18 - Gato de rua
Samuel me deixou na esquina do meu prédio aos primeiros raios de sol. O sedan parou no meio fio e eu me vi demorando um pouco demais para abrir a porta e descer do carro. Ele se manteve em silêncio e me peguei especulando se ele havia gostado da noite, se estava feliz ou arrependido, ou qualquer coisa. Ele já devia ter feito isso uma infinidade de vezes então não tive coragem de perguntar, e minha demora era mais para saber se ele diria algo.
Ele não disse.
No caso, fiz o que tinha que fazer. Abri a porta e estava para descer quando ele puxou meu braço. Eu me voltei para ele e fui surpreendido com um beijo inesperado, quente e fodido de bom. Ele puxou novamente o meu cabelo, eu gemi e mordi sua boca.
O beijo deve ter demorado um tempo porque quando ele se afastou, tinha os lábios vermelhos e levemente inchados. Seus cabelos, geralmente jogados para trás, caíam desalinhados sobre a testa, alguns fios chegando até a ponta do nariz. A imagem me encheu de tesão de um jeito que me segurei para não cair de boca no seu colo e prolongar nossa aventura por mais alguns minutos. Eu queria ter um pôster dessa imagem no teto do meu quarto.
Nos soltamos e eu encostei minha cabeça em seu ombro. Estava me sentindo um gato de rua, esfregando-me e pedindo carinho. Não podia continuar agindo assim, eu era um adulto, porra!
— Preciso ir... — sussurrei. Ele me olhou bem dentro dos olhos. Senti que ele queria dizer alguma coisa, chegou a abrir a boca, mas fechou de novo.
Pensei... talvez ele também não soubesse como fazer isso. Se ele não sabia, imagine eu? Todavia, era óbvio que um homem com a experiência e vivência dele tinha uma opinião formada sobre a nossa noite. Talvez ele apenas não quisesse compartilhá-la comigo. Eu era um idiota mesmo.
Criei coragem e saí do carro. Quando ele manobrou e virou a esquina, senti-me vazio e esquisito. Segui até o meu prédio e assim que entrei no apartamento, fui até a janela e desejei um cigarro.
Eu cheguei a fumar por um tempo, quando tinha entre 20 e 25 anos. Depois parei, por conveniência e por determinação. Se fosse naquela manhã, não estaria tão determinado. Na verdade, determinação tinha virado uma ilusão. Não fazia ideia de como ia me manter tranquilo pelos próximos dias, porque estava muito a fim de seguir adiante com aquela coisa nova, mas eu era muito fraco e covarde.
Saí da janela e me sentei no sofá. Senti incômodo ao fazer isso. Uma dorzinha me alfinetou bem no reto, e imaginei que iria sentir os efeitos da noite tórrida por alguns dias. Talvez tenha sido um pouco demais para uma primeira vez, mas eu não faria nada diferente. Definitivamente não, porque a sensação dolorosa me levava à lembrança dele, e todo aquele equipamento generoso invadindo meu corpo e...
Meu pau não achava que tinha sido exagero, então, obviamente acordou com a lembrança. Fechei os olhos e me lembrei do momento em que, após ter sido vencido pelo sono um pouco antes do amanhecer, acordei na cama do motel e me dei conta de que Samuel estava dormindo ao meu lado.
Eu queria aquilo. Eu queria ocupar aquele lugar não apenas uma noite, mas ainda não havia um lugar para mim ali, o que ficou evidente quando ele acordou, tomou banho e saiu do quarto como sai das lives, sem dizer nada, sem nenhuma dica do que viria a seguir.
Não chegamos a trocar nenhum contato, eu não tinha como procurá-lo, então tudo ficou na mão dele. Esfreguei meu rosto, decidi deixar de empurrar as coisas com a barriga e mandei uma mensagem pra Laura.
"Bom dia. Como você está?"
Imediatamente recebi uma mensagem em resposta. Não me surpreendi, Laura se levantava cedo, fazia um milhão de coisas e mesmo assim encontrava tempo para mim.
"Estou preocupada com você."
É claro que ela estava. Eu realmente não a merecia.
"Precisamos conversar."
Mandei e esperei. Ela não respondeu mais. Óbvio que precisávamos conversar e eu nem tinha que mencionar isso, mas quis dramatizar para dividir minha neura e não sofrer sozinho. Agora ela ia ficar pensando que havia alguma coisa muito errada comigo, com a gente, e ia perder o sono por isso. Eu era um merda mesmo!
Pior é que tinha alguma coisa muito errada comigo. Talvez não errada, mas eu ia ter que esperar pelos próximos dias para descobrir e torcer para tudo se resolver com a passagem do tempo. Não havia nada que eu pudesse fazer no momento.
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