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62 - Blue Note

Blue Note: ou "Nota Fora", é um artifício musical muito utilizado em harmonias de blues e jazz. Imprime um carácter lamentatório à música.


O mês era junho, e a capital de São Paulo enfrentava uma frente fria incomum, com temperaturas abaixo dos 8ºC. Mesmo assim, havia gente que preferia sair de casa a ter que conviver em família ou qualquer coisa do gênero, e era o que garantia o público moderado nas noites de meio de semana no Johnny-John.

Duda estava para finalizar a segunda parte do seu show. Ela finalmente voltara a se apresentar depois de ficar um bom tempo fora dos holofotes, pois quando findaram as apresentações do musical O Rei Leão na capital, ela não quis viajar com o elenco nem compareceu aos testes para outros trabalhos. O hiato foi se estendendo por mais três meses, até que num dado momento, ela aceitou que era hora de retomar a carreira e, nas últimas semanas, mantivera uma data fixa no bar a fim de apresentar o seu repertório acústico.

Ela até havia conseguido um certo público para o bar, gente que ia ali só para ouvi-la, e isso era bem gratificante e algo que ela consideraria uma conquista individual se não houvesse dado esse passo porque antes Rick a empurrara nessa direção.

E mais uma vez, Rick voltava à pauta.

Há um ano, nessa mesma data, Rick a ajudara a resolver as questões do roubo do celular, ela tocara violão para ele pela primeira vez, e finalmente haviam feito amor. Não havia como se esquecer do dia, nem de qualquer detalhe daquela tarde marcante, que eles consideravam o marco do relacionamento. Seria o "aniversário de namoro" que não ocorreu, e ela estava cansada de pensar nele, de lembrar e lamentar, então quando finalizou a última canção e um espectador, cliente do bar, subiu ao palco para fazer um pedido de casamento, ela desejou que o mundo parasse por um momento, que ela não precisasse sentir nada por um pequeno instante, assim, poderia ter uma noite de sono decente, para variar.

O pedido de casamento fora algo pré-acordado com ela. Por ironia do destino, o bar acabara se tornando um ícone para esse tipo de coisa depois que Rick subira ao palco pela primeira vez para pedi-la em casamento há seis meses. Claro que o casal desta noite não sabia nada sobre sua história, caso contrário não teria dado esse passo justamente ali, com ela como testemunha.

Que chacota do senhor Destino. Agora ela tinha que testemunhar pedidos de casamento quando ela própria estava sozinha. A lembrança ainda doía, rever a cena em sua mente era como jogar o coração num liquidificador e despejar o sumo no ralo.

Enfim, o rapaz fez o pedido, a moça disse sim, todos festejaram, e Duda engoliu a mágoa. Tentava não transparecer sua tristeza, simulando um sorriso de quem estava feliz pelo casal. Finalmente, depois de toda a comoção, ela guardou seu Taylor no case e se preparava para deixar o palco quando um rapaz se aproximou para puxar conversa.

— Lindo show, meus parabéns! Fiquei fascinado com sua voz, com seu jeito de tocar... com você inteira — ele corou, constrangido pelo que disse — quero dizer... com a sua performance inteira...

— Obrigada. Fico lisonjeada.

— Vou voltar para os seus próximos shows. Quais são os dias em que você costuma se apresentar?

Duda explicou ao rapaz que ela se apresentava às quartas-feiras, e de fato o jovem, Vinícius, a quem ela teve o prazer de ser apresentada posteriormente, voltou por dois shows consecutivos e em alguns outros dias, quando ela estava atendendo no bar.

Numa noite gelada por conta do inverno, Duda vestiu um casaco e foi até o beco respirar durante o intervalo do show, e Vinícius a seguiu.

— Noite fria, não? — ele puxou conversa.

Duda apenas sorriu e se envolveu com os braços, apertando o casaco contra o corpo a fim de conter o calor por mais um tempo. Ela gostava de sair entre as sessões do show, era como dar um restart na mente, equalizar as emoções e, o que ela não gostava de admitir, relembrar seus momentos com Rick enquanto ele fumava um cigarro e a olhava como se ela fosse a última mulher da face da terra.

Vinícius se mantinha por perto, rondando, testando. Duda já fora boba no passado e não percebeu quando um cara estava a fim de algo, mas agora ela já conseguia interpretar os sinais, não se sentia tão insegura como antes, daquele jeito que a fazia questionar se alguém prestaria atenção nela. Não, agora ela se sentia bonita, mais segura e mais mulher.

Ela observou Vinícius, um lindo rapaz de cabelos claros, olhos castanhos afáveis e barba estilo lenhador. Um pedaço bem-servido, não era algo de se jogar fora. Imaginou como seria mais simples se interessar por alguém, seguir com a vida sem aquela sombra constante que sempre voltava para reafirmar a posse de Rick sobre si.

Como seria bom se conseguisse esquecê-lo, enfim.

— Você faz o quê? Digo, trabalha com o quê? — Duda perguntou.

— Sou engenheiro civil.

Duda se surpreendeu. Sempre imaginou que engenheiros fossem pessoas mais velhas.

— Que interessante... Você mora aqui pela região?

— Moro a duas quadras daqui.

— Legal! Por isso você tem vindo bastante ao bar...

— Não é por isso que eu venho, e você já deve ter entendido.

Seu coração deu um salto. Ainda que tenha percebido o interesse do rapaz, ouvir a investida em voz alta a deixou constrangida, levemente receosa e um pouco irrequieta. Estaria pronta para dar um passo sentido à liberdade dos próprios sentimentos?

— Não sei se entendi... — ela resolveu arriscar.

Vinícius se aproximou e a tocou na cintura. Como ela não recuou nem reclamou, ele se aproximou lentamente, os lábios cada vez mais perto. Duda fechou os olhos, esperando que ele terminasse o que começara, então ele a beijou, no início, de forma comedida, depois, com mais vigor. Ela correspondeu ao beijo e monitorou os pensamentos e as próprias reações.

Nada.

Ela não sentiu nada enquanto o rapaz a beijava, aparentemente muito envolvido emocionalmente. Ela se deixou beijar, se concentrou no ato, mas o exercício não deu em nada. Ela começou a ficar irritada com o fato, então o abraçou com força e tentou a todo custo se envolver com a carícia. Era a sua chance, a chave da algema que a prendia a Rick de forma tão cruel estava agora cintilando diante dos seus olhos, ao alcance das mãos...

No entanto ela não conseguiu alcançar, então deu um passo atrás. Vinícius ainda a manteve nos braços, porém Duda não sentia prazer, desejo, qualquer outra coisa. Era como uma boneca inflável, um manequim de vitrine, frigida, fria e inalcançável como da vez em que perdera a virgindade atrás de um muro com um adolescente sem noção.

Rick levara sua capacidade de sentir quando partiu, e ela o odiou tanto nesse momento que lágrimas subiram aos seus olhos.

— Me desculpa, Vinie... eu... não consigo.

Vinícius a fitou sem conseguir esconder a frustração. Ela ficou triste por perder o momento e por tê-lo rejeitado. Ele era realmente muito atraente e parecia um cara legal, e ela chegou a cogitar a ideia de ignorar a falta de tesão e tentar algo mais íntimo como já fizera no passado, mas dessa vez, percebeu que estaria sendo injusta com o rapaz.

— Não tem problema, Duda. Eu vou continuar na área. Quando sentir que está pronta para dar um passo adiante, eu vou estar aqui.

Contrariando a expectativa de que ele poderia estar chateado com ela, ele permaneceu no beco até a hora que ela voltou ao palco. No fim do show, aproximou-se e se despediu dela com um beijo leve nos lábios.

Júlio, que assistia ao show do balcão do bar, não deixou de notar o gesto e fez uma nota mental para mais tarde. Depois decidiria se contaria ao amigo ou se esperaria para ver onde a coisa poderia chegar.

Júlio nunca se convenceu do fim do romance entre Duda e Rick. Ainda que meses tenham se passado, dentro dele ainda restava a esperança de testemunhar uma verdadeira história de amor, dessas que vale a pena ser registradas em livros.

O fato de a separação ter ocorrido por causa de uma omissão, por medo e por excesso de sentimentos, tornava o caldo ainda mais saboroso. Júlio pôde ver, dia após dia, o mal que a separação causava a Duda, e era notório, nas conversas que tivera com Rick nesse período, que o amigo não estava nem um pouco melhor.

Enfim, era caso para pegar a pipoca, sentar-se na plateia e esperar pelo Plot Twist.

E Júlio bem que gostava de um bom drama.

***

E sem se queixar, as peças vão voltar

pra mesma caixa no final do jogo

Pode esperar, o tempo nos dirá

Que nada como um dia após o outro

(Um Dia Após o Outro — Tiago Iorc)

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