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Capítulo 28

Mal tive tempo de me arrepender do acordo selado naquele momento já que segundos depois de tirá-lo da cela, saímos correndo para a superfície perto da prancha posta especialmente para a minha sentença.

Diminui o ritmo dos passos conforme me aproximava de Eris tendo a passagem concedida pelos tripulantes que mudavam suas feições para espantos, julgadores e abismados, todas as reações provocadas pela presença daquele homem apesar de não compreender ainda de quem exatamente ele se tratava. Por hora, ele devia ser minha salvação e nada mais.

A feição de surpresa tomou conta de Eris, Alison e Bellaim mas não de Eirian que apenas observava tudo com os olhos estreitos segurando fortemente o pulso da capitã que estava com claras intenções de voar no pescoço dele.

— Ora, ora, ora. Esqueceram de me contar que ela pode surpreender. — Cantarolou.

Respiro fundo sentindo minhas mãos suarem frio enquanto sentia como se meu corpo já estivesse imerso no afogamento a minha frente. Olho para aquela presença despojada ao meu lado que estranhamente estava completamente despreocupado, bem, não era ele que iria morrer.

— Quanto tempo, velhote. — Sua voz soou alta e provocativa.

— Como ele ousa? — Vocifera Bellaim sendo contida por Alison agora.

Acaricio as têmporas começando a me arrepender do momento que cogitei que a ajuda dele seria útil de alguma forma. Agora estava contando com o acordo através daqueles patéticos desenhos.

— Achou que alguém como ele seria páreo para impedir sua sentença, fedelha? — Eris cruzou o braço lentamente me fitando com os olhos raivosos.

— Não acho, tenho certeza. — Afirmo, me forçando a afugentar o medo.

Seus olhos se estreitam que se tornam nublados de tamanha raiva que estava transbordando através de sua aura implacável e egocêntrica.

— Tenho uma proposta; Deixará que ela viva até a próxima conquista que será no inverno, daqui a exatamente dois meses. — O vejo propor enquanto caminhava. — Ela continuará cozinhando e ainda mais, costurando. E se não for útil na conquista, mate-a. — Sinto um calafrio quando os vejo cara a cara.

Em nenhum momento pensei que teria de aprender a lutar para ser cúmplice de um saqueamento sangrento deles! Olho para baixo comprimindo os lábios dividida entre querer que Eris aceite e querer que ele negue até a morte.

— Vamos, diga de uma vez, o que você ganhará com tudo isso? — Eris desvia seu olhar de mim para fixá-lo nele.

— Vejo que a idade ainda não afetou sua memória, fico grato. — Implica descaradamente. — Sem celas, sem ordens!

Engoli em seco apertando minhas mãos com medo do caminho que estava prestes a ser traçado, e odiando a sensação de estar de fora em uma decisão que implicaria principalmente com a minha vida, não a deles!

— Eirian! — Vejo-a caminhar até Eris agilmente.

Eles começam a conversar baixo dificultando o meu entendimento, principalmente com aquele idiota na minha frente, impossibilitando de vez uma leitura labial!

— Acordo aceito, contudo, devo lhe avisar, vocês serão responsabilidade um do outro. estou pouco me importando para higiene, alimentação ou acomodação de vocês! — Eris avisa com um sorriso.

Prendi a respiração quando vejo as mãos deles se unirem em um aperto que firmou de vez aquele acordo que salvou minha vida, por enquanto, por dois meses.

Coço a nuca inquieta enquanto as pessoas finalmente se dispersam e o nervosismo lentamente se esvai do meu corpo, isso até Eris parar a minha frente com um sorriso diabólico nos lábios enquanto descontraidamente acariciava o queixo pensativo.

— Lux que propôs o acordo? — Perguntou realmente parecendo interessado.

— Não. — Respondo devagar franzindo a testa.

— Estarei contando os segundos para vê-la morta....

Antes que pudesse me afastar, o sinto rodear minha cintura inclinando-se para estar com sua boca a altura do meu ouvido o que me causou aflição e enjoo. Eris me causava nojo.

— Princesa. — Sussurrou se desfazendo de mim enquanto ria. — Bem-vinda ao inferno, fedelha.

Estava perplexa demais para me importar com o restante de seu comentário, era como se com apenas uma palavra tivesse feito com que o chão que me mantinha lúcida simplesmente desmoronasse trazendo a tona tudo aquilo que foi deixado de lado.

— Eu não tenho medo de você, Eris. — Ergui a cabeça elevando a voz.

Me virei sem encolher a postura caminhando diretamente até a cozinha onde somente ao fechar a porta, minhas pernas fraquejaram e me puseram a cair de joelhos ofegante.

Levantei com esforço para beber um pouco de água da torneira enquanto tentava abafar o desespero que crescia no meu peito junto das lembranças, dos sonhos e da vida que veio com apenas uma lembrança, uma única e breve citação.

— Estou esperando pelo menos um obrigado! — Exclamou ficando ao meu lado.

Sequer tinha notado sua presença que agora possuía um nome, de acordo com Eris, Lux. O nome que eu amaldiçoava por ter ido ao socorro no pior momento possível. No momento que a chuva parecia ácido na pele e meu grito um sussurro levado pelo vento.

— Obrigado? Eu nunca pedi para que ela morresse! Nunca pedi que fosse embora! Nunca pedi para estar nessa merda! E ainda devo dizer "obrigado"?! — Grito cega de raiva.

As memórias estavam se misturando me impedindo de distinguir a dor que rasgava meu peito de Elinor da partida de Aemy com o que estava se desenrolando a minha frente. Só fui puxada ao momento atual com o estilhaçar do copo contra a parede atrás de Lux que estava inclinado, provavelmente um ato para evitar se ferir.

— Porra... Poderia ter me avisado para apenas ir embora. — Resmungou.

— Suma daqui! — Exijo com as emoções me rodeando novamente.

Ligeiramente foi jogada para longe da pia e encurralada contra a porta por Lux que mantinha um braço ao lado da minha cabeça inclinada para cima e a outra segurando firme meu pulso que estava prestes a ir de encontro ao seu rosto, para bater nele.

— Continue, não contenha-se. — Sua voz soou séria, sem qualquer humor por trás.

Comprimi os lábios sentindo algo se remoendo em meu ser, como um animal que foi enjaulado por tempo demais e não sabia se libertar apesar de querer desesperadamente ter a sensação de gritar aos quatro ventos sem medo.

— Não encoste mais em mim ou não irei responder por mim mesma! — Aviso o encarando.

Devagar sinto o aperto em meu pulso se afrouxar enquanto o vejo recuar alguns passos depois de ficar segundos me encarando fixamente, não conseguia, não, eu não queria decifrar o que seus olhos tentavam esconder.

Caminho até a pia, assim que a porta se fecha, sinalizando para mim seu afastamento, debruçando e deixando a água escorrer pelo meu rosto que ardia em vergonha, confusão e medo. Odiava sentir medo, odiava sentir impotência diante das situações.

Ajeitei a postura com as gotas que escorriam pelo meu rosto molhando a blusa, agachei e comecei a recolher os cacos de vidro do que era um copo realmente bonito comparado aos demais, joguei no lixo antes de me encarar pela janela.

Seria a última vez que alguém me humilharia. Não me importava como Eris descobriu quem sou, não admitiria que ele ou ninguém me fizessem de tola outra vez!

Vou fazê-lo se arrepender de ter me provocado. 

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