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66 - Ritornelo

Ritornelo (ital.): sinal usado para definir que um trecho da música deverá ser repetido.


Rick voltava de um show que fizera com uma banda local no The Grand Social, um famoso pub Irlandês. Ele gostava muito de tocar lá, pois o local parecia pequeno por fora, mas possuía um espaço considerável distribuído em quatro ambientes diferentes para eventos e apresentações ao vivo. Nos últimos meses, Rick fizera vários shows ali, acompanhando diversos músicos na casa de excelente reputação, principalmente pelas bandas e DJs que tocavam por lá.

Já passava das duas da madrugada, ele caminhava apressado pois estava atrasado para uma videochamada que agendara com Júlio com o intuito de discutir a produção do segundo single da Dropp.

Rick demorara a iniciar o trabalho. Só dera atenção a isso no início de agosto, quando finalmente se sentira capaz de fazer algo nesse sentido, já que andava sem criatividade, sem vontade e usava a lesão na mão para empurrar o trabalho para frente.

A mão não doía mais. Uma nova leva de sessões de fisioterapia o ajudou no controle da tendinite, porém a performance ainda não fora totalmente recuperada. Rick desconfiava de que era um lance muito mais psicológico do que fisiológico.

Com relação à banda, há dois meses, ele enviara as partituras para Júlio avaliar e, no mês anterior, tivera uma reunião on-line com os integrantes. Os ensaios começaram e, há uma semana, o grupo entrara no estúdio para fazer as primeiras captações.

Enquanto aguardava que Júlio entrasse na sala, Rick alcançou uma bolinha de borracha que costumava apertar para fortalecer a mão. No início, ele sentia muita dor, agora não sentia mais, e repetia o processo porque a bolinha acabara substituindo a palheta que ele mordiscava quando distraído ou ansioso.

Faaaaala, velho! — A imagem de Júlio surgiu na tela. — Como tá o clima aí?

— Aqui está de boa, é outono, deve estar fazendo uns 10ºC.

Brrrrrr! Tá doido! Outono com esse clima? Imagine o inverno!

— Não tem muita variação, fica entre 4ºC e 8ºC. Aqui na cidade, é raro nevar.

Pra mim, abaixo de 20ºC, já é frio, a mulherada se encapota, e o mundo perde a graça! Bom, vamos ao que interessa. Te mandei as trilhas, você chegou a ouvir?

— Ouvi, sim. Não tá ruim, mas acho que tá faltando "pegada". Você acompanhou a gravação?

Acompanhei; mas, na moral, não sei fazer o seu trabalho. Meu lance é tocar e dar palpite, o que não ajuda muito o pessoal. Acha que conseguiria acompanhar um ensaio em videochamada?

— Depende da captação, não sei como o som vai chegar aqui.

Certo, certo... e quando vai passar essa sua "bundamolice" pra voltar logo pra cá?

Rick deu risada. Toda vez que eles conversavam, Júlio fazia a mesma pergunta. O curioso era que, antes de voltar ao Brasil da primeira vez, os dois tinham ficado quase cinco anos sem se falar. Depois do reencontro, talvez por causa de todo o drama com Duda e do trabalho de produção com a banda, eles acabaram se aproximando muito mais.

— Não sei se vou voltar, cara. Aceita que dói menos.

Não vai voltar, não é? Pois bem. Olha só, passei todos esses meses sem me meter na tua história com a Duda. Em todo esse tempo, não falei nada do que estava rolando do lado de cá, eu fiquei na minha e respeitei sua vontade. Mas a gente já está em outubro, cara! Eu preciso perguntar: você ainda gosta dela?

Rick tentou escolher as palavras. Não havia um jeito suave de falar que ele ainda gostava dela tanto ou mais do que antes, e se sentiu envergonhado por isso.

— Não sei, cara... talvez.

Certo. Depois a gente conversa sobre isso.

Eles passaram mais um tempo combinando detalhes sobre o trabalho, até que Júlio encerrou a chamada. Na sequência, o celular de Rick vibrou com a chegada de algumas mensagens.

Rick abriu o contato de Júlio e clicou nas imagens e nos vídeos para baixá-los, então abriu uma a uma, todas as mídias. Eram algumas fotos de Duda no palco, dois vídeos dela cantando perfeitamente uma música da Norah Jones e outra desconhecida. No terceiro vídeo, ela aparecia sentada no bar na companhia de um rapaz.

O que chamava a atenção era a forma como o indivíduo de cabelos claros e barba falava algo muito próximo ao rosto dela, sem desviar os olhos. Uma das mãos segurava a mão dela, e a outra ajeitava uma mecha dos cabelos acobreados atrás da orelha. Ela sorria, embora o sorriso não fosse pleno. Estava mais magra, mais pálida, mas mantinha o fascínio de outrora.

Rick não conseguiu nem interpretar a sensação. Alguma coisa se contorceu dentro do seu peito, uma espécie de nó, forte e dolorido, que derramou o desconforto no estômago como ácido fazendo-o embrulhar. Depois das mídias, uma mensagem de texto:

"Um vídeo dela fez você voltar ao Brasil da primeira vez, e olha que você nem conhecia a garota. Tenho esperança de que outro vídeo o convença a se apressar, afinal, como você pode ver, ela não vai te esperar para sempre!"

Rick teve vontade de jogar o aparelho na parede, e por muito pouco não o fez.

— Golpe baixo, Júlio! Puta que pariu!

***

Duda abriu a porta da casa usando a digital. Estava escurecendo, e uma falha elétrica mantinha região sem fornecimento de energia. A situação a desanimou ainda mais, visto que estava cansada por ter passado os últimos dias ajeitando e organizando seus poucos pertences na sua nova/antiga residência.

Ela havia se mudado para o sobrado na Mooca, afinal. A decisão foi tomada no finalzinho de setembro, quando seu contrato de aluguel do apartamento venceu. Após uma conversa com Alex, decidiram que já tinha passado da hora de cada um voltar a cuidar da própria vida.

O tempo com Alex havia sido importante para Duda, já que ela estava fragilizada por conta do rompimento com Rick e tantas emoções novas. Alex servira de sentinela no período de recuperação, apesar dos conflitos emocionais que travaram num curto espaço de tempo. Por fim, Alex renovara o contrato de aluguel no próprio nome, agora o apartamento no Centro era responsabilidade dele, e Duda não pretendia mais frequentar o local, salvo em ocasiões sociais.

Mesmo querendo se desligar do passado, Duda acabou se mudando para onde vivera a infância. A casa não a afetava mais, a reforma matara o ranço do seu passado trágico no local, e no fim, foi totalmente conveniente que ela se mudasse para sua própria casa.

Além da mudança, outras decisões foram tomadas no último mês. Com a saída de Jonas do bar, que finalmente conseguira um novo trabalho em um restaurante, ela foi promovida a gerente do Johnny-John. Agora ela trabalhava mais horas por dia, porém folgava duas vezes por semana. Também fazia seu show às quartas-feiras e passara a dar aulas de música voluntariamente para crianças carentes numa Associação Beneficente que funcionava como creche e abrigo infantil, na região do Brás.

Um fato curioso sobre o projeto era que as crianças começaram a se referir a ela como "Tia Fada". Talvez, devido aos cabelos ruivos, teceram fantasias a seu respeito. Num primeiro momento, Duda ficou incomodada, pois fora Rick quem dera esse apelido a ela; mas, por fim, acabou se acostumando.

Outra decisão recente foi a de finalmente fazer algo em relação às cicatrizes que carregava no corpo. Ela reuniu algum dinheiro e consultou um tatuador, que fez um excelente trabalho para cobrir as marcas.

As coisas estavam mudando, mas nem tudo. Os vampiros continuavam desenjaulados, o coração continuava apertado e o sentimento por Rick se mantinha mais forte do que nunca.

Duda avançou pelo hall escuro e tropeçou em Gato, que, como sempre, ficava bem no meio do caminho, mesmo que houvesse um monte de espaço vago em volta. Acionou a lanterna do celular até chegar à cozinha, onde buscou, nas gavetas, um isqueiro ou fósforo para acender uma vela aromatizada que mantinha na sala de estar. Quando finalmente encontrou uma caixinha de fósforos, foi até o aposento e acendeu o pavio do ornamento com perfume de maçã e canela.

A luz bruxuleante refletia nas paredes produzindo movimentos soturnos. Duda se acomodou num futon alojado no canto da sala, adquirido por ser uma opção bem mais barata do que um sofá, e se agarrou a uma das almofadas de pelúcia que decidira trazer do antigo apartamento. Os últimos reflexos de luz do entardecer entravam pela imensa janela de vidro, dando a ilusão de que o ambiente estava mais escuro do que claro. Duda fechou os olhos e aspirou o aroma da cera derretida misturada à essência perfumada. Sua vontade era ficar ali, quietinha e em silêncio até que os vampiros se esquecessem de sua existência.

Há alguns dias, a crise depressiva voltara a assombrá-la. Não havia um motivo específico, ela simplesmente acordara assim, desanimada e desesperançosa. Ao longo do dia, um aperto na garganta foi se transformando em algo maior, mais doloroso, e à noite, ela se enfiou debaixo de um edredom sobre o colchão sem cama do piso vazio do quarto, e ficou ali por horas e horas, ora chorando, ora dormindo, sempre mantendo à mão a corrente com as palhetas e as alianças.

Talvez fosse por estar sozinha numa casa enorme para ela, por não ter ninguém por perto ou por qualquer outro motivo. Alex e Hannah estavam viajando com a banda para um show em Curitiba. Vinícius finalmente entendera que não conseguiria nada dela e resolvera dar um tempo nas visitas ao bar, isso tudo junto ao buraco causado pela falta de Rick, acabou jogando-a novamente numa crise.

Era assim, repentino, sem aviso ou explicação. Por mais que ela buscasse motivos, identificasse os gatilhos e lançasse mão de tantos outros mecanismos, quando acontecia o fatídico desequilíbrio nos neurotransmissores, transformando a serotonina, noradrenalina e dopamina em um baralho desordenado, a depressão assumia o posto e tornava sua mente refém, por mais bem-disposta que ela estivesse.

E agora, além de deprimida, ela estava no escuro. O breu potencializava a solidão, ainda que Gato, percebendo que havia algo de errado com sua humana, rondasse e ronronasse ao redor, como quem dizia: "Estou aqui, mas não me toque".

Duda não sabia quanto tempo ia durar dessa vez. Há meses, por pura negligência e pela falta do suporte de Rick, ela interrompera as sessões de terapia justamente quando se fazia mais necessário. Talvez pudesse ligar para o Dr. Toledo para marcar uma consulta. Faria isso no dia seguinte, se acordasse animada.

Apática, caminhou até o piano que desistira de vender. Júlio começara a dar algumas aulas para ela usando o piano velho do bar, que finalmente ele mandara afinar, e agora ela sabia alguns poucos acordes, o que era quase uma ofensa para um instrumento de tal magnitude. Ela montou uma tríade de Dó Maior, três notas simultâneas, Dó, Mi e Sol. O acorde era simples, mas os harmônicos ecoavam amplamente no espaço vazio, valorizados pela qualidade do instrumento. O som alegre, afável e cheio não refletia o temperamento de Duda no momento, então ela mudou a mão de lugar e montou o mesmo acorde a partir da nota Lá.

A tríade de Lá menor, composta por Lá, Dó e Mi, apesar de se parecer muito com a anterior, produzia uma sensação harmônica completamente diferente. O resultado era um som triste e sombrio, comum dos acordes menores. Esse som se parecia muito mais com o interior de Duda, a harmonia embalava e representava sua dor e envolvia seus pensamentos num véu de melancolia.

Duda fechou o piano, recuperou a vela, sua única fonte de luz, e se dirigiu ao quarto. Ao lado do colchão, uma pilha de vinis servia de mesa de cabeceira. A mala ainda guardava suas roupas, e os sapatos se enfileiravam ao longo da parede.

Devia estar doida quando decidiu se mudar para uma casa completamente vazia. Ao menos ela tinha uma geladeira velha adquirida num outlet de móveis usados, um colchão, e suas caixas. Ah, e não podemos esquecer as flautas, os violões e o piano que, no momento, era tão útil quanto um aparador de milhares de dólares. Quanto ao restante, ela já vivera com menos do que isso, então tudo ficaria bem.

***

Devia ter complicado menos

Trabalhado menos

Ter visto o sol se pôr

Devia ter me importado menos

Com problemas pequenos

Ter morrido de amor

(Epitáfio — Sergio De Britto Alvares Affonso / Titãs)

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