65 - Ingrid, pare de se humilhar
HENRIQUE
O universo estava conspirando contra mim com uma força do caralho. Sério! Estava prestes a começar uma reconciliação com minha esposa da melhor forma possível, então, essa porra de assombração entra pela porta do elevador, e a luz simplesmente acaba.
Devo ter cuspido na cruz.
Amora me encara furiosamente, como se eu quem tivesse arquitetado o encontro.
- Você realmente não cansa de ser inconveniente, não é, Ingrid? - Amora sorri psicoticamente, e muda a direção do olhar.
Ingrid ri, fingindo levar a situação na brincadeira. Ao que tudo indica, minha ex-esposa estava pedido por um soco bem dado no rosto. Só separaria a partir da terceira investida, e olhe lá.
- Ah, fofinha! Vejo que os dois fizeram as pazes, não é? Fico feliz por isso! Até me entristece ser chamada de inconveniente. Não estou aqui para arrumar problemas! - fala, na defensiva.
Ela estava tentando demonstrar algo que não era, o que me embrulhava o estômago. Não conseguia entender por que caralhos ela tinha vindo do inferno para agir como uma filha da puta na minha vida. Com tantos homens por aí, por que logo o que ela descartou? Incompreensível.
- Também não estava a fim de problemas quando mandou aquela mensagem para Henrique, o chamando de gostoso, e me pediu para que passasse o recado, né? - ironizou, com os olhos cerrados.
- Ah, queridinha... Não tenho culpa se você não sabe levar a vida na brincadeira. Tão novinha, mas tão carrancuda - faz cara de pena -... Vejo até uma ruguinha na sua testa querendo aparecer.
Ingrid não perdia a oportunidade de provocar Amora. Ela era aquele tipo de pessoa que mordia e depois assoprava, falando que não se passava de uma brincadeira. O problema é que minha esposa já não estava mais a fim de lidar com a situação.
Amora dá um sorriso irônico e se aproxima. Sinto meu corpo ficar em estado de alerta, afinal, ficaríamos trancados ali sabe se lá por quanto tempo... se essas duas decidissem cair na porrada, a merda seria grande.
- Ah, minha querida - diz Amora, da forma mais cínica possível - fique tranquila em relação às minhas rugas - aproxima-se mais um pouco -... depois da gozada que meu marido me proporcionou ainda há pouco - dá um sorriso largo - elas devem desaparecer rápido.
O sorriso de Ingrid se esvai no mesmo instante, dando lugar a um bico de desaprovação. Ela ficava daquela forma quando se sentia contrariada de alguma forma.
- E você se orgulha em falar esse tipo de coisa para os outros? É tão... infantil e baixo transar em locais públicos - bufa.
- Ah, tem gente que faz coisa pior - dá um sorriso -, tipo dar em cima de homens casados. Isso sim é o cúmulo.
Tento segurar uma risadinha que alcança o canto de minha boca, mas é inevitável. Amora me encara orgulhosa, pois sabia que tinha dado uma ótima cartada. As bochechas de Ingrid ficam vermelhas de raiva, o que aumenta ainda mais o sorriso de minha querida esposa.
- Sério que você vai deixar essa pirralha - encara Amora com olhar de nojo e aponta com o dedo indicador de cima a baixo - falar comigo desse jeito?
- Acontece, Ingrid - dou um passo à frente -, que essa "pirralha" - faço questão de fazer o sinal de aspas com as mãos - é a mulher da minha vida.
- E eu já fui sua esposa, e você me deve respeito! - emburrada.
Solto uma gargalhada estridente, que acaba contagiando Amora.
- Ingrid, pelo amor de Deus, pare de se humilhar. Você já foi minha esposa. O tempo passou, e hoje não se passa de uma investidora - dou de ombros.
- Não estamos juntos porque EU te dei um fora! - diz, orgulhosa.
- E o foda-se? Foi a melhor coisa que me aconteceu. Chorei na época, mas percebi que a porra de um peso saiu da minha vida. Tanto que pouco tempo depois fiquei rico! - dou uma gargalhada - Quem se fodeu foi você, que me trocou por um velho broxa por conta de dinheiro. Agora está aí, correndo atrás sabe-se lá de que! - aproximo meu corpo do seu - É sério que, em algum momento dentro dessa sua mente perturbada, achou que eu trocaria uma mulher maravilhosa como Amora por você? Pelo amor de Deus, coloque-se em seu devido lugar!
Ingrid perde a compostura e dispara um forte tapa em meu rosto. O estalo ecoa pelo cubículo, e poucos segundos depois, a luz volta. A mulher aperta o botão que faz a porta abrir e sai batendo os pés.
Antes de realmente partir, nos encara e sorri , com lágrimas nos olhos.
- Vocês vão se arrepender amargamente disso! - esbraveja.
- Estou louca por esse momento! - ironiza Amora, enquanto a porta se fechava.
Quando ficamos sozinhos novamente, ela me encara e não consegue esconder o sorriso.
- Você pegou pesado.
- Ela merecia ouvir isso e mais um pouco. Precisava ser colocada em seu devido lugar - dou de ombros.
- Ótima resposta, gafanhoto - sorri, dando-me um abraço apertado.
O elevador estaciona em nosso andar e, em clima de lua de mel, partimos para meu quarto. O resto da viagem tinha de tudo para ser mágico.
NARRADOR
Ingrid estava transtornada e não deixaria aquela humilhação passar barata. A situação no geral era absurda e o fato de ser jogada para o escanteio por alguém que ela havia descartado era absurdo. Não, ele não tinha aquele direito.
Acontece que Henrique não fazia ideia das coisas que tinha passado quando resolveu o deixar para ficar com kenzo. Não foi por amor, muito pelo contrário. Precisava de grana, e tinha em mente que, em algum momento, voltaria a ficar com o ex-marido. Apenas conquistaria tudo que precisava antes.
O problema é que Kenzo Leroy era um homem surtado. Seu ciúme era possessivo... a palavra que o resumia bem era "abusivo". Gostava de vigiar cada passo de Ingrid e, por mais que seja difícil de acreditar, chegou a contratar um segurança para acompanha-la para todos os lados. O Rocha, que com o tempo acabou se tornando seu amigo e confidente, foi fruto desse medo de perde-la.
A questão é todos ali a julgavam, sem saber nem um por cento de sua história. Ingrid apanhou de todas as formas possíveis daquele filho da puta, chegando a ter que implantar quatro dentes por conta de um soco na boca que levou. Tudo que vivenciou a tornou uma mulher fria, que faz de tudo e mais um pouco para conquistar seus objetivos.
E foi assim que seu querido marido veio a óbito. Comprou um veneno potente para rato e colocou em seu café despretensiosamente. Se lamentou por muito tempo por conta de sua escolha, mas foi necessário. Ingrid precisava viver, e com a presença daquele filho da puta, aquilo seria impossível.
Seu único erro foi esperar demais. Mas é que nunca pensou que seria capaz de matar alguém, até porque, não foi criada para isso. Tal atitude nunca esteve presente nos ensinamentos que recebeu de seus pais.
A questão é que também nunca foi ensinada a apanhar calada.
De qualquer forma, era o momento de recuperar o tempo perdido, e as pessoas que ficaram para trás. Henrique era seu maior objetivo e o prêmio a ser conquistado. Ela não só queria, como precisava daquilo para provar que conseguiria viver novamente, mesmo com os danos que aquele filho da puta do Kenzo havia lhe causado.
Após ser humilhada da forma que foi, andou furiosamente até seu quarto, sentou-se à cama e pegou sua maior arma: o celular. Entrou rapidamente em contato com seu fiel escudeiro, vulgo Rocha, e simplesmente ordenou que viajasse as pressas à Grécia. Precisaria de sua ajuda e apoio para o plano que estava arquitetando.
Não seria algo de imediato, até porque, algo bem planejado, demandava algum tempo. E, se não funcionasse daquela vez, tentaria novamente, só que de outra forma. A questão é que Ingrid tinha todo o tempo do mundo para conquistar seu maior objetivo.
Após desligar a ligação com seu segurança, jogou-se para trás na cama e se debulhou em lágrimas. Não tinha que ser daquela forma, não mesmo. As coisas poderiam ser resolvidas tão facilmente, mas o filho da puta do seu ex-marido tinha que dificultar a porra da situação.
Não dava para entender. Ela era muito mais mulher, gostosa e madura. Tinha tudo e mais um pouco que qualquer homem desejaria. Então, por que diabos aquele idiota preferia ficar com a porra de uma pirralha?
Respirou fundo, afundou a cabeça no travesseiro e gritou como se não houvesse amanhã, no intuito de jogar fora aquele martírio. Quando terminou, sentiu um alivio imediato. Olhou para o teto e sorriu maliciosamente.
A mulher levanta, pega uma garrafa de vinho dentro do frigobar, e vai em direção ao banheiro, decidida a tomar um delicioso banho de banheira. Encheu o recipiente, respirou fundo e entrou. Sabia exatamente o que fazer para ter o que tanto queria, agora era questão de tempo. Se Rocha estivesse no país, poderia realizar seu plano no dia seguinte, mas como não era o caso, teria que utilizar de paciência.
Mas isso não era problema, afinal, já tinha esperado dezessete anos. Mais um dia ou dois não faria diferença.
Ah, aqueles dois não perdiam por esperar. Nem um pouco.
AMORA
Os próximos dois dias foram tranquilos. Ingrid resolveu nos deixar em paz e se conteve em destinar a atenção à avaliação de seu restaurante e à chegada de seu segurança. De qualquer forma, a presença daquela mocréia se tornou irrelevante, como deveria ter sido desde o início.
Mas chega de chorar pelo leite derramado. Aconteceu, e foda-se, resolvi deixar para trás, pelo bem de meu casamento. E, para melhorar, seu afastamento nos deu espaço para aproveitarmos o paraíso que estávamos. O clima de lua de mel entre meu marido e eu era algo que pensei que não nos pertenceria mais.
Foram momentos inesquecíveis. Sexo no mar grego, quarto, banheira... Sauna. Meu Deus, não existem palavras que definam o quanto estava sentindo falta do fogo que pegávamos juntos. Pelo que pude perceber nesse meio tempo, de fato nosso relacionamento não servia para ser do tipo que tem rapidinha nos domingos e olhe lá. Não nos contentávamos apenas com isso, e, de qualquer forma, não era o suficiente para matar o desejo que sentíamos um pelo outro.
Sempre que fecho os olhos, lembro de seu rosto entre minhas pernas, e sua língua dançando em meu órgão, que clama por sua penetração. Há muito que nosso envolvimento não era tão intenso como naquela viagem. Não podíamos nos tocar, que já era motivo para uma nova relação se iniciar.
Sendo bem sincera, a vontade que tinha era de morar com ele naquele momento. Nossa vida poderia ficar para trás, não me importo, desde que tivesse Henrique ao meu lado.
Nesse meio tempo, meu marido evitou falar sobre minha 'traição' com Lara. Sabia que o assunto viria à tona em algum momento, mas, juro por Deus, não estava preparada. Não foi algo combinado, tampouco aconteceria em circunstâncias normais. Nos beijamos para que o imbecil do Yuri nos deixasse em paz, e acabou ali.
Está certo que a união de sua língua com a minha molhou minha calcinha que uma forma que há muito não acontecia, mas sei que era carência. Porra, Henrique precisava entender. De qualquer forma, resolvi deixar o assunto dentro de uma caixinha, apenas aguardado ser colocado à tona. Até lá, não seria eu a comentar sobre.
Abro os olhos assim que o dia começa a amanhecer. Sinto um leve aperto no coração, o que não consigo explicar muito bem, pois as coisas fluíam de uma ótima forma. Estico o corpo, viro para o lado e observo meu marido dormindo. Cada detalhe de seu rosto me encantava de uma forma inexplicável. Seu trevo de quatro folhas próximo ao olho, sua borboleta no pescoço e outras mil tatuagens que estavam espalhadas por todo seu corpo. Sua presença conseguia me acalmar de certa forma, mas dessa vez não foi o suficiente.
Era como se algo de muito ruim fosse acontecer, o que não fazia sentido, então decido ignorar o sexto sentido que tanto apita em minha mente.
Desvencilho-me dos lençóis macios que cobriam a metade de meu corpo e levanto, evitando fazer qualquer tipo de barulho. Decido colocar meu biquíni azul bebê e descer para comer, sem meu marido mesmo, pois meu intuito era oferecer-lhe café na cama.
Saio do quarto e, assim que abro a porta, dou de cara com Ingrid e seu segurança. Reviro os olhos imediatamente, sem me importar em ser rude. A mulher me encara, com semblante arrependido, e sorri de lado.
- Será que podemos conversar, Amora? - pergunta, docilmente.
Eis que a porra do meu sexto sentido bate novamente, o que me deixa bastante preocupada, mas chego à conclusão de que aquilo tudo não se passava de ranço.
Respiro fundo e me permito pensar um pouco em silêncio. Ela havia sido uma vadia do caralho dando em cima de um homem casado, mas talvez tenha se arrependido. Entendo que sua vida não tenha sido da forma que sonhou, principalmente quando encontrou seu ex-marido na melhor possível. Deve ter se sentido meio merda, e, querendo ou não, era compreensível.
Coloquei em minha cabeça que Ingrid estava querendo ser uma pessoa melhor, e me auto questionei... "Se ela está correndo atrás disso, por que eu faria diferente? Sei que sou melhor que isso".
- Me dê um momentinho - forço um sorriso -, vou mandar mensagem para Mahmoud, avisando que irei me atrasar. Combinamos que tomaríamos o café da manhã juntos pela manhã, sabe como é, não é?
Amora Bragança - Amigo, vou bater um papo com Ingrid, e devo me atrasar. Mais tarde te conto tudo.
Ele até começa a digitar, mas bloqueio o celular antes.
- O que você quer falar comigo? - cruzo os braços, tentando não demonstrar tanta impaciência quanto sentia.
Ela encara o segurança, depois dirige sua atenção novamente para mim dá um sorriso largo.
- Ah, fofinha, quer me acompanhar até a sauna? Lá ficaremos a vontade! E você já está vestida mesmo... - sorri - E o Rocha - aponta para o homem ao seu lado - pode nos esperar do lado de fora, para que possamos ter toda a intimidade que quisermos.
Dou de ombros e sorrio também.
- Claro, por que não? - e vou andando ao seu lado, comentando sobre as belezas do lugar.
O que poderia dar de errado, não é mesmo?
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