar de mim? — Ela sorriu mais uma vez, um sorriso que me fez querer correr dali o mais rápido possível, mas minhas pernas pareciam presas ao chão. — De um jeito ou de outro, você sempre volta para mim. Mas o que temos aqui? — Ela parou, seus olhos perfurando os meus. — Ah, vejo que trouxe o namorado do meu querido sobrinho, Vincenzo. Que honra conhecer o famoso Dylan Watson — ela disse, pronunciando meu nome com uma precisão gelada que fez meu corpo todo estremecer.
Naquele momento, o pânico tomou conta de mim como uma onda avassaladora, mas eu lutei para não demonstrar, para manter a calma. Meu coração martelava tão forte no peito que eu temia que todos ali pudessem ouvi-lo. Cada fibra do meu ser gritava para fugir, para correr, mas tudo o que consegui fazer foi encará-la de volta, tentando ignorar o fato de que minhas pernas tremiam de leve.
"Honra" foi a palavra que ecoou na minha cabeça. Como se eu fosse algum troféu a ser exibido. Ela sabia quem eu era, sabia exatamente quem eu era, e o fato de que aquele sorriso perturbador não deixava seu rosto só piorava a situação. Me senti uma marionete nas mãos dela, e isso me aterrorizava.
Helena, ao meu lado, se ajeitou na postura, tentando manter a compostura, mas eu sabia que ela também sentia o peso daquela presença.
"Se ela começar a falar mais do que isso, juro que vou vomitar"pensei, tentando acalmar a mente com um toque de humor nervoso, mas até meu sarcasmo parecia fraco perto do que estava acontecendo.
— Sempre quis ver como era a famosa Lilly — falei, tentando soar mais corajoso do que realmente me sentia. — A tão famosa sociopata.
Minha voz saiu firme, mas por dentro meu coração estava em ritmo de maratona. Se eu tivesse que lidar com uma situação dessas, ao menos usaria o sarcasmo como armadura. Lilly me encarou por um segundo, depois soltou uma risada, daquela que faz seus ossos gelarem. O som era cruel, como se estivesse se divertindo às minhas custas, o que provavelmente era o caso.
— Sociopata? — Ela repetiu, quase ofendida, enquanto olhava distraidamente para as próprias unhas, como se estivéssemos apenas em uma conversa casual em um café, e não numa situação de vida ou morte. — Não diria que sou uma sociopata, Dylan — continuou, levantando os olhos lentamente, com aquele sorriso perturbador ainda em seu rosto. — Isso seria subestimar minhas capacidades. Sou muito mais... complexa.
O jeito como ela falava, como se estivesse acima de qualquer rótulo, me dava náuseas. Tentei manter minha postura, mas a tensão no ar era palpável. Cada palavra dela parecia desenhada para nos fazer sentir pequenos, insignificantes. E, droga, estava funcionando.
— Ah, claro, muito mais complexa. — Minha voz saiu quase num sussurro, não por escolha, mas porque minha garganta estava seca de puro nervosismo. — Nada como uma pessoa que acha graça em torturar os outros para dar um toque de complexidade ao dia, né?
Ela riu novamente, dessa vez mais suave, quase apreciando meu comentário. O que era pior ainda.
Helena me lançou um olhar rápido, como se dissesse "não a provoque", mas eu sabia que não podia deixar Lilly perceber o quanto ela realmente me assustava.
— Eu só queria continuar minhas pesquisas em paz, mas minha querida irmã teve que se meter no caminho — Lilly disse com um suspiro exagerado, como se estivesse lidando com uma inconveniência menor. Ela passou a mão delicadamente sobre um dos tentáculos do monstro ao seu lado, como se estivesse acariciando um animal de estimação grotesco, e o sorriso perturbador nunca deixou seu rosto.
— Mas parece que estamos destinadas a sermos separadas — continuou, seu tom carregado de falsa melancolia. — Até mesmo o clone que criei dela acabou se voltando contra mim. Uma pena, realmente. Agora está lá, feliz, vivendo junto da família de Gisele.
O jeito despreocupado com que ela falava sobre manipulação genética e traição me deixou ainda mais desconfortável. Lilly falava da criação de um clone como se fosse apenas mais um experimento de laboratório mal sucedido, não como algo que envolvia vidas. O mais assustador era como ela parecia imune a qualquer emoção humana genuína, como se tudo fosse parte de um grande jogo de xadrez, e nós éramos apenas as peças. E ela? A rainha que controlava cada movimento.
Helena se remexeu ao meu lado, a tensão entre nós palpável. A menção à Gisele pareceu ter tocado um nervo nela, e eu sabia que, se não tomássemos cuidado, Lilly usaria qualquer fraqueza contra nós.
— Ah, então você tem uma tendência a criar seus próprios problemas, pelo visto — comentei, tentando esconder meu nervosismo atrás de um sorriso forçado. Meu sarcasmo era a única coisa que parecia me manter de pé, mesmo que por um fio.
Lilly me lançou um olhar afiado, mas em vez de se irritar, sorriu ainda mais amplamente.
— Ah, Dylan, querido... — Ela se inclinou levemente para frente, seus olhos castanhos perfurando os meus com uma intensidade desconcertante. — A diferença entre nós é que, ao contrário de vocês, eu crio os problemas, mas também sei como resolvê-los. E é isso que me torna... especial. — O jeito como ela enfatizou a palavra "especial" me fez sentir um frio na espinha.
Meu coração estava acelerado, e pela primeira vez, senti que talvez eu tivesse mordido mais do que podia mastigar.
— Acho que seria complicado demais para vocês entenderem — Lilly começou, sua voz carregada de arrogância. — Então, vou simplificar. Usarei a energia deste mundo para abrir uma brecha colossal, forte o suficiente para me levar a uma realidade onde eu poderei governar sem obstáculos. — Ela sorriu de forma sombria, os olhos faiscando com uma satisfação doentia. — E, na minha generosidade, trouxe duas pessoas de outra realidade para me ajudar nesse processo.
Os olhos dela caíram sobre Helena, mas havia uma nota de decepção em seu olhar. Como se esperasse mais. Como se a traição de Helena fosse apenas um contratempo que ela já previra.
— Mas, claro, Helena, sempre a teimosa, quis me atacar — continuou Lilly, virando os olhos dramaticamente. — Virou as costas para mim e, ainda por cima, levou a irmãzinha dela junto. — Sua voz gotejava desdém, como se cada palavra fosse um peso que ela preferia não carregar. — Vejo que, no final, eu realmente nasci para ter poder e...
— Estar sozinha — interrompi, as palavras escapando antes que eu pudesse me conter. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, e o olhar que Lilly me lançou fez meu estômago afundar. — Nem mesmo os seus filhos, aqueles que você escondeu durante todos esses anos, quiseram te ajudar.
A reação foi instantânea. Os olhos de Lilly se estreitaram, e vi um brilho perigoso surgir neles. Ela me encarou com uma intensidade que fez o ar ao meu redor parecer mais pesado, como se o ambiente tivesse sido drenado de toda a leveza. O sorriso desapareceu de seu rosto, substituído por uma expressão que misturava surpresa e raiva.
— Você... — Sua voz soou baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma ameaça palpável. Eu sabia que tinha pisado em território perigoso, mas não podia deixar de sentir uma pequena faísca de satisfação ao ver que minhas palavras a afetaram. Lilly não era invulnerável. Mesmo com todo o seu poder e controle, havia rachaduras na sua fachada.
Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que brincar com o perigo tinha um custo. E eu acabara de acordar a fera.
Ela se aproximou de mim com passos lentos, cada um deles carregado de uma tensão quase insuportável. Antes que eu pudesse reagir, seus dedos frios e implacáveis agarraram meu queixo com força, obrigando-me a encarar diretamente seus olhos castanhos, que agora queimavam com uma mistura de fúria e superioridade. A dor irradiava do aperto, mas eu me forcei a não desviar o olhar, embora o medo começasse a apertar meu peito.
— Essa sua boca afiada vai ser a causa da sua ruína, Dylan — ela murmurou, o tom quase doce, mas com um veneno cortante por trás de cada palavra. — Mas, por enquanto, tenho outros planos para você. — Seus lábios se curvaram num sorriso cruel. — Vou precisar de cobaias para meus experimentos enquanto minha máquina termina de carregar.
Com um movimento brusco, ela soltou meu queixo, como se o simples toque em mim a repugnasse. Em seguida, limpou os dedos na própria blusa, como se eu fosse o nojento, não ela. O desprezo estampado em seu rosto era claro, e aquilo fez meu sangue ferver, embora o pânico ainda estivesse presente em cada célula do meu corpo.
— Abrir uma brecha para um novo mundo exige muita energia — continuou ela, se afastando com uma elegância fria, como se já tivesse decidido meu destino. — Leve-os para a prisão. Deixem-nos lá até que eu termine de carregá-los. Depois, vou me divertir com eles.
As palavras dela ecoaram em meus ouvidos, e eu senti um nó se formar em minha garganta. Tentei pensar em algo, qualquer coisa para escapar dessa situação, mas minha mente estava em branco. Tudo o que eu podia fazer era olhar para Helena, esperando que ela tivesse uma ideia, alguma maneira de nos tirar dessa. Mas, no fundo, sabia que estávamos à mercê de Lilly. E isso era assustador demais para processar.
Dois dos brutamontes ao lado dela se moveram na nossa direção, prontos para nos levar, e eu só conseguia pensar em como diabos iríamos sair dessa.
Eu coloquei a mão no bolso, desesperado por qualquer coisa que pudesse nos ajudar a escapar, e meus dedos encontraram algo pequeno e fino. Uma agulha. Não sei como aquilo foi parar no meu bolso, mas não pensei duas vezes. Quando o primeiro brutamontes veio na minha direção, avancei rápido e enfiei a agulha no pulso dele com toda a força que consegui. Senti a ponta perfurar a pele, e ele gritou de dor, se contorcendo enquanto eu procurava acertar algum ponto sensível. Num reflexo, ele me empurrou com força, me fazendo cambalear para trás. O impacto me jogou contra o corpo do outro brutamontes, que estava vindo logo atrás.
A confusão criada entre os dois foi a oportunidade que precisávamos. Helena, que estava caída ao meu lado, levantou-se num pulo. Segurei a mão dela sem pensar duas vezes, e saímos correndo como se nossas vidas dependessem disso — porque, honestamente, dependiam. Atrás de nós, os brutamontes caíram no chão, seus corpos pesados batendo no piso metálico com estrondos surdos. De alguma forma, o barulho pareceu assustar a criatura grotesca que Lilly controlava. O monstro soltou um grito terrível, um som tão agudo e ensurdecedor que me fez estremecer por dentro.
De repente, o laboratório começou a tremer, e ouvi o som de vidro se partindo. Todos os vidros ao nosso redor começaram a rachar, como se o próprio ar estivesse implodindo. As rachaduras se espalhavam por toda a sala, e a pressão do momento só nos fez correr mais rápido.
— Corre, corre! — gritei para Helena, meu coração disparado, o som dos vidros estourando atrás de nós enquanto corríamos em direção à saída.
— Idiotas, peguem eles! — ouvi a voz de Lilly gritar furiosa atrás de nós, ecoando pelo corredor metálico enquanto nos afastávamos o máximo possível.
Mas eu não olhei para trás. Não queria ver o que vinha a seguir. Tudo o que importava era sair daquele lugar, vivos, e o mais longe possível da loucura de Lilly.
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Corríamos por um corredor estreito, meus pulmões queimando e o coração martelando tão rápido que parecia querer explodir do meu peito. O som dos passos pesados dos brutamontes ecoava atrás de nós, cada vez mais próximos. Helena de repente me puxou pelo braço, parando diante de uma porta de metal enferrujado. Ela olhou para a maçaneta por um segundo, os olhos fixos como se tentasse decidir se era seguro ou não.
— Rápido! — sussurrei, olhando por cima do ombro, esperando ver Lilly e seus capangas virando a esquina a qualquer momento.
Helena finalmente girou a maçaneta e empurrou a porta, que rangeu alto o suficiente para me fazer prender a respiração. Entramos o mais rápido que pudemos, e ela fechou a porta atrás de nós com o maior cuidado possível, apesar do nervosismo evidente. O som dos passos no corredor continuava, cada vez mais próximos, e fiquei imóvel, prendendo o ar enquanto ouvíamos as vozes confusas dos brutamontes se aproximando.
— Eles estão aqui em algum lugar! — uma das vozes rugiu.
Helena e eu nos apertamos contra a parede, tentando nos misturar com as sombras do lugar. O som dos passos passou lentamente pela porta atrás de nós, e por um segundo, o ar ficou tão denso que parecia impossível respirar.
Finalmente, os passos se afastaram, e eu soltei o ar que estava prendendo sem perceber. Olhei para Helena, que também parecia estar tentando se recompor, os olhos dela refletindo o medo e o alívio momentâneo.
— Isso foi por pouco — murmurei, sentindo meu coração ainda batendo freneticamente no peito.
Helena assentiu, limpando o suor da testa com a manga da blusa, mas seus olhos ainda estavam atentos, como se esperasse que algo pior estivesse por vir.
Olhei ao redor do quarto, e a primeira coisa que notei foi a simplicidade do lugar. Era um espaço apertado, claramente feito para duas pessoas, com uma beliche empurrada contra o canto. As paredes de metal frio eram como as de uma cela, o que aumentava a sensação de claustrofobia. Não havia nenhum traço de conforto ali, apenas funcionalidade. Minha mente ainda processava o fato de que aquele lugar havia sido de alguma forma um lar para Helena.
— Esse era o quarto onde eu e a Liz dormíamos — Helena disse, quebrando o silêncio pesado. Sua voz tinha um tom distante, como se estivesse revivendo memórias enterradas. — Posso te dizer, não foi fácil... — Ela deu uma pequena pausa, seus olhos percorrendo o espaço como se procurasse algum vestígio do passado. — Achei que ela tivesse destruído tudo quando fugimos.
A menção de Liz me fez olhar para Helena, tentando imaginar o que elas passaram juntas naquele inferno. Antes que eu pudesse perguntar algo, meus olhos caíram em um pequeno aparelho no canto do quarto, meio escondido por debaixo de uma cama. Era pequeno, quase discreto, mas o suficiente para acender uma faísca de urgência dentro de mim. Apontei para ele rapidamente, o coração disparando novamente.
— Helena, olha! — falei com urgência.
Ela seguiu meu olhar e, quando viu o aparelho, seus olhos brilharam com reconhecimento.
— Eu usava isso para mexer nos meus equipamentos — ela explicou, se abaixando e pegando o dispositivo com as mãos. Uma expressão de surpresa e determinação apareceu no rosto dela, como se uma ideia acabasse de surgir. — Se meu acesso ainda estiver ativo... Lilly pode ser um gênio, mas ela esquece de algumas coisas.
Helena começou a mexer no aparelho com a destreza de alguém familiarizado com tecnologia. Seus dedos dançavam rapidamente sobre a tela enquanto ela digitava comandos, cada movimento meticuloso. Eu observava, sem conseguir deixar de me impressionar com sua habilidade. De repente, um símbolo de "Acesso liberado" brilhou na tela, e Helena deu um leve sorriso de triunfo.
— Ainda estou livre — ela disse, aliviada. — Talvez eu consiga mandar um sinal para Alice e para a agência. Isso pode nos tirar daqui.
A esperança começou a surgir em meu peito, misturada com a adrenalina. Se Helena conseguisse enviar aquele sinal, poderíamos ter uma chance real de escapar antes que Lilly percebesse. Eu me aproximei, tentando não atrapalhá-la, mas a tensão no ar era palpável.
— Vamos torcer para que Lilly tenha esquecido mais do que algumas senhas... — murmurei, tentando aliviar o peso da situação com um toque de humor, mas a verdade é que estávamos no limite.
Helena digitava freneticamente no aparelho, os dedos correndo pela tela como se cada segundo fosse precioso — e realmente era. Eu me afastei um pouco, vigiando a porta, esperando o pior a qualquer momento. O som dos brutamontes ecoando pelo corredor ainda estava fresco na minha mente, e a qualquer momento Lilly poderia perceber que algo estava errado. O tempo estava correndo contra nós.
— Consegui! — Helena exclamou em um sussurro triunfante, seus olhos fixos na tela. — O sinal foi enviado. Se tudo der certo, Alice e a agência devem receber nossa localização em breve.
— E agora? — perguntei, tentando manter a calma enquanto olhava ao redor do quarto apertado. — Acha que eles vão demorar?
— Não faço ideia, mas temos que continuar nos movendo. Lilly não vai demorar a perceber que estamos tramando algo. — Helena levantou-se rapidamente, guardando o aparelho no bolso. — Vamos sair daqui antes que nos encontrem.
Concordei com um aceno, e Helena me puxou pela mão mais uma vez. Abrimos a porta lentamente, com o máximo de cuidado possível. O corredor estava silencioso, mas eu sabia que o perigo estava em cada canto, só esperando a oportunidade certa para nos agarrar.
Nos movemos com passos leves, tentando não fazer barulho. O prédio era um labirinto de corredores metálicos e salas frias, e cada parede parecia nos observar, cúmplice da loucura de Lilly. O som de passos ecoou em algum ponto distante, e meu coração pulou na garganta. Helena parou por um segundo, olhando para todos os lados como se tentasse mapear o caminho em sua mente.
— Por aqui — sussurrou, puxando-me para um corredor mais estreito à nossa esquerda.
Nos esgueiramos por entre os corredores, desviando das câmeras de vigilância e usando o pouco conhecimento de Helena sobre o lugar para evitar sermos pegos. Várias vezes paramos de repente, ouvindo vozes ou passos próximos, e precisávamos nos esconder em pequenos cantos ou atrás de portas semi-abertas. A tensão era insuportável, e o tempo parecia esticar-se enquanto nos escondíamos. Cada vez que pensávamos que estávamos seguros, um novo som fazia nossos corações dispararem.
Finalmente, Helena encontrou uma sala de armazenamento no fim de um corredor menos iluminado. A porta estava destrancada, e entramos rapidamente, fechando-a atrás de nós com cuidado. O lugar era apertado, cheio de caixas e equipamentos velhos, mas pelo menos ali poderíamos ficar fora de vista por um tempo.
— Isso deve nos manter escondidos por um tempo — Helena disse, tentando controlar a respiração enquanto se sentava em uma caixa.
Sentei-me ao lado dela, tentando acalmar meu coração, que ainda martelava no peito. A adrenalina estava começando a se dissipar, mas o medo ainda pairava no ar como uma nuvem densa. Olhei para Helena, que parecia perdida em pensamentos, mas ainda firme.
— Você acha que eles vão nos encontrar antes que Lilly perceba? — perguntei, baixando a voz para um sussurro.
Ela hesitou por um segundo, depois olhou para mim com um olhar determinado.
— Alice é boa no que faz. Se ela recebeu o sinal, já estão a caminho. Agora é só esperar... e tentar não sermos descobertos até lá.
O tempo passou devagar enquanto nos escondíamos naquela sala. A cada barulho vindo do corredor, nossos corpos se retesavam, prontos para fugir novamente. Mas, de algum jeito, ninguém parecia notar nossa presença ali.
Horas depois, o som de passos rápidos e vozes abafadas nos alertou de que algo estava acontecendo. Troquei um olhar preocupado com Helena, e ficamos prontos para qualquer coisa.
Então, de repente, ouvimos um som abafado no comunicador de Helena.
— Helena, aqui é Alice. Estamos na entrada da instalação. Conseguiu segurar firme até agora?
Um alívio imediato percorreu meu corpo, e Helena sorriu, cansada, mas aliviada.
— Conseguimos, Alice. Estamos em uma sala de armazenamento no nível inferior. Vem rápido, não sei quanto tempo mais temos até Lilly perceber.
O resgate estava perto. Finalmente, havia uma luz no fim do túnel.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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