Capítulo Dois
Dylan Watson:
Assim que entrei na boate Blue Dream Bay, fui imediatamente envolvido pelo som pulsante da música eletrônica e as luzes neon que piscavam, criando um ambiente quase hipnótico. O DJ estava no centro de tudo, agitando a multidão com batidas dinâmicas que faziam o chão tremer. As pessoas ao meu redor dançavam sem qualquer preocupação, imersas naquele momento de pura euforia, uma mistura de corpos se movendo em uníssono, deixando de lado todas as preocupações do mundo. Era como se aquela noite fosse feita para esquecer qualquer tristeza.
De longe, avistei minhas amigas, um grupo de rostos familiares que sempre pareciam ser o remédio perfeito para qualquer tempestade emocional. Quando elas me viram, abriram espaço no meio da pista de dança e vieram até mim com os braços estendidos. Fui envolvido por abraços calorosos, daqueles que fazem você se sentir em casa, mesmo no meio de uma multidão barulhenta. O perfume familiar delas e a risada animada de sempre imediatamente começaram a fazer efeito, afastando os vestígios do desastre que tinha sido a noite anterior.
— Aí está ele, o cara do momento! — Uma delas brincou, me puxando para mais perto do grupo.
— Pronto para esquecer a noite horrível e dançar até os pés não aguentarem mais? — outra amiga falou, piscando para mim com um sorriso travesso.
Eu ri, sentindo a tensão lentamente começar a se dissipar. Elas sabiam que eu precisava daquilo. Precisava me desconectar, deixar o peso da traição de Mike desaparecer em meio à música alta e ao brilho das luzes que giravam ao nosso redor. Talvez essa fosse a solução, pelo menos por uma noite. Esquecer. Deixar tudo para trás.
— Vocês são as melhores — falei, tentando soar mais leve do que realmente me sentia.
Uma das garotas me entregou uma bebida brilhante — algo colorido, com um guarda-chuvinha — e eu aceitei sem hesitar. O gosto doce e gelado explodiu na minha boca, enquanto a batida da música parecia cada vez mais sincronizada com os batimentos do meu coração.
— É disso que você precisa — disse uma das minhas amigas, levantando o copo dela para um brinde improvisado. — Um brinde a nós, e a novas aventuras!
Levantei meu copo, agora com um sorriso mais genuíno. Talvez estivesse certo. Aquele era o meu momento. Eu já havia perdido tempo demais me moldando ao que Mike queria que eu fosse. Agora era hora de descobrir, ou talvez redescobrir, quem eu realmente era.
A pista de dança parecia me chamar, e quando nos misturamos à multidão, comecei a sentir a música me guiar, o peso nas minhas costas se dissolvendo, pelo menos por aquela noite.
O ambiente na Blue Dream Bay estava em pura vibração. As luzes piscavam em tons de neon, dançando sobre as cabeças da multidão. O ar estava carregado de eletricidade, uma energia que só um lugar lotado de pessoas decididas a esquecer seus problemas por uma noite pode gerar. Eu não era diferente, não naquela noite.
— Dylan, você está bem em beber tanto? — A voz preocupada de Madison me tirou do transe da bebida.
Olhei para ela, o copo já meio vazio na mão. Havia perdido a conta de quantos eu já tinha bebido. Talvez duas horas já tivessem passado desde que cheguei, e honestamente, não parecia o suficiente.
No canto da mesa, Carl estava jogado, completamente nocauteado. Ele havia sido meu companheiro de bebida por um bom tempo, mas agora estava inconsciente. Que sorte a dele.
Eu peguei mais um copo, recém-preparado, e virei de uma vez, sentindo o calor do álcool escorrer pela garganta e me aquecer por dentro.
— Estou perfeitamente bem — falei, mais para mim do que para ela.
Madison me lançou um olhar de ceticismo, mas antes que ela pudesse insistir, o DJ Alan interrompeu o momento.
— Olá pessoal! Espero que todos estejam prontos para se divertir ainda mais esta noite! Tenho o prazer de apresentar alguém muito especial que tornou isso tudo possível: a fabulosa, a incrível, a única, Emily Montgomery! — gritou o DJ, apontando para a direção de Emily, que estava se divertindo tanto quanto qualquer um ali, mas ao mesmo tempo tentando me controlar. Ela e Madison estavam me monitorando de perto, como se eu fosse um adolescente rebelde.
A multidão foi à loucura. Emily, sempre charmosa, ergueu seu copo e sorriu com aquele jeito inconfundível que era ao mesmo tempo ousado e encantador.
— Esta noite, o Blue Dream Bay é meu, e é de todos vocês! Bebam, comam e divirtam-se! Meu único pedido é: ninguém vai embora até estar completamente bêbado! — Emily anunciou, brindando com a multidão.
Eu levantei meu copo junto com todos. Essa era a Emily que eu conhecia e admirava. Corajosa, destemida, sempre no controle. Por um segundo, desejei ser um pouco mais como ela, tão livre, tão segura de si.
Enquanto Emily distribuía mais charme e risadas, Madison se inclinou e sussurrou no meu ouvido:
— Dylan, acho que tem um cara te olhando. Faz tempo.
Eu revirei os olhos, virando mais uma dose.
— Não estou nem aí pra isso — respondi, tentando afastar qualquer possibilidade de envolvimento. — Eu só quero focar nas bebidas e na nossa diversão.
Depois de três anos ao lado de alguém que me traiu, honestamente, a última coisa que eu queria era me envolver com outro cara. Pelo menos não agora. Eu ainda estava processando o desastre que havia sido minha vida romântica até algumas horas atrás. Mike era passado, e eu estava determinado a aproveitar o presente.
— Amigo, já chega de beber suas dores — Emily interrompeu meu fluxo de pensamentos, sua voz séria por um segundo. — Ele foi o idiota, não você.
— Não é por causa dele que estou bebendo — respondi, mas a verdade era que talvez uma parte de mim ainda estivesse tentando afogar as frustrações de ter desperdiçado tanto tempo.
Emily, sempre perspicaz, me olhou com curiosidade.
— Você se arrepende de ter sacrificado tantas coisas por ele? — perguntou, genuinamente interessada. — Porque se for o caso, ainda dá tempo de correr atrás dos seus sonhos.
Madison concordou, se aproximando.
— Exatamente! Você ainda é jovem, Dylan. Não é como se tivesse desperdiçado vinte anos em um casamento sem amor. Há tanto pela frente!
As duas estavam certas, e por um breve momento, eu pensei no que tinha deixado para trás. Quantas oportunidades tinham ficado pelo caminho, todas em nome de um relacionamento que, no final das contas, era uma mentira?
Olhei para elas, meus amigos mais queridos, e sorri de leve.
— Vocês sabem que nunca me arrependo dos momentos que vivi, mesmo se tudo tiver dado errado no final. Mas sim... a forma como acabou, isso me afeta — confessei, sentindo o peso de minhas próprias palavras.
O silêncio entre nós foi quebrado por uma risada vinda de Carl, que acabara de acordar do seu estado de coma alcoólico, e Emily correu para ajudá-lo.
De repente, me virei para Madison, sentindo uma súbita onda de nostalgia.
— Há quanto tempo a gente não dança juntos? — perguntei, o sorriso brincando nos meus lábios.
Madison, surpresa, me olhou como se não tivesse certeza se eu estava brincando.
— Você quer dançar?
Sem esperar, agarrei sua mão e a puxei para o centro da pista. Um sorriso se espalhou pelo rosto dela, enquanto ríamos como dois adolescentes que se conheciam há séculos. Quando começamos a dançar, foi como se o mundo ao nosso redor desaparecesse. A música, o ritmo, tudo nos envolvia. Nossa sintonia era natural, como sempre havia sido.
O DJ trocou o ritmo, aumentando a intensidade da música, e nós dois nos movíamos com uma energia renovada. Sob as luzes psicodélicas, os saltos dourados de Madison brilhavam, refletindo todas as cores do arco-íris. Ela estava incrível, e eu me deixei levar, sentindo uma confiança que não sabia que ainda tinha.
A multidão ao nosso redor começou a nos observar, os flashes de câmera surgiram, mas não me importei. Estava lá para me divertir, para deixar tudo o que doía para trás, pelo menos por uma noite.
Quando finalmente desci do palco, Emily estava lá, sorrindo.
— Você precisa me ensinar a dançar assim! — ela exclamou, levantando o copo em minha direção.
Carl, ainda meio tonto, riu enquanto se aproximava.
— Dylan, você precisa de um parceiro? Posso ser o seu pelo resto da vida! — ele disse, meio brincando, meio sério.
Emily fingiu indignação.
— Ei, ele é meu parceiro! — ela reclamou, empurrando Carl de leve.
— Amor, sabe que o Dylan dança melhor que todos nós juntos — Carl falou, piscando para ela. — Mas você é o amor da minha vida.
Revirei os olhos, rindo da situação. Era exatamente disso que eu precisava: estar cercado por pessoas que me amavam e que, de alguma forma, me lembravam de que eu valia muito mais do que a traição de Mike.
— Só se vive uma vez — Carl repetiu, levantando seu copo mais uma vez. — E hoje a gente vive para comemorar que o Dylan está de volta à sua melhor forma.
A música continuava a pulsar ao meu redor, cada batida parecia ressoar dentro do meu peito, afastando qualquer pensamento negativo. A pista de dança estava lotada, as luzes piscavam em um frenesi de cores e eu estava imerso naquela energia, me permitindo sentir o momento sem pensar no passado.
Emily e Carl estavam rindo e bebendo em algum lugar perto do bar, enquanto Madison dançava ao meu lado, sempre com aquele sorriso gentil que eu conhecia tão bem. Mas, por algum motivo, eu estava começando a sentir um impulso diferente. Não era só a bebida, era a sensação de liberdade. Algo em mim queria mais, queria me soltar completamente. E então, do canto dos meus olhos, eu vi.
Ele estava parado na borda da pista de dança, me observando. Alto, com uma postura relaxada, mas algo em seu olhar era intenso. Ele tinha cabelos castanhos escuros, bagunçados de um jeito que parecia proposital, e um leve sorriso no rosto, como se já soubesse que eu o havia notado. Seu olhar parecia atravessar o tumulto ao redor e encontrar o meu, me prendendo ali por um segundo a mais do que eu esperava.
Eu desviei o olhar por um momento, fingindo que nada tinha acontecido, mas logo me vi voltando a encará-lo. Havia algo intrigante nele. Talvez fosse o mistério, ou talvez fosse a maneira como ele parecia alheio a tudo, exceto a mim. Quando Madison percebeu que eu tinha perdido o foco, ela se inclinou em minha direção.
— Ei, quem é o cara misterioso? — perguntou, tentando seguir meu olhar.
— Não sei — respondi, com um sorriso travesso. — Mas acho que vou descobrir.
Sem pensar muito, acabei me afastando de Madison e caminhando em direção ao estranho. Ele não se mexeu, apenas me observou chegar mais perto. Conforme me aproximei, pude perceber melhor seus traços. Ele era bonito, mas não de um jeito óbvio. Havia algo no olhar dele que era convidativo, quase desafiador. Como se ele quisesse ver até onde eu iria.
— Você é o tipo que só olha ou também dança? — perguntei, parando na frente dele, sentindo meu coração bater um pouco mais rápido.
Ele sorriu, um sorriso lento que parecia carregar segredos.
— Depende de quem está perguntando — respondeu, sua voz rouca cortando a música ao redor.
— Eu estou perguntando. — Ergui uma sobrancelha, desafiador. Algo dentro de mim sabia que isso não era só um flerte. Era sobre eu provar algo para mim mesmo, que eu podia seguir em frente, me divertir, e deixar o passado onde ele deveria ficar.
Ele riu, um som suave, e deu um passo à frente, encurtando a distância entre nós.
— Então acho que devo dançar, não? — disse ele, estendendo a mão.
Eu segurei a mão dele, sentindo a conexão instantânea, e o puxei para a pista de dança. Assim que a música mudou para algo mais lento e sensual, nos movemos juntos, naturalmente. Era como se o resto do mundo tivesse desaparecido, e tudo o que importava era o ritmo e a forma como nossos corpos se sincronizavam.
Seus olhos estavam sempre nos meus, como se ele estivesse estudando cada movimento, cada reação minha. E, estranhamente, eu gostava disso. Sentia algo diferente. Não era apenas sobre a dança ou o flerte. Era sobre me reconectar comigo mesmo, com o que eu queria naquele momento.
Enquanto a música fluía, a proximidade entre nós aumentava. Ele me girava suavemente, nossos corpos às vezes se tocavam, e eu podia sentir o calor dele, o cheiro leve do perfume misturado com o ambiente da boate. A intensidade entre nós crescia, mas era algo calmo, como se não houvesse pressa. Apenas o desejo de aproveitar o momento.
Por um instante, o mundo parecia desacelerar. Ele se inclinou para perto do meu ouvido, sua respiração quente contra minha pele.
— Você dança bem, mas acho que pode me surpreender ainda mais — sussurrou ele.
Eu ri, sentindo uma confiança que há tempos eu não sentia.
— Isso é um desafio? — perguntei, virando de forma que nossos rostos ficassem próximos.
— Talvez — respondeu ele, com aquele sorriso misterioso.
A música mudou novamente, e, dessa vez, era mais intensa. Sem hesitar, comecei a me mover de forma mais ousada, meu corpo seguindo o ritmo pesado da música. Ele me acompanhava, seus olhos nunca desviando. A atmosfera ao nosso redor parecia esquentar, e eu me deixava levar, sem pensar em nada além de me soltar e me divertir. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava deixando de lado as preocupações, as decepções, e simplesmente aproveitando a vida.
A pista ao redor parecia ter desaparecido. Não importava que houvesse outras pessoas ali. Tudo o que eu via era ele, e o jeito como nossos corpos pareciam se entender, como se estivéssemos dançando juntos há muito mais tempo do que apenas alguns minutos.
Em algum momento, Emily e Madison apareceram de relance, rindo e me observando de longe. Sabiam que eu estava me permitindo aproveitar a noite de uma forma que há tempos eu não fazia.
Finalmente, quando a música começou a diminuir, parei e olhei para ele. Estávamos próximos, a respiração levemente ofegante por causa da dança. Ele ainda me encarava com aquele sorriso calmo.
— Acho que você passou no desafio — disse ele, com uma piscadela.
Eu sorri de volta, me sentindo mais leve, mais confiante.
— Acho que sim — respondi, rindo.
Ele se inclinou levemente, como se fosse dizer algo mais, mas antes que pudesse, Madison apareceu ao meu lado, puxando meu braço.
— Ei, precisamos de mais uma rodada de bebidas — disse ela, me olhando com um sorriso conspiratório.
Eu sabia que ela estava me dando uma saída graciosa, e, por um momento, hesitei, mas depois soltei a mão do estranho.
— Vou pegar a próxima rodada — falei para ele, dando um último olhar antes de seguir Madison de volta para o bar.
Enquanto me afastava, senti um sorriso no rosto. Não sabia seu nome, mas aquela noite, ele me ajudou a lembrar que eu podia me divertir e seguir em frente, sem olhar para trás.
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Minha cabeça estava estranhamente leve, como se estivesse flutuando em nuvens macias, e meu corpo todo parecia meio flácido. Eu suspirei, tentando juntar os pedaços da noite anterior. Talvez fosse a falta de um bom descanso nos últimos dias, ou até mesmo aquela sensação estranha que vinha todo mês, quando a exaustão batia de uma só vez. E claro, não ajudava o fato de que eu tinha bebido como se o mundo fosse acabar.
A última coisa que lembrava com clareza era de estar na boate com meus amigos, rindo, dançando e me soltando como nunca. Deus, eu precisava disso. Fazia tempo que não me divertia assim. A bebida tinha fluído, as risadas também, e por algumas horas, tudo o que doía dentro de mim tinha desaparecido.
Agora, porém, enquanto o torpor da ressaca me envolvia, meu único desejo era continuar dormindo, deixar minha mente se acalmar e voltar àquela leve sensação de esquecimento. Fechei os olhos, tentando me reconfortar nas cobertas e afundar no travesseiro, pronto para mais algumas horas de sono.
Foi então que senti algo inesperado: um braço envolvendo minha cintura.
Meu coração deu um salto imediato. Espera... o quê?. Pisquei algumas vezes, minha mente lenta tentando entender. Por que diabos tinha alguém ao meu lado? Tentei me mover, mas o braço forte que estava sobre mim se apertou, como se o dono dele estivesse me puxando para mais perto. Agora, meus sentidos estavam despertos. O que estava acontecendo?
Minha respiração acelerou e uma onda de adrenalina percorreu meu corpo. Pisquei várias vezes na tentativa de me situar, mas tudo ao meu redor estava mergulhado na escuridão. Não conseguia ver claramente nada, apenas sombras e formas distorcidas no breu. O quarto era antigo, o chão parecia áspero, enlameado, e havia uma mesa surrada no centro. Uma penteadeira com um grande espelho estava encostada perto da janela, o vidro brilhando levemente com a luz que entrava pelas frestas.
Minhas mãos começaram a suar enquanto eu lentamente virei a cabeça para o lado. Quem era o homem ao meu lado?. Ele estava deitado, de costas, e seu cabelo bagunçado cobria grande parte de seu rosto, mas a metade inferior de seu rosto era visível. Um queixo forte, um perfil angular... tudo começava a me parecer vagamente familiar.
Eu congelei.
Minha mente reconheceu aquele perfil antes que eu pudesse realmente processar. Não podia ser. Mas era.
— VINCENZO! — O nome saiu da minha boca como um tiro, minha voz alta e incrédula. Pulei para fora da cama de imediato, assustado.
Vincenzo acordou com um susto, os olhos se arregalando enquanto ele pulava na cama também, claramente tão confuso quanto eu. Por um segundo, nossos olhares se encontraram, ambos surpresos, os corações acelerados.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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