Capítulo Trinta
Vincenzo Alves:
Terminei os curativos enquanto as crianças voltavam correndo, cada uma segurando pratos que pareciam ter saído diretamente de um restaurante gourmet. Os pratos que Dylan preparou estavam coloridos e perfumados, uma verdadeira obra-prima culinária que já havia conquistado os pequenos. Eles entregaram os pratos a Laura com sorrisos orgulhosos.
— Mamãe, pode comer! O tio Dylan é o melhor cozinheiro da cidade — disse Bonnie, com os olhos brilhando de entusiasmo, como se tivesse revelado o maior dos segredos.
— Depois da senhora, é claro — Stephen completou, com uma expressão de orgulho infantil que era impossível de resistir.
Laura olhou para os dois com aquele sorriso que só as mães têm, cheio de amor e um toque de saudade, como se cada palavra deles fosse uma joia.
— Ah, como eu senti falta de ouvir vocês tentando me agradar com tanta sinceridade — disse ela, puxando os dois para um beijo nas bochechas antes de dar a primeira mordida na refeição de Dylan.
Assim que o sabor tomou conta, os olhos de Laura se arregalaram ligeiramente de surpresa e prazer.
— Isso está divino — exclamou ela, claramente impressionada.
— Não é para tanto — Dylan respondeu, sua voz carregada de uma modéstia que ele já não conseguia esconder totalmente, enquanto um sorriso brincava em seus lábios.
— Está sim! — Laura insistiu, rindo e dando outra mordida, enquanto as crianças batiam palmas como se Dylan tivesse acabado de ganhar um prêmio.
Eu lancei um olhar a Dylan, que parecia momentaneamente desarmado pelos elogios. Aquele brilho no rosto dele, o jeito como ele ficou encantado com a aprovação de Laura, me fez sorrir. O ambiente estava imerso em uma energia calorosa, de reconciliação e alegria. Estávamos juntos, finalmente, depois de dias de tensão e incerteza, saboreando o simples prazer de uma refeição compartilhada.
As risadas das crianças ecoavam pelo apartamento, preenchendo o espaço com uma leveza que há muito tempo não sentíamos. As conversas fluíam naturalmente, os elogios à comida de Dylan, as pequenas histórias que Laura contava para as crianças, como se o tempo que passamos separados não tivesse importado.
À medida que a noite avançava, senti aquele laço entre nós se fortalecer ainda mais. Ali, cercado por essas pessoas que significavam tanto para mim, percebi que não importava o quão sombrias as coisas parecessem do lado de fora, aqui dentro, juntos, tínhamos algo especial. Era uma espécie de harmonia rara, algo que nos lembrava de que, mesmo diante dos maiores desafios, sempre poderíamos encontrar consolo e alegria um no outro.
E assim, enquanto a noite se desenrolava, compartilhando risadas e histórias, saboreando a comida e o conforto de estar ao lado de quem amamos, percebi que esse momento, por mais simples que fosse, era a nossa verdadeira força. E, por um breve instante, o mundo lá fora podia esperar.
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Após colocar as crianças na cama e contar-lhes uma história reconfortante, Laura voltou para a sala, onde Dylan e eu a esperávamos ansiosos. O ambiente ainda estava tenso com o peso das revelações que ela trouxera. Antes disso, eu já havia informado o restante do grupo sobre seu retorno inesperado e seu atual paradeiro, sabendo que isso causaria um misto de alívio e apreensão.
— Imagino que o pessoal vai ficar um pouco desapontado por eu ter voltado antes de conseguirem alguma informação adicional da... louca da Lily — Laura comentou, coçando a nuca com um leve constrangimento, como se soubesse o tamanho da pressão que todos estavam sentindo.
Dylan sorriu, aquele sorriso reconfortante que só ele tinha, irradiando calma e segurança.
— Bem, Laura, sua segurança e bem-estar sempre serão nossa prioridade número um. Lily pode esperar. Afinal, você é insubstituível — ele disse com um tom caloroso, deixando claro que estávamos todos no mesmo time.
Laura retribuiu o sorriso com ternura, mas a tensão logo voltou ao seu olhar.
— Mas eu encontrei algo — ela continuou, tirando algo do bolso da calça com uma expressão preocupada. — Ela está tentando recriar o antigo exército de supersoldados, aquele que conseguimos impedir anos atrás.
Meu estômago afundou ao ouvir aquilo. Os últimos raios de sol da tarde filtravam pelas cortinas, criando sombras que pareciam dançar no carpete, refletindo a complexidade e o perigo da situação.
— Por que ela faria algo assim agora? — perguntei, tentando manter a voz firme. — A grande maioria das pessoas que a ajudava está atrás das grades, e tomamos medidas para garantir que nossas instalações fossem impenetráveis. Como ela pensa que pode retomar algo dessa magnitude?
Laura suspirou, passando a mão pelos cabelos castanhos, claramente cansada.
— Isso eu não sei — admitiu ela, me entregando um envelope fino. — Mas consegui esses planos e mandei tudo para você. Nem eu entendo completamente o que ela está tramando. Se conheço bem sua família, já devem estar especulando. Eles sempre conseguem descobrir mais do que parece possível com os detalhes que têm em mãos.
Nossos olhares se cruzaram, e senti aquela desconfortável familiaridade de estarmos lidando com algo muito maior do que podíamos controlar. Dylan, ao meu lado, estava igualmente tenso. Sabíamos que estávamos entrando em território perigoso.
— Nós encontramos algo também — comecei, hesitando por um segundo antes de continuar. — Demitre e Isadora passaram semanas investigando os registros financeiros, examinando com lupa todas as transações suspeitas, e finalmente descobriram que a empresa-mãe da Lilly estava fazendo distribuições secretas, muito além do que alegaram oficialmente.
Dylan me olhou com uma expressão de surpresa.
— E seguiu o rastro do dinheiro? — ele perguntou, ainda chocado com o que estávamos revelando.
Assenti, sentindo o peso de cada palavra enquanto explicava.
— Lilly transferiu fundos secretos da empresa para contas pessoais, sem que os outros acionistas soubessem. Descobrimos os nomes das pessoas que estavam financiando seus equipamentos e experimentos, incluindo... a família Montgomery.
A expressão de Dylan mudou, seu choque era evidente. Ele parecia lutar para processar as palavras, e um peso invisível se instalou no ambiente.
— Por que você não me contou isso antes? — ele perguntou, a voz baixa e rouca.
— Eu queria ter mais certeza antes de te envolver nisso — respondi com sinceridade. — Demitre fez uma pesquisa minuciosa antes de abordar Isadora. As informações se encaixam. O nome Montgomery estava entre os financiadores, mas focamos no pai dela. Pelo que parece, ele não sabia de nada. Foi enganado.
Laura, sempre observadora, interveio, lançando um olhar compreensivo para Dylan.
— Ele foi manipulado, como tantos outros — disse ela, a luz suave do candelabro refletindo a preocupação em seu rosto.
Continuei, lembrando do último confronto.
— Também tivemos outra invasão, na casa onde Helena e Liz estavam. Isadora e Demitre conseguiram neutralizar os capangas, mas um deles sobreviveu. Estamos tentando arrancar informações dele desde então.
Laura assentiu, o olhar dela ficando ainda mais sombrio.
— Eu sei como Lilly opera. Ela submete seus capangas a um treinamento tão intenso que eles resistem a qualquer tipo de dor, física ou mental. Eles são letais e obedientes, mas esse nível de lealdade não é fácil de quebrar.
Dylan estava quieto, absorvendo todas as informações, o que deixava claro que a situação era mais complexa e perigosa do que qualquer um de nós havia antecipado. Eu sabia que lidar com isso exigiria um esforço monumental.
— Lilly sempre foi a melhor em tudo que fazia — comentei, refletindo sobre o passado. — Mas, agora, é como se ela estivesse em uma missão pessoal de destruição. Ela era uma defensora da ciência e da tecnologia, liderava um grupo secreto dentro da agência, e agora... está criando assassinos.
Dylan balançou a cabeça, ainda tentando entender.
— O que fez ela se transformar nisso? — ele perguntou, ecoando o pensamento que me perseguia desde que Lilly havia reaparecido.
— Eu não sei — admiti, a frustração clara na minha voz. — Algo a mudou completamente. Agora estamos lidando com uma pessoa irreconhecível, uma ameaça que vai além do que jamais imaginamos.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Sabíamos que estávamos entrando em uma batalha perigosa e que o próximo passo seria crucial. Enfrentar Lilly e desvendar seus segredos seria uma tarefa monumental, cheia de riscos, mas também sabíamos que não tínhamos escolha.
Dylan, finalmente, quebrou o silêncio com uma determinação que não via há tempos.
— Precisamos agir rápido. Não podemos deixar Lilly continuar com seus planos. Vamos derrubá-la antes que seja tarde demais.
Eu assenti, sentindo a mesma convicção.
— Temos que fazer isso pela nossa segurança, pela segurança de todos. Vamos reunir nossos recursos e descobrir como parar Lilly de uma vez por todas.
E assim, com o destino de tantas vidas em jogo, estávamos prontos para enfrentar o que viesse. As sombras da incerteza ainda pairavam, mas estávamos unidos, prontos para o desafio.
Enquanto o silêncio preenchia a sala, o peso das decisões que precisávamos tomar parecia se intensificar. A luz suave do candelabro lançava sombras longas e dançantes, como se refletisse o perigo que estávamos prestes a enfrentar. Sabíamos que, a partir desse momento, nada seria fácil. Lilly estava sempre um passo à frente, e qualquer erro poderia custar muito caro.
Dylan foi o primeiro a se mover, respirando fundo enquanto olhava para mim e depois para Laura.
— A primeira coisa que precisamos fazer é garantir que as crianças fiquem seguras — disse ele, a preocupação evidente em seu tom. — Com tudo o que descobrimos, não podemos subestimá-la. Lilly é imprevisível.
Eu assenti, sentindo o peso de suas palavras. As crianças eram nossa prioridade absoluta. E agora, mais do que nunca, precisávamos ser cautelosos. A segurança delas não era algo que estávamos dispostos a comprometer.
— Concordo — respondi, firme. — Podemos levá-las para um lugar mais seguro, temporariamente, até que tenhamos uma estratégia clara para enfrentar Lilly.
Laura, que até então estava em silêncio, parecia estar pensando intensamente. Ela conhecia Lilly mais do que qualquer um de nós, e suas experiências passadas estavam claramente voltando à tona.
— Tenho uma ideia — ela disse, cruzando os braços enquanto ponderava. — Eu posso continuar investigando de dentro, mas precisamos criar uma distração. Se Lilly perceber que estamos nos movendo contra ela, vai ser ainda mais difícil pegá-la de surpresa.
A sugestão de Laura fez sentido. Se mantivéssemos Lilly ocupada com algo que não fosse nossa real intenção, poderíamos ganhar tempo para nos organizar e atacá-la quando ela menos esperasse.
Dylan olhou para mim, buscando minha opinião. Ele sempre confiou no meu instinto, e eu sabia que precisávamos agir com rapidez e precisão. Estávamos lidando com uma mulher que não tinha limites, alguém que não hesitaria em destruir tudo e todos para alcançar seus objetivos.
— Vamos montar um plano — falei com determinação, sentindo a urgência da situação. — Mas antes de qualquer coisa, precisamos reunir mais informações. Vou fazer contato com Demitre e Isadora. Precisamos saber o que mais eles descobriram e se há algum ponto fraco que possamos explorar.
Laura parecia concordar com a ideia, mas ainda havia algo que ela não havia dito. Seu olhar me dizia que havia mais em jogo do que apenas o que ela revelou até agora.
— Há outra coisa que você precisa saber — disse ela, depois de um breve silêncio. — Quando estava infiltrada, ouvi rumores de que Lilly está mais próxima de conseguir o que quer do que pensávamos. E pior ainda, ela pode ter apoio de gente de dentro da agência.
Aquelas palavras caíram sobre mim como uma tonelada de tijolos. Se Lilly realmente tivesse aliados dentro da agência, isso significava que estaríamos lutando contra algo muito maior do que prevíamos.
— Você tem certeza? — perguntei, meu tom mais sério do que antes.
Laura assentiu lentamente.
— Não tenho nomes, mas sei que ela tem pessoas em posições de poder. E isso pode explicar como ela conseguiu se manter oculta por tanto tempo, sem ser pega.
Dylan passou a mão pelo cabelo, claramente absorvendo o impacto dessa nova informação.
— Isso muda tudo — disse ele, a voz grave. — Se houver infiltração, não podemos confiar em mais ninguém além de nós mesmos. Teremos que agir nas sombras, como ela. E rápido.
Meu coração batia forte, as peças do quebra-cabeça finalmente começavam a se encaixar. Não era apenas uma questão de enfrentarmos Lilly. Estávamos cercados por traição, e qualquer passo em falso poderia ser fatal.
— Certo. Vamos agir com cautela — falei, tentando manter a clareza em meio ao caos crescente. — Laura, você continua a investigar. Dylan e eu vamos começar a traçar uma estratégia com base nas informações de Demitre e Isadora. E o mais importante: ninguém, além de nós, pode saber o que estamos fazendo.
Laura olhou para mim, a determinação brilhando em seus olhos.
— Isso vai ser perigoso, Vincenzo. Precisamos estar preparados para o pior. Lilly nunca joga limpo.
Eu sabia disso. Todos sabíamos. Mas não tínhamos escolha. Estávamos em uma corrida contra o tempo, e se falhássemos, as consequências seriam desastrosas.
— Eu entendo — respondi, minha voz baixa mas firme. — Estamos todos cientes dos riscos. Mas não vamos deixar que ela vença. Não desta vez.
Dylan segurou minha mão com força, seu olhar firme no meu.
— Vamos acabar com isso juntos.
O silêncio que seguiu não foi de medo, mas de compreensão mútua. Sabíamos o que estava em jogo, e estávamos prontos para lutar. Com o plano começando a tomar forma, nos levantamos, prontos para o próximo passo. As sombras que pairavam sobre nós eram apenas um lembrete do quão longe teríamos que ir para derrotar Lilly e garantir o futuro de nossas famílias.
E assim, com um último olhar de determinação entre nós três, sabíamos que, apesar dos perigos à frente, não estávamos sozinhos. Estávamos unidos. E juntos, encontraríamos uma forma de vencer.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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