Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

64 - Clave

Clave: significa chave, símbolo usado no início de uma partitura para determinar o nome de cada nota


Duda ficou um tempo observando a nova fachada da sua antiga residência. Alex aguardava ao seu lado, levemente ansioso. Tudo estava tão diferente e novo, que eles percorreram a fachada de outras residências naquela vilinha no bairro da Moóca para se certificarem de que o endereço estava correto.

— Me parece promissor... — Alex sussurrou.

— Não é?

Duda se aproximou da entrada com uma expectativa confusa. O antigo e enferrujado portão de ferro dera lugar a um novo, todo fechado, que convenientemente ocultava a parte inferior da casa. Ela girou a chave na fechadura eletrônica e avançou pelo pátio com Alex em seu encalço.

— Caraca, Duda! Tudo isso aqui ficou muito bom! Por que não veio antes?

Uma boa pergunta para a qual ela não tinha resposta. Covardia? Medo? Ela simplesmente ignorou que o local existia, que estava sob reforma há tantos meses. Já era agosto, e era a primeira vez que ela voltava à casa desde o fim do ano anterior. O último contato que tivera com algo relacionado à herança fora em março, quando o advogado a procurara para entregar as novas chaves e os documentos do inventário. As despesas da documentação haviam sido pagas por Isadora, e Rick arcara com a reforma.

Na época, Duda solicitou o demonstrativo de despesas para se planejar, queria devolver o dinheiro a Rick, contudo o advogado a informou que não possuía tais documentos, tudo estava em posse de Rick, quem havia contratado a empreiteira. Por questões óbvias, ela não quis entrar em contato com ele na época, então adiou a decisão.

— Eu deveria ter vindo. Já passou da hora de resolver o que fazer com isso — ela respondeu enquanto caminhava pelo pavimento externo da casa.

De fato, nas últimas semanas ela se empenhara em seguir em frente. Chegara a sair algumas vezes com Vinícius, mas foram encontros casuais, nada muito íntimo. O intuito era se conhecerem, encontrarem pontos em comum, algo que os fizesse evoluir para um interesse mais profundo. Ainda não tiveram muito sucesso, ao menos da parte dela, já que Vinícius estava bem interessado desde o começo.

Ela e Alex seguiam morando juntos, apesar de vários percalços. Primeiramente, Hannah havia rompido o namoro com Alex depois de ele confessar que estava confuso em relação ao que sentia pela melhor amiga. Ele chegou a conversar sobre seus sentimentos com Duda, o que deixou o clima entre eles bem estranho.

Diante de tal situação, para amenizar o desconforto, o próprio Alex propôs que Duda ficasse no apartamento do Centro enquanto ele passava um tempo na casa do pastor Pedro, já que o homem vinha insistindo numa reaproximação. Durante aquele período, conversaram bastante, e o pastor ajudou Alex a interpretar melhor suas emoções, apontando a complexidade que a história entre ele e Duda possuía, e ele mesmo entendeu que seus sentimentos eram fruto da cumplicidade e do instinto protetor que ele cultivou por ela ao longo dos anos.

A relação entre os amigos foi voltando à normalidade e, mais em conformidade com o que sentia, Alex procurou a ex-namorada para conversar e se desculpar. Não reataram o relacionamento, mas Duda ficou mais tranquila quando ele pediu para voltar ao apartamento, ao menos até que ele ou ela encontrasse outro local para morar.

Duda lamentou que tal situação tenha causado o afastamento de Hannah. Por anos, ela desejou ter uma amiga mais íntima, mas por ser o pilar da separação, ela não tentou forçar uma reaproximação. Hannah, por sua vez, sempre foi muito astuta, e percebeu de cara que Duda não tinha alimentado as esperanças de Alex, afinal, acompanhara a história com Rick e sabia o quanto Duda havia sofrido, mas se manteve longe porque Alex precisava se encontrar nessa história.

Quando os ex-namorados voltaram a conversar, foi como se uma página tivesse sido virada, uma de tantas outras que ela ainda precisava virar, ou decidir o que fazer, como esta casa, por exemplo.

Duda observava agora toda a área externa da residência que ela conhecera tão bem no passado. No piso, a antiga cerâmica desgastada dera lugar à ardósia, a área onde crescia mato sem controle fora toda pavimentada, e um espaço lateral que antes possuía um pátio coberto por telhas sobre colunas fora todo fechado e transformado numa garagem.

A fachada outrora descascada e cheia de rachaduras estava agora revestida por um lindo grafiato cor de cimento; as calhas foram pintadas de branco, e as telhas aparentes eram novas. As janelas de madeira foram substituídas por modelos com persiana integrada, feitas com alumínio pintado branco, contrastando lindamente com as paredes escuras. A entrada da casa fora alargada, e uma porta pivotante em madeira laqueada branca com um imenso puxador vertical fazia o imóvel crescer em elegância e sofisticação.

— Puta bom gosto... Rick quem escolheu os acabamentos? — Alex perguntou, um tanto impressionado.

— Não sei se foi ele ou apenas aceitou a sugestão da empreiteira. Deve ter sido isso — Duda respondeu, pensativa. Rick não tinha que ser bom em tudo, afinal.

Ela se aproximou da porta e acionou a fechadura digital através de um código que havia guardado no celular. Posteriormente, ela poderia registrar a própria digital para destrancar a porta.

A primeira coisa que notou quando deu um passo para dentro do imóvel, foi a falta do cheiro rançoso de antes. O aroma de casa nova, tinta e massa corrida invadiu suas narinas causando um bem-estar, uma sensação de recomeço. Ela acendeu as luzes inteligentes, distribuídas numa sanca e em quatro pontos do teto em luminárias embutidas.

— Que lindo isso aqui! — Duda exclamou, apreciando o piso laminado em madeira clara que substituíra os tacos carcomidos de antigamente. As paredes pintadas num tom cremoso, areia ou alguma tonalidade do tipo, transmitiam um aconchego potencializado pela cor quente da iluminação. Não havia nenhum móvel no local, nada nas paredes ou qualquer outra parte do hall.

Eles seguiram em frente e cruzaram o vão livre até a sala, que mantinha o mesmo acabamento do hall e livre de móveis, exceto por um piano coberto por um tecido cru, no canto oposto à nova e imensa janela de alumínio pintado. Um lustre moderno e assimétrico pendia solitário no meio da sala; a sanca seguia como opção de iluminação e, sobre o piano, um spot direcionava um facho suave de luz. Provavelmente, num ambiente bem decorado, aquela luz sobre o instrumento seria a cereja do bolo.

Mais adiante, a cozinha fora totalmente revestida com novos pisos e azulejos cor de cimento, alguns poucos armários embutidos feitos em madeira clara deixavam a área com aparência de casa do interior. Duda até pôde imaginar algumas samambaias pendendo sobre o balcão, banquetas também de madeira e um varão sobre a pia portando acessórios como panelas, facas e outros utensílios de cozinha.

— Olha esse fogão! Como faz? — Alex questionou, ao se aproximar de uma superfície preta com alguns desenhos. Tratava-se de um cooktop por indução. Era o único eletrodoméstico no local.

— Vamos ver como está lá em cima! — Duda sugeriu.

Eles subiram a escada, que também fora toda reformada com um novo corrimão de madeira pintada e degraus de cimento queimado. Na parte superior, todas as portas foram substituídas por modelos em MDF na cor branca. O piso era o mesmo do andar inferior.

Duda acessou primeiro o quarto maior, que pertencera a Henry. Ali também não havia móveis; as paredes eram pintadas numa tonalidade mais escura; uma única parede ostentava o tom café, e a iluminação suave também era disposta em sancas. O mesmo tipo de acabamento acompanhava o quarto menor, que no passado pertencera a Duda.

O banheiro era completamente novo, também revestido com tonalidades frias: branco, cinza e preto, porém a iluminação morna deixava o espaço aconchegante. O box de vidro possuía um nicho em mármore para apoiar os itens de banho; a pia ostentava um lindo gabinete em MDF preto que fazia uma única peça com o espelho que ia até o teto. As louças brancas e torneiras com acabamento escovado deixavam tudo com cara de hotel.

— E aí, o que você pretende fazer? Vai colocar a casa à venda? — Alex abriu o assunto. Estava encantado com o novo lugar.

Duda olhou em volta, contemplativa. O trabalho que Rick contratara fora perfeito. Ela não conseguia mensurar o custo de tudo aquilo, nem como faria para ressarci-lo caso não vendesse o imóvel, e esse era o único fator que, no momento, a confundia sobre o que precisava fazer.

— Putz... agora a conversa mudou um pouco. Esta casa não tem nada a ver com a anterior... nada aqui me lembra o passado e... convenhamos, é uma puta casa! Não é gigante, mas é perfeita!

— E não é só perfeita. Ela é SUA, Duda. Já parou pra pensar?

É claro que ela pensou. Ela, que nunca teve nada na vida, agora tinha a chance de possuir algo só dela.

— O caso é que eu preciso pagar a reforma de algum jeito, Alex. Como faço isso se eu não vender a casa? Só se eu der seguimento com a venda do piano...

— Não! Não faz isso! — Alex se lembrou da promessa que fizera a Rick.

— Eu preciso ser prática, Alex! Não quero ficar em dívida com o Rick...

— Por que não conversa com ele a respeito?

Duda fitou o amigo, perplexa. Alex estava careca de saber que ela não podia falar com Rick, e sugeria isso com a maior naturalidade, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

— Alex, eu não vou falar com Rick sobre nada!

— Já não passou da hora de parar com essa birra? Já faz o quê? Mais de oito meses que vocês não se falam! Não é possível que vocês não tenham superado aquela merda toda.

— Nem todo mundo é como você, Alex.

— Tá, então o errado sou eu. Ok, tudo bem. Mas vou te falar: pensa no que vai fazer. Você pode ficar com a casa, com o piano, e quando finalmente crescer e parar com essa postura de "a ofendida", você conversa com ele e resolve as coisas. Pelo que sei, ele ainda mantém o número de celular. Júlio me contou e eu sei pelas conversas com a banda que ele nem tá morando no Brasil, então não corre o risco de você encontrar o cara por acaso.

— Vá à merda, Alex. Você vem agora me falar que eu tenho que crescer? Se enxerga!

— Têm coisas que a gente demora pra aprender, Duda. Você me entendeu e me perdoou tantas vezes, depois de todas as merdas que eu fiz no passado... eu não sei o que o Rick fez pra você, mas não acho que justifica toda essa mágoa. Você devia procurar o cara e encerrar esse assunto como adulta.

— Você não sabe de nada, Alex, e não devia falar do que não entende. Vamos embora daqui.

Duda ficou profundamente magoada por Alex tocar tão cruelmente na ferida ainda infeccionada. Ela jamais assumiria que o rapaz tinha razão, que ela não deveria ficar magoada por tanto tempo, que a dor pela falta de Rick era muito maior agora do que a dor pelo que ele fizera no passado.

Eles deixaram a residência recém-reformada daquele bairro de classe média e seguiram em direção ao apartamento mofado do Centro. A cada minuto, Duda se sentia mais e mais compelida a ficar com a casa. A experiência oferecia um belo retrato de como um passado horrível, dependendo da forma como se lida com ele, pode se transformar em algo belo, em um instrumento de superação e cura. Se se permitisse pensar melhor, veria que a metáfora se encaixava perfeitamente em sua relação com Rick.

Distraída, enquanto Alex tomava banho, ela segurava a corrente no pescoço por baixo da blusa, onde o acessório permanecia oculto, longe das vistas de todos. Um segredo só dela, um símbolo da sua incapacidade de seguir em frente: a prata que sustentava duas alianças e duas palhetas. Se se permitisse pensar...

***

Não é preciso apagar a luz

Eu fecho os olhos e tudo vem

Num caleidoscópio sem lógica

Eu quase posso ouvir a tua voz

Eu sinto a tua mão a me guiar

Pela noite a caminho de casa

(Caleidoscópio — Herbert Vianna)

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro