16| Porque tenho o que dizer
Nunca pensei que pudesse incomodar tanto,
Que fosse doer tanto
Ouvir, presenciar
Minha história tão dura
Contada com risos de gente madura.
É por ver que não me encaixo nesses fatos
Que resolvi cantar outra canção
Vou falar na minha língua,
Entoar a minha verdade...
E, caramba, como eu tenho histórias para contar!
Contaram-me muitas falsas verdades,
Fizeram-me acreditar em falácias
Disseram-me que pensar é coisa de gente grande,
Aliás, que sou irracional.
Mas chega dessa façanha,
Pois hoje levanto o meu punho no ar
E usarei da minha irracionalidade
Para contar a minha própria história,
Moldar a minha identidade.
Karingana wa karingana,
Povos que existiam felizes com sua gente,
Sua cultura, sua paz,
Seu modo de viver e existir
Habitavam tranquilamente terras muito distantes.
Até que, um dia,
Descobriu-se que, muito além do que os olhos podiam ver,
Existiam também outros povos,
Com outras culturas, outras crenças
E que acreditavam carregar em sua voz
Toda a verdade existente,
A verdade de um mundo que mal conheciam,
Mas que julgavam ser donos.
A Karingana continua,
Pois, a cada vez que seus olhos ficavam mais claros,
Nós perdíamos um pouco de nós
Até que a maioria de nós esqueceu-se de quem era.
Desconhecíamos raças
Até que ganhamos uma
E a perdemos tentando nos enquadrar
Já não sabíamos se éramos pretos, brancos, amarelos ou vermelhos.
Afinal, quem eu sou?
Essa pergunta continuou a latejar em minha cabeça
Até que, um dia, já não importava mais
Não, pelo menos, como antes.
Não importava porque eu já não era o mesmo:
Carregava muito mundo e muita vida
Que por meus antepassados foi vivida.
Minhas questões começaram a ser outras,
Ainda possuíam a mesma raiz,
Mas se multiplicaram em outras tantas
Descobri em mim uma diversidade de eus
Que até então desconhecia.
Carrego em minha pele,
Minha cultura, minha dança e minha crença,
Histórias que os séculos não conseguiram apagar,
Coisas que vieram de muito além-mar.
Mas já chega de lengalenga,
Vou contar a que vim:
Sou Brasileira raiz,
Mistura que dá gosto
Tempere com leite de coco.
Tenho um pé cá, outro, lá
Te convido a viajar,
Venha comigo navegar.
Venha,
Não tenha medo
Venha conhecer o outro lado do oceano.
Esqueça o Inferno que te contaram
Pois, hoje, nesta terra distante mora o Céu,
E não se deixe levar pelas histórias que te contaram
Aqui as flores desabrocham
O céu é azul e o arco-íris tem sete cores
E quem é melhor do que eu, Moçambicano de raiz,
Para te contar a minha própria história?!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro