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47 - Solo

Solo: parte ou seção de uma composição executada sozinha, sem a companhia de outros instrumentos ou vocalistas.


Rick observava o entardecer do alto do flat. Havia uma agitação no ar, um clima festivo na cidade do qual ele não conseguia compartilhar. Um vazio persistia em seu interior, escuro, desértico... solidão.

Alguns dias se passaram desde o último encontro com Duda, dias em que ele não saiu de casa, nem conversou com ninguém. Júlio tinha telefonado, Alex também, bem como alguns conhecidos e gente do meio musical, e Rick recusou todas as ligações.

Ele esperava que Duda telefonasse, lhe mandasse uma mensagem que fosse, mas ela não entrou em contato. A única coisa que ela fez foi ir até o prédio devolver a chave do apartamento na portaria. No entanto, ela não devolveu a aliança. Talvez estivesse esperando para fazer isso pessoalmente, e isso só piorava tudo.

O sol ia desaparecendo no horizonte e a cidade mergulhava num lindo crepúsculo. No lusco-fusco, as luzes pouco a pouco iam se acendendo e, junto à iluminação das ruas, dos prédios e dos veículos, infinitos pontos da cidade cintilavam com as luzes de Natal em suas diversas formas, cores e ritmos, imprimindo ainda mais cor e movimento a um cenário que por si só já era extremamente brilhante e agitado. Por mais alegres e vivas que parecessem, as luzes não iluminavam lá dentro do seu peito oco, isento de cor e de vontade.

Era véspera de Natal e a data não dizia muito a ele, que passara os últimos quinze anos sozinho e sem comemorar, exceto quando conseguira trabalho em algum evento glamouroso. Ele nunca se importou muito, na verdade, nunca gostara do Natal, porque a data sempre o lembrava daquilo que ele gostaria de ter, mas não tinha.

Esse ano, porém, ele achou que seria diferente. Ele chegou a fantasiar com um primeiro Natal realmente significativo ao lado de Duda. A expectativa o fez adquirir pela primeira vez um pinheiro, e ele pendurou ornamentos adquiridos na 25 de Março*, contornou a planta com um pisca-pisca made in China e depositou ao lado uma caixa quase da mesma altura da árvore, onde estava oculto o violão que ele comprara para presenteá-la.

Olhando agora para os itens amontoados no canto escuro do flat, tudo isso pareceu bobagem. Rick não acendeu as luzes, nem depositou a estrela no topo do pinheiro. Ele começou a se ofender com a peça decorativa, que se tivesse olhos e boca, o encararia com um sorriso sarcástico de "como você é trouxa!".

Ele se lembrou de um sentimento similar, quando criança e ainda acreditava em Papai Noel. Ele perdera tempo escrevendo cartinhas onde pedia que seu pai e sua mãe surgissem ao mesmo tempo durante a ceia de Natal. Claro que isso nunca aconteceu, e Papai Noel virou mais um filho da puta.

Talvez sua mãe tenha participado de duas ou três celebrações, não mais do que isso; mas ele, ao menos, ganhou presentes todos os anos, brinquedos simples os quais desconfiava que os avós compravam e davam em nome da mãe para que ele não se sentisse ainda mais abandonado. Seus avós se preocupavam em montar uma árvore de Natal, faziam ele mesmo colocar uma estrela no topo e acender o pisca-pisca, e o momento alimentava sua fantasia de criança de que naquela noite mágica, tudo poderia acontecer.

Todavia não existia magia de fato, e o abandono acabou se tornando algo normal em sua vida. Depois que os avós partiram, estar sozinho não era mais um problema, e ele aprendeu a conviver consigo mesmo e ficar bem. Quando a coisa ficava pesada, ele saía, bebia, pegava alguma garota, depois voltava para casa, para seu campo neutro, vazio e íntimo.

Só que agora ele se acostumou a ter alguém ali, tanto fora quanto dentro de si. Agora ele esperava novamente que o ruído do portão — ou, no caso, a campainha do interfone — anunciasse que Duda voltara e ficaria com ele pelo tempo que ele precisasse dela.

No entanto ela não voltou, e ele se odiava por se sentir tão miserável e por sua vida não passar de uma espera após a outra. A garra que tinha se desfeito há meses voltou para esmagar seu coração, e a dor na garganta se assemelhava à dor na mão, só que agora o motivo era diferente.

Ele se afastou da janela e se deitou no sofá, mantendo a vista no céu arroxeado do fim da tarde. Acendeu um cigarro, tragou profundamente e fechou os olhos.

Voltar a fumar, foi inevitável já que tudo estava desmoronando ao seu redor. Com o cigarro na ponta dos dedos, ele pescou a corrente e encaixou o polegar na aliança que pendia ali, ficou brincando por um tempo com a fumaça e a joia, fazendo a nuvem branca passar pelo meio do anel.

Que bela ironia. Um amor tão grande, aparentemente tão firme e forte, agora não passava de fumaça.

***

Duda recebeu o cumprimento de Dani de modo indiferente, enquanto Alex entregava uma taça de espumante em suas mãos. Mais uma vez, ela estava na casa de Hannah, para onde Alex a arrastara, praticamente a obrigara a ir para que não ficasse sozinha no próprio apartamento.

De certa forma, era esperado que estivessem todos juntos, pois combinaram de fazer um amigo-presente, uma espécie de amigo-secreto diferenciado no qual os participantes sorteiam na hora para quem vai o presente.

A casa estava cheia de pessoas, familiares de Hannah, a banda e os amigos próximos. Ela mantinha o sorriso polido, o qual ela aprendera a sustentar nos últimos meses no empenho de ser mais sociável com as pessoas ao redor.

— Você tem notícias do Rick? — Alex questionou. Não pôde evitar, mesmo sabendo que o assunto era sensível. Depois de tanto tempo e apesar da raiva que ainda sentia, aprendera a admirar o produtor, e por isso mesmo a decepção fora tão amarga.

— Não.

— Ninguém consegue falar com ele — Dani comentou. — Júlio foi no apartamento dele, ninguém atendeu, e ele também não atende as ligações nem responde mensagens.

— É... deixa o cara. Deve estar mal porque quebrou a mão — Nico lamentou.

— Ele quebrou mesmo a mão? — Duda perguntou, aflita. Tinha visto a bandagem, mas não achou que fosse tão grave. Henry batera tantas vezes nela e nunca quebrara a mão.

Antes tivesse quebrado.

— Acho que foi um dos dedos, pelo que Júlio falou — Nico informou. — Foi meio tenso.

— Cara, não sei o que eu faria se machucasse a mão, se tivesse que ficar sem tocar, sei lá... — Alex falou, aflito — Só de imaginar, aff...

Duda se afastou da roda. Não queria conversar sobre nada, muito menos sobre Rick. Cada vez que a mente voltava à cena em que ele dava as costas e saía da loja para o corredor da galeria, ela sentia como se uma navalha fizesse um novo talho em seu coração. Imaginava o quanto ainda poderia sangrar até que não houvesse mais nada de si para salvar. No lago rubro de decepções onde desembocava sua dor, os vampiros nadavam confortáveis, ressurretos pelos pesadelos que ela voltara a ter nos últimos dias.

Com a taça intocada girando entre os dedos, caminhou até um banco de jardim. Não tinha nenhum motivo para comemorar, nada que a fizesse se sentir feliz já que ficava o tempo todo imaginando Rick sozinho no flat, a fera ferida no corpo, na alma e no coração.

Tinha consciência do quanto o magoara ao rejeitá-lo, e tudo só ficava pior quando se lembrava de como fugira da situação para não sofrer, indo até o flat para devolver a chave por um porteiro aleatório, uma afronta covarde e desnecessária. Rick tinha sido um bruto, mas ela fora muito mais maldosa.

Hannah, vendo que Duda se isolava, foi ter com ela. A amável garota não se constrangia em se meter nos assuntos dos outros, porque ela era assim: intrometida de um jeito bom. Sua boa vontade era tão delicada que ninguém conseguia rechaçá-la quando ela se aproximava demais e era exatamente o que Duda precisava agora, de alguém que não a julgaria.

— Duda? Como você está?

— Eu estou péssima, Hannah. Sinto que meu peito vai se partir em dois.

— Poxa, Duda... eu imagino como deve ser. Você acha que pode fazer algo para não se sentir tão triste assim?

Essa era outra vantagem de conversar com Hannah. Ela não dava conselhos aleatórios, apenas o necessário, fazia perguntas e deixava espaço para falar e, na maioria das vezes, as respostas surgiam sozinhas, restando a ela terminar a conversa com um abraço caloroso. Ela seria uma excelente terapeuta.

— Eu me sinto culpada... — falar em voz alta lhe deu um certo alívio.

— Culpada? Do quê, exatamente?

— De tudo! — Lágrimas quentes e contidas há dias correram por sua face. O quadro depressivo, sempre batendo à porta, impedia que Duda desse vazão aos sentimentos por medo de desabar, mas a presença de Hannah a fez se sentir segura.

— Pode falar, Duda. Isso pode ajudar. — A amiga pegou sua mão e a apertou firmemente. O gesto a incentivou a continuar.

— Eu me sinto quebrada por dentro, porque ele não tá aqui. Eu sinto culpa por tê-lo afastado, por ter ficado com medo, por ter sido maldosa devolvendo as chaves... Sinto culpa por não ter odiado ele pelo que fez com o Enzo, pode isso? O pior de tudo... eu o amo por isso, porque ele só estava tentando me proteger de algo ruim... nunca ninguém se arriscou para me proteger antes, exceto Alex, e do jeito dele. Por isso não consegui devolver a aliança e dar fim a tudo. Eu tô uma bagunça sentimental que não faz nenhum sentido!

— Acho que não tem que fazer sentido, Duda. Você ama o seu noivo, simples assim.

— Mas tá errado, Hannah! Eu devia ter um mínimo de bom senso agora que sei que ele pode ser violento, eu não devia confiar nele, não consigo lidar com esse lado dele e isso me apavora! Se você tivesse visto, o jeito que ele agrediu o Enzo, ele parecia um gigante furioso, e eu... eu... meu Deus, como dói... — Agora que ela chorava abertamente, sabia que não ia conseguir parar tão cedo.

— Não sei, Duda. Penso que o amor, o amor verdadeiro, não está condicionado a nada. Há uns anos eu falava pra minha mãe que a odiava, nem por isso ela deixou de me amar. O amor não é seletivo.

— Mas é diferente... — "Não dá para escolher as partes que se quer amar numa pessoa". Duda se lembrou das palavras de Rick, e apertou os olhos com a ponta dos dedos, tentando, sem sucesso, fazer as lágrimas pararem de jorrar.

— Até pouco tempo atrás, Alex tornava sua vida um inferno, nem por isso você deixou de amá-lo ou de cuidar dele.

— Eu nunca tive um compromisso desse nível com Alex. Ele sempre foi meu irmão, meu amigo, e não escolhemos estar juntos, a vida nos colocou lado a lado. Rick foi uma escolha. Rick ocupa outro lugar, muito diferente. Quando a gente escolhe estar do lado de uma pessoa, todos observam, todos sabem que você teve opção e escolheu. Eu posso estar optando por ficar ao lado de um cara não tão legal assim, um cara com problemas sérios.

— Como ele, que optou por ficar do teu lado?

— Como é?

— Bom, Alex e eu conversamos sobre muitas coisas e, pelo que sei, você sempre foi complicada, me desculpe a sinceridade. Me parece que Rick escolheu ficar com você mesmo assim, e veja que, aos olhos de todos, ele sempre foi "o cara". Antes de você pensar nesse único momento da sua vida, talvez deva se perguntar se vale a pena jogar a escolha dele fora, e se, na verdade, você não está só preocupada com o que podem pensar.

Duda foi pega de surpresa por esse argumento. Num primeiro momento, ela achou ridícula a afirmação; porém, aos poucos, a ideia começou a fazer todo o sentido.

Pouquíssimas pessoas conheciam o seu passado, mesmo assim, ter sido vítima de abuso era extremamente vergonhoso para ela, como se ela fosse a verdadeira culpada por tudo o que viveu. Só que agora, todo mundo sabia que Rick havia perdido a linha, e ela teria que revelar a todos a decisão de o apoiar. Justamente ela, que nunca tolerara a violência.

Assim como Rick havia enfrentado seu medo de abandono e decidido ficar com ela, mesmo sendo esquiva como era, talvez ela devesse superar esse medo e fazer uma escolha...

— O que eu faço, Hannah?

Hannah sorriu. O sorriso fez o nó que apertava o coração de Duda afrouxar um pouquinho, o suficiente para interromper os soluços.

— Como eu vou saber, Duda? Acho que você tem que avaliar se dói mais estar com Rick ou sem ele. Você liga mesmo para o que os outros pensam? Achei que você não era dessas. No fundo, eu acho que você sabe o que deve fazer, mas está aqui esperando que alguém te empurre.

— Eu tenho medo...

— Medo dele?

— Eu não sei se é dele, eu... não sei.

— Veja bem, vocês têm que conversar e isso é fato. Ele não pode sair por aí distribuindo porrada por sua causa; mas, honestamente, acho que ele mataria por você, mas morreria antes de te ferir. Só acho.

Duda sentiu uma nova onda de lágrimas se aproximar, mas não quis perder mais tempo com isso, então se levantou e deu um abraço apertado em Hannah.

— Feliz Natal. Dá um abraço em todos por mim. Eu preciso resolver isso.

— Vá lá, amiga. Vá salvar a sua noite. Eu aviso o pessoal.

Duda deixou a mansão com o coração palpitando de ansiedade. Nesse momento, ela não se sentiu certa, mas se sentiu uma pessoa errada tentando fazer o que era certo. Ou seria o contrário?

Cinco minutos depois, estava num Uber a caminho da Zona Oeste e, enquanto contemplava os prédios e complexos comerciais da Avenida 23 de Maio, questionou-se sobre a natureza real dessa entrega louca que a atraía para Rick do mesmo jeito que certas presas são atraídas pelo seu captor.

***

Rick continuava no mesmo lugar de antes. Chegara a se levantar do sofá apenas para se servir de outra dose dupla de whisky, que ingeriu contrariando a instrução médica de não misturar álcool com os analgésicos. Não se importou, isso seria um problema se ele precisasse dirigir, o que ele não pretendia fazer naquele dia, nem no seguinte, sabe-se lá quando faria.

O flat estava mergulhado em sombras. No cinzeiro, a brasa do último cigarro soltava uma fumaça tímida, visível apenas devido às luzes da cidade que se insinuavam pelos vidros. Estava aborrecido consigo mesmo por ficar tão prostrado, mas se permitiu esse estado de autopiedade ao menos nessa noite, afinal, tinha todo o direito de murmurar sozinho no escuro por um tempo, pois em breve precisaria reagir, talvez retornar as ligações ignoradas, comer algo além de salgadinhos, sair de casa ou se permitir, finalmente, pensar nas consequências da lesão em sua mão.

Deu mais um gole na bebida, sentiu o líquido queimar a garganta e cair no estômago vazio, fazendo-o doer. Ele não se importou, a dor física era uma amiga que o ajudava a relevar a dor na alma.

O interfone tocou, ele ignorou. Tocou mais algumas vezes e ele não se moveu do sofá, seguiu bebendo até que o copo ficou vazio, então o celular brilhou na escuridão, e o som de mensagem recebida o fez desviar os olhos para a tela por puro reflexo. Quando viu a pré-visualização, deu um salto para recuperar o aparelho e acabou derrubando o copo, que se espatifou no piso de madeira.

"Eu tô aqui na portaria, se estiver em casa, me deixa subir."

Ele tentou não ficar eufórico com a visita, embora suas entranhas estivessem se comportando como um passista de escola de samba ao som do rufar do coração. Talvez ela estivesse ali apenas para devolver o anel de noivado ou quisesse pedir um tempo. Ela bem que poderia terminar tudo por mensagem, e ele não se importaria nem um pouco em receber uma mensagem de término no lugar de tê-la perto de si quando tudo chegasse ao fim.

Como estava escuro, ele acabou pisando sobre os cacos de vidro a caminho do interfone e não se importou com um ou outro corte ocorrido. Acendeu a luz da sala e aguardou, ansioso, que as portas do elevador se abrissem e, quando isso aconteceu e ela deu um passo em sua direção, ele pouco se importou se ela estava ali para terminar ou reatar, se ela tinha medo ou raiva. Ele avançou e a tomou nos braços de modo tão intenso que ela perdeu o ar.

Apertou-a contra si por alguns instantes, depois segurou-lhe a cabeça com as duas mãos, uma ferida, outra inteira, tal qual um paralelo imperfeito, e capturou os lábios abertos de surpresa sem medo de ser rejeitado. Se tudo tivesse que terminar, ele levaria ao menos esse último beijo consigo.

***

E se sangrasse a aurora e serrasse o imenso silêncio

Restaria voar no refúgio de um céu vermelho

E se um instrumento soasse, qualquer nota seria 'dó'

(Era Luz - Nô Stopa)

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* A Rua 25 de Março é uma via pública localizada na região central da cidade de São Paulo, considerada como o maior centro comercial da América Latina, pois consiste em um dos mais movimentados centros de compras varejistas e atacadistas da cidade.

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