Capítulo Treze
Dylan Watson:
Meu dia estava indo surpreendentemente bem. Todas as reuniões com os clientes fluíram como música, uma após a outra, e finalmente, após um longo dia, eu podia respirar aliviado e relaxar. Ou pelo menos, era isso que eu queria acreditar.
Assim que o expediente terminou e saí do escritório, um peso enorme caiu sobre mim. Eu sentia como se estivesse carregando o mundo nas costas. Não conseguia tirar da cabeça a pilha de documentos que me aguardava para o dia seguinte, nem as intermináveis reuniões que continuariam dominando a minha semana. Minha mente parecia um verdadeiro caos. Quanto mais eu tentava manter aquela máscara de tranquilidade impecável, mais exausto e desamparado eu me sentia por dentro. Era como segurar uma represa prestes a explodir.
Para o mundo — e até para a minha família — eu precisava ser o exemplo de um jovem promissor: bonito, bem-sucedido, cheio de camadas misteriosas e, claro, estável. Aos vinte e quatro anos, já era responsável por metade da empresa. Invencível, não é? Pelo menos era o que esperavam de mim. "Sentimentos? Ah, eles não podem interferir no trabalho," diziam. Mas, no fundo, eu era apenas uma pessoa normal, sufocada pela pressão. Cada segundo do dia, eu me pegava fantasiando com a ideia de largar tudo. Simplesmente desistir e ver o que aconteceria. Mas, obviamente, eu mantinha o sorriso educado, enquanto internamente lutava com esses impulsos.
E se eu realmente fizesse isso? Ah, seria o caos completo. Minha família enlouqueceria. A Bianca, minha irmã, teria que abandonar seus sonhos, voltar a se preocupar comigo como fazia no passado, largando seus projetos de moda que tanto ama. Eu não poderia arruinar tudo para ela. Além disso, tem algo em mim que ela sempre chama de "defeito." Nunca gostei de pedir ajuda, mesmo quando tudo está caindo aos pedaços ao meu redor. Já discutimos sobre isso inúmeras vezes. Sou complicado, eu sei, mas esse sou eu.
Lembrar do meu ex também não ajuda. Nossos encontros já eram raros por causa das minhas reuniões intermináveis, e as ligações diárias, por mais frequentes que fossem, nunca conseguiam substituir a presença física. Acho que ele se cansou disso antes de mim, o que, no fundo, eu já esperava. E hoje, para minha surpresa, ele me mandou uma mensagem. Queria me encontrar. Mas eu? Recusei na hora. Claro que recusei. Afinal, qual seria o sentido? Mais uma reunião emocional para minha coleção interminável?
Mas quando abri a porta do escritório, passei pelas mesas já reconhecendo aquela silhueta familiar. Ele estava ali, sentado, e meu coração deu uma leve fisgada de frustração. Mike. Assim que ele me viu, levantou, caminhando lentamente em minha direção. Cada passo parecia trazer à tona o peso do passado, como se a simples presença dele tivesse o poder de abrir feridas que eu me esforcei tanto para cicatrizar.
— Dylan, podemos conversar? — Mike perguntou, a voz dele parecia exausta, mas determinada. Soltei um suspiro profundo, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que passava dentro de mim.
— Não temos nada para conversar, Mike. Sei muito bem o que você está tentando fazer — falei, mantendo o tom calmo, quase frio, como se eu estivesse no controle, mesmo que, por dentro, eu estivesse segurando as peças do meu autocontrole com as unhas.
— Temos, sim, o que conversar — ele insistiu, sem recuar. Claro que ele não ia recuar, nunca recuava. Esse era o problema.
— Já sei o que vai pedir — continuei, cruzando os braços, querendo encerrar aquela conversa antes que ela sequer começasse. — Tayler me contou que ele só vai aceitar manter seu emprego se você me pedir desculpas sinceras. E eu tenho que permitir.
Mike ficou em silêncio por um momento, mas não era a surpresa que estava estampada no rosto dele. Ele sabia que eu estava ciente de tudo, claro. Mas havia uma tensão no ar, como se essa não fosse a única razão para ele estar ali.
— Não é só isso, Dylan... — ele começou, mas eu interrompi com um sorriso irônico.
— Ah, eu sei. Não foi só isso que aconteceu. Vincenzo fez questão de entrar no meio e, bem, destruir a sua vida, não foi? — A lembrança me fez quase sorrir de verdade. — Ele expôs todos os seus podres, entrando em conflito com seus negócios pela cidade, nos arredores... Destruiu tudo de uma vez, não foi?
Eu percebi o desconforto no rosto de Mike, mas aquilo, de certa forma, lavou a minha alma. Saber que Vincenzo, meu amigo, tinha feito o que eu secretamente desejei por tanto tempo... Bem, eu nem consegui esconder minha satisfação quando me contaram. Dei até um beijo na bochecha de Vincenzo naquele dia, como forma de agradecimento. Eu não tinha como expressar o alívio de finalmente ver Mike colhendo o que plantou.
Mas, ali estava ele, parado na minha frente, tentando... o quê? Reconstruir algo? Obter perdão? A verdade era que, naquele momento, eu não tinha certeza do que sentia além de uma pontada de satisfação misturada com uma gota de amargura.
— Então, estou dizendo de verdade, me perdoe por ter menosprezado a pessoa incrível que você é — Mike disse, mas eu notei imediatamente o quão superficial aquilo soava. Ele não estava pedindo desculpas com o coração, era só mais um ato de desespero, e a verdade é que eu já estava cansado dessas performances.
— Não tenho que aceitar nada se você vai fazer isso de má vontade — retruquei, mantendo a calma, mas sem esconder o desprezo em minha voz. — Minha consciência sobre você está limpa, Mike. Então... boa sorte na próxima vez.
Ele franziu o cenho, impaciente, mas insistiu. — O que quer que eu faça para aceitar minhas desculpas? Eu sei que te humilhei muito no passado, que fiz o pior ao te trair, mas meu emprego está em risco por sua causa.
Revirei os olhos, estalando a língua com desgosto. — Já ouviu falar em karma, Mike? Parece que ele te encontrou. Agora, se me der licença, tenho muito a fazer. Não tem como te ajudar.
A irritação no rosto dele era evidente, e sua voz ganhou um tom amargo. — Qual é o seu problema? Eu já pedi desculpas! Você está agindo como se isso não significasse nada. Namoramos por três anos! Onde está o seu carinho por mim? Pelo menos, minta dizendo que me perdoou.
Minha resposta foi calma, quase casual. — Você sabe muito bem que eu não sou do tipo que mente para agradar. E, quanto ao seu "esforço" na empresa... — fiz uma pausa para dar ênfase. — Bem, sempre foi algo terrível de se ver. Acredite em mim, Mike, o melhor que você pode fazer agora é ir atrás de outro emprego. Talvez algo que não envolva destruir a vida das pessoas ao seu redor. Só uma dica.
Mike me olhou por um momento, então, de forma quase patética, estendeu um pequeno estojo com joias de esmeralda.
— Antes que eu me esqueça, comprei isso para você. Lembra como você fica bem com joias verdes? — Ele falou de um jeito que parecia tentar trazer de volta algum sentimento afetuoso, mas eu só conseguia sentir repulsa.
Eu levantei uma sobrancelha, pegando o estojo com delicadeza forçada. — Realmente? Mas por que tenho a sensação de que essa peça é... antiquada?
Mike corou um pouco, envergonhado, mas eu continuei.
— Embora essas joias estejam desatualizadas, ainda valem alguns dólares. Posso penhorá-las amanhã e trocá-las por algo mais... adequado. Talvez um acessório de diamante? — Estalei os dedos, sorrindo de lado. Ele ficou visivelmente abalado com meu desdém.
— Você... você não gostou? Então... que tipo de joias você gosta? Eu posso comprar outra coisa outro dia... — A insegurança era palpável na voz dele.
Eu sorri docemente, mas minhas palavras foram afiadas. — Eu gosto de grandes diamantes rosa ou azuis. Tão grandes quanto a cabeça de um pombo, sabe? Afinal, não sou uma pessoa luxuosa, nem penso alto, não é? — Minha ironia fez ele desviar o olhar, claramente desconfortável.
Ele me observou por um longo momento, como se tentasse encontrar uma resposta em meu rosto, algo que lhe desse esperança.
— Dylan, você não me ama mais? — Ele perguntou, sua voz tremendo um pouco, e seus olhos se fixaram nos meus, buscando alguma faísca de emoção.
Eu ri baixinho, um riso seco e sem humor. — Ainda tem dúvidas? Parece que você está com problemas de memória. Eu te detesto, Mike. Acima de tudo, eu te desprezo. E quero que você desapareça da minha vida. Não temos mais nada para conversar, e suas desculpas nunca serão sinceras.
Eu passei por ele, meu corpo tenso, mas ao mesmo tempo aliviado. Estava prestes a sair quando senti sua mão se fechar em volta do meu punho, com uma força que só podia vir da raiva. Seus olhos estavam tomados pela frustração.
— Você só vai sair quando eu deixar — ele disse com um tom ameaçador, apertando meu punho com força.
Virei-me lentamente, mantendo a calma enquanto o encarei. Com um movimento calculado, toquei um ponto sensível em seu braço. Ele me olhou confuso por um segundo, mas logo seu aperto começou a enfraquecer, e ele desabou na cadeira ao lado, seus membros começando a ficar dormentes.
Bati de leve no ombro dele, um sorriso frio e satisfeito surgindo em meu rosto.
— Levem ele para outro lugar, parece que perdeu as forças — falei para o garçom e a garçonete que, prontamente, chamaram os seguranças. Eles chegaram em segundos, prontos para levá-lo embora enquanto ele continuava paralisado pela dor e pelo choque.
Dei mais uma olhada para Mike antes de sair, sem olhar para trás, sabendo que, finalmente, aquela história estava chegando ao fim.
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Tem algo sobre mim que nunca contei a ninguém. Não é exatamente um segredo sombrio, mas é algo que guardo para mim mesmo. Antes de me envolver com o mundo dos negócios e toda essa correria do dia a dia, eu estava aprendendo artes marciais. Sim, ao mesmo tempo em que me dedicava ao piano e ao violino na faculdade. Tudo isso, graças a uma pessoa que acabou se tornando uma figura paterna para mim.
Aos dezoito anos, eu já tinha terminado um curso de administração de quatro anos — em uma universidade qualquer, nada muito impressionante. Mas foi nesse período que meu mestre, essa figura tão importante, decidiu que eu estava pronto para aprender algo especial, algo que fazia parte da tradição da sua família. Ele quis me ensinar a técnica secreta da acupuntura com agulhas. Era algo que exigia uma precisão e concentração absurdas, mas, de certa forma, aquilo me fascinou. Talvez porque fosse tão diferente de tudo o que eu estava acostumado.
Claro, não é algo que eu uso no meu dia a dia. Só aplico essa técnica em ocasiões muito específicas, como o que acabou de acontecer agora. Eu sabia que, naquela situação, era a opção mais sensata. Usar essas habilidades é como um último recurso, algo que guardo para momentos em que todas as outras saídas parecem menos... eficazes.
Saí dos meus devaneios quando meu celular começou a vibrar no bolso. O nome de Madison surgiu na tela, e eu sorri, já imaginando que ela teria algo interessante para compartilhar.
— Dylan — a voz dela soou animada, mas com um toque de nervosismo. — Está ocupado?
— Não muito — respondi, olhando para a pilha de papéis que ainda me esperava. — Do que você está precisando?
— Então... pode prometer que não vai contar para ninguém? — Madison falou, e meu radar de curiosidade ligou na hora.
— Assim você só me deixa nervoso. O que você fez? — brinquei, já imaginando que vinha alguma revelação importante.
— Eu... eu estou saindo com alguém nos últimos dias — ela confessou, hesitante. — Mas quero esperar um pouquinho antes de contar quem é. Vocês são muito escandalosos.
Eu ri, estalando a língua em falsa reprovação. — Se não vai me dizer quem é, então por que me contou? Eu já sabia há algum tempo que você estava saindo com alguém. Estava só esperando o momento em que ia me contar.
— Sabia que você ia entender — ela disse, com um suspiro de alívio. — Mas eu precisava contar a alguém. E também... talvez você possa me ajudar. Preciso mandar uma mensagem para ele, mas tem muitos paparazzi em frente ao lugar das gravações. Pedi que ele enviasse uma encomenda para o restaurante com o nome que usamos para manter nossa relação discreta. Amigo, eu vejo um futuro com esse cara.
— Sem problemas — falei, já me levantando para passar em casa e pegar a encomenda dela. — Mas, se tiver alguns doces no pacote, vou ter que cobrar o meu preço e comer todos como pagamento.
Ela riu do outro lado da linha, e o som era tão leve e feliz que me fez sorrir também.
— Eu já sabia que você ia fazer isso, por isso já avisei ele para enviar duas caixas, caso tenha doces envolvidos — Madison respondeu.
— Você me conhece tão bem — brinquei, com uma emoção inesperada na voz. — O segredo de vocês está seguro comigo, pode ficar tranquila.
Conversamos mais um pouco antes de ela desligar para voltar às filmagens. Cerca de meia hora depois, a encomenda chegou. E, como prometido, havia uma caixa só para mim, cheia de doces deliciosos que comecei a devorar sem hesitar. A de Madison, por outro lado, era uma verdadeira fofura: uma caixa em formato de coração, cheia de cremes para a pele que ela adorava.
Não pude evitar um sorriso ao ver o cuidado nos detalhes. Era um gesto simples, mas carregado de carinho. Achei tudo uma graça, e não pude deixar de pensar que, se o cara por quem ela está caidinha for tão atencioso quanto essa encomenda, ela realmente encontrou alguém especial.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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