Capítulo Dezessete
Vincenzo Alves:
Enviei os e-mails para meus irmãos, torcendo para que eles pudessem analisar a situação com clareza. Eu sabia que todos já tinham suas próprias responsabilidades, mas isso não podia esperar. Não tinha tempo para me iludir, imaginando problemas onde talvez não houvesse, mas também não podia correr o risco de ignorar algo importante.
Logo depois, Isadora entrou no escritório, seu olhar carregado de ceticismo, e sem perder tempo, já foi direto ao ponto.
— Acho que lembrei porque nunca gostei muito do Demitre — disse ela, se jogando no sofá e abrindo o laptop com uma expressão irritada. — Como é que você consegue ser amigo dele? Tô aqui tentando trabalhar, encontrar uma pista, e ele não para de cantarolar uma música... e ainda por cima, erra a letra!
Soltei um riso contido, já sabendo onde isso ia parar.
— É assim que ele trabalha — tentei explicar, embora o olhar assassino que ela me lançou deixasse claro que minha justificativa não a convencia nem um pouco. — Mas ele provavelmente está fazendo isso só porque sabe que te irrita.
Isadora cruzou os braços e estreitou os olhos para mim. — Acho que você está querendo defender aquele cretino. Tá confundindo quem é sua melhor amiga aqui.
— Não estou defendendo ninguém — me apressei em dizer. — Na verdade, nem ligo pro que ele faz. Estou mais preocupado com as ações da Lílly... e, bom, com o fato de que a família e os amigos do Dylan querem me conhecer.
Isadora parou por um momento, sua expressão mudou de crítica para algo mais inexpressivo, como se estivesse digerindo essa nova informação.
— Conhecer a família e os amigos dele, hein? — murmurou, com um toque de ironia. — Meu amigo, você está ferrado. Aposto que eles já têm uma opinião negativa de você.
Suspirei, sentindo o peso de suas palavras. — Vi a mãe do Dylan ontem. Se não fossem as crianças, eu provavelmente já teria causado um problema.
Ela estalou a língua com um toque de impaciência. — Ainda mantenho o que disse: você está ferrado.
Eu sabia que ela tinha razão. Encontros com famílias normalmente são algo simples para a maioria das pessoas. Mas, no meu caso, havia um pequeno grande detalhe: eles já pensavam o pior de mim antes mesmo de me conhecer. Era como entrar em campo sabendo que a partida já estava perdida, e a ansiedade corroía meu estômago.
— Acho que o ideal seria uma refeição simples, sabe? Conversar o básico e mostrar que você tem boas intenções com o Dylan, mesmo que, até agora, nem tenha chamado ele para um encontro oficial — Isadora comentou, com uma sobrancelha ligeiramente arqueada. Ela sabia que eu não tinha pensado muito nessa parte. — Seja apenas a pessoa que você tem sido nos últimos anos. Um ótimo pai que descobriu seu lado paternal recentemente.
— E você acha que isso vai funcionar? — perguntei, sem saber se estava mais preocupado ou esperançoso.
Ela deu de ombros. — Talvez. Mas lembre-se, você vai ter que lidar com as ideias pré-estabelecidas que eles já têm sobre você. Vai precisar mostrar o que realmente sente no seu coração.
Fiquei ali, brincando com os dedos, pensando no que ela disse. Era apenas um encontro, uma reunião para conhecer algumas pessoas, mas a ideia de ter que abrir meu coração para eles me deixava inquieto. Eu não sabia se conseguiria colocar meus sentimentos em palavras, não sabia como expressar o que realmente estava dentro de mim.
Talvez eu fosse mesmo um idiota. Já tive várias relações, mas nunca fui do tipo que abre o coração com facilidade. E a verdade é que nunca amei ninguém da forma como amo Dylan. Toda vez que estou com ele, sinto meu coração acelerar. Ouvir sua voz, sentir seu toque, e, acima de tudo, vê-lo com meus filhos... Era algo que nunca imaginei sentir.
Eu sempre me considerei um pouco irresponsável com os meus sentimentos. Mesmo agora, ainda sinto que estou distante de entender completamente o que se passa dentro de mim. Mas a verdade é que eu amo Dylan, e acho que chegou o momento de deixar isso claro, não apenas para ele, mas para todos ao nosso redor.
— Então, tenho que demonstrar o que sinto de verdade, até para o Dylan? — perguntei, meio hesitante.
Isadora assentiu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Exatamente. Se você não fizer isso, vai perder sua chance de mudar a imagem que eles têm de você. Quando família e amigos se juntam para criticar alguém, os defeitos acabam sendo amplificados. E, meu caro, seus defeitos românticos já estão sendo analisados antes mesmo deles te conhecerem.
— Mas posso mudar isso — interrompi, mais determinado agora. — Posso mostrar para eles que meus sentimentos são sinceros, que amo Dylan de verdade. Se eles perceberem que é genuíno, eles vão aceitar nossa relação.
— É claro — Isadora concordou, mas com uma ressalva. — Só não se esqueça que eles provavelmente estão preocupados depois de tudo o que aconteceu com o ex-namorado do Dylan. Então, você precisa ser sincero não apenas com eles, mas com o próprio Dylan. Ele, mais do que ninguém, está esperando você dar o primeiro passo.
Mordi o lábio, sabendo que ela estava certa. Era algo que eu precisava fazer, e quanto mais cedo, melhor.
— O que acha que devo fazer para agradá-los? — perguntei, me sentindo um pouco mais desesperado agora. — O que eles poderiam gostar?
Isadora pensou por um momento antes de responder: — Um pequeno presente do coração. Algo simples, mas significativo.
Aquilo me deixou ainda mais preocupado. *Um presente do coração?* O que isso significava, exatamente? Como eu poderia oferecer algo que fosse genuíno e que ainda assim fizesse com que eles gostassem de mim?
— Então, quando você vai conhecê-los? — ela perguntou, mudando de assunto.
— Acho que o jantar será no sábado à noite. A amiga do Dylan está organizando tudo, mas ainda parece muito cedo — respondi, sentindo o estômago embrulhar só de pensar nisso.
— Quanto antes, melhor — Isadora disse, como se não fosse grande coisa. — Agora, vamos voltar ao nosso caso, antes que Demitre apareça por aqui de novo para me irritar.
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Meus irmãos responderam quase na hora do almoço, o que foi um alívio. Eles disseram que já estavam trabalhando junto com Lídia para analisar tudo sobre a situação com Lílly, prometendo fazer o possível para desdobrar os detalhes o quanto antes. Saber que eles estavam no caso me dava um pouco mais de segurança.
Enquanto isso, minha mãe estava concentrada nos arquivos, folheando as informações como quem já sabe o que procurar. No meio dessa análise, seu telefone tocou. Era meu pai, avisando que tinha acabado de chegar ao aeroporto.
Suspirei. Agora eu teria que lidar com meus pais juntos. Nada contra, claro, mas eles são um time poderoso, especialmente quando estão juntos e querem saber tudo. Quando mencionei casualmente que haveria uma reunião com a família do Dylan, ambos ficaram surpresos com a minha calma. Achei que conhecendo bem meus pais, eles achariam que eu estaria mais nervoso.
Eles sempre foram extremamente protetores com os filhos, mas, ao mesmo tempo, os primeiros a apontar qualquer deslize. Cresci com essa dicotomia: o apoio incondicional, mas também a crítica severa se errássemos o mínimo que fosse. Entre os quatro filhos, eu e meu irmão Pedro éramos os que mais sentíamos o peso disso, mesmo agora, com ele já casado e com dois filhos. Nossos pais sempre nos tratam com aquele olhar de expectativa, como se sempre houvesse algo a provar.
— Você está realmente calmo com tudo isso? — minha mãe perguntou, com aquele tom que só mães sabem usar, cheio de dúvidas, mas também com uma pitada de admiração.
Eu dei de ombros, tentando soar mais tranquilo do que me sentia. — Sim, estou bem. Quer dizer, acho que conhecê-los é o próximo passo natural, né?
Ela ergueu uma sobrancelha, como quem não estava convencida. Meu pai, ao fundo, riu, mas não disse nada. Sabia que ele estava esperando o momento certo para fazer um comentário que iria me deixar ainda mais na defensiva.
— Bom, você sabe que estamos aqui para apoiar, mas não podemos deixar de dizer que... — ela começou, mas eu completei na minha cabeça: *que estão preocupados*.
— ...você não pode errar — meu pai finalizou, exatamente como eu havia previsto, com aquele tom brincalhão, mas com uma verdade velada.
Suspirei de novo, dessa vez mais pesado. É claro que eles achavam que eu não estava preparado o suficiente. Eles sempre achavam isso. Mesmo que eu estivesse de pé diante de um furacão, provavelmente me diriam para checar se minhas botas estavam bem amarradas.
— Eu sei. — Respondi com um sorriso meio nervoso. — Mas acho que já sou bem crescido, né? Já posso lidar com uma reunião familiar.
Minha mãe sorriu de volta, aquele sorriso que dizia *veremos*. Nada vai mudar entre nós enquanto eles continuarem a me ver como o filho que precisa de proteção e orientação a todo momento.
Talvez, assim como com a família de Dylan, eu também precisasse mostrar a eles que estava pronto para enfrentar essas situações. E, quem sabe, com o tempo, eles parariam de me tratar como se eu estivesse sempre prestes a cometer algum erro.
Assim que Demitre entrou no escritório, vi Isadora bufar de imediato, claramente irritada com sua presença.
— Acho que posso ter alguma ajuda para vocês amanhã — ele anunciou, como se estivesse trazendo a solução para todos os nossos problemas. — Então, talvez não precisem tanto de mim agora.
Isadora, com seu sarcasmo habitual, não perdeu tempo. — Me diga o que exatamente você ajudou até agora, porque a única coisa que lembro é você cantando uma música com a letra toda errada.
Demitre deu uma piscadela para Isadora. — Só fiz isso para chamar sua atenção, querida.
Isadora fez uma cara de choque exagerada, como se não pudesse acreditar no que acabara de ouvir. — Que tal, ao invés disso, você ir fazer algo útil, como, sei lá, ver se sua irmã está bem em Londres?
— E deixar vocês sem a minha ajuda e a da minha equipe? — Demitre abriu um sorriso, se divertindo com a troca.
Isadora revirou os olhos. — Acho que seria melhor do que você ficar gastando nosso tempo à toa.
Demitre fingiu um tom ofendido. — Isadora, por que me trata assim? Somos amigos íntimos no final das contas.
As bochechas de Isadora coraram imediatamente, e ela desviou o olhar para mim, claramente desconfortável. Eu levantei uma sobrancelha, confuso com o rumo da conversa.
— Vocês...? — comecei, tentando entender o que estava acontecendo.
Isadora soltou um suspiro pesado. — Sim, também tenho minhas necessidades, sabe? Com tanta coisa acontecendo ultimamente, mal tive tempo de sair com alguém. Infelizmente, acabei saindo com o Demitre quando fomos beber. Aconteceu, e depois disso, aproveitamos a oportunidade por alguns dias.
Olhei para ela, incrédulo. — Sério? Com o Demitre? O mesmo cara que você sempre odiou a ponto de me deixar sozinho numa discussão porque defendi ele?
Isadora deu de ombros. — Medidas drásticas levam a ações que nos afastam dos nossos próprios ideais.
Demitre, sem perder o ritmo, interveio: — Ei, vocês sabem que eu estou aqui, né? — Ele abriu os braços, como se estivesse incomodado. — Sério, por que estão me tratando como um babaca? Não sou tão ruim assim.
— Tenho minhas dúvidas — Isadora respondeu com a maior calma do mundo.
— Ei, eu fui super carinhoso com você! Só fui irritante hoje de manhã porque estava te provocando — Demitre retrucou, parecendo realmente ofendido agora.
Enquanto os dois trocavam farpas, tentei ignorá-los e foquei na tela do meu computador. De repente, um novo e-mail apareceu na minha caixa de entrada. Abri rapidamente, e o conteúdo me fez congelar por um momento.
Ei, eles estão indo atrás da pessoa que Lílly está procurando. Estejam preparados. Abaixo está a localização de onde essa pessoa misteriosa está. Vão o mais rápido possível. — L.
Olhei para o endereço, um emaranhado de números e letras que claramente não queria ser identificado. Analisei a localização, e um sorriso começou a se formar em meus lábios. Finalmente, uma pista sólida. Essa poderia ser nossa chance de capturar um dos capangas de Lílly.
Sem conseguir conter minha empolgação, me levantei bruscamente. Isadora e Demitre pararam de brigar instantaneamente e me olharam, confusos.
— Tá tudo bem? — Isadora perguntou, desconfiada.
— Ele está louco — murmurou Demitre, cruzando os braços.
— Não, não é nada disso — respondi, com um brilho nos olhos. — Acho que finalmente sabemos onde encontrar a pessoa que Lílly está atrás. Preparem uma equipe. Vamos agora!
Um sorriso surgindo nos lábios de ambos. Sabiam que esse era o momento que estávamos esperando.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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