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44 - Vivace

Vivace (ital.): significa animado ou vívido. A instrução sugere um ritmo rápido, uma dinâmica mais alta e uma execução brilhante.


— Eu não vou conseguir, Rick!

— Duda, não fala bobagem. É claro que vai conseguir.

— Rick... eu vou ter um treco!

Duda se abanava com as duas mãos, a pele clara estava manchada pelo estresse e as pupilas dilatadas deixavam os olhos cinzentos quase pretos. Rick começou a se preocupar, mas só um pouco.

— Calma, fada... respira. Vamos, comigo, inspira... expira...

Ele a segurou pelos ombros, olhos nos olhos e, enquanto a ajudava a controlar a respiração, ele mesmo perdeu o ar. Ela estava trajada da cabeça aos pés com tecidos alaranjados cobertos de estampas tribais e usava sobre a cabeça um ornamento em forma de cabeça de leoa, que combinava magnificamente com os cabelos acobreados.

Ainda que a indumentária cobrisse praticamente o corpo inteiro, o rosto permanecia descoberto, revelando toda a beleza que roubava o ar do ambiente, e a imaginação fazia todo o resto enquanto ele se lembrava de cada curva debaixo de tantos tecidos sobrepostos.

— Rick...

Ele não se conteve e a surpreendeu com um beijo firme e quente, e só libertou a boca dela quando a percebeu amolecida e desligada do momento de pânico. Ela mantinha um sorriso lânguido nos lábios quando ele finalmente a soltou.

— De onde você surgiu? — E o puxou pelo colarinho, colando os lábios aos dele novamente até que o segundo sinal tocou.

Nos teatros, existe a tradição dos Três Sinais. Dez minutos antes de começar o espetáculo, toca o primeiro sinal. Cinco minutos após o primeiro, toca o segundo. Quando toca o terceiro, aí sim as luzes se apagam, abrem-se as cortinas, e a plateia fica em silêncio para o início do espetáculo. Os sinais querem dizer, nesta ordem: "Entre na sala"; "Ocupe seu lugar"; e "O espetáculo vai começar".

— Hora de subir ao palco, leoazinha.

Ele sorriu, e ela se viu enfeitiçada pelo sorriso de dentes brancos destacados pela barba recém-aparada. Era a primeira vez que o via sem indumentária "sexy rocker". A corrente e cordão que ele nunca removia estavam ocultos sob uma camisa preta que fazia o terno de corte slim parecer uma única peça negra dos ombros aos pés, e os cabelos escuros estavam presos firmemente no coque estilo samurai sem nenhum fio fora do lugar. Era a representação mais sedutora do feiticeiro que ela teve a oportunidade de deslumbrar até aquele momento.

Rick esperou que ela saísse do camarim com o restante dos artistas e se dirigiu ao próprio assento na plateia. Certamente ela estava infinitamente mais ansiosa do que ele, porém isso não diminuía sua expectativa, que beirava à apreensão. Não que ele duvidasse por um só segundo da capacidade dela. Era ele mesmo que não podia se conter de vontade de vê-la brilhar novamente no palco.

Eles não tinham voltado a conversar sobre Henry, a mentira e todo o resto. Naquele mesmo dia, Duda mergulhara no assunto do musical e entrara num frenesi maluco de treinar a voz, incorporar o personagem e coisas do tipo. Ele se manteve próximo, mas não a ponto de invadir o espaço dela. Permitiu que ela fizesse os próprios preparativos e não se atreveu a entrar nos assuntos pendentes. Sabia que ela estava em negação, mas achou melhor não interferir.

Enquanto contemplava as trocas de cena e se deleitava ao som lindamente executado pela orquestra, buscou entre as vozes perfeitamente sincronizadas o timbre cristalino do soprano de Duda e, por mais que fosse quase impossível, pôde percebê-lo misturado e entrelaçado às demais vozes do coral.

Seu coração se aqueceu e seus olhos ficaram nublados pela emoção que sentiu ao ver sua fada com as asas abertas e prontas para alçar voo. Embora muitos atribuíssem a ele a responsabilidade por essa oportunidade de Duda, Rick sentia-se apenas um canal e um apoio para essa conquista. Nada seria possível se ela não fosse tão excelente em tudo que fazia. Quem dera ela acreditasse nisso como ele mesmo acreditava.

Ao final do espetáculo, ele se dirigiu ao camarim para reencontrá-la. Uma Duda livre, entusiasmada e feliz o esperava.

— Rick! Como foi?

— Como foi? Perfeito como era de se esperar num espetáculo dessa categoria. Estou mais curioso para saber como foi para você!

— Foi como um sonho... como se eu não fosse eu mesma e estivesse vivendo a vida de outra pessoa...

— Teatro é bem isso. Só que, no seu caso, não foi uma pessoa e, sim, uma leoa!

Ela riu e o beijou nos lábios.

— Como vamos comemorar agora, meu bruxo?

— Vocês da companhia não vão comemorar entre si?

— Não vou a lugar algum sem você.

— Duda... não perca a chance. Vá com eles, eu te encontro depois!

— Mas, Rick...

— Vá, Duda. Você precisa disso, vai ser bom pra você. Não pode ficar na sombra de ninguém, esse é o seu momento.

— Não existe um momento meu que seja feliz sem você, Rick...

Ele sentiu o coração aquecido. Por mais que quisesse tirá-la dali, levá-la para bem longe e passar o resto do tempo que lhe restava só com ela, ele entendia que não tinha o direito de privá-la das experiências que ainda eram tão novas para ela. Ele sabia o quanto ela tendia a se isolar e se boicotar, então precisava fazer o trabalho contrário e empurrá-la para as vivências das quais ela precisava para desabrochar e se sentir segura.

— Eu preciso trabalhar, Duda.

— Hoje? Você vai trabalhar hoje? Como assim? Você tá arrumando desculpas pra não ficar comigo?

— Tenho que gravar umas trilhas, tenho prazo pra entregar. — Não chegava a ser uma mentira, porém ele não precisava fazer isso naquele momento e ela não precisava saber disso. — Vá comemorar, e eu te busco a hora que você quiser, combinado? 

***

Duda estava no lounge do hotel numa roda com quatro novos conhecidos do elenco, bebericando um drinque enquanto tentava se reconectar ao assunto do grupo. Ela se sentia solta, à deriva quando Rick não estava por perto, principalmente em ambientes onde havia muitos desconhecidos.

Ela nunca foi uma garota sociável. A imposição de relacionamentos sempre a deixava desconfortável, e ela não via a hora de ligar para Rick e pedir que ele a viesse buscar; mas, também, não queria parecer uma esquisita em meio àquela gente, aparentemente, tão descolada e experiente.

— Esse é o meu quinto musical. — Lucas, um homem na casa dos trinta e cinco anos de idade, era o mais experiente do grupo. Com um tenor lindíssimo, ele interpretara a voz de Simba no musical. Fora algo apaixonante e emocionante de se ouvir.

— Dos musicais que você participou, qual foi o mais desafiador? — um dos presentes questionou.

— Deixa eu pensar... ah, sem dúvida alguma foi Naked Boys Singing.

— Jura? — Ellen, uma morena do coro, soltou uma sonora gargalhada — E você teve mesmo que ficar peladão no palco?

— Nu em pelo — ele respondeu com um sorriso. — Todo mundo tinha que ficar, até os músicos.

— Caraca! Que coragem!

— Foi desafiador, mas depois que começa o ato, a gente esquece de tudo. A nudez vira a fantasia e tudo se resume à música e à ação.

— E você, Duda? O que você anda fazendo por aí? Não achei nada seu na internet.

Duda se sentiu ainda mais desconfortável. Aparentemente todas essas pessoas estavam na estrada há um bom tempo, e ela era a única sem nenhuma experiência. Por um momento, chegou a desconfiar que Rick mexera os pauzinhos para colocá-la no elenco.

— Não tenho muita experiência de palco. Atuo mais em estúdio. — Não era bem uma mentira, ela chegara a gravar um jingle para uma marca de fraldas.

— Interessante... — um outro rapaz comentou de fora da roda. — Aquele que estava com você no camarim é Rick Moreno, não?

— É sim. Eu... Bem, ele é meu noivo.

— Ah, tá explicado! Por isso você conseguiu o teste!

— Como é? — Seu desconforto dobrou de tamanho.

— Ele deve ter dado uma força pra você entrar, mas é normal, nesse meio sempre precisa de um empurrãozinho...

— Ele não cantou no meu lugar no teste nem subiu no palco. Por que tá colocando ele no meio da conversa? — o lado "Duda cavala" se manifestou, e ela tentou a todo custo conter a vontade de distribuir palavrões entre as pessoas que acabara de conhecer.

— Opa, calma lá! Ninguém tá falando que você não merece estar no elenco. Preste atenção! Estou dizendo que, se você conhece as pessoas certas, fica mais fácil. Você precisa entender a diferença entre capacidade e oportunidade. Você só consegue algo se tem capacidade e oportunidade, as duas coisas te jogam lá. Tem muita gente melhor que nós por aí fazendo música de qualidade, nem por isso chegam a algum lugar. Baixa a guarda, beleza?

— Pois é... — Lucas comentou, pensativo. — Todo mundo aqui teve um empurrão, ok? Fica em paz com isso.

No entanto ela não ficou em paz. Seu lado autodepreciativo voltou com tudo, colocando-a para baixo num momento em que ela deveria estar feliz, comemorando a nova conquista. A lembrança de Henry, que ela tentara enterrar no abismo da alma durante todo o tempo desde a crise do dia anterior, voltou a assombrá-la, dizendo que ela não servia para nada e que nunca ia chegar a lugar algum.

Concluindo que chegara ao seu limite, colocou-se de pé e pegou o celular para mandar uma mensagem a Rick: "Estou pronta pra ir, você pode vir me buscar?"

— Mas já vai embora, garota? — Ellen se queixou quando ela ficou de pé, e alguns outros integrantes próximos protestaram.

— Eu estou com dor de cabeça — mentiu, forçando um sorriso. Ninguém estava de fato preocupado se ela ia ou ficava, então voltaram a falar de outro assunto qualquer. Sentindo-se isolada, ela se despediu e resolveu aguardar Rick no lobby do hotel.

— Oi, Duda. Tudo bem?

Duda levou um baita susto com o cumprimento feito ao pé de sua orelha. Girou e ficou ainda mais surpresa.

— Enzo? O que está fazendo aqui?

— Eu fui assistir ao musical, ora essa! Você achou que eu iria perder?

— Mas... — O musical acontecera no teatro a algumas quadras do hotel. Se Enzo estava ali, foi porque a seguira e isso a deixou no mínimo intrigada.

— Duda, fica tranquila. Eu tô brincando com você. Eu não fui ao musical, ok? Eu trabalho neste hotel.

— Mas... Você não é formado em publicidade?

— Eu trabalho com Relações Públicas aqui no hotel. Olhe só que coincidência, eu soube que você estaria no musical porque recebemos a lista com os nomes dos participantes do elenco que se hospedariam aqui. O seu nome constava na mesma planilha, só que marcado como quem não ia precisar de hospedagem.

— Entendi...

— Está sozinha?

— Não, quero dizer... daqui a pouco, o Rick vem me buscar.

— Ah, sei... o cabeludo, alto...

— Ele mesmo — ela se perguntou como ele se lembrava. Nesse momento, Duda se sentiu bem orgulhosa de ostentar que ela estava com o cabeludo alto mais lindo do mundo.

— Vejo que as coisas avançaram rápido... — ele observou a aliança na mão direita dela. — Para quem não queria nem saber de namoro, você deu uma boa abertura.

— Isso não lhe diz respeito, Enzo.

— Calma! Eu estou te fazendo um elogio, por que a agressividade?

Ela fechou a cara. Não queria ficar mais um minuto ali. Todas aquelas pessoas começaram a fazê-la se sentir sufocada e a necessidade de respirar a impulsionou para fora do saguão. Checou o smartphone; nenhuma mensagem de Rick, e apenas 2% de bateria.

Merda...

Resolveu caminhar pelo calçamento do recuo de embarque e desembarque do hotel. O pavimento estava úmido, ela nem tinha percebido que estava chovendo.

— Você vai acabar se molhando. — Enzo estava novamente ao seu lado, o que a irritou ainda mais.

Que inferno! Será que ele não se toca? Eu quero ficar longe de todo mundo!

Ela não respondeu, apenas se moveu para longe do recuo e atingiu a calçada molhada. Sentiu os respingos finais de uma tempestade de verão. O vento fez seu cabelo emaranhar-se às suas costas, sua pele ficou arrepiada com a umidade, mas a sensação foi boa, refrescante.

A rua estava deserta devido ao horário avançado, e as árvores bloqueavam parcialmente a luz que vinha dos postes deixando a noite sem luar muito mais sombria. Ela não percebeu que Enzo continuava seguindo-a e, quando foi puxada em direção a um acesso lateral do hotel, seu protesto não foi percebido por ninguém.

***

Meninas são bruxas e fadas

Palhaço é um homem todo pintado de piadas!

(Eu não sei na verdade quem eu sou - Fernando Anitelli, O Teatro Mágico)

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