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40 - Rapsódia

Rapsódia: composição musical que se caracteriza por sua estrutura livre, uso de temas variados e expressividade.


Rick deu um beijo demorado em Duda antes de deixá-la no próprio apartamento. Ela se queixou um pouco por ter tirado o dia de folga do trabalho na galeria só para ficar com ele, mas ele alegou que precisava ir ao estúdio para resolver algumas pendências relacionadas a uma gravação.

Amargurado por mentir mais uma vez, entrou no carro, apoiou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos. Era impressionante como um único deslize ganhava proporção, fazendo mais e mais mentiras se empilharem umas sobre as outras a fim de sustentar a falácia e, com isso, o bom caráter que ele sempre buscara construir se desintegrava a cada inverdade. Esfregou os olhos e deu partida no carro. Quando já se movia a caminho da Zona Oeste, criou coragem e, usando o Hands off, realizou a chamada que deveria ter feito na noite anterior.

— Pode falar agora.

— Desculpe-me por te ligar no meio da noite, Rick. Não me dei conta de que meu fuso horário estava quatro horas à frente do seu. Não pretendia te acordar.

— Tudo bem. Sem problemas. Por que ligou?

Na madrugada, quando recebera a primeira ligação ainda com Duda em seus braços, Rick quase surtara. "Isa Pianista", o nome em letras garrafais por cima da enorme foto estampando o rosto harmonioso emoldurado por cachos avermelhados, a centímetros do olhar de Duda, o fizera entrar em pânico. Ele sequer se lembrava de ter o contato dela salvo no celular.

Mais tarde, enquanto Duda dormia, ele retornara a ligação apenas para evitar que ela continuasse tentando falar com ele. Fora um retorno rápido, ele só a avisara que era madrugada e que ligaria dali a algumas horas, segundos antes de Duda surpreendê-lo na sacada.

Ele tinha consciência de que um dia a história com Isa poderia voltar para assombrá-lo, mas precisava ser bem no dia do seu noivado? Naquele instante, pensara em como a vida não passava mesmo de uma grande ironia. Numa das noites mais incríveis da sua vida, o passado voltava para cutucar a ferida fechada. Uma piada de mau gosto ou apenas a espada da justiça pendendo perigosamente sobre seu crânio?

— É o seguinte, Rick. Você sabe que estou há quase uma vida inteira longe do Brasil, não conheço ninguém por aí além do meu ex-marido e você.

— Sei. E daí? — E a filha, você não vai mencionar?

— Não queria te incomodar, mas acho que a gente desenvolveu algo bacana enquanto você morava por aqui, por isso tomei a liberdade de procurá-lo. Eu preciso muito de uma ajuda para encontrar a Eduarda.

— O quê? — ele pensou não ter ouvido direito.

— Desculpe-me, Rick. Você nem deve se lembrar de quem estou falando. Eduarda é a minha filha, a que deixei com o pai quando saí do país, há vinte anos.

Se ele se lembrava de quem era Eduarda? Porra! Rick engoliu em seco e tentou trazer a respiração para um estado de normalidade. A fim de evitar um acidente de trânsito, resolveu estacionar o carro em uma travessa qualquer. Já nem sabia mais onde estava.

— O que tem ela? — Obviamente, ele fez de conta que não se lembrava.

Não, Rick. Você não a conhece. Não ficou obcecado nem a perseguiu por semanas, não se apaixonou por ela, não a pediu em casamento nem está prestes a começar uma vida com ela, ou melhor, a acabar com tudo de vez com ela. Não, ela não passa de uma garota num vídeo aleatório...

— Henry, meu ex-marido e pai dela, faleceu. Isso aconteceu ontem. Meu número constava no cadastro do hospital como único contato que ele possuía e, aparentemente, ninguém por lá sabia que ele tinha uma filha...

— Sei... — É claro que não sabiam...

— Parece que ele estava internado há um bom tempo, num estágio irreversível de cirrose. Enfim, entraram em contato comigo porque parece que não há mais ninguém com quem falar. Não havia nenhum contato da Eduarda.

É claro que não havia...

— E o que você espera que eu faça? — Ele foi rude, mas seus pensamentos não estavam ajudando.

— Rick, você está aí no Brasil. Não posso cuidar disso daqui e nem pretendo voltar. Só quero pedir uma ajuda a um velho amigo. Acha que conseguiria localizá-la? Se eu te der uma foto e o nome, conhece alguém por aí que possa rastreá-la? Talvez algum investigador, não sei... Eu posso pagar, mas seria muito mais fácil tratar disso por aí. Eu penso que, se você falar com ela, será melhor do que um desconhecido qualquer, ao menos você me conhece, e você é uma pessoa tão gentil, vai saber falar...

— Entendi... Uma pessoa "gentil", que continua sendo um "desconhecido qualquer" para ela, certo? O que não consigo entender... Você abandonou sua filha e, agora, quer que outra pessoa vá atrás dela para resolver seu problema? — ele tentou conter o rancor, sem muito sucesso.

— Rick, não precisa ser grosseiro! Não é só para falar com ela que preciso da sua ajuda. É para auxiliar em outras questões legais também. É um favor que estou pedindo, se não puder fazer, ok! Eu já resolvi o lance do funeral, já paguei as taxas e coloquei um advogado cuidar dos entraves relacionados aos bens e dívidas que Henry deixou. Eu só preciso dar seu nome pra funerária e pra empresa de advocacia que está preparando uma procuração. Pelo pouco que te conheço... que conheci, sei que posso confiar em você...

Não... você não me conhece. Não faz a menor ideia de quem eu me tornei, sogrinha...

— ...Se não encontrarmos a Eduarda, tudo vai acabar sendo doado para alguma instituição de caridade. Não sei como ela vive ou como está, mas acredito que, talvez, o que Henry deixou seja útil para ela de alguma forma e, se não, ela mesma pode dar fim a tudo como desejar.

Rick gastou um tempo pensando na herança significativa que Henry deixara para Duda. Anos e anos de sofrimento, mágoa, rancor, desamparo, abandono e cicatrizes...

— Vou ver o que posso fazer.

— Ah, Rick. Muito obrigada! Sabia que você não me deixaria na mão! Vou te mandar o nome e uma foto dela, é antiga, mas acredito que dê para usar. Deixe-me saber o custo de tudo isso, ok? Quando tiver novidades, pode me retornar a hora que quiser.

— Ok.

E encerrou a ligação.

Rick ficou um tempo olhando a tela do aparelho onde o nome "Isa Pianista" o encarava de volta. Com a sensação de uma bola de tênis tentando descer pela garganta, ele mudou o nome do contato para "Irlanda". Logo em seguida, um link para uma pasta do Google Drive chegou pelo What'sApp. Ele o acessou e uma série de documentos em PDF surgiu na tela, entre eles, uma fotografia de Duda, ainda adolescente.

A imagem fez seus olhos se encherem de lágrimas. Nela, Duda estava com uma camiseta larga e velha. Os cabelos desgrenhados estavam presos e havia olheiras profundas no rosto encovado. Ela já era linda, mas parecia quebrada, e o que mais feria era o olhar, perdido, vazio e derrotado. Como Isa não enxergou isso? A fotografia gritava que havia algo errado...

Rick não precisava da droga da foto, muito menos do nome. Também não precisava procurar por ela. O que ele realmente necessitava agora era encontrar uma forma de explicar para ela como ele soube da morte de Henry Ferri, pai dela, pela própria da mãe, Isadora Ferri, a quem ela não via desde os cinco anos de idade.

***

— Bola de pelos mais peluda de todas! Quem é o gato mais fofo? Quem?

Duda estava agora torturando Gato com uma overdose de carinho. O felino espichava as patas e arregalava os olhos, perguntando-se qual o motivo de ter sido "sequestrado" do próprio cantinho de dormir. Se pudesse expressar o que pensava, diria que humanos são excessivamente carentes ou demasiadamente expressivos.

— O que vem agora, Gato? Não sei nem o que fazer hoje. Tô tão aérea...

Gato olhou para ela com um miado que provavelmente queria dizer: "Eu não ligo a mínima, e você poderia começar parando de falar pra eu voltar a dormir..."

Atendendo ao desejo do gato, Duda o soltou e, de súbito, ligou para Alex.

— E aí, tudo bem? Tá ocupado?

— Você não devia estar brincando de coelho no cio a essa hora?

— Cala a boca, besta! Não tô em lua de mel!

— É verdade... Esqueci que tem uma porrada de etapa nessa merda.

— O Rick teve que trabalhar, pra variar. E você, tá fazendo o quê?

— Tô aqui de boa na casa da Hannah.

— Não tá trabalhando não, vagabundo?

— Hoje não. As escolas de música estão de férias. Falta uma semana pro Natal, nem tá mais aparecendo trampo.

— Certo. Vai fazer alguma coisa mais tarde?

— Não sei, o pessoal tá pensando em fazer um churrasco. Tô tentando convencer a Hannah a fazer aqui, mas ela fica com medo de o pai comer gordura demais.

— Que pessoal? Da banda?

— É, porra! Você podia vir, não quer? Traga um engradado de cerveja, se vier.

— Você quer que eu sirva bebidas até no meu dia de folga? Vá se foder, Alex!

— Beleza, não precisa trazer. Vou te mandar o endereço.

Duda finalizou a ligação e, na sequência, ligou para Rick.

— Oi, bruxo! Já tá com saudades?

— Oi, fada. Claro que estou.

Ela achou a voz dele estranha, meio desanimada.

— Tá tudo bem?

— Está sim.

— Temos um churras para ir. Tá a fim?

Um longo silêncio se fez antes que Rick dissesse alguma coisa, tão longo que fez com que Duda parasse tudo o que estava fazendo até ouvir a resposta.

— Tenho que resolver umas coisas, minha fada. Desculpe, mas não vou poder ir.

Ela ficou decepcionada, e aquela sensação estranha em sua barriga ressurgiu. Ela espantou o sentimento, afinal, nada mudara de fato entre eles a não ser um anel.

— Precisa de alguma coisa, Rick?

Ele suspirou de um modo que foi possível ouvir pelo telefone. O incômodo nas entranhas se acentuou.

— Eu preciso de um beijo ou dois, e o que vier depois disso. Vou praí mais tarde, se você quiser. Me mande uma mensagem quando chegar em casa ou me diga onde você estará, e eu passo para te pegar.

— Claro. Te aviso. Te amo.

— Também te amo.

Duda desligou e não deixou que o desconforto ganhasse força dentro dela. Estava um dia lindo, ela estava noiva do homem mais impressionante de todos, e tinha amigos esperando por ela, algo que por muitos anos desejou, mas não teve. Animada, acabou passando no mercado para abastecer a geladeira e, claro, comprar o tal do engradado de cerveja.

***

Faço promessas malucas

Tão curtas quanto um sonho bom

Se eu te escondo a verdade, baby

É pra te proteger da solidão

(Faz parte do meu show - Cazuza)

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