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61 - Blues

Blues: gênero musical profundamente emotivo que frequentemente trata de temas como tristeza e perda.


Duda observava as janelas embaçadas do seu apartamento no centro da cidade. A chuva torrencial não dava trégua a uma semana, deixando os imóveis antigos como o dela com aspecto mofado e úmido, ativando as sinusites, rinites e uma série de outras "ites" que acometem sem piedade os habitantes da grande metrópole.

O outono é uma época comumente úmida na capital, ainda que nos últimos anos o efeito estufa tenha alterado drasticamente o clima da tão famosa Cidade da Garoa. Ainda assim, por esses dias, um pouco do que era comum se refez, e a cidade cinza ficou ainda mais cinza sob a água que descia abaixo de um céu que não deixava ver o sol há quase um mês.

O clima parecia uma metáfora cruel. Enquanto Duda buscava respostas, tudo ao redor parecia gritar de volta o que ela não queria ouvir, e mesmo assim seguia procurando, esperando que o mundo dissesse o contrário daquilo que ela já sabia desde sempre.

E o que ela sabia? Que ainda amava o vilão, dissolutamente.

Era o aniversário do bruxo. A agenda do celular aberta em suas mãos destacava a data com o nome dele. Há precisamente uma semana, Duda também comemorava mais um ano de vida, e a noite insone fora marcada por enchentes em diversos pontos da capital devido a uma forte chuva, dando início à semana "molhada", que mais parecia um reflexo das lágrimas que ela mesma derramara desde então.

Como nos últimos seis anos, ela comemorou o próprio aniversário ali, sozinha, entre aquelas mesmas paredes da quitinete no centro úmido e poluído de São Paulo. Os aniversários sempre foram emblemáticos para Duda, como marcos de sobrevivência, afinal, ela conhecia muito bem o significado de "mais um ano de vida". Para ela, ter sobrevivido a cada ano fora um milagre.

E ela sobrevivera, primeiro sem Rick, depois com ele, e agora só Deus sabe como.

O nome dele continuava visível na tela do aparelho. Inquieta, fechou a agenda e abriu o Instagram. Foi direto ao perfil dele buscando alguma menção ao aniversário, algum indício de que ele talvez estivesse comemorando com outra pessoa. Para seu alívio, embora não fosse admitir, não havia nada de diferente por ali.

Entrar nas redes sociais de Rick era algo que Duda vinha fazendo muito ultimamente. Praticamente todo o conteúdo dele era voltado para a carreira. Além da agenda, havia menção aos trabalhos, gravações e até entrevistas. Ela assistiu a todos os vídeos, um a um, e alimentou a fossa como uma adolescente em sua primeira desilusão amorosa. Rick fora o seu primeiro amor, e ainda que tentasse mentir para si mesma, ela não conseguia deixar de acompanhar a vida ele.

No perfil do produtor não havia registros de pessoas que não fossem do meio musical. Havia bandas que ele produzira, ele ao lado de celebridades, vídeos dele tocando, mas nada com Isadora. As únicas imagens que saíram do padrão foram as fotos que ele tirara no primeiro show de Duda, algumas outras dela sozinha tocando violão e as poucas selfies que fizeram juntos. Quando viu as imagens, Duda obviamente chorou, principalmente porque Rick as manteve ali no perfil público, mostrando a todos que ela fizera parte da vida dele.

Ela nunca se importou muito com redes sociais. Seu interesse não passava de vídeos de gatinhos engraçados, aos quais ela, por vezes, assistia rolando o feed em madrugadas insones. Nunca postava nada sobre si mesma, e ver como Rick trabalhava a própria imagem nas redes sociais a fazia se sentir ainda menor do que já se sentia antes.

Ela se perguntava se Rick teria feito o mesmo, entrado nos seus perfis e vasculhado sua vida. Ele não teria encontrado nada interessante em suas redes sociais, nem agora, nem antes, já que nada mudara por ali. Seu perfil continuava mostrando umas poucas fotos de pratos, algumas paisagens, duas selfies com Alex e uma foto de Gato. Não havia nada sobre Rick ou com ele, e ela nem sabia ao certo o porquê. Talvez não o quisesse dividir com ninguém, ou soubesse desde sempre que ele nunca lhe pertencera de fato.

Os vídeos nos canais do produtor cessaram no final do ano passado. A última imagem era a selfie que tiraram antes da festa de ano novo, minutos antes de deixarem o flat. Na imagem, ele escondia a mão ferida atrás das costas dela, que sorria como uma criança boba.

Depois disso, nada constava na agenda do músico esse ano e, de certa forma, isso acalentava um desejo obscuro de que ele estivesse sofrendo assim como ela estava. Fechou o navegador, acessou o WhatsApp e digitou:

"Feliz aniversário"

Olhou para o texto e o apagou em seguida. Ele não mandara nada para ela há alguns dias, por que ela faria isso agora? Não teria sentido algum.

Nostálgica, lembrou-se de quando constataram que seus aniversários ocorriam tão próximos um do outro. Eles caminhavam pela Avenida Paulista, após terem comparecido a um Concerto da OSESP e Obras do Acervo MASP, um evento criado com o objetivo estabelecer diálogos entre arte e música, do qual Rick participara ativamente e Duda cochilara a maior parte do tempo.

"O que acha de fazermos uma viagem em comemoração? A gente pega essa semana e sai de férias, vai pra algum lugar bacana, talvez pro Sul; podemos visitar vinícolas, degustar vinho..."

Duda quase pôde ouvir a voz grave e rouca, quase pôde sentir a presença dele ao seu lado. Lembrava-se exatamente da roupa que ele usava na ocasião, de como os cabelos estavam presos e do sorriso leve. Quase pôde sentir o hálito quente com resíduos de tabaco, e o perfume almiscarado misturado ao couro. Ela fechou os olhos molhados, desfrutou da lembrança por um tempo e degustou tal qual o vinho que nunca provaram juntos e, em sua imaginação, o sabor era indescritível.

De fato, ainda estava lá, queimando a alma e estraçalhando o peito: a dor do coração partido. Meses depois, sem um único contato, uma única notícia sobre ele, Rick continuava habitando o mesmo lugar de antes. Duda desistira de esquecer, porque por mais que tenha buscado se isolar de tudo que pudesse lembrá-la do passado, não conseguia tirar de dentro de si a marca que ele deixara. A mágoa continuava consumindo-a durante as noites, quando se pegava imaginando seu amado seguindo com a vida em algum ponto longínquo do globo.

Onde estaria ele? Teria voltado para a Irlanda? Teria reencontrado Isadora? Ou pior, teria encontrado outra pessoa e realmente seguido em frente? Ela não tinha como saber, pois, as redes sociais não diziam nada e ela mesma ainda não pôde seguir em frente. Ele estaria feliz? Triste? Ainda pensava nela? Estaria arrependido do que fez?

Algo dentro dela respondia que ele não fizera de propósito, que ele não mentira com o objetivo de magoá-la. Talvez as coisas tenham apenas saído do controle, mas a voz conciliadora não mudava nada, não desfazia o que fora feito, e ela não tinha esperança de encontrá-lo para fazer as perguntas que deixara de fazer quando ele partiu. Ela esperava que, se um dia isso acontecesse, que ao menos seu coração tivesse se curado e não vertesse o que sobrara dela diante do feiticeiro.

***

Agimos certo sem querer

Foi só o tempo que errou

Vai ser difícil eu sem você

Porque você está comigo o tempo todo...

(Vento no Litoral — Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá)

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