Capítulo 15.B
Maria Eduarda
Sumiu
Acordei cedo e fui patinar, teria balé mais tarde, mas eu precisava de exercício mais intenso. Estava muito agitada. O acontecimento da noite anterior tinha me deixado tensa e com isso acabei dormindo muito mal, acordei várias vezes. E quando ficava assim, somente um bom treino me aliviava. Na ocasião, que fazia patinação artística, passava horas na quadra, porém era uma mistura de ginástica, dança e a patinação. Depois com os estudos para o vestibular, acabei dedicando a patinação de pista, onde eu patinava com velocidade.
O meu antigo professor insistiu que eu participasse de um campeonato de patinação de velocidade, mas não aceitei. Precisava de foco no vestibular e nada poderia me distrair naquele momento.
Sou assim, quando ponho algo na cabeça...
Assim, voltei para casa com uma decisão. Iria pedir desculpa ao Rafael. Depois que a Sabrina me contou dele ter ficado chateado por nós termos brigados, pensei tanto e repassei tantas vezes o acontecido que perdi as contas. Era fechar os olhos... Ele vinha a minha frente com aqueles olhos azuis indecifráveis.
Eu consegui ver sua confusão ao me ver falando com meu pai. Ele pensou que era outra pessoa, e o alívio que sentiu foi nítido em seus beijos.
Voltei para casa decidida que escreveria para ele. O bolo que mandei fazia parte desse pedido, mas ele não sabia que era eu.
Peguei um papel e escrevi:
"Oi Rafael, me desculpe o outro dia. Fiquei nervosa e pode ser que te interpretei mal. Você poderia me dar outra chance de consertar?" Du
Passei um sap para Bri e perguntei se ela iria almoçar no RU, assim combinamos de nos encontrar depois do meu balé para ela fazer um favor para mim.
Fui para o balé e mostrei o que pensava para minha professora. Ela gostou e fez algumas alterações, deu-me uma ideia legal sobre o uso dos patins no final da apresentação. Fazer um giro final, neste caso teria que ter ajuda de alguém.
Precisava trocar essa ideia com o diretor.
Voltando do balé encontrei com a Bri, mostrei o bilhete e ela comentou:
- Por que você não manda uma mensagem no sap dele?
- Não quero! Assim ele não precisa me responder na mesma hora.
- Você é quem sabe. Se eu não achar o carro dele te falo, então você contrate um pombo - falou rindo.
- Deixe-me fazer do meu jeito. - Dei um abraço nela. - Obrigada amiga.
Fui para casa, tomei um banho, almocei pensando...
Saí de casa mais cedo para não ter a possibilidade de encontrar com o Rafael no prédio. Sentia-me cansada, então iria camingando devagar.
Encontrava-me na avenida, próxima a atravessar, eu o vi chegar à rotatória. Pensei em desviar do caminho, porém, no mesmo instante, percebi um papel voar do carro dele. Ele parou em seguida, estacionando num lugar muito perigoso, mas ficou ali por um tempo a procura de alguma coisa. "O bilhete", ele não viu antes! Fiquei de longe a observar. Ele não achou, mas procurou bastante. Depois de um tempo, parece que falando alguns palavrões, que é a cara dele. Entrou no carro e seguiu em frente.
Fui pensando...
E agora? Ele não leu meu bilhete. Hum... Acho que, pensando bem, a Bri estava certa, com tanta tecnologia disponível, um bilhete assim era arcaico e poderia ser até perigoso.
Peguei o celular e escrevi:
Seria mais breve, cortaria uma parte que tinha escrito antes. Mandei.
Agora não teria volta.
Pensei: ele vai ligar em seguida. Ou mandar outra mensagem.
Até chegar à sala de aula, nenhuma mensagem. Depois da aula, nada. Acho que ele realmente estava bravo. Lembrei que ele não teria aula a tarde, então poderia estar dormindo. Chequei a cada quinze, dez, cinco minutos e nada. E nem sinal dele ter visto.
Por fim, tentei desligar o meu pensamento.
Acabou a aula, eu fui fazer um ensaio para o professor e o diretor em um anfiteatro menor, mas com um palco do mesmo tamanho. Levei uma roupa de balé e os patins.
Coloquei a música escolhida no meu celular e fiz a coreografia.
Eles aplaudiram. Adoraram! Isso por que errei dois passos e a série. Mas como eles não tinham noção do que eu iria fazer, não teve diferença alguma.
Fui embora feliz e prometi ensaiar mais vezes para deixar tudo bem redondinho.
Meus pais não viriam. Eu pretendia pedir alguém pra gravar, assim mandaria para eles.
Fui embora sozinha, apesar de ser tarde.
Assim que cheguei ao hall de entrada olhei no meu tapete. Uma caixa e um envelope. Peguei rapidamente e entrei.
Abri.
Dentro da caixa: trufas.
"Querida vizinha do outro lado, Maria Eduarda.
Está até engraçado esse nosso relacionamento. Eu não te conheço e nem você me conhece e já gosto de você.
Você nem imagina como foi importante o seu carinho ontem. Andei tendo uns dias estranhos, para não dizer ruins. Estou muito baixo astral e uma péssima companhia por esses dias. Então vou para o litoral esfriar a cabeça e encontrar meus pais no fim de semana, com isso, não será agora ainda que vamos nos conhecer. Estou precisando me abastecer de carinho de pai e colo de mãe.
Eu vi escrito no facebook hoje assim: "não é água com açúcar que acalma. É água e sal", concordo plenamente. Tomar um sol e olhar o mar. É tudo que preciso.
Obrigado pela preocupação de ontem, desculpe a baixaria. Não vai acontecer de novo. Não com esse tipo de gente. Vacilei.
Abraço do seu vizinho, do outro lado."
Rafael.
Eu li, reli e li de novo. Ele não me respondeu e agora escreveu uma carta para a vizinha?
Que filho da mãe!
Era isso mesmo?
Cachorro!
Galinha!
Maria Eduarda a vizinha é você! Lembra? - uma voz me alertou.
— Mas ele não sabe disto! — retruquei.
Quer dizer que ele está arrasta a "asa" para ela e ainda bem que sou eu. E se não fosse?
— Ah Bem, Bem, você não presta mesmo...
Olhei de volta o papel.
Ainda... Essa palavra me preocupava. Como vou dizer que sou eu, a Du, que mora do lado de cá?
"Oi, tudo bem? Você mora aqui?! Nossa, que coincidência. Eu também?!"
Será que ele acreditaria na minha mentira?
— Mas, pense bem, se ele não sabe por que eu saberia?
Hum... Preciso pensar muito nisto ainda para não ter mais confusão.
Peguei meu celular e nada dele dar um alô. Agora sabia que ele viu a mensagem. Não respondeu por que queria pegar a vizinha. Safado! Nem sabe lidar com um fora, fica deprimidinho. Como ele disse mesmo? — Peguei a carta e li de novo. — Baixo astral.
Deixei de lado tudo aquilo e fui tomar banho e comer, estava com muita fome. E tudo isso misturado com raiva de homem era um perigo.
Mais tarde passei uma mensagem para Bri e Joy, fizemos um grupo só nosso. Falei:
Ele não respondeu.
Não contei nada sobre à noite anterior.
Bri: ixi deve estar magoado ainda.
Joy: nem ligue, deixe-o se ferrá. Merece.
Eu: penso que o melhor é sair fora msm.
Bri: espera um pouco, dá um tempo para ele.
Joy: se liga Bri! Ela tem mais q cair fora e pegar geral.
Eu: Joy, não quero ninguém. Nada sério mesmo.
Joy: vamos sair matando final de semana? Pegando e morrendo? kkk
Bri: eu sou da opinião que Bem está mto afim de vc Du, e ñ sabe lidar com isso. O Filé falou a mesma coisa.
Joy: e vc quer q ela fique na espera do bebe se decidir? Pq está com 'medim'. Se liga Bri! Só pq vc quer ela de fixa tb, igual tu?
Bri: ñ quero nada, ela que sabe, está a fim tb, verdade Du?
Eu: nem sei. Acho que sim. Vou estudar. Cansei de pensar por hj. Bjs
Bri: tb. Bjs
Joy: vcs duas estão correndo de mim? Só falei a verdade do fofo. Td bem. Bjs.
Pouco depois a Bri mandou uma mensagem somente a mim.
Bri: Tem hora que a Joy é totalmente desagradável, é radical. Ñ quero te influenciar em nada. Falo o que acho e o escutei. E é tb a opinião do amigo dele. Q é meu gato.
Eu: fique tranquila, eu entendi. Estou na dúvida mesmo. Somente não quero me magoar com isso tudo.
Bri: vou te dizer uma coisa. Não vai na onda da Joy, vc escutou aquele dia as histórias dela.
Eu: pode deixar... Vou pensar nisto tudo... Estou pensado em ir para casa final de semana. Conversamos amanhã.
Bri: ate +
Deixei o celular e falei:
— Verdade Maria Eduarda, está pensando em ir para casa no fim de semana?
— Pensei nisso, neste exato momento, por quê? Não posso?
— Posso pensar o que eu quiser! Posso fazer o que eu quiser! — gritei — sou livre!!
Deitei na minha cama e fiquei pensando na palavra, livre. O que sabia fazer com minha liberdade?
O que era ser livre?
Eu era uma medrosa, na verdade. Agi daquele jeito com o Rafael por mais medo que qualquer outra coisa.
— Ãhn... — gritei de novo.
E sem saber o porquê, comecei a chorar. Chorei, chorei e chorei. Pensei em ligar para mamãe, falar que estava pensando em ir, mas no estado em que me encontrava não seria uma boa alternativa. Melhor não! Continuei deitada chorando até que dormi.
🦷🦷🦷
Ela ficou com ciúmes dela mesma. Pode?
Claro... E ela estava certa. Concordam?
Ah... Não esqueçam das estrelinhas...
Lena Rossi
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