Capítulo 12.A
Rafael
Noite com amigos
Passamos no supermercado e compramos os ingredientes para um macarrão. Essas reuniões tinham por finalidade fazer a comida. Nem que fosse um macarrão instantâneo. Mas com o tempo fomos aprimorando nossos conhecimentos culinários. E quando rolava gatinhas a ajuda servia como aprendizado.
Como estávamos numa bela segunda-feira, um macarrão com molho de carne moída estava de bom tamanho.
Quando nós chegamos na garagem, eu contava a história da porta para eles. Paramos na portaria para pegar o Jacaré, ele vinha de moto. Tive que voltar o assunto.
— Mas cara, como você não a conhece ainda? — perguntou Fubá — E se pá, sobra à bailarina para mim.
— Se toca, Fu. Já te aviso, aquela ali é minha. Pode até demorar, mas não vou desistir. Já tá até rolando, devagar, mas tem alguma coisa — falei.
— Pode ser que ela não te queira, nem chapa. Porque é o que está parecendo — zuou ele.
— Então eu fico com a Marci, porque ela está carente, decepcionada e sentindo dor na alma — contei.
— Se plante, Bem! — ele disse me olhando feio, mas ficou quieto.
Jacaré que havia sacado desde o dia da piscina comentou.
— É sério que você está a queixar a Marci?
— O que rola que não entendi? — perguntou Filé.
— Vou contar uma novis para vocês hoje que vão ficar de cara! — expliquei com suspense.
A porta do elevador abriu no meu andar. Saímos e paramos. Todos de olhos fixos na porta. E lá estava outro bilhete fixado que tratei de tirar rapidamente.
"Fica para outro dia, tenho visita hoje."
Maria Eduarda.
Puts, pensei preocupado. Será que vai ter showzinho hoje? Não posso deixar que eles ouçam se começar o lepo-lepo, isto porque não vou contar esse detalhe. Vai que sobre para mim um dia e ninguém precisa saber. Caso contrário, conto mais para frente.
— Cara, ficou milgrau — comentou Fubá me despertando dos meus pensamentos.
— Caracas, show mesmo! — confirmou Filé — E o que está escrito aí?
— Hoje depois que vi a porta, toquei ali — Olhei para porta dela. — ela não atendeu, então deixei um bilhete agradecendo e falei para ela me chamar aqui à noite. E ela disse aqui que não pode.
— Que tristeza, nós vamos perder a oportunidade de conhecer a artista — falou Filé.
— Tome jeito seu bestado — Bateu Jacaré na cabeça dele. —, você agora é comprometido.
— Sou, mas não sou cego, — falou rindo. — E aí, vamos ficar parado aqui ou entrar?
Foi o que fizemos. Passamos pela porta falando, quase todos ao mesmo tempo, fazendo zueira. Agora eles queriam saber o que eu tinha de novidade para compartilhar.
— Vou contar, mas primeiro vamos adiantar o jantar.
— Vamos não cumpadi! Você vai! Lembra lá em casa? Fiz sozinho enquanto vocês ficavam rindo na sala — declarou Fubá —, hoje é sua vez.
Fomos para cozinha, eles colocaram as sacolas na pia e vazaram mesmo, rindo e com Jacaré anuciando:
— Fubazinho falou, está falado.
Saíram todos e eu fiquei na cozinha sozinho. Coloquei a água para ferver. E comecei a fazer o molho. Era uma das poucas coisas que sabia fazer bem.
Fui no meu quarto e colei a orelha na parede, mas não escutei nada. Ufa! Que bom. Só me faltava essa noite ser dia de show business.
Voltei para a cozinha. Terminei o molho e quando o macarrão ficou no ponto o problema aconteceu. Fui colocar no escorredor e mais da metade caiu dentro da pia. Olhei para trás e peguei tudo com ajuda do pegador e as mãos, quente prá caramba, colocando de volta no escorredor. Joguei uma água por cima e pronto. Transferi para a panela coloquei azeite e dei uma esquentada de novo. Ri sozinho da bagunça que havia acabado de fazer. Eles iam querer me matar se soubesse. Sorte deles que a pia estava limpa, pelo menos eu acho. Mas quem me garante que até nos melhores restaurantes isso não poderia acontecer? Como diz aquele velho ditado: "o que os olhos não veem coração não sente", neste caso, o paladar e a barriga.
Acabei de preparar e gritei:
— Pode vir galera! Ou vão querer que eu dê na boquinha também?
Todos vieram.
Cada um serviu seu prato pegou um refri e voltou para sala.
Eu tinha apenas uma TV, e normalmente a deixava no quarto, mas tinha toda a instalação pronta na sala. Quando tinha visita, eu a trazia e conectava os fios. Tomei um assusto ao perceber que ela já se encontrava instalada. Alguém já havia feito o trabalho. Olhei a porta do quarto aberta. Fiquei bolado e pensei: — Vixi, e se alguém estivesse brincando do lado de lá e o som chegar aqui.
Puts!! Antes de sentar para comer fui até o quarto e fechei a porta. Ninguém notou nada, pelo menos não conentou.
— Conta agora Bem o que esta rolando? — perguntou Filé com a boca cheia — Hum... Ficou muito bom este rango, Bem.
— Bando de mocinhas curiosas! — brinquei — É sobre a Marcinha.
— Largue de ser besta Bem, o que foi? Deu agora para maricá? — questionou Fubá na defensiva.
— Rabo preso é foda mesmo hein? — falei. — E o que eu vou contar, Fu?
Ele olhou sério para mim e não disse nada.
— Então, como eu ia dizer e fui interrompido, a Marci veio conversar comigo. Está boladíssima. E... acabou por confessar ter uma paixão pelo Filé. E agora que ele está de rolo sério, pensa em se firmar com alguém também, — Olhei para o Fubá. — Quem estiver querendo fixar pode se candidatar.
— Essa eu não esperava — comentou Filé. — Ela falou assim, com todas as letras que é a fim de mim?
— Sim. Disse que nunca rolou nada além de lance de uma noite entre vocês – concluí.
— Mas ela nunca deu a entender ser a fim de mais alguma coisa — explicou.
— E você toparia se ela tivesse dito? — Fubá quis saber.
— Acho que não, a Marcinha é gente boníssima, mas já rolou na mão da galera toda. É estranho namorar alguém assim, não acham? Seria muita zoação.
— Eu não fiquei com ela. — falou Jacaré.
— Acho que é o único Jaca – retrucou Filé.
— Eu toparia namorá-la sim, sem problemas algum, mas ela não me quer — Fubá admitiu para a galera que ficou quietos.
— Talvez agora sabendo que o Filé não está mais na pista a conversa muda — falei —, apesar de que fiquei com uma frase dela na cabeça.
— Qual? – perguntaram, todos me olhando.
— Hum... Algo assim... "Amor, paixão a gente não impõem a ninguém. Simplesmente acontece."
Ficaram todos em silêncio.
Ouvia-se o som dos garfos nos pratos. Comiam e pensavam, acredito que registravam o que falei.
Voltamos à cozinha para matar a 'janta'.
— Bem, você que é bem relacionado, conta para mim quem é aquela morena? — perguntou Jacaré — Joyce o nome dela é sei que é caloura, o que mais?
— Ih... perguntou para a pessoa errada. Sei não! Ela é amiga da Du e da Bri. Nosso ilustríssimo amigo que agora amarrou seu filezinho deve saber mais. Conta aí, Filé?
— Hum... Ela é filha de pais separados e que se odeiam. Cada um quer pirraçar o outro por tudo. A mãe casou de novo com um Francês, e pelo que a Bri me contou, ela sempre quis que a filha fizesse como Michael Jackson.
— Como assim? Ficar branca? — perguntou Jacaré.
— Exatamente! A Bri disse que viu umas fotos dela ante de vir para a faculdade, irreconhecível.
— Mas por quê? — perguntei.
— Parece que tem aversão a preto — explicou.
— Mas ela é toda black! Usa aquelas coisas no cabelo e faz todo estilo afroamericana, que a torna gatíssima — afirmou Jacaré.
— Não sei direito, parece que a mãe a influenciava usar cabelo lisinho e ser toda Barbie. Mas agora ela faz o seu próprio estilo. O pai é negro e a mãe branca, por isso não quer a filha se parecendo muito preta. Alguma coisa assim. Ridículo eu sei, mas quem comentou foi a Bri — falou, quase se defendendo ao olhar para nossa cara.
— Mas ela é preta e linda, com aquele estilo, fica mais interessante ainda. — concluiu Jacaré.
— Aos seus olhos irmão, não no dá mãe que quase teve um infarto quando ela decidiu assumir seus cachos e suas raízes.
— Gente, mas ela na verdade nem chega a ser negra. É morena — falei.
— Cara, não existe essa de morena, ser mais clarinha ou mais pretinha. Quem têm raízes afro é preto. Na verdade brasileiro é tudo mestiço. Minha família tem de negro a branco. Eu saí esse meio termo, por causa desta mistura doida. Minha mãe é negra e meu pai é de origens italianas. Uma verdadeira confusão de raças — explicou Jacaré.
— A Bri contou que com essa confusão dos pais, ela saiu "ganhado" — Sinalizou com os dedos em as aspas. —, o pai deu um carro zero de presente pela entrada da faculdade e a mãe para não ficar atrás comprou um apartamento, mas "o apartamento" aquele condomínio perto da lagoa, que tem academia e área vip de lazer. E quer que ela more sozinha. Fora a uma mesada polpuda de cada lado.
— Deve ser para não se misturar com uma galera igual a nós — zuou Fubá rindo.
— E sua loira, Bem? — perguntou Jaca.
— A coisa ali está difícil, ela é durona e minha fama parece que não ajuda. Tem muita gente que fala demais por aí. — Olhei feio para eles.
— Quem mandou deitar muito nas camas, agora fez a fama — concluiu Filé rindo.
— Você até parece um santo, cara, na verdade é muito sacana e filha da puta! — Olhei firme para ele. — Estou pensando aqui agora. Sobre minha Du patinadora não foi capaz de saber um nada. Agora da... Como ela chama?
— Joyce — respondeu Jaca.
— Pois é, a Joyce, você deu relato completo.
— Foi por acaso que saiu esse assunto, nem tão por acaso assim. Foi culpa sua.
— Minha! Por quê? — perguntei
— O assunto começou por causa da história dos amigos gays delas, que você ignorou outro dia.
— Tentei consertar isso hoje, perceberam? Na verdade gente, eu não tô nem aí para essa turma. Não sou contra nem a favor de homossexuais. Cada uma faz o que quiser da vida. Mas não vou ficar amiguinhos deles, só isso — falei em minha defesa.
— Mas cara, isso dá até cadeia, é preconceito puro — falou Fubá.
— Eu não fiz e nem falei nada — me defendi.
— Isso mesmo. Nada! — afirmou Filé — O que as deixaram vexadas, pois nem os cumprimentaram. Isso também é forma de preconceito.
— É muito mi mi mi. Você também nem deu confiança a eles! — o acusei.
— Claro que não! Eu os cumprimentei antes de você chegar. Somente não dei beijinhos — falou rindo o filho da mãe —, a verdade é que eles são muito gente boa. Você dá risada o tempo todo. São muito boa praça.
Será? Eu sou preconceituoso? Nunca pensei nisto e desta forma.
Fubá pegou a caixa de chocolate abriu e colocou perto de nós.
— E sobre a Du, o que ficou sabendo? — perguntei de novo.
— Quase nada. Sei que ela é mais quieta, nunca havia saído para morar fora sozinha e que o pai comprou o apartamento onde mora.
— E onde é? — quis saber.
— Sei não! É por aqui perto. Será que não é aqui do lado? — perguntou ele querendo me zuar — Talvez seja a sua vizinha.
— Muito engraçadinho você Filé, depois que ficou de rolo sério está muito mais gozadinho — falei. Levantei indo para a cozinha.
— Vamos ficar aqui com conversa fiada ou vai rolar uma disputa séria hoje? — perguntou Jacaré.
— Fu veio e já foi embora? — Filé questionou — Ah não, ficou tão quietinho que nem o percebi.
— Deve estar bolando algo para conquistar a Marci — cutuquei.
— Estou vexado mesmo — falou —, mas não é nada disto. Estou pensando aqui na frase do Bem. Talvez a Du patinadora esteja apaixonada por mim, eu que sou apaixonado pela Marci que é apaixonada pelo Filé que é pela Bruxinha e que é pelo Filé mesmo. Fechou! E quem é pelo coitado do Jacaré?
— A Joyce ora essa! Fechou! Beleza, tudo que eu quero neste momento — completou ele com um sorriso no rosto.
— O que foi Fu, está gozadinho também? Mas você eu tenho certeza que é obra de cinco dedos — falei da porta da cozinha e todos caíram na gargalhada.
Montei meu equipamento de primeira grandeza e começamos a nossa sessão de jogos. Meu vídeo games era nosso amigo para aliviar tensão. Na hora de escolher o jogo começou outra briga. Até fazermos uma votação. Nossas noites de reuniões sempre eram de risadas e gritarias.
Já passavam da meia noite quando paramos e eles foram embora. Afinal era apenas segunda-feira.
Quando abri a porta do meu quarto escutei barulho do outro lado. Ah meu Deus! Agora não! Será que vai começar sessão pornografia?, pensei.
Aproximei da parede e escutei-a rindo, que risada mais gostosa. Falava com alguém. Será que o rala e rola já aconteceu? Vai ter mais? Precisava tomar banho e conseguir dormir primeiro.
🦷🦷🦷
Você conhece algumas gírias baianas?
Queixar é paquerar
Vexado, arretado é tenso nervoso ou com raiva
Bolado é preocupado
Se plante é fique na sua.
🦷🦷🦷
Será o que está acontece do outro lado?
Ela está rindo de quê?
O que você acha?
Lena Rossi.
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