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60 - Eólio

Modo Eólio: escala musical conhecida como escala menor natural. Soa triste, introspectiva e reflexiva.


Assim que o mês de março se inicia, um espírito festivo costuma tomar conta da Irlanda. As ruas de Dublin se enchem de cores vibrantes e bandeiras verdes e douradas hasteadas em todos os lugares. As lojas e os bares exibem decorações temáticas de St. Patrick's Day, e os pubs se preparam para as festividades que estão por vir.

Há um mês, Rick voltara ao país celta, depois de um período em que se dedicara à fisioterapia e ao recondicionamento da mão direita. O processo fora lento e doloroso, e ele ainda sentia desconforto ao tocar, principalmente ao dedilhar o violão. Leigos não perceberam o comprometimento da sua técnica, principalmente no tanger do contrabaixo, e dependendo do estilo musical, de fato ninguém perceberia que ele não tocava mais como antes.

Antes de voltar à Irlanda, ele procurou colocar a vida em ordem. Se reconectou com seus contatos do meio musical, fez um acordo com Enzo no processo aberto por agressão, encomendou as reformas da residência de Duda e tentou encerrar o contrato com a banda Dropp. Apenas tentou, porque Júlio não permitiu que ele se desligasse do projeto.

Para Júlio, era só uma questão de tempo até Rick se arrepender e, a fim de manter o elo vivo, ele segurou Rick como produtor ativo e recebendo a verba dos streams do grupo, que continuava ascendendo nas plataformas digitais com seu primeiro single.

"Você vai ter que produzir o segundo single, nem que seja lá da puta que o pariu!"

Rick curvou os lábios num esboço de sorriso ao se lembrar do bate-boca que tivera com o parceiro há um mês, quando tentara formalizar o encerramento do trabalho com a banda da qual já havia desistido. Júlio sabia ganhar dinheiro, por isso, quando encontrava um osso carnudo, ele não largava de jeito nenhum e, no momento, o osso era o próprio Rick.

Não era apenas isso que mantinha Júlio presente dessa vez e, no fundo, Rick sabia disso. Júlio não queria que o amigo desaparecesse como da outra vez.

Ao menos um laço ainda não se soltara completamente.

Lembrar do assunto o fez sentir saudades de um tempo quando tudo parecia mais fácil, quando, nessa época do ano, ele só precisava se preocupar em fazer uma boa escolha de canções tradicionais irlandesas que ressoassem com a herança cultural do país, cumprir as agendas que aumentavam significativamente por conta do feriado do Dia de São Patrício e, por fim, escolher onde, como e com quem celebrar o próprio aniversário.

E esse dia chegara. Rick estava completando mais um ano de vida. Há uma semana, Duda também fizera aniversário, mas ele não fez nada a respeito. O aniversário dela passou e ele não lhe mandou uma mensagem, mesmo que as tenha esboçado incontáveis vezes e apagado na sequência por não querer constrangê-la. Ele as apagou, da mesma forma que gostaria de apagá-la de sua vida, mas ela seguia voltando, assombrando-o nos momentos mais inoportunos, invadindo seus sonhos durante a noite ou seus pensamentos enquanto acordado.

Pensava nessas coisas enquanto parado à porta de casa. Respirou fundo sentindo o ar do fim de inverno enregelar suas vias aéreas. A temperatura estava em torno de 3ºC, e como brasileiro que acabara de retornar do clima temperado e abafado do verão tropical, Rick ainda não se adaptara totalmente à instabilidade climática do país celta.

Quando não pôde mais suportar o ar gelado, entrou e fechou a porta. O frio de fora reverberava dentro dele, no oco que Duda deixara quando também fechara a porta, encerrara a história deles e nunca mais o procurara.

E Rick havia superado? Óbvio que não. Não superaria tão cedo, talvez nunca. Durante toda a sua trajetória como músico, cantara e tocara incontáveis canções que falavam de um amor para toda a vida, uma paixão sem limites e uma desilusão sem precedentes.

E ele fez a trinca.

Estava certo de que, se no futuro conseguisse se recuperar e viver uma nova experiência nesse sentido, nunca seria igual ao que vivera ao lado dela, a sua fada.

Sentado agora em seu pequeno loft, o mesmo que ocupara há mais de um ano, sentia-se subitamente desmotivado. Pela proximidade do Dia de São Patrício, ele andava se apresentando com bandas em pubs e bares lotados de Dublin; mas, nesta noite, ele não se comprometera com nenhuma agenda, pois estava satisfeito em "comemorar" a data tendo por companhia apenas um charuto e uma garrafa de Jameson. Acendeu o charuto com o auxílio de um maçarico específico, observou a fumaça e seu olhar vagueou para além da névoa aromática.

Seus olhos repousaram sobre a mesa de madeira onde ele costumava fazer as refeições, e onde as principais decisões da sua vida ocorriam, fossem sobre um notebook, um caderno de música ou um cinzeiro vazio. Por baixo desse último, descansava um papel dobrado. Ele o recuperou e desdobrou a folha que ainda preservava os picotes do espiral de um caderno que, no passado, pertencera à Duda.

Naquela fatídica semana, quando ele voltou ao apartamento para esvaziá-lo depois de deixar o hospital, encontrou o caderno aberto com a letra de música esboçada em lápis preto. No título, a data: 18 de dezembro, e no topo, as palavras grifadas com um marca-texto: "Para Rick".

Ele não pôde se conter. Sabia que ela nunca cantaria aquilo para ele, então se viu no direito de levar consigo um pedacinho dela, algo que revelava o que ela pensava antes de ele destruir o mundo que tentavam construir. Rick desdobrou a folha e acompanhou com os olhos as linhas arredondadas da caligrafia cursiva, relendo o poema que ele sabia de cor por ter lido tantas vezes.


"Para Rick: Feitiço (Lá Maior)

Num quarto escuro, habitado por lembranças hostis

A tinta velha se desprende das paredes úmidas e vis

Fissuras deixam o frio entrar. Invadir, ferir, enregelar

E os habitantes da noite se reúnem para festejar

Só um pouco de luz basta para revelar

os recônditos imundos da minha alma a suplicar

(Refrão)

Que o clarão faça correr os sonhos ruins, o mal pensar

E o seu calor venha a derreter o frio úmido e o seu poder

Para que eu livre venha a ser e não mais tenha que esperar (2X)

(Ponte)

E o mago e sua luz. Feiticeiro que seduz

Aos meus sonhos me conduz

Sem que eu tenha que implorar.


Rick se serviu de uma dose dupla do whiskey. Não esperava por uma mensagem dela, assim como ela não devia ter aguardado um contato seu. Precisava aceitar o fim e seguir em frente. Dali a alguns dias, mais precisamente no dia 17 de março, ele vestiria um suéter verde e talvez o obrigassem a colocar um chapéu de trevo, seguindo a tradição de usar verde para homenagear São Patrício. Ele se apresentaria em algum desfile local, onde músicos, dançarinos e foliões se uniriam para celebrar a data.

Mais um dia para usar uma fantasia com o intuito de cobrir a verdade oculta: ele não conseguia mais ser feliz, não importava onde estivesse, porque o feiticeiro havia sido morto por uma fada incandescente.

***

Eu nem pensava em ter que esquecer você

Agora, vem você dizer: amor, eu errei com você

E só assim pude entender

que o grande mal que eu fiz foi a mim mesmo

(Ainda Lembro — Nando Reis / Marisa Monte)

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