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55 - Atonalidade

Atonalidade: é uma música sem tom definido, a sensação é de uma música à deriva.


Rick e Duda repousavam no sofá, lânguidos e ainda sob os efeitos residuais da ressaca. Ele se rendeu e tomou um analgésico, e ela aceitou meia Aspirina depois de muita insistência. Gato dormia entranhado entre eles, que se contemplavam sob os tons alaranjados que o entardecer lançava na sala, deixando tudo com um aspecto mais quente, vivo e alegre. Duda não desviava os olhos de Rick, que acariciava seus cabelos lenta e continuamente. Ela estava tão embevecida pelo momento de prazer que quase lamentou ter que começar essa conversa agora, mas se lembrou da conversa com Nico sobre o divórcio, sobre a falta de diálogo e como isso podia virar um problema muito maior depois de um tempo, como fora com ele.

Às vezes, ela achava que Rick fazia isso: escondia as coisas, ocultava o que sentia, o que temia e o que pensava. Os olhos amendoados pareciam carregar um mundo inteiro de mistérios, e ela queria poder desvendá-los. Talvez todos os homens fizessem isso, ainda que Rick sempre fosse mais aberto do que ela. Observando-o agora, era notório que ele não estava bem, algo o atormentava, o atemorizava, e ela não estava conseguindo alcançá-lo nesse lugar. Ao menos ela sabia que ele a amava, não tinha nenhuma dúvida disso, e essa certeza eliminava a insegurança de falar o que pensava agora, muito diferente de antes quando ela não falava o que pensava para ninguém.

— Por que me deixou sozinha na festa, Rick? O que deu em você?

— Eu não estava bem. Só isso.

— Não podia conversar? Não esperava isso de você. Você anda muito esquisito, eu quase não te reconheço mais.

— Talvez você nunca tenha me conhecido de fato.

Ela ficou triste com as palavras dele. Talvez ela não tivesse mesmo prestado atenção, caso contrário, teria enxergado esse lado negativo, a tendência a se boicotar e a falta de paciência.

— Não sei, pra mim você só está passando por uma crise por causa da sua mão e outras coisas que você não quer me contar.

— Eu amo você, Duda. Não queria te deixar lá, mas...

— Mas...?

— Precisamos mesmo falar disso? — Ele levou a mão aos cabelos, como costumava fazer quando estressado.

— Você foi infantil, Rick. Isso me magoou e surpreendeu, porque esse tipo de coisa não combina com você.

— Infantil? É isso que você pensa? – Ele engoliu o gosto amargo do ressentimento. E pensar que ele saíra da festa para que nada de ruim acontecesse com ela ou com Alex, principalmente com Alex.

— Ok, talvez não infantil, mas não sei como classificar seu comportamento no momento.

— Eu só fiquei... cansado de me controlar, de tentar ficar de boa. Eu não aguentava mais ver Alex orbitando você igual a um urubu, e eu sem poder fazer nada porque é o que todo mundo espera, que eu perca o controle. Eu precisava sair de lá para não magoar você ou me indispor com o seu amigo.

— Rick, como assim todo mundo espera... que ideia é essa? Todo mundo adora você, Rick! Não paravam de perguntar por você! Mesmo depois do lance com o Enzo, eles não me deixavam te esquecer, todos estavam preocupados contigo... Você tá muito equivocado!

— Alex não pensa assim.

— Por que você tá tão cismado com o Alex? Você não confia em mim?

— Em você, sim. Nele, não.

Duda se aconchegou a ele. O ciúme dele a deixava desconfortável, mas no fundo ela entendia. Alex andava de fato muito pegajoso, até Hannah estava magoada com a situação.

— Eu cheguei em casa ontem tão irada com você... Não gosto quando você fica se escondendo no escuro, bebendo e fumando... Isso me lembra de Henry, e eu não quero passar por isso de novo.

— Duda... não, por favor. Não me compara a ele. Já tô me sentindo um bosta sem esse tipo de coisa.

— Eu tô tentando levar de boa, porque sei que é só adaptação, que morar junto é quando a gente pode conhecer o outro de fato. Esse seu lado meio descontrolado me preocupa, sim, mas eu dei um voto de confiança lá atrás então vou procurar entender, mesmo às vezes tendo vontade de desistir. Vê se toma jeito e faz algo pra merecer, ok?

— Você pensa em desistir? — Ele teve vontade de quebrar algo.

— Ah, meu Deus! Para de drama, Rick! Eu falo um monte de coisas e você só escuta isso? — Ela se levantou e começou a mexer numa das caixas ainda desfeita que trouxera do apartamento.

— O que está fazendo? — ele sentiu um frio na barriga. Estava ela decidindo ir embora, assim?

— Lembra que eu tinha preparado um presente pra você? Eu ia te dar no Natal, mas ficou guardado no meu apartamento, depois encaixotei tudo e acabei me esquecendo. Está num caderno, quero te mostrar...

Rick ficou impressionado com essa nova capacidade dela de seguir em frente. Se era resiliência ou negação, ele não saberia afirmar. Ele fazia uma merda após a outra e ela ficava ali, toda linda, vendo o lado positivo das coisas.

Nem sempre foi assim. No início era bem diferente, quando tudo era motivo para ela afastar os outros e se vitimizar. Duda mudara muito nos últimos meses, a evolução na forma como ela gerenciava as emoções era notável, ainda que, como qualquer pessoa, ela se descontrolasse um pouco aqui, outro tanto ali.

A boa postura dela deixou Rick desconcertado e muito envergonhado de si mesmo, ainda que ele entendesse que tudo fazia parte da equalização, do equilíbrio da relação. Como produtor musical, ele conhecia a importância de trabalhar as ondas sonoras usando os recursos de controle das frequências, quando se distribui a quantidade certa de graves, médios e agudos a fim de ressaltar o melhor do som. Num relacionamento acontece o mesmo, muitas vezes, algumas frequências são cortadas para que outras se sobressaiam, e é aí que surgem outras características sonoras, desconhecidas a princípio, mas pertinentes ao todo. Na verdade, tudo sempre esteve ali, só que antes, não dava para ouvir.

Esse lado positivo e confiante era uma parte de Duda, assim como a escuridão e o pessimismo sempre fizeram parte dele. Era preocupante pois, quanto mais o tempo passava, mais as frequências ruins iam ganhando força nele, reverberando e fazendo tremer o seu mundo idealizado.

Já Duda parecia soar em sua melhor versão e, olhando-a agora, ele entendeu que ela, finalmente, estava pronta. Ela poderia ouvi-lo e conhecer a verdade sem ser destruída, porque estava no seu melhor momento. Depois de ouvir a história de Isa Ferri, ela até poderia deixá-lo, mas não seria destruída no processo.

Rick já não tinha tanta certeza sobre si mesmo, e justamente por este motivo, ele desistiu. Ele assumiu que não conseguiria contar a história a ela, porque não tinha coragem nem forças para isso, já que não passava de um covarde inútil, principalmente nesse momento em que ele se sentia metade do homem que sempre fora.

Após essa constatação, ele se ergueu, abatido e humilhado como quem perdeu uma batalha, e fugiu, porque era o que ele mais vinha fazendo ultimamente. Não era capaz de cumprir uma promessa que fizera a si mesmo, como poderia ser fiel a qualquer promessa que tenha feito a ela?

— Eu vou levar as roupas molhadas pra lavanderia — ele vestiu uma camiseta velha e a calça de moletom outrora usada como quem se envolve com a capa da vergonha, e deixou Duda debruçada sobre uma das caixas, absorta ao conflito dele por estar concentrada na própria busca. 

***

Depois que Rick deixou o apartamento, Duda finalmente encontrou o caderno de capa vermelha onde escrevera uma letra de música. Enquanto aguardava que ele voltasse, ela pegou seu violão novo e começou a treinar os acordes da canção. Não estava muito segura, então decidiu gravar no celular antes de apresentar a música a ele, só para checar. Quando pegou o aparelho e o destravou, o WhatsApp estava aberto bem no áudio que mandara para Rick na noite anterior.

Ninguém deve ter um celular à mão enquanto está bêbado. Deixa-me apagar isso...

E ela tentou apagar, mas não apareceu a opção de "apagar para todos", ou seja, Rick já teria recebido a mensagem, embora não a tenha ouvido ainda. Ela se lembrou da neura de abandono dele e decidiu que era melhor que ele não ouvisse o áudio. Encontrou o aparelho dele sobre o balcão, digitou a senha, acessou o WhatsApp e tocou na própria foto com a notificação. Ficou aliviada ao constatar que ele realmente não tinha aberto a mensagem, então, sem demora, apagou o áudio antes que ele pudesse ouvir, e retornou à lista de mensagens.

Quando estava para devolver o aparelho ao balcão, o avatar de um dos últimos contatos saltou aos seus olhos. Ela tocou na imagem identificada como Irlanda, e a foto da uma mulher de cabelos vermelhos foi ampliada na tela do celular, causando-lhe um baque tão forte que Duda quase deixou cair o aparelho. Com as mãos trêmulas e o coração descompassado, ela rolou o feed das mensagens trocadas entre Rick e "Irlanda" e, nesse momento, tudo o que ela pensava que sabia sobre ele desmoronou como um castelo de cartas em chamas.

***

Um dia triste

Toda fragilidade incide

E o pensamento lá em você

E tudo me divide

(Nem Um Dia - Djavan)

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