⋆ ˚。⋆ ✧───prólogo.
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Respingava em sua pele como vapor saído de uma cova úmida. O cabelo sedoso dele roçou as laterais de seu rosto quando ele a embalou num abraço punitivo, forrando-a com o invólucro de seu cerne para que ela jamais pudesse encontrar a própria essência outra vez — o riso ganancioso invocado da redoma da qual a donzela viu-se envolvida, como numa penitência divina que apenas um ser de sua grandiosidade teria o arbítrio de castigá-la.
Mãos ásperas de garras desordenadas e encardidas com vísceras fecharam-se ao redor de seu pescoço esguio até que não houvesse mais caminho de ar para seus pulmões, as narinas se dilatando a cada puxão brusco do Vazio à sua volta numa tola tentativa de respirar, enquanto algo frio e inorgânico tocava-lhe a clavícula — um anel, rígido e pesado, pressionando sua pele como um selo de domínio.
(— Uma marca).
Ela pressionou desesperadamente os dedos magricelos numa superfície áspera como um grilhão de couro grosso e ressequido para se libertar, forçando-a para que pudesse se erguer.
Houve um grito cruel — um deboche de sua agonia.
O indivíduo riu — não o que a estava matando.
Mas seu pesadelo.
— Você deveria ter sido minha. — Ele ribombou em sua cabeça, uma voz profunda como os abismos do mundo.
Caladwen Caranthariel, Matadora de Dragões, viu-se desarmada.
Seu carrasco teria algo a oferecer, no entanto? Indagou-se ela pertinentemente quando suas mãos passaram a procurar uma arma no cinturão de seu inimigo, tateando e tateando enquanto desviava-se de toda a opressão até que encontrou. Os dedos tocaram a ponta de um cabo e enrolaram-se ao redor de um couro gasto.
Com um único e brutal movimento, ela ergueu e fincou a lâmina.
A fera retesou-se. O bafo quente e pútrido explodiu em um urro gorgolejante quando a adaga rasgou-lhe a lateral do abdômen e subiu, feroz, abrindo carne e entranhas até perfurar a caixa torácica. A pressão sobre seu pescoço cedeu. O indivíduo cambaleou para trás.
A onisciência dele se dissipou como o fogo que queimava as torres adiante dela, cerrando-se e resgatando-a do Vazio.
Caladwen tombou de joelhos, ofegante, aspirando o ar como se houvesse renascido.
Por um instante, a vastidão de sua consciência pareceu encará-la através do sangue que escorria da garganta do orc. Mas então, quando os olhos da criatura reviraram e a carcaça tombou com um estrondo surdo contra a pedra fria, Caladwen sentiu que o receptáculo que Moringotto utilizava para torturá-la finalmente havia se dissipado.
Ao seu redor, a promessa de segurança oculta por muros imponentes jaziam desmoronadas, partidas como ossos esmagados. O fogo subia em espirais monstruosos, consumindo mansões e torres, rasgando o céu noturno com tons de escarlate e âmbar. As ruas, antes sagradas, agora eram sepulturas para corpos elfos espalhados como folhas mortas. O ar era um inferno de cinzas e gritos. O odor de carne queimada misturava-se ao ferro do sangue que encharcava as pedras.
Ao longe, as feras aladas de Morgoth planavam, suas asas sombrias ocultando as estrelas — Varda nem poderia vê-los implorar! — enquanto despejavam sua fúria sobre os sobreviventes. Ela viu à frente que Ecthelion ordenava e resistia contra a fileira de filhos mais profanos que o Grande Inimigo criara.
Ela correu para se juntar a eles—
Porque Gondolin ardia. E ela não podia permitir que a flâmula de manto azulado morresse. Encontre-o.
(Um prometido para sua miséria, um líder do qual ela faria valer a pena).
ATUALIZADO DIA 23/01/2025.
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