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73 - Largo

Largo: é um dos andamentos mais lentos da música.

E por falar em tempo, Rick não imaginou o quanto ele poderia se arrastar. Deitado num leito de hospital, sem autonomia sequer para ir ao banheiro, sentia-se um saco de ossos inútil e dolorido.

Ele só teve a real consciência de sua condição no terceiro dia de internação. Até então, ele passava a maior parte do tempo dormindo, num sono sem sonhos induzido por drogas. Num dado momento entre os longos períodos de inconsciência, ele se deu conta de que não lhe serviam refeições. Um médico o atualizou sobre seu quadro de saúde, explicou a respeito da fissura intestinal provocada pelo impacto do airbag no momento da colisão, uma lesão relativamente comum em acidentes como o dele, mesmo sem lesão de entrada. Foi então que ele compreendeu o motivo de não poder se alimentar oralmente.

Uma outra médica lhe deu informações mais precisas sobre as fraturas na perna e as cirurgias realizadas para correção, e o tranquilizou sobre as demais lesões cobertas por pontos nos locais onde as ferragens do automóvel lhe rasgara e perfurara a pele. Obviamente, quando ela deixou o quarto, ele levantou o lençol para conferir as lesões num ponto específico abaixo da cintura, e para seu alívio, estava tudo bem por ali.

Dias depois, numa das visitas, Júlio lhe mostrou as fotos do acidente. A compreensão do quanto chegara perto da morte o deixou alarmado, e o fato de que futuramente levaria cicatrizes lhe pareceu um presente por estar vivo.

Apesar dos fortes analgésicos, ele sentia dores por toda a parte enquanto acordado, como se tivesse sido chacoalhado. A cada dia ele era mantido desperto por mais tempo, o que piorava o seu humor consideravelmente. Era extremamente humilhante para ele não poder se levantar da cama para nada, ser banhado por enfermeiras e ter todas as suas necessidades monitoradas. Era uma tortura, ainda mais para ele que nem se lembrava da última vez em que pegara um simples resfriado.

Por conta dos longos períodos aleitado, ele teve muito tempo para pensar em coisas importantes e inúteis também. Lamentava o tempo que estava em stand by dos trabalhos, a técnica musical definhando enquanto ele ficava sem pegar um instrumento; conjecutrava sobre como iria se ajeitar quando deixasse o hospital; e principalmente, pensava em Duda e em quando poderia finalmente conversar seriamente com ela acerca do futuro.

Enfim, era muito tempo livre para pensar, então o tempo acabou se transformando num poderoso instrumento de tortura.

Duda e Júlio o visitavam regularmente, mas por ainda estar num CTI, as visitas duravam apenas 15 minutos. Ambos foram os únicos que o visitaram, pois Rick pediu que não revelassem a ninguém que ele estava no Brasil, muito menos que convalescia num leito de hospital.

Depois de alguns dias, Rick finalmente foi transferido para o quarto. Foi então que se iniciou a etapa dois da tortura, quando ele até podia se mover com supervisão, ir ao banheiro sozinho, tomar banho com alguma ajuda e ingerir algumas misturas insossas do que se parecia mais com uma papinha de bebê, tudo isso usando muletas e um avental ridículo que lhe expunha a bunda. Se ele se sentia envergonhado antes, agora sua autoestima estava oficialmente massacrada.

— Não sei por que vocês, homens, têm que ser tão orgulhosos — Duda comentou enquanto tirava a mesa móvel com o prato quase intocado de perto do leito.

Depois que Rick foi transferido para os cuidados regulares do hospital. Duda passou a alternar com o Júlio para ficar com ele durante as manhãs. Rick amava e odiava isso. Amava porque estar com ela era a melhor coisa que existia, mas odiava por ela testemunhar seu estado debilitado.

— Não temos muito do que nos orgulhar — Rick respondeu — diferente de vocês, mulheres, que são tão capazes, versáteis e prontas para tudo, nós só temos o ego, a força e a proficiência.

Duda sorriu. Não poderia dizer que Rick era um homem de masculinidade frágil, afinal tudo aquilo devia ser um porre para quem quer que fosse. Para ela, no entanto, vê-lo nesse estado só provava que ele era rúptil como qualquer um, e permitir que ele saísse do pedestal onde ela o colocara anteriormente o transformava em alguém que podia errar, magoar, se ferir, sofrer e vacilar.

Como qualquer ser-humano.

Entender isso aniquilava toda aquela expectativa furada de que ele não cometeria falhas com ela e, nessa esfera, era mais fácil perdoá-lo. A vida não é um conto de fadas que termina depois do sim; na sequência, há uma série de adaptações e crises que ninguém comenta, porque é muito mais fácil ressaltar as boas notícias e esconder o que deu errado.

— Quanto tempo você acha que ainda vai ficar internado? — Duda questionou, enquanto o observava lutar contra o sono.

— Até conseguir ingerir alimento sólido.

— E quando vai ser isso?

— Não faço ideia.

— Poxa, Rick. Não fica de mau-humor!

— Desculpa. Eu só não aguento mais ficar assim — gesticulou, olhando para si mesmo, semi-deitado no leito.

— Quer que eu traga alguma outra coisa pra você? Um livro...

— Já tentei ler, mas os remédios que eles enfiam nesse soro me deixam com muito sono — resmungou.

— Você realmente se machucou muito, todo cuidado é pouco.

— Pois é. Bom, tem uma biografia que eu tava querendo ler, da Billie Holiday, se encontrar, traz pra mim na próxima vez que me visitar.

— Pode deixar. Eu preciso ir, tenho show hoje à noite. Amanhã eu volto, e vou pensar em algo pra te animar, ok?

Ela fez um movimento como se fosse beijá-lo, mas parou no caminho. Ainda que tivesse recolocado o anel no dedo dele, havia um caminho a percorrer antes que se sentissem totalmente confortáveis um com o outro. Apesar de conversarem sobre muitos assuntos, evitaram falar pontualmente sobre o problema que os havia separado. Era como se, quando trouxessem o assunto à tona, tivessem que lidar com o monstro para exterminá-lo, e nenhum dos dois se sentia firme o suficente para isso. Não enquanto ele ainda estivesse em recuperação.

Quando deixou o hospital, Duda pegou o celular e fez uma ligação.

Duda? Caramba, tá sumida, hein? Como andam as coisas? — ela ficou feliz de ouvir a voz dele; fazia tempo que não conversavam.

— Andou acontecendo umas coisas, depois te conto.

Sei... Mas você tá bem?

— Sim, estou sim. Agora melhor do que antes.

Tá com a voz animada! Por acaso, andou conversando com um certo alguém...?

— Depois te conto, Alex! E você, como andam as coisas com a Hannah?

Ah... a gente "ficou", ontem.

— Hum que interessante! Se eu não ligo para perguntar, você não fala nada, amigo da onça!

Ah, vá! Você me conta tudo, Duda?

Ela ficou em silêncio. Tinha um senhor segredo além da porta atrás de si. Mas isso não era um segredo dela.

— Eu tô feliz por vocês. Vocês combinam muito, eu acho que vale a pena tentarem de novo — conclui.

Você também devia considerar tentar de novo.

— É, seu sei.

— Tem pensado nesse assunto?

— Vamos dizer que sim... — ela respondeu enquanto contemplava a aliança. Já tinha pulado algumas etapas, Alex nem fazia ideia.

Bacana. Também fico mais aliviado. Tua cara de bunda tava difícil de aguentar.

Duda riu, e imaginou em que mundo Alex pensou que ela poderia levá-lo a sério para um relacionamento diferente. Ele era um ogro! Sempre a tratara com aquele desdém de irmão mais novo. Jamais daria certo.

— Na verdade, eu tenho uma coisa para te contar. Está sentado?

Ai, caramba... Medo!

— Você não faz ideia de quem veio me visitar outra noite...

Quem...?

— Minha mãe.

O quê?

Duda contou o ocorrido para Alex, deixando de fora apenas a parte que envolvia Rick.

Tô bugado, Duda. Caraca... Que bizarro!

— Pois é.

O que deu nela pra vir te ver depois de tanto tempo?

— Uma hora te conto mais.

Eles conversaram mais um punhado de tempo, até que Duda interrompeu a conversa para chamar um Uber.

— Preciso desligar, Alex. Depois a gente conversa.

Quando o Uber chegou para apanhá-la, ela embarcou e recostou no banco de olhos fechados. Precisava pensar numa forma de começar com Rick a conversa sobre o passado. Talvez o fizesse no dia seguinte, se ele estivesse mais animado. Com isso em mente, pensou em si mesma e numa autoanálise, notou o quanto havia amadurecido em tão pouco tempo. Era gratificante enxergar uma nova energia em si para fazer as coisas darem certo.

Constatou também que desde que vira os olhos de mel se abrirem para ela depois de tanto tempo, nunca mais nenhum vampiro interior se manifestou.

***

No dia seguinte, Duda levou o violão ao hospital.

— É sério isso? — Rick se animou como uma criança ao ganhar o presente de Natal.

— Toma, antes que você fique enferrujado. Já tem uma eternidade que não te ouço fazer música!

Rick pegou o instrumento e ajustou as tarraxas. Estava tão contente que não conseguia tirar o sorriso do rosto. Era como se ela estivesse lhe devolvendo um pedaço de si mesmo. Ele montou um acorde de blues e executou alguns improvisos, testando os dedos. Tocou por algum tempo, a técnica não tão comprometida como ele imaginara.

— Muito obrigado, Duda. Você não sabe como me fez feliz.

— Vou deixar com você até ter alta. Gostou da aquisição?

— Eu vou confessar... já tinha testado esse violão antes de te presentear e ele é realmente incrível.

— É lógico que testou...

Duda manteve o sorriso enquanto o contemplava "brincar" com o instrumento. Acreditou ser um bom momento para abordar um assunto delicado, afinal, ele parecia bem menos irritado do que nos dias anteriores.

— Rick, Isadora me fez uma visita.

Rick parou de tocar imediatamente e a olhou, com uma ruga entre os olhos.

— O quê?

— Pois é. Ela me disse que você contou a minha história para ela.

— Duda... — ele começou, constrangido, mas ela o interrompeu.

— Não fica preocupado. Tá tudo bem, de verdade. Eu odiei a visita por várias razões que certamente você pode adivinhar, mas no fim, foi bom. Eu precisava virar essa página.

Ele deu um longo suspiro antes de responder.

— Precisamos falar sobre isso.

— Precisamos ­— ela aquiesceu.

— Já devia ter aberto esse assunto antes, mas estando aqui, desse jeito... eu queria ter feito isso num outro contexto.

—Tudo bem, Rick. Eu também deixei passar, porque ela me contou parte da história. Ainda assim, foi a versão dela. Quero ouvir a sua.

Rick dedilhava o violão enquanto buscava as palavras. Como de costume, ele não precisava interromper o que fazia com as mãos para pensar ou falar. Sem mais desculpas para protelar o assunto, começou enfim o relato.

***

Quando me vi tendo de viver

Comigo apenas e com o mundo

Você me veio como um sonho bom

E me assustei. Não sou perfeito

(O Teatro dos Vampiros — Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá)

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