Capítulo 16.B
Maria Eduarda
Hora da verdade
Acordei menstruada no dia seguinte, muito bem explicado o meu choro da noite anterior. Levantei, tomei um banho e voltei para cama. Estava com cólica e dor de cabeça. Liguei para minha mãe.
— Oi mãe.
"Oi filha, tudo bem?"
Respondeu já estranhando minha ligação.
– Não... Estou com cólicas e dor de cabeça.
"Tomou alguma coisa?"
— Não... Quero dizer, sim, banho. – Dei uma risadinha. – Estou com saudades... pensei em ir hoje a noite passar o fim de semana com vocês. O que acha?
"Vir hoje? Por quê?"
— Nossa mãe! Por quê? Porque estou com saudades ora essa. Acabei de dizer. Nem parece que sente minha falta.
"Claro que sinto filha. Todos nós sentimos..." – Percebi que sua voz falhou uma nota. – é que...
— Mãe, me desculpe, não queria falar isso. É que se vocês viessem... mas tudo bem. Vou hoje à noite e volto domingo.
"Filha é muito cansativo e agora assim... Com cólicas."
— Já entendi... Vocês têm outro compromisso? É o curso do papai?
"Não... É sim... Também..."
— Tudo bem, mãe...
"Filha... Espere um pouco, já te ligo."
Desligou.
Fiquei olhando o celular. Ela desligou na minha cara! O que estava acontecendo? Dona Tânia não é assim, o que houve?
Levantei e peguei minha bolsa de medicamentos, tomei um analgésico. Coloquei uma bolsa térmica no micro-ondas por alguns minutos e voltei para cama. O celular tocou.
- Oi.
"Então a minha princesa quer visitar os pais?"
— Éh, parece que somente eu estou com saudade — falei manhosa.
"Até parece que isso é verdade, minha querida. Todos nós estamos com saudades e muito bom saber que você sente nossa falta. Às vezes pensamos que você está muito feliz morando sozinha."
— E estou pai, mas isso não significa que não sinto falta de vocês, fico carente também. Diz a mamãe que fique tranquila, não precisa pedir para você falar para eu não ir. Era só ela mesma falar — fui interrompida por ele.
"Nós queríamos fazer uma surpresa princesa. Vamos semana que vem na sua apresentação, por isso sua mãe enrolou-se toda."
— Ãn? Vocês vão vir? Que legal!! — falei feliz — Como vocês poderiam me esconder uma coisa dessas?
"Fale com sua mãe. Te amo."
— Te amo, pai.
"Sua chorosa, estragou a surpresa!"
— Estou muito feliz agora e foi surpresa do mesmo jeito. Amo vocês, não duvidem disto.
"Eu sei, mas agora coloque uma bolsa quente nesta barriga e tome um analgésico. Fique deitada mais um pouco."
Sorri e gesticulava cada palavra enquanto falava, porque sabia tudo, tin tin por tin tin.
- Pode deixar farei isso. Obrigada, mãe. Beijos.
"Cuide-se minha querida."
Percebi que chorava.
Fiquei deitada pensando neles e acabei dormindo mais um pouco.
🦷
Acordei melhor, mas com uma preguiça gigante de levantar, nem pensar em fazer exercícios. Fiz um esforço para ir até a cozinha bater uma vitamina. Sentei a mesa, comi uma fatia de pão torrado com bastante creme de avelã. Pensei: eu mereço.
Passei a manhã de pijama e lendo um material sobre: Anatomia funcional dos dentes. Fui para a faculdade com cara de poucos amigos.
— Oi, tudo bem? Está com uma cara! — perguntou Joyce assim que me viu.
— Naqueles dias...
— Ai cruzes! Odeio esses dias, com este calor é pior ainda. Por isso tomo injeção, não tenho nada e não vem por seis meses. Super indico — abaixou a voz.
O professor chegou então paramos de conversar.
Final da tarde, uma galera se reunia em frente do RU, eles armavam uma festa. Fui convidada. A Joyce até insistiu para eu acompanhá-la. Mas não aceitei. Queria muito minha casa e cama. E pior, saber que o Rafael não estaria na cidade era mais uma motivação.
Assim que cheguei no apartamento o interfone tocou. Era o porteiro para avisar que minha encomenda chegara, as placas de vedação, e ele se esqueceu de avisar quando entrei. Informei que desceria. Aproveitei para verificar na garagem. Nada! O carro dele não estava. O volume das placas era grande, por isto senhor Josué me ajudou.
Teria algo para fazer no final de semana.
Tomei banho e fiz meu jantar. Lia o manual de instrução das placas ao escutar meu celular apitar.
Era do Rafael, uma foto do mar. Lindo!
Mandei uma mensagem e recebi uma pergunta se iria sair. Afinal, o que esta pergunta significava?
Respondi deixando-o na dúvida.
Fiquei olhando aquela foto.
Onde seria?
Fiquei com uma vontade de estar junto dele. Fui para meu quarto e deitei com olhando a foto do mar. Peguei meu note e passei a foto, coloquei no fundo de tela.
Procurei um filme que havia baixado. Uma comedia romântica, que de comédia não tinha nada. Não dei nem um ligeiro sorriso e que diria uma risada ou gargalhada. Isto porque na indicação falava que era "hilário". Até agora me pergunto: onde?
Meu celular tocou. Rafael. Meu coração disparou.
— Alô.
"Oi."
— Oi, então está na praia? Que delícia, hein?
"Pois é, vim ficar um pouco com os velhos."
— Velhos? — Ele riu.
"Você está onde?"
— Em casa e deitada.
"Tudo bem? Está com uma voz diferente. Estava dormindo?"
— Não. Eu que não estou bem hoje.
"O que foi? Está doente?"
— Nada de mais, "coisas de mulheres".
"Hum... Coisa chata. Eu poderia cuidar de você..."
— Venha! – ele riu.
"Você é má, fala isso porque estou longe."
— Não, estou carente e precisando de alguém mesmo para cuidar de mim.
"Por favor, não fale isso, vou me sentir mal de estar aqui."
— Não fique, eu também gostaria de estar com meus pais. Aproveite a companhia dos seus.
"Vou fazer isso. Prometo. Esse final de semana será somente com eles. Entendeu? Somente meus pais, mais ninguém."
— Então aproveite. Boa noite.
"Boa noite. Duda?"
— Oi.
"Beijo."
— Beijo.
Na hora que fui dormir fiquei pensando nele.
Durante o dia de sábado e domingo recebi várias fotos dele. Algumas somente do lugar onde ele estava e outras com o seu rosto em primeiro plano. E até mandou uma com a mãe que não era nada parecidos. Como ele era lindo...
Passei o final de semana todo em casa, não aceitei convite para nada. Montei minha parede de vedação, para isto precisei pegar uma escada emprestada com o senhor Josué. Ficou muito bom, a medida foi perfeita. Necessitei fazer os recortes das tomadas, que foi bem fácil.
No domingo ele mandou foto com os pais, almoçavam a beira mar. Uma família bonita. Os olhos dele eram iguais ao do pai. Na verdade, apenas o sorriso era parecido ao da mãe, o resto era igualzinho o pai.
Salvei todas as fotos.
🦷
Segunda-feira chegou lentamente. Nossa, como demorou, nunca um final de semana demorou tanto. Já não via a hora de começar o dia e poder me movimentar um pouco, se ficasse mais em casa criaria raízes. Ficaria plantada em plena sala ou no quarto.
Credo!
Em compensação a semana seria cheia. Ensaio, marcação de palco, tudo no mesmo dia. Ainda bem. Precisava ter tarefas para fazer.
Recebi mensagem do Rafael.
Rafa: Quero te ver.
Eu: Estou ensaiando agora no anfiteatro. À tarde estarei no departamento de bioquímica. À noite estarei aqui de novo. Marcação de palco.
Rafa: Então te acho. Bj
Fiquei esperando encontrar com ele na saída do anfiteatro na hora do almoço. Nada.
Almocei no RU com intenção de vê-lo. Nada.
Depois da aula à tarde e nem à noite. Voltei para casa tão chateada que pensava não querer vê-lo nunca mais na minha frente. Ele sumiu por completo. Entrei em casa, desliguei o celular e coloquei para carregar. Se ele ligasse que ficasse com raiva igual eu me encontrava naquele momento.
Fiquei morrendo de vontade de olhar se tinha mensagem, mas se houvesse o que eu falaria? "Venha aqui! É só atravessar o corredor!"
Senti um arrepio só de pensar que precisava contar para ele que eu era sua vizinha. Agora mais que urgente.
Minha semana andava uma loucura. Por vezes, até me arrependia de ter entrado nesta de participar do festival.
Além da minha dança, participaria com mais duas garotas em outra dança e depois na parte final com todo o grupo. Fui perceber que meu celular continuava desligado na parte da tarde. Tive uma janela e aproveitei para ensaiar. Assim não teria que ir a noite. Aquele palco estava disputadíssimo.
Coloquei minha roupa e a música para tocar... Deixei os patins na posição correta.
A música começou e os meus pensamentos voaram. Eu dancei imaginando o Rafael ali comigo, ele era meu par. Fazia todos os movimentos comigo. No final, deitei no palco, coloquei os patins. E nesta instante foi como colocar asas. Voei e rodopiei para cair nos braços dele.
Escutei os sons de palmas. E eu pensava estar sozinha. Levantei a cabeça e me surpreendi com meus olhos, eles focaram quem me aplaudia. Eu não sabia se era real ou imaginação. Será que era possível meu sonho sair do imaginário e aterrizar na platéia?
Ele era real ali e olhava para mim e eu não conseguia desviar meus olhos. Tudo que tinha pensado e o xingado na noite anterior, caiu por terras.
Sorri para ele.
Saí do palco. Troquei de roupa.
O que fazer?
Pensei: vou falar para ele assim: "Rafa te acho lindo, até legal, mas não vamos dar certo. Melhor sermos apenas amigos."
Pronto, era isso!
Fui repetindo pelo caminho, ao andar devagar, até chegar perto dele. Como seus olhos não desviavam dos meus foi difícil manter meu texto. Percebi que nem falar era possível.
Meu coração havia saído para dar uma voltinha e levou junto minha língua, cérebro e todos meus sentidos. O que eu podia fazer?
Joguei no chão minha bolsa e beijei-o.
Fazer o que, se não poderia pensar e falar? Fui abandonada por todos meus parceiros de vida inteligente.
Não entendi o que se passava com ele, pois não reagiu. Tive vontade de sumir.
O que eu fazia? Tentei me afastar e ele aí sim, mostrou que não foi passear com meu coração. Puxou-me para seus braços com força. Ficamos nos beijando por um longo tempo. Ele soltou meus cabelos com uma habilidade perfeita, quando percebi seus dedos passeavam por eles. Seu corpo me pressionava sem colocar suas mãos. Era nítido o seu estado de excitação. Mas não fiquei intimidada, mantive firme junto dele, mas fraquejei ao olhar nos seus olhos e ele com um sorriso falou:
— Sonhei com esse beijo, mas confesso, nem cheguei perto, foi muito melhor.
A medrosa aqui vacilou e tentou fugir.
O que eu faço? Cadê meu texto?
O que falar? Eu nem sabia direito, nada foi ensaiado.
Simplesmente sei que ele abaixou pegou minha bolsa e saímos abraçados do departamento. Depois de mais um beijo segui para aula.
Meus pensamentos estavam numa velocidade de dar inveja a qualquer maratonista. Teria duas opções. Sumir! Ou assumir! O que fazer? Precisava contar...
Ai meu Deus!!!
Entrei em sala de aula.
Custei a situar e focar.
Acabou o tempo e a professora parecia que não tinha relógio e nem enxergada o da parede. À hora passava e ela não parava de falar.
Meu celular tocou e era o Rafa. Atendia ou não?
— Oi – falei baixinho.
"Onde você está?"
— Dentro de sala ainda, posso te ligar depois? Vai demorar aqui.
Combinei de encontrá-lo e desliguei sem a profis ver.
Finalmente ela terminou, eu já não sabia o que fazer. Passei na biblioteca na incerteza se queria achá-lo. Pensei: se encontrar com ele, conto tudo. Agora, caso contrário, vou enrolar mais um pouco.
Não achei.
Fui para casa.
Mandei uma mensagem para ele.
Mais tarde, sentada na minha cama o celular apitou.
"Quero te ver hoje ainda. Onde você mora?"
🦷🦷🦷
E agora? O que faço?
O que será que Maria Eduarda vai fazer?
Contar onde mora e acabar com esse mistério? Ou dizer que não quer vê-lo mais?
Hum... 🤔
Quer saber?
Aguarde...
Eu voi te contar, ou melhor, o Rafael.
Ele vai te contar o que aconteceu.
Até mais.
Beijos,
Lena Rossi,
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