Capítulo 25.B
Maria Eduarda
A Casa caiu
Abri os olhos, estiquei o corpo, sorri. Eu estava feliz. Abracei meu travesseiro pensando no fogo que o Rafa tinha. Como seria ficar deitada numa cama com ele?
Nossa! Sentei na cama.
Como eu iria contar para ele que não tenho experiência, prática nestas coisas?
Pior! Que fiz uma brincadeirinha com ele. Esse assunto ainda precisava ser resolvido, por dois motivos: acabar as mentiras e poder conversar sobre certas coisas.
Eu gostaria de saber o que foi aquela explosão aquele dia. O que ele pensava da vizinha? Da porta... mas se eu perguntasse, ele poderia perguntar sobre o que acontecia aqui. E se eu tocasse no assunto da vagabunda...
Abracei o joelho pensativa. Melhor ficar quieta.
Levantei e fui ao banheiro. Ao olhar no espelho...
Credo! Que cara de acabada! Tudo por não ter dormido o suficiente.
Lavei meu rosto e escovei meus dentes. Olhei a hora e não era nove ainda.
O que faria? O Rafa não iria acordar tão cedo, isso eu tinha certeza.
Ao verificar o armários percebi que não tinha pão e nem torradas. Resolvi que iria à padaria.
Fui pensando o que poderia fazer para o almoço. Havia frango já desfiado, daria para fazer várias coisas, mas será que tipo de comida o Rafael gostava? A padaria era grande e tinha um "mercadinho," onde você encontrava de tudo um pouco. Claro, o preço não era igual do supermercado. Mas nada absurdo.
Após pegar o que eu queria no setor de pães, eu fui olhar nos corredores e ao ver a batata palha eu pensei no Fricassê. Pronto, achei! Seria isso. Comprei um pote de sorvete também.
No caixa, ao pagar, olhei o jornal e a manchete chamou minha atenção:
"VENHA AO SHOPPING PATINAR NO GELO!"
Comprei o jornal.
🦷
Depois de ter guardado tudo, eu fiz meu leite e sentei para comer lendo o jornal. Fui direto no caderno de entretenimento, "patinação". Na área central do shopping foi montada uma pista de patinação no gelo. Funcionariam todos os dias a partir das onze horas da manhã.
— Que legal!
Adorei.
— Será que o Rafa iria comigo? — perguntei-me
Preciso saber como convidá-lo.
Fui preparar o almoço pensando como lhe fazer o convite.
O deixar curioso seria a principal estratégia, pensei rindo. Com certeza, quando eu falasse que queria fazer "alguma" coisa com ele, na certa ele pensaria besteira na hora, se bem eu o conheço.
Montei meu plano.
Abri a porta e coloquei o envelope no tapete. E os outros desenhos no caminho. Olhei da minha porta e não me convenci que estava bom. Ele poderia nem ver, sair pisando em tudo sem ao menos olhar para o chão. E se eu colocasse na planta? Pode ser, se ele for igual a mim, era a primeira coisa que faria. Mas como eu tenho a certeza que ele não é nem de longe parecido comigo, tratei de puxar o vaso para frente da porta dele. Assim não teria dúvida, somente se ele pulasse, que eu duvidava.
Fechei a porta.
Falta algo ainda, o que poderia ser?
— Já sei!
Corri no quarto, peguei uma caixinha menor e escrevi uma frase da Clarice:
"Liberdade é pouco, O que eu desejo ainda não tem nome." CL
Dobrei, coloquei dentro da caixa e deixei em frente a minha porta.
Arrumei a mesa para nosso almoço, fiz suco e lavei tudo que havia sujado.
Sentei no sofá e fiquei esperando...
Nada!
Já passava do meio dia e ele não tinha acordado. Eu precisava fazer alguma coisa. Entrei no meu quarto e pensei: música.
— É isso!
Mas será que agora com essa vedação ele iria escutar?
Abri minha gaveta e peguei o estilete que havia guardado. Fiz um corte no revestimento do tamanho da caixa de som. E consegui encaixá-la.
Qual música colocaria? Nada muito agitado, pois ninguém merece acordar assim. Nem muito devagar, pois quem estava com sono, seria como uma canção de ninar. Pensei no meu pen drive, o que mais havia lá além de músicas eram aqueles vídeos. Eu precisava apagar tudo aquilo. Mas por outro lado, era a prova que eu tinha de ser verdade a minha história quando eu contasse tudo aquilo.
— Tudo bem, tudo bem... — falei, para meu lado sensata. —Eu sei que preciso contar, mas eu pensaria nisto depois.
Coloquei a música e fiquei esperando se meu príncipe adormecido acordava. Ou melhor, meu capeta.
Depois de meia hora a campainha tocou. Fiquei feliz, olhei e abri a porta. Ele estava com cara de sono, mas seu sorriso encantador fez meu coração bater mais forte.
— Aceito! – foi à única palavra que disse e depois me pegou nos braços para um beijo delicioso.
Ele era realmente um conquistador.
Eu percebi minha ansiedade quando ele entrou por aquela porta.
O seu jeito brincalhão e atrevido, que sempre deixava uma palavra ou uma frase de duplo sentido no ar, eu já estava me acostumando.
Até gostava, confesso, era sempre uma deixa para eu o provocar. Por outro lado, ele adorava de me deixar constrangida. Mas se eu ficasse séria e com cara de brava, o fazia voltar atrás na hora.
Era muito engraçado. Pois parecia que ele morria de medo que eu ficasse brava. E quando eu começava a falar mais séria, ele dava um jeito de me interromper, mudar o rumo da conversa ou me beijar. Que era muito bom.
Ele entrou. Sentou.
.
.
— Você fez almoço para nós, Duda?
Eu tive a impressão que ele ficou surpreso, por eu ter feito o almoço, não sei se era por eu saber cozinha ou por fazê-lo para nós.
Não entrei em detalhe deste assunto, pois sempre pensei que seria romântico fazer um jantar para o namorado ou algo assim.
Logo em seguida, ele falou que comia de tudo, o que me tranquilizou, mas eu não tive como não fazer uma brincadeira com ele.
A cara assustada dele foi hilária, acho que se fosse verdade, ele comeria e ainda diria: "hum... que delícia... Muito bom, meu amor"
Ele foi gentil vindo me ajudar, mas eram iguais as meninas, estranhava o meu jeito. Pois a jarra de suco na frente dele, e ele não viu. Ficou procurando uma caixinha. Às vezes, eu achava que, quem caminhava na mão contrária fosse eu. Por não tomar refrigerante, fazer minha comida e procurar ser mais saudável. Até por eu separar o lixo reciclável foi motivo de discussão um dia.
Durante o almoço, eu contei algumas coisas da minha família para ele, mas deixei claro que não sou tão rígida como minha mãe, na alimentação. Mas que tenho as minhas preferências, quando ele falou: "você agora pode comer o que quiser e quem você quiser."
Eu o peguei.
Fingi ter ficado brava.
Sua safadeza era tamanha que, nem tentar ficar constrangido não colava. Tudo nele saia muito natural.
Quando ele falou olhando nos meus olhos: "você ser minha sobremesa. Sou melhor fazendo, mostrando que falando. Sempre preferi a prática à teoria."
Eu quase morri, senti meu corpo esquentar e minhas pernas ficarem bambas. Ainda bem que eu estava sentada. Mal conseguia falar, minha voz saiu mole e lenta.
Será que ele percebeu? Pelo visto, não. Pela continuação da conversa.
Certo momento, tive a impressão que ele iria dizer que estava apaixonado por mim, mas de repente ele parou e me beijou.
Com certeza, essas palavras não faziam parte de seu vocabulário. Nem sei como pensei nisto. Mas de repente, ele soltou a outra frase que eu não esperava:
— Você quer namorar comigo?
Sério. Ele falou!
E agora?
O que eu respondo?
Não esperava isso, não assim, tão rápido. Já sei. Será que era tudo uma jogada para transar comigo?
Minha cabeça começou a rodar. Levantei para andar e tentar pensar um pouco melhor. Mas ele não deixou. Segurou-me e começou a falar coisas que eu jamais esperava ouvir dele:
— O que foi? Você acha que estou sendo falso? Não Duda, estou sendo o mais verdadeiro possível. Eu nunca namorei, nunca fiquei nem muitas vezes com a mesma menina. É verdade. Eu não sei o que é isso, este sentimento intenso... mas, eu sei que quero ficar cada vez mais com você. Acredita em mim?
E eu também tive que ser verdadeira.
Após uma pequena conversa, ele me beijou com tanto amor e carinho que não teve jeito de ficar alheia a esse sentimento.
Nós estávamos com nossos sentimentos a flor da pele. Ele era tesão pura e eu pegava fogo.
Na hora que nos afastamos, eu tremia. Continuar a almoçar foi difícil. Tomei quase a jarra toda de suco.
Comecei a pensar como seria ter ele na minha cama e fazer amor... Meu Deus!!
Se eu quisesse namorar mesmo, não daria para enrolar mais. Ia ser natural acontecer.
🦷
Passamos para a sala. Tomamos sorvete.
Na hora que percebi, eu já estava deitada no tapete e ele passava aquela boca gelada em mim, fazia que eu me arrepiasse inteira. Sua mão chegou aos meus peitos bem devagar. Ele me testava, eu não consegui e nem tive vontade de pedir que parasse.
Em chamas, é o que me definia.
Por isso, que certas coisas aconteciam, eu escutava falar: "foi sem querer", sem querer eu não acredito, mas sem perceber que chegava a esse ponto, sim. Pois era tão bom está ali com ele, que o resto realmente não importava mais naquele instante. A consequência viria depois com os pensamentos mais claros.
No entanto, eu percebi que ele não avançaria mais, ele ia deixar que eu tomasse a atitude dando um sinal para ele, com isso ganhou um ponto comigo.
Nós ficamos ali deitados, eu no peito dele, acalmando meu coração confuso, até que ele quebrou o silencio.
— Você não me respondeu – levantei e olhei para ele
— Se eu quero namorar você?
— Ãn rã
Eu comecei a dar volta no assunto enrolando-o, mas no momento que ele percebeu, começou a me lamber e ameaçou somente parar se eu aceitasse. E eu, não me rendia, até que ele fingiu se irritar e falou meu nome inteiro.
Eu não conseguia parar de rir, queria compará-lo com minha mãe brava, mas não conseguia.
Outra parte engraçada, foi quando entreguei o jornal para ele, seus olhos quase soltaram do rosto. Ele reclamou, mas aceitou.
— Não faço ideia de como vou equilibrar em cima daquilo, mas tudo bem. Preciso de uma boa professora.
— Isso você já tem. Vamos começar pela roupa, Vá se trocar!
— Jeans?
— Não! Claro que não! Você tem alguma calça de tectel?
— Não! Por que não pode ser jeans?
— Muito pesada, e se você cair no chão, ela vai ficar molhada.
— É o que mais vai acontecer, meu amor.
— Então ache uma calça à prova d'água, flexível, e não muito quente. Jaqueta ou um moletom.
— Você não está querendo muito? A prova d'água!
— Acho que ainda não!
Quando ele voltou vestia uma calça camuflada e a jaqueta nas mãos. Eu coloquei uma legging mais grossa que vinha com uma saia e, uma blusinha justinha. Também levei uma jaqueta.
Saímos e ele perguntou:
— Você vai começar a aula teórica?
— A primeira coisa para patinar é ter equilíbrio. Antes de começar, você precisa acostumar com os patins. Andar com ele sem deslizar. Sempre tem uma pista de borracha para isso no local.
— Será que vai ter?
— Não sei, mas é para ter. Depois que se acostumar, você deve tentar deslizar com eles segurando nas bordas da pista, em seguida vá soltando as mãos. Uma de cada vez. Solte uma e mantém a outra na borda. O resto, eu vou te auxiliando.
— Enquanto eu estiver fazendo isso, onde você vai estar? Do meu lado é claro!
— Claro... que não! Eu sei fazer tudo isso. Eu vou conhecer a pista.
— Então vamos voltar! – Ele chegou a dar seta, o palhaço, para me irritar.
— Rafa! Deixa de bobeira, você vai se divertir.
Chegamos ao ringue de patinação. Tinha muita gente, mas eram mais curiosos que pessoas que queriam de fato patinar.
Colocamos os patins. Rafa foi caminhar e depois entrou na pista, ou ringue, como estava escrito bem grande na entrada.
Alguns instrutores faziam algumas explicações e orientações. Mas ele não quis ficar escutando. Eu fui fazer o conhecimento do local.
Era uma delícia.
Olhei para ele. Sério. Estava ridículo vê-lo tentar soltar as mãos e não conseguir.
Então fui ajudá-lo. Mostrei que dobrar um pouco o joelho ajudava no equilíbrio com os braços abertos.
Fomos com as mãos dadas por um bom percurso. Assim que soltei-o, ele patinou indo de bunda no chão. Não tinha como não rir. Ainda bem que ele é teimoso e não desiste fácil, por isso levantou e tentou de novo, e de novo foi ao chão.
— Puta merda! Como você para em cima disto, mulher?
Foi um show de palavrões saindo daquela boca linda a cada bundada no chão.
Ao puxá-lo pelas mãos, percebi que ele tropeçava muito.
— Rafa! Você está colocando a ponta da lâmina dos patins primeiro na hora do passo. Tente colocar ele inteiro, e sem tirá-lo muito da pista. Deslize.
— Fácil você falar...
— E não olhe para os patins, fixe seu olhar a frente, em algum ponto a sua frente, pense que esse é seu objetivo.
— Ok, eu estou te olhando... e vou te pegar... se eu conseguir faço o que quiser contigo. Pode ser?
— Claro!
— Olha o que está prometendo.
— Combinado! O que v o c ê quiser... – falei insinuando.
Ele veio devagar e foi chegando perto de mim. Eu afastava. Ele chegava. Eu afastava. Até que ele pegou um pouco de velocidade e deixei o aproximar bem, então sai com uma velocidade muito maior. Ele ficou somente me olhando com a mão na cintura. Eu dava risada e mandava beijinhos para ele.
Rimos muito. Eu sabia que aquele programa não tinha nada a ver com ele, mas achei fofo ele se esforçar para me agradar.
— Nosso tempo está terminando, você faz uma apresentação somente para mim?
— Com todo prazer — Saí fazendo voltas na pista. Não dava para ser nenhuma "apresentação", somente algumas paradas legais, e alguns giros, por causa das outras pessoas.
Saindo o monitor me entregou um panfleto que falava de um concurso que teria. E o Rafa já ficou com ciúmes.
— O que aquele Mané 'bitonhudo'* quis dizer? Estava te paquerando e teve a petulância de falar na minha cara?
— Seu bobo, veja isso! – Entreguei a ele o papel.
O panfleto falava de um "campeonato com show e prêmios". O concurso iriam ser premiados até o quinto lugar. Os prêmios eram dinheiro e mais ingressos para um parque aquático, estadia de três dias em um resort, cupom em lojas do shopping, bolsa integral em curso de inglês e informática. E três convites para assistir e mais um para participar do show de apresentação de um campeonato de patinação no gelo em São Paulo, no Ibirapuera. "Estrelas da Patinação – Astro do Gelo".
Seria maravilhoso – pensei.
— O que você disse? Biton... O quê?
— Bitonhudo. Não sabe o que é? Mas que coisa Maria Eduarda. Quem da nossa idade ainda não leu Razanique? – falou tirando uma comigo.
— Eu e mais um monte de gente, provavelmente.
— Que coisa, hein!! Está todos perdendo um excelente livro, o nosso Harry Potter brasileiro.
- Meu Deus! Onde encontro esse livro maravilhoso?
— Em muitas livrarias. Mas, tudo bem, se prometer cuidar bem do meu, eu te empresto —disse rindo. — É uma relíquia, com autógrafo da autora. Foi um presente de uma tia que mora em São Paulo. Deve ter quase dez anos. O livro é muito legal. Foi o primeiro livro que eu li que passava de 200 páginas. Ele me marcou mesmo.
— Estou vendo. E com essa propaganda toda, eu quero ler.
— Se for boazinha comigo vai ler. — Ele me abraçou e beijou meu cabelo rindo.
— Já vem você com chantagem. E sobre isso? – Mostrei o panfleto.
— Você gosta dessas coisas, hein?
— Adooro...
— E de mim?
— Estou gostando de cada momento que passamos juntos. — Dei-lhe um beijo.
— Venha aqui e me beije direito! – falou me puxando para mais próximo — Vamos comer algo aqui?
— Pode ser.
— Titiche, sanduga ou sapibó e um ihofuco de poacoá? Pois estou morrendo de nhemanhema.
— Pronto! Vou ter que aprender essa língua nova agora... como é Raza o quê?
— Razaniques
— Pode traduzir, por favor, senhor Rafael?
— Lanche, sanduíche ou salgado e, um suco de laranja? Pois estou morrendo de fome.
— Agora ficou melhor.
Caminhando para a praça de alimentação, ele foi me contando de como ele e os amigos decoravam essas palavras razaniquês para conversarem entre si na frente de outras pessoas. Assim ninguém ficaria sabendo o que eles falavam. Algumas palavras ele gostava de usar até hoje, tipo "Nhosca!" que era, "que droga!" e muitas delas ele confessou que já esqueceu.
Foi muito bom nosso lanche, serviu para conhecermos mais um pouco, falei da minha infância, ele da dele e de como aprontava. Pelo jeito sempre foi terrível. Demos muitas risadas.
Andar de mãos dadas com ele no shopping era estranho, as meninas passavam, olhavam e ainda davam uma segunda conferida. Algumas cutucavam a amiga do lado, convidando a olhar para ele. Vou dizer com sinceridade, isso me deu certo incômodo.
Não sei se acostumo com isso, mas o legal era saber que ele comigo.
Voltamos para o apartamento e ele queria ir direto para o meu, mas não deixei. Estava decidida a conversar com minha mãe e me abrir com ela.
Disse a ele que precisava fazer algo importante. E na hora que ele pudesse vir, eu o chamaria com uma música.
Tomei um banho e liguei para ela, não estava, seria aniversário da vó Lúcia na semana seguinte e elas haviam saído com as amigas para comemorar.
— Estou sozinho em casa, sua irmã saiu também, aquela ali não para em casa, muito diferente de você – falou meu pai.
— Sei... isso é bom? Foi um elogio?
— Sim, você não me dava trabalho com namorados, já ela...
— Pai...
— Oi...
— E agora, você se preocupa?
— Claro, minha filha, mas eu sei que você é ajuizada.
— O que é ser ajuizada?
— O que foi Maria Eduarda? O que você quer me perguntar ou contar?
— Nada pai...
— Maria Eduarda... Fale! Você sempre conversou comigo, o que aconteceu? Está namorando?
—Pai, sabe o meu vizinho...
— Eu sabia que aquele danado estava de olho em você! Eu apostei com sua mãe. Aquela gentileza toda e aqueles olhos brilhando não eram para nós.
Eu comecei a rir dele, eles não haviam me falado nada, mas já tinham sacado o lance.
— Pois é... ele me pediu em namoro.
— Nossa! Foi à moda antiga mesmo? Pediu assim com palavras? Sua irmã disse que essas coisas não existem mais. O "lance" é ficar... cada coisa que tenho que escutar dela... nem te conto... mas e aí, então está namorando?
— Pois é, não respondi ainda, mas eu gosto dele sim.
— Filha, pelo amor de Deus! Você está pior que eu e sua mãe. Você não pediu tempo para pensar, né? Eu também pedi para sua mãe, mas foi em outras épocas, e ela teve que aceitar no ato!
Meu pai era uma figura! Eu tinha que rir dele falar aquelas coisas.
— Não é assim pai. Sou eu que a "estranha" mesmo, eu gosto dele, mas estou com medo de me envolver eh... sei lá... não dar certo... e tem que... parece que tudo anda muito rápido, entende? Ou sou eu que sou lenta demais.
— Espera aí! O que está acontecendo? Esse rapaz te forçou alguma coisa? Maria Eduarda vocês transaram sem camisinha?
— Pai!!
— Pelo amor de Deus, o que estou falando... Maria Eduarda diga para mim que ele continua dormindo do lado de lá?
— Pai! Posso falar?
— Por favor...
— Eu não transei com ele – Ai que vergonha falar essas coisas com meu pai —, mas não sei por quanto tempo... será que... ãn... pai... sei lá. Eu não sei como agir.
— Filha! Presta atenção! Você tem que pensar na sua profissão, nos seus estudos e não faça nada que não queira e não estiver pronta ainda. Agora eu preciso perguntar. Você nunca... Nunca né? Nunca?
— O que pai? – Agora eu ia torturar ele. — Nunca o quê?
— Você sabe? Você nunca teve namorado firme, né? Então... não conhece a coisa. Ah menina, você sabe! — Nesta altura eu já dava risada dele.
— Não pai, eu nunca transei.
— Graças a Deus! E agora aquele franguinho está ciscando do seu lado?
— Pois é... mas aqui não tem galinha não, viu! – falei rindo.
— Voltando a seu problema... o que você queria com sua mãe? Saber se você pode fazer o quê?
— Pai! Eu não liguei para pedir nada.
— Filha, desculpe o meu mal jeito, você me pegou desprevenido. Sei que nós não podemos mais de proibir nada, mas uma coisa nós temos que te alertar. Tenha juízo, tome cuidado, nunca permita que lhe force a nada. O corpo é seu, de mais ninguém. O amor pode ser bom, mas se não for feito na hora certa e com a pessoa certa, pode ser uma péssima experiência.
— E como vou saber se é a pessoa certa?
— O seu coração vai saber. Você sempre soube reconhecer à hora certa de tudo na sua vida. Sempre tomou as decisões corretas... – Ele ficou quieto e não completou a frase.
— O que foi?
— Eh... estou ficando velho mesmo. Veja a conversa que estou tendo com minha filha! E estou vendo sua mãe dizer na hora eu contar... "ainda bem que foi com você." Ela se livrou dessa!
— Nossa, foi tão ruim assim conversar comigo?
— Não que seja esse o caso, mas o assunto, entende? A gente, os pais, se prepara a vida inteira para essas conversas, mas na hora H mesmo treme e as palavras certas somem. Ainda bem que eu estava sentado, pois as pernas ficam bambas. Ver os filhos crescerem, sair de casa. Tudo isso não é fácil, mas faz parte.
— Sei... – Não sabia o que falar mais.
— Agora diz para aquele frangote, ai dele de aprontar com você! Eu vou aí e arranco aqueles olhos claros dele e mais outras coisas e jogo para os cachorros.
— Nossa que maldade com os olhos – respondi rindo —, mas tudo bem, eu não vou dizer. Vou falar que você mandou um abraço.
— Fica com Deus, minha filha. E...
— Juízo! Já sei!
— Te amo.
— Eu amo mais.
Ele sempre falava assim. E agora?
Coloquei uma roupa e liguei a música. Procurei uma que a letra era algo mais provocador se ele fosse prestar atenção na letra. Um aviso talvez.
Olhar para aquele pen drive me fazia lembrar que eu teria que ter uma conversa com o Rafa.
E seria hoje.
Afinal, se eu quero começar ter um vida com ele, ser sua namorada, este era um ponto que precisava ser esclarecido. Ele precisa saber que tudo foi uma brincadeira.
— Coragem, Maria Eduarda! Se ele gosta mesmo de você, não vai ser isto que vai afastá-lo.
Fui para sala esperá-lo. Liguei a televisao, fiquei trocando de canal e nada dele aparecer.
Acho que peguei no sono, pois acordei assustada com ele batendo, ou melhor, socando a porta e tocando a campainha ao mesmo tempo.
— O que foi? Está doido? – perguntei abrindo.
— Estou! Quem está aqui?
— Ninguém.
— Não minta para mim! – Ele parecia transtornado.
— Pare com isso! Não tem ninguém aqui, eu estou a sua espera.
— E mais quem? Vai ter um ménage à trois aqui?
— Uiê! O quê? O que você está falando, Rafael? – Não sabia direito o que ele falava, mas era sobre sacanagem.
Ele começou a andar pelo apartamento como se procurasse alguém, foi direto para meu quarto, eu pedi para ele não entrar.
— Por que não? Está escondendo alguém?
— Claro que não! Mas não dê mais um passo. — Não queria que ele visse a vedação do quarto antes que eu falasse com ele o motivo.
Então ele abriu a porta e o som de sussurros e gemidos chegaram aos meus ouvidos.
Puts! Como ele fala mesmo? Nhosca!
Nhosca, Nhosca, Nhosca e Nhosca... Mil vezes Nhosca!
Não era para ser assim...
Paralisei!
E agora?
Duas opções:
1. Morrer ali naquele momento. E virgem!! Melhor não!
2. Contar a verdade! E que sou virgem. Melhor morrer.
Mas poderia conhecer o prazer da vida primeiro, não é?
Melhor não morrer virgem.
🦷🦷🦷
*Bitonhudo – narigudo em Razaniquês
** Nhoska – que droga
Livro: Razanique e o Livro de Magia, Simone M. P. Michi
🦷🦷🦷
Acho que não deu tempo de pensar tudo isso...
Aprendeu a xingar de maneira legal?
Nhosca!
Repita!
Nhosc
Beijos...
Lena Rossi...
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