28 - Ele estava de volta
AMORA
O tempo para a conclusão da prova estava chegando ao fim e eu estava enrolada na última questão. Era estranho ainda estar na sala, principalmente se levando em consideração que sempre era uma das primeiras a concluir os exames. Mas particularmente naquele dia, meu humor não era um dos melhores.
Eu tenho muita dificuldade para lidar com despedidas, e não estava preparada para ver minha melhor amiga, Helena, se mudar para o sul, para iniciar na faculdade de odontologia. A distância era minha pior inimiga, e acabei descobrindo esse gosto amargo quando Henrique, melhor amigo do meu pai, simplesmente foi embora, sem ao menos deixar uma mensagem de adeus.
Mas o ponto não é esse. Não guardo rancor. Quer dizer, quase nenhum. Não é como se meus sentimentos por ele ainda existissem, afinal, estou namorando há mais de um ano com Elioth. Somos felizes de uma forma saudável, e é isso que quero para minha vida.
Para ser sincera, raramente pensava nas coisas que deram erradas com o amigo do meu pai. Eu agi de uma forma muito imatura. Porque, porra, o que eu tinha na cabeça para dar em cima de um homem quinze anos mais velho que eu? Enfim, aprendi com meus erros, e hoje corro atrás de tudo que sei que posso alcançar.
Consegui concluir a questão faltando apenas dois minutos para o fim da prova. Ufa, realmente não poderia dar o mole de tirar notas baixas. Meu C.R. era maravilhoso, e era justamente por isso que me mantinha naquele estágio super bem remunerado de uma das melhores advocacias da cidade.
Assim que saio da sala, dou de cara com Elioth, que me esperava ansioso. O rapaz tinha cabelos castanhos ondulados, com pele de querubim, sendo cinco anos mais velho que eu. Porte físico forte, e um sorriso hipnotizante. Eu era completamente apaixonada por cada detalhe de seu corpo. Além disso, sua essência era extremamente agradável. Nossa energia meio que se complementava, e eu era muito grata a Deus por ter o colocado em minha vida.
Estudávamos juntos, e nos identificamos logo de cara. Hoje, somos inseparáveis, e muito competentes na área que escolhemos exercer.
Assim que percebe minha presença, tira os fones de ouvido e vem rapidamente em minha direção, estendendo os braços para um caloroso abraço.
— Amora, o que houve? Estava preocupado!
— Ah, meu amor..., é foda, né? Estou com a cabeça a mil... Mahmoud se mudou para o Rio mês passado, agora Helena vai para o sul. Porra, estou perdendo meus amigos.
— Primeiro que distancia não termina amizades verdadeiras. E segundo: fica tranquila. Eu sempre estarei com você! Sabe que antes de namorados, somos amigos.
— Ah, Eli... Eu te amo tanto que chega doer.
— E você sabe que é recíproco. Que tal irmos para seu apê ver uns filminhos, comer sorvete e fazer um sexo gostoso, para que você distraia essa cabecinha? — Passa a mão levemente em meus cabelos, que atualmente são castanhos. Decidi deixa-los ao natural.
Respondi com um sorriso e um longo selinho em seus lábios carnudos. Fomos andando até o carro, e, depois de alguns minutos na estrada, estávamos em frente ao meu apartamento. Se havia algo que eu realmente não podia negar, era que minha vida estava tomando um rumo perfeito. Jamais modificaria nada.
**
Como era sexta-feira, pudemos aproveitar nossa companhia até tarde. Agora que não trabalhava mais na empresa do meu pai, tinha os fins de semana de folga, o que era ótimo. As vésperas de sábado se tornaram meu momento sagrado ao lado de Elioth.
Rimos até tarde, transamos feito animais e bebemos uns três fardos de Ice. Vimos comédias românticas e rimos como duas crianças. Mais uma noite agradável ao lado de uma pessoa maravilhosa.
Era tão bom acordar, virar para o lado e sentir sua quentura. Se pendesse de mim, poderíamos viver pelo resto da vida daquela forma. Passamos uma manhã preguiçosa, até a fome finalmente nos alcançar.
Levantei, coloquei Baco – Exu do Blues: te amo desgraça, e me joguei no sofá, a procura de alguma refeição que me agradasse no aplicativo. Eu estava com uma calcinha box preta e o blusão cinza de Elioth. Antes de vir até mim, aquele homem gostoso se preocupou em colocar uma calça de moletom, até porque meu pai poderia cismar de entrar a qualquer momento.
Depois de alguns minutos, decidimos pedir um churrasquinho. A cerveja já estava na geladeira, o que nos restava era esperar chegar.
Eis que nesse meio tempo, uma gritaria do caralho começa a vir do apartamento do meu pai, o que chegou me causar tonteira. Desde que meus pais se divorciaram, ele tem se arriscado em uma vida dividida entre trabalho e mulheres, então fazia questão de vigia-lo. Sim, ele tinha sua própria vida, mas me preocupava o suficiente pare que permanecesse vivo.
Encarei Elioth com os olhos arregalados, e ele logo entendeu minha preocupação. Fomos rapidamente até a porta, já preparados para o pior. Não me surpreenderia se o marido de alguém estivesse o caçando..., apenas precisaria entender a melhor forma para lidar com toda aquela merda.
Fomos calmamente até a porta, evitando fazer barulho. Ele foi pela direita e eu pela esquerda. Ambos estavam nervosos, e os gritos apenas se intensificaram. Quanto mais perto chegávamos, mais estranha a situação se tornava, porque o que antes parecia choro, agora havia se tornado gargalhada.
Após resistir por alguns minutos, finalmente consigo abrir a porta. Lázaro, os gêmeos e Janna, meu pai e uma mulher de cabelo castanho comemoravam como se o Brasil tivesse conquistado uma copa do mundo. Um frio estranho alcançou a boca do meu estômago.
Elioth percebeu minha reação e deu um passo à frente.
— O que está acont... — encara a baixinha de cabelos castanhos — Dani? O que você está fazendo aqui? Não estava morando nos Estados Unidos?
A mulher, que agora sei que se chama Daniele, se vira para meu namorado e simplesmente corre em sua direção e pula em seu colo, agarrando seu corpo com toda a força que conseguia.
Encarei os dois, que agora estavam abraçados e se encarando, com o rosto a apenas um palmo de distância, e emburrei a cara no mesmo momento.
— Que porra está acontecendo aqui?
Elioth coloca Dani no chão, vira seu corpo em minha direção e sorri.
— Lembra da minha ex namorada? Daniele? Aquela que se mudou para os Estados Unidos? — Aponta para a mulher — Pelo visto ela está de volta.
— Ah — segurei para não revirar os olhos — que reação... animada — forço o sorriso. Todos nos encaram, constrangidos, entendendo o clima pesado que havia alcançado o ambiente.
— E da onde vocês a conhecem? — Pergunto me dirigindo ao meu pai, ignorando completamente o mal estar.
Lázaro anda em minha direção, como se quisesse me dizer alguma coisa, mas logo é interrompido por um homem de óculos escuros e blazer formal passando pela porta do apartamento do meu pai.
Ele estava de volta. Henrique. Filho da puta.
Senti a porra de uma crise de ansiedade misturada com pânico e raiva alcançarem a boca do meu estômago e, antes que pudesse reagir de alguma forma, acabei desmaiando. Ótimo.
HENRIQUE
Assim que desembarquei do avião ao lado de Daniele, demos de cara com Igor, Lázaro, Janna e os gêmeos, rodeados de balões e um cartaz com os dizeres "SEJA BEM-VINDO DE VOLTA".
Estava de óculos escuros, mas mesmo assim eles conseguiram perceber que me debulhei em lágrimas assim que vi aqueles desgraçados ali. Porra, que saudades.
Antes de cumprimentar qualquer um deles, logo peguei Elisa, minha afilhada, no colo. Que criança linda. Ela tinha olhos verdes, que puxou da mãe, e cheirinho de neném. Meu Deus, eu estava apaixonada por essa criança. Os gêmeos já tinham um ano e pouquinho, portanto, já andavam, e eram extremamente agitados. Porra, dá até vontade de ter um também.
Passamos todo o caminho conversando, e todos adoraram Daniele. Mesmo tendo seus 27 anos, ela conseguiu se identificar muito bem com meus amigos. Ficava muito feliz em ver como todos foram receptivos com minha amiga.
Chegamos e fomos direto ao apartamento. Estávamos morrendo de fome, mas antes de irmos até um restaurante, precisei urgentemente ir ao banheiro. Não queria mesmo fazer minhas necessidades em um banheiro público.
Meus amigos comemoravam como se não houvesse amanhã, fazendo com que me sentisse extremamente querido. Assim que terminei minhas necessidades fisiológicas, fui andando à porta, e dei de cara com uma visão que gostaria de ter demorado mais para presenciar.
Amora estava lá, com um blusão cinza masculino, as pernas nuas e seus cabelos rebeldes, que agora tinham a cor castanha, amarrados em um nó no meio da cabeça. Ela continuava linda, só que com um ar um pouco mais maduro.
Ao seu lado, estava um rapaz alto e sem camisa, forte, com cabelos ondulados e com um sorriso invejável. Pela cara de quem tinha acabado de acordar, logo imaginei que deveria ser seu namorado, Elioth. Entre os dois estava Daniele, com um enorme sorriso no rosto. Juro que senti câimbra só de olhar sua cara.
Antes que pudesse cumprimenta-la descentemente, ela me encarou e simplesmente desmaiou. De todas as reações possíveis naquele momento, talvez aquela fosse a única que imaginei estar fora de cogitação.
Todos se afastaram, e Igor se prontificou a carregar a filha, afastando Elioth que já se abaixava para carrega-la.
— Pode deixar que eu levo, seu Igor! — Disse, tentando colocar as mãos na garota, mas Igor reage como u cão enciumado.
— Depois dessa ceninha aí — apontou para Daniele e Elioth com a cabeça — acredito que ela não gostaria de ser carregada por você.
O rapaz ficou constrangido, e até abriu a boca para tentar responder, mas logo se aquietou.
— Posso te pedir um favor? — Lázaro encarou o rapaz.
— Pode dizer! — Deu um sorriso contido. Ele realmente tinha ficado nervoso com as palavras de Igor.
— Deixa para voltar em outro momento? Acho que ela ficou nervosa com a situação, e Igor também... Enfim, espero que entenda — Disse, enquanto tentava acalmar Elias que tentava descer seu colo de qualquer forma.
O rapaz assente sem soltar uma palavra, volta para o apartamento da namorada e, em poucos minutos, saiu dali, com uma bolsa e sem camisa mesmo. Uou, eu mal havia chegado e já estava provocando discórdia na vida dos outros. Mais tarde precisaria ter uma séria conversa com Daniele sobre o que tinha acontecido. Ela realmente precisava me explicar a situação para que eu pudesse entender do que Igor estava falando. Não acredito que aquela tenha sido uma reação exagerada.
Após uns cinco minutos de preocupação, Amora começou a abrir os olhos, e lentamente se sentou. Encaro fixamente seu rosto e solto um sorriso de lado, feliz por vê-la acordada.
— Oi Amora. Quanto... Tempo. — Falo, tentando disfarçar o nervosismo. Lázaro automaticamente me encara, sentimento o climão que havia se instaurado ali.
Ela me olha e força um sorriso falso, fazendo uma careta. Era perceptível que ela realmente não queria me ver. Por mais que não quisesse admitir, sua reação havia me decepcionado. Porra, passei dois anos distante, custava dizer oi? Mas foda-se, não temos nenhum tipo de ligação. Não mais.
— Você tem algo para me contar, Amora? — Pergunta Igor, nervoso.
Ela me encara e, em seguida, olha diretamente nos olhos do pai. Sinto um calafrio percorrer minha espinha. Lázaro se aproxima de mim e da um leve beliscão no meu braço. Será que ela falaria algo?
— Tipo? — Pergunta, de braços cruzados, enquanto fazia sua cara de deboche de sempre.
Daniele aproximou-se de mim, envergonhada e cochichou no meu ouvido — Isso tem algo a ver comigo?
Olho para seu rosto, que tem um leve rubor nas bochechas e sinalizo com a cabeça para deixarmos aquele assunto para depois.
— Você está grávida? — Pergunta Igor, na maior cara de pau do mundo.
— Estou pai — aponta para a barriga — não está vendo? Nove meses! — Estufa a barriga.
Eu e Lázaro não conseguimos conter a risada, muito menos Janna.
— Do que vocês estão rindo? — Pergunta Igor, nervoso — Estou falando sério. Olha como ela está vestida! Deve ter passado a noite toda fodendo com aquele pseudo advogado. E deve fazer isso há bastante tempo. Tá grávida ou não?
Sinto um estranho formigamento na boca do estômago. Não, aquilo não estava me incomodando. Não podia admitir que, depois de dois anos, o fato de saber que Amora estava transando com outra pessoa me incomodava.
— Você não muda, né, Igor? — Debocho, enquanto vou à cozinha.
— Porra, eu estou falando sério!
— Deixa a garota foder, cara. Ela tem o que? 22 anos? — Lázaro me encara, confuso. Eu estava empenhado em fingir que nada aconteceu entre nós dois. Pelo visto estava conseguindo.
Amora me olha com a sobrancelha arqueada, aceitando aquilo como um certo tipo de provocação. Apenas decidi ignorar e preparar um ovo frito para mim e Daniele.
— Pai, eu e Elioth estamos praticamente noivos. A coisa mais normal do mundo é acontecer o sexo, não acha? — Ela sorri, com um olhar de vitória.
Sinto como se aquilo fosse uma facada na boca do meu estômago. Porra, ela iria ficar noiva daquele moleque?
Da mesma forma que fiquei desconcertado com a notícia, Daniele também ficou, mas, diferente de mim, ela não conseguiu disfarçar. Foi correndo para a entrada, enquanto não segurava as lágrimas.
Como um bom amigo, fui correndo atrás dela.
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