Capítulo Trinta e Seis
Vincenzo Alves:
Quando saímos do quarto, minha irmã Alice praticamente apareceu do nada, com uma energia tão vibrante que era impossível ignorá-la. Seus olhos brilhavam de empolgação, e ela mal conseguia ficar parada.
— Terminamos o aparelho! — ela exclamou, quase pulando de alegria. Dava para ver que ela estava em uma daquelas ondas de euforia movida por café, provavelmente litros e litros. — Vamos testar agora!
Dylan e eu nos entreolhamos. Eu ainda estava me recuperando do descanso forçado e do momento que tínhamos acabado de compartilhar, mas, ao ver Alice naquele estado de excitação quase elétrica, era impossível não ser contagiado pelo entusiasmo dela.
— Alice, você dormiu pelo menos uma hora nas últimas 24 horas? — perguntei, levantando uma sobrancelha, meio brincando, meio preocupado.
— Quem precisa de sono quando está salvando o mundo? — ela rebateu, agitando as mãos no ar como se a ideia de dormir fosse totalmente irrelevante. — E você é o último que pode falar, hein, Sr. "Dormi o dia inteiro".
Dylan riu ao meu lado, balançando a cabeça.
— Ela tem razão. Acho que agora você é quem está devendo um descanso a ela.
Revirei os olhos, mas sorri de leve. Alice sempre teve essa energia inabalável, e embora eu ficasse preocupado com sua saúde às vezes, era exatamente essa força dela que nos ajudava a passar por tantas crises.
— Certo, certo. Vamos ver o que você e seu café milagroso conseguiram inventar desta vez — respondi, tentando esconder o orgulho que sentia dela.
Alice praticamente nos arrastou até a sala de tecnologia no galpão, onde o "aparelho" estava montado. Era uma máquina grande, cheia de fios e luzes piscando, com uma tela que parecia pronta para mapear o universo. A engenhoca parecia saída de um filme de ficção científica, com botões e alavancas que eu não ousaria tocar sem um manual.
— Uau — Dylan murmurou ao meu lado. — Isso é... impressionante.
— Não é? — Alice disse com um brilho no olhar, claramente satisfeita com a reação. — Se conseguirmos rastrear os resquícios da energia dimensional da Lilly, podemos localizar exatamente onde ela está e, com sorte, interromper os planos dela antes que eles avancem ainda mais. E quem sabe, até trazer sua irmã de volta! — concluiu ela, se referindo à Helena.
Eu podia sentir a tensão começar a crescer novamente. Essa máquina poderia ser a nossa chance de parar Lilly de uma vez por todas, mas também era um risco enorme. E o tempo estava correndo contra nós.
— Então, vamos testar agora? — perguntei, tentando manter a calma, mas sabendo que o sucesso dessa máquina poderia decidir o destino de todos nós.
Alice assentiu rapidamente, já apertando alguns botões na máquina, os olhos fixos na tela.
— Sim! Fiquem prontos. Se isso funcionar... bem, as coisas vão ficar ainda mais intensas.
Dylan apertou minha mão de leve, como se quisesse me lembrar de que estávamos nisso juntos, e eu respirei fundo, sentindo a gravidade do momento.
— Vamos nessa — disse, me preparando mentalmente para o que viesse.
Helena se aproximou da máquina com uma expressão séria, o tipo de concentração que não via nela há algum tempo. Com um último olhar para Alice, que assentiu com uma mistura de empolgação e nervosismo, Helena apertou o botão grande e vermelho no painel. Por um segundo, tudo ficou em silêncio, como se o ar ao nosso redor estivesse segurando a respiração.
Então, de repente, a máquina ganhou vida. As luzes começaram a piscar de forma frenética, e um zumbido baixo reverberou pela sala. A tela principal se acendeu, mostrando uma série de gráficos e leituras que só Alice e Helena pareciam entender completamente.
— Está funcionando... — murmurou Alice, os olhos arregalados enquanto acompanhava cada pulso de energia no visor. — Está realmente funcionando!
O zumbido da máquina aumentava conforme ela captava os sinais de energia dimensional. Era como se estivéssemos assistindo algo mágico acontecer diante de nossos olhos, embora tudo fosse incrivelmente tecnológico.
— Está captando algo... — Helena disse, sua voz baixa, mas cheia de expectativa. — Um sinal... da energia da realidade dela. Estamos no caminho certo.
Olhei para Dylan, e ele me deu um pequeno sorriso, ainda com a mão apertada na minha. O calor do seu toque me lembrava que, independentemente do que acontecesse a seguir, estávamos juntos nessa.
— Se isso der certo, poderemos rastrear a Lilly em tempo real — Alice explicou, digitando freneticamente em um teclado conectado à máquina. — E, com sorte, encontrar uma maneira de impedir que ela abra outra brecha para uma nova realidade.
— E proteger a Helena e a Liz — acrescentei, olhando para Helena, que estava completamente concentrada nas leituras.
A máquina soltou um som agudo, e a tela mostrou um ponto vermelho pulsante. O coração acelerou no meu peito.
— Esse é o local... — Helena sussurrou, com os olhos fixos no ponto. — É onde a Lilly está. Conseguimos.
Dylan apertou minha mão com mais força, e eu senti um misto de alívio e ansiedade. A máquina funcionava, e agora sabíamos onde Lilly estava, mas isso era apenas o começo. Ainda tínhamos que confrontá-la.
— Bom trabalho, Alice — murmurei, virando-me para minha irmã, que agora sorria abertamente, como se todo o cansaço e nervosismo tivessem desaparecido em um segundo.
— Isso é só o começo, irmão — ela respondeu, o sorriso dela se alargando. — Agora, vamos acabar com isso de uma vez por todas.
Alice correu até o computador, os dedos ágeis voando sobre o teclado enquanto ela inseria os dados que a máquina tinha captado. O foco dela era impressionante, e mesmo depois de horas sem descanso, ela ainda parecia movida pela pura adrenalina. Ao lado dela, Helena estava igualmente concentrada, ajudando a ajustar as coordenadas e processar as informações para refinar a localização exata de Lilly.
— Precisamos ser rápidos — Alice disse, sem desviar os olhos da tela. — Cada segundo conta agora. Se a Lilly perceber que estamos rastreando ela, pode tentar fugir ou fazer algo ainda pior.
Helena assentiu, trabalhando lado a lado com Alice, ajustando os parâmetros da máquina para garantir que a leitura fosse o mais precisa possível. As duas estavam em perfeita sincronia, como se tivessem feito isso milhares de vezes antes.
— A localização está ficando mais clara — Helena comentou, a voz firme. — Ela está se movendo, mas conseguimos traçar o padrão. Está em algum tipo de instalação isolada... isso não é bom.
Dylan, que estava ao meu lado, soltou um suspiro baixo, a preocupação evidente em seus olhos. Eu sabia que ele estava pensando o mesmo que eu: Lilly estava se preparando para algo grande, e tínhamos que agir rápido.
— Ela está planejando usar a máquina para abrir outra brecha entre as realidades — Helena continuou, os olhos fixos na tela. — Se não a impedirmos logo, ela vai conseguir o que quer, e não sei se conseguiremos controlar as consequências.
Eu senti o peso das palavras dela, mas Dylan apertou minha mão novamente, como se estivesse me ancorando naquele momento. Eu o olhei, e ele me deu um sorriso encorajador, aquele que me fazia acreditar que, não importa o quão sombria a situação parecesse, nós conseguiríamos passar por isso juntos.
— Alice, quanto tempo até termos as coordenadas finais? — perguntei, tentando manter o foco.
— Minutos — ela respondeu, sem desviar a atenção do trabalho. — Só mais alguns ajustes e saberemos exatamente onde Lilly está.
O tempo parecia passar lentamente, cada segundo mais tenso que o anterior. O som das teclas sendo pressionadas, o zumbido da máquina, e a respiração pesada de todos na sala eram os únicos sons que preenchiam o ar.
Finalmente, Alice se endireitou, com um sorriso de triunfo no rosto.
— Consegui! — ela exclamou, apontando para a tela. — Essa é a localização exata. Agora é só questão de nos movermos rápido.
Helena olhou para a tela e assentiu, os olhos sérios, mas com um brilho de determinação.
— Agora sabemos onde ela está. A pergunta é: estamos prontos para enfrentá-la?
Antes que eu pudesse responder, a máquina soltou um apito tão alto que meu instinto foi tampar os ouvidos. O som agudo reverberou pelo galpão, fazendo todos pararem o que estavam fazendo.
— A brecha... se moveu — Helena disse em um sussurro, a voz quase falhando conforme ela olhava para a tela. — Está... em cima da gente.
Meu coração disparou, e, por reflexo, olhei para o teto. Lá, a poucos centímetros do chão, um rasgo começou a se abrir, como se o próprio ar estivesse sendo cortado ao meio. Era uma fenda, um portal entre realidades. O que quer que estivesse acontecendo, havia chegado muito mais perto do que esperávamos.
— Droga, isso não deveria estar acontecendo tão cedo! — Alice gritou, os olhos arregalados enquanto dava um passo para trás. A luz que saía da fenda iluminava o galpão em tons de azul e roxo, pulsando como se tivesse vida própria.
Antes que pudéssemos reagir, algo começou a emergir da brecha. Era uma forma indefinida no início, uma sombra densa que parecia se contorcer, crescendo e tomando forma à medida que saía. Meu coração parou por um segundo enquanto observava aquilo se materializando, algo que não pertencia à nossa realidade.
— O que... é isso? — Dylan murmurou ao meu lado, o tom dele carregado de surpresa e apreensão.
A forma começou a se solidificar, revelando algo que lembrava uma figura humana, mas deformada, como se tivesse sido distorcida pela passagem entre dimensões. Seus olhos brilhavam com uma luz sobrenatural, e o ar ao redor ficou pesado, como se fosse difícil respirar.
— Isso é... uma criatura da outra realidade! — Helena disse, a voz baixa, mas cheia de urgência. — Lilly conseguiu abrir a brecha, e agora está enviando... isso!
Eu me movi instintivamente para ficar entre Dylan e a criatura, meu corpo automaticamente assumindo uma postura defensiva. O portal ainda estava aberto, e a criatura continuava emergindo, seu corpo flutuando no ar como se a gravidade não tivesse controle sobre ela.
— Precisamos fechar essa brecha antes que mais coisas atravessem! — Alice gritou, correndo de volta para o computador.
A criatura soltou um som baixo, como um rosnado abafado, enquanto se movia lentamente em nossa direção. O ar ao redor dela parecia se distorcer, e eu pude sentir uma onda de calor atravessar meu corpo, misturada com uma sensação de pavor que quase me congelou no lugar.
Dylan me tocou no ombro, e eu o senti se aproximar, sua respiração acelerada, mas ele estava firme. — Estamos nisso juntos, lembra? — ele disse, com a voz mais calma do que eu esperava.
— Eu lembro — respondi, tentando manter a mente focada. Não tínhamos muito tempo. Se não agíssemos rápido, mais dessas criaturas poderiam atravessar, e o caos que estávamos tentando evitar se tornaria realidade.
Alice digitava freneticamente, enquanto Helena tentava ajustar os controles da máquina para reverter o processo.
— Segurem essa coisa! — Alice gritou, sem tirar os olhos da tela. — Só preciso de mais alguns segundos!
Com o coração batendo a mil, me preparei para o que viria a seguir.
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A criatura se moveu de forma errática, sua silhueta distorcida flutuando acima do chão, como se desafiando todas as leis da física. O rosnado baixo e profundo reverberava pelo ar, me deixando tenso. Dylan deu um passo à frente, pronto para qualquer coisa, e Helena se posicionou ao lado de Alice, tentando ajustar a máquina para reverter a brecha que havia sido aberta.
— Precisamos segurar essa coisa! — gritei, sabendo que o tempo estava contra nós.
Sem pensar duas vezes, corri na direção da criatura, tentando distraí-la. Atirei um pedaço de metal que estava no chão, acertando-a no braço, mas aquilo mal pareceu incomodá-la. A criatura rosnou mais alto, e seu corpo distorceu novamente, como se estivesse prestes a atacar. Dylan, sem hesitar, veio logo atrás de mim, pegando uma barra de ferro improvisada.
— Eu não vou deixar você enfrentar isso sozinho! — ele gritou, erguendo a barra e golpeando a criatura com toda sua força.
O impacto fez um som seco, mas, para o nosso horror, a criatura não se abalou. Em vez disso, ela se voltou para Dylan, seus olhos brilhando ainda mais intensamente, como se o tivesse escolhido como alvo.
— Dylan, cuidado! — gritei, tentando me aproximar, mas a criatura moveu-se de forma surpreendentemente rápida. Em um piscar de olhos, ela o agarrou, envolvida em sombras que pareciam vivas.
— Vincenzo! — Dylan lutava para se soltar, mas as sombras que a criatura criava ao seu redor pareciam sugar sua energia, puxando-o em direção à brecha aberta no teto.
Helena, vendo a situação, deixou os controles e correu para ajudar, tentando puxar Dylan de volta. No entanto, a criatura era mais forte do que qualquer um de nós havia imaginado. As sombras se enrolaram ao redor dela também, e, num instante, tanto Dylan quanto Helena foram puxados para o portal.
— Não! — gritei, sentindo meu coração disparar no peito.
Eu corri na direção deles, estendendo a mão, mas era tarde demais. A brecha começou a se fechar rapidamente, sugando ambos para dentro como se fossem apenas folhas no vento. O portal se contraiu, deixando apenas uma fração de segundo para eu ver o desespero nos olhos de Dylan antes que ele e Helena desaparecessem completamente.
O galpão ficou em silêncio por um momento, e o ar parecia ter sido drenado. O portal se fechou com um estalo final, e a criatura que havia saído dele desapareceu junto com Dylan e Helena.
— Dylan! — gritei, a dor e o pânico tomando conta de mim.
Mas Alice, concentrada, estava determinada a impedir que mais danos fossem feitos. Com uma calma que eu não esperava, ela digitou rapidamente, suas mãos voando sobre o teclado enquanto ajustava a máquina. O zumbido que antes parecia caótico começou a diminuir, e, em poucos segundos, o sistema se estabilizou.
— Consegui! — Alice disse com um tom urgente, mas controlado. — Fechei a brecha. Pelo menos por agora, não há como eles serem detectados.
Eu estava com o coração disparado, ainda em choque pelo que acabara de acontecer.
— Mas Dylan... Helena... — eu murmurei, tentando processar tudo. Eles tinham sido sugados para outra realidade, e eu não sabia como trazê-los de volta.
Alice se virou para mim, os olhos brilhando de determinação, apesar da situação. — Eu vou trazê-los de volta, Vincenzo. Nós vamos trazer eles de volta. Mas, por enquanto, temos que nos concentrar. Precisamos impedir a Lilly de abrir outra brecha maior. Se ela conseguir, não teremos uma segunda chance.
Respirei fundo, tentando me recompor, mesmo com a dor e o medo me consumindo por dentro. Sabia que Alice estava certa. Precisávamos nos focar na tarefa à frente, mesmo que tudo dentro de mim gritasse para eu ir atrás de Dylan.
— Vamos fazer isso então — falei com firmeza. — Mas eu vou buscar Dylan e Helena. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Alice assentiu, o brilho da determinação refletindo nos olhos dela. Enquanto ela continuava ajustando os controles, eu me preparei mentalmente para o que viria a seguir. Não havia como recuar agora.
A missão de salvar Dylan e Helena tinha acabado de começar.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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