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6 - Anacrusa

Anacrusa: nota ou grupo de notas que começam um trecho musical de forma antecipada.


Duda sentiu o ventre tremer e o coração pulsar mais forte. Surpreendeu-se pela vontade insana que teve de realmente ir com ele, pois não seria prudente, nem correto, nem "Duda" o bastante. Abriu a boca para recusar e então, ela não soube se foi intencional ou não, Rick tocou sua mão brevemente enquanto se erguia, incentivando-a a acompanhá-lo. E ela o fez porque ficou completamente cativada pelo calor daquela mão firme em seus dedos frios, ainda que o toque tenha durado um décimo de segundo.

Eles caminharam lado a lado até a estação mais próxima do Metrô e seguiram em direção à Zona Oeste num completo silêncio, ela porque estava constrangida, ele porque tinha medo de dizer a coisa errada e fazê-la desistir.

Quando saíram do Metrô, Duda se deu conta de que ele morava numa região onde ela sempre sonhara em morar, porém nunca tivera condições. Como se não bastasse eles caminharem pelas ruas repletas de mansões, ele ainda morava em um prédio de alto padrão.

Duda foi se sentindo cada vez menor, não que ele causasse isso. Na verdade, ele parecia bem à vontade em qualquer lugar, fosse numa galeria no Centro, num beco escuro com caçambas de lixo, ou naquele pavilhão coberto de mármore da entrada do edifício. Ela o observava enquanto ele caminhava, seguro e sereno. As coisas à sua volta pareciam não o afetar, diferentemente dela que mais parecia uma esponja que absorvia tudo, até o que não devia.

Enquanto Duda contemplava, deslumbrada, os lugares por onde passavam, era com ela que Rick se deslumbrava. Ela parecia afável, feliz, diferente de como sempre a via no bar, e isso o enlevava.

Não contava com esse tipo de sentimento quando pensara em procurá-la, mas lá estava, um misto de curiosidade e fascínio; curiosidade pela história, fascínio pela garota. Precisava conhecê-la melhor, agora mais do que nunca. Descobrir o que ela temia, o que desejava e com o que sonhava.

Poderiam ser amigos?

Poderiam ser mais do que isso?

Por que estava avultando o "mais que amigos?"

Só podia estar delirando...

— Chegamos.

Ele esperou que ela descesse do elevador, diretamente na sala de estar. O pé direito era alto e iluminado por janelas em toda a sua extensão. Desse ponto, era possível ver praticamente toda a cidade, um mar sem fim de prédios até onde a vista alcançava. A tarde estava ensolarada, e o céu sem nuvens migrava do profundo azul de outono para os tons laranja-acinzentados da névoa de poluição que empalidecia a fotografia da grande metrópole.

Duda se aproximou de uma das janelas e se deteve, sentindo-se, repentinamente, no topo do mundo. Rick permaneceu próximo, atento às reações da ruiva.

Ela deu um giro para observar melhor o flat onde ele vivia; na sala de estar, um sofá confortável ocupava boa parte do espaço, que era separado da pequena cozinha estilo americano por um balcão; instrumentos, amplificadores e equipamentos ocupavam o canto da área livre, e o raque, ao invés de apoiar uma TV, estava coberto de livros, vinis, acessórios e cabos de som. Uma escada levava ao mezanino onde provavelmente havia uma cama, e uma única porta embaixo da escada levava ao banheiro.

Aquilo, sim, era um estúdio de verdade!

— Vem... senta aqui! Quer beber alguma coisa? — ele ofereceu, próximo ao sofá.

— Sim, por favor...

Sim, beber alguma coisa seria bom, porque ela estava com a boca seca. Não sabia se era por nervosismo ou ansiedade, ou porque se dera conta de que realmente estava ali, no espaço dele, um cara que acabara de conhecer. Onde estava com a cabeça para sair andando atrás dele desse jeito, como uma criança atraída por um doce?

— O que você quer? Tem cerveja, suco, água...

— Água serve.

Ele estendeu uma garrafinha de água para ela e pegou uma cerveja para si. Foi até os instrumentos e removeu uma guitarra semiacústica do bag, depois mudou de ideia e pegou um violão com cordas de aço no lugar da guitarra; só então se sentou perto dela.

— O que quer ouvir?

Ah, claro, é por isso que eu tô aqui, para ouvir ele tocar. Tinha me esquecido. O que eu quero beber... o que eu quero ouvir... tantas opções, meu Deus...

— Sei lá, o que você quiser tocar. Não sei por que eu tô aqui, na verdade... — Ela deu um risinho nervoso. — Ainda não entendi o que me trouxe até aqui.

— O Metrô.

— Engraçadinho...

Tá mais pra um feitiço!

Ele sorriu e montou um acorde com a mão esquerda, então, com uma palheta, começou a praticar alguns exercícios de aquecimento. Ela observou-lhe a palhetada e a digitação, subitamente interessada, acompanhando o movimento dos dedos que transitavam habilmente sobre a escala enquanto reparava nas pequenas tatuagens que ele tinha nos dedos. Ela também notou, pela primeira vez, que algumas unhas da mão estavam pintadas de preto; duas, na verdade.

Aos poucos foi relaxando enquanto contemplava-lhe a musculatura proeminente, evidenciada pela posição do braço direito sobre o corpo do instrumento, e se distraiu com o bater ritmado da ponta da bota contra o piso enquanto ele marcava a pulsação do exercício. Então, do nada, ele começou a tocar um arranjo, um blues que ela tentou reconhecer.

Algo do Clapton, talvez?

— Você canta, não canta? — ela perguntou, sentindo-se aquecida pelo som.

Ele sorriu novamente e mudou a tonalidade numa frase de blues, e sua voz passou a soar entre os acordes, entoando "Change the World", de Eric Clapton. Duda ficou feliz por ter acertado.

O timbre rouco, quente e grave penetrava-lhe as entranhas, aquecendo-a a partir do ventre até as extremidades do corpo. Quando ele foi para o refrão, o controle na emissão aguda que transitava pela melodia "bluseira" a fez sentir como se ele estivesse acariciando seu corpo com a voz.

— You would think my love was really something good. Baby, if I could change the world...*

Duda suspirou, hipnotizada. Ah, se ele pudesse realmente mudar o mundo dela...

E ali estava: um feiticeiro maligno de um mundo imaginário onde ela poderia ouvir canções de amor, se apaixonar e ser feliz.

Que perda de tempo.

Que deliciosa malícia.

Que sonho distante... e instigante.

— Sua vez! — Rick estendeu o instrumento para ela.

Por uma fração de segundo, ela cogitou pegar o violão, mas recuou. E então surgiram os vampiros, saindo de dentro dos recônditos obscuros do seu coração para dissipar a tênue luz que tremulava em seu peito numa ínfima tentativa de lhe aquecer a alma.

Como uma conspiração, o telefone vibrou. Ela pegou o aparelho e viu o nome de Enzo na tela. Com um suspiro, recusou a chamada e, entristecida, ficou de pé.

— Eu preciso ir embora — anunciou com a voz desanimada, muito diferente do tom anterior.

Rick ficou chateado quando percebeu a mudança de humor. A atmosfera leve, até romântica, deu lugar a um estranho afastamento. Ele se perguntou se o tal do Enzo, cujo nome não pôde deixar de ler na tela do celular, teria alguma culpa na reação da garota, e prontamente passou a ter raiva do indivíduo.

— Tá tudo bem, Duda? Fiz alguma coisa errada?

Não. Você fez tudo certo. Perfeito. Lindo... eu que não me canso de estar errada.

Duda divagou. Não. Não era possível mudar o mundo, nem possuir estrelas ou raios de sol como dizia a canção do Clapton, tampouco permitir que essa luz extinguisse os vampiros cativos, tão bem acomodados e confortáveis nas entranhas do seu peito.

— Eu... só preciso ir. Obrigada pela tarde, você canta e toca muito bem. Parabéns.

E ali estava o verniz, restabelecido e brilhando ofensivo. Rick não conseguia entender qual fora o problema. Com ela, parecia que estava sempre pisando em ovos.

— Eu levo você — murmurou, aborrecido.

— Não precisa, eu posso ir sozinha.

— Não há necessidade, eu vou mesmo pra lá. Tenho reunião com a banda.

Duda acabou aceitando e, sustentando um silêncio palpável, seguiram de carro para o Johnny-John.

***

Meu destino não é de ninguém,

eu não deixo os meus passos no chão.

Se você não entende, não vê, se não me vê, não entende.

Não procure saber onde estou se o meu jeito te surpreende.

(Primeiros Erros - Kiko Zambianchi)


*– Você pensaria que meu amor era algo realmente bom. Querida, se eu pudesse mudar o mundo... (Texto em tradução livre).


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