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4 - Gutural

Gutural: é uma técnica vocal em que o som emitido é rouco e grave.

***

— Você costuma ficar até que horas? — Rick questionou Duda. Ela parecia exausta enquanto limpava o balcão.

— Até fechar.

Já tinha se passado algum tempo desde o término do show. Era madrugada, só Deus sabia onde Júlio havia se metido, a banda já tinha desmontado o equipamento e ido embora, e apenas Duda permanecia trabalhando. Além dela e de Rick, dois casais se demoravam aos beijos em um canto escuro do bar. Ignorando-os, ela começou a empilhar as cadeiras.

— Por que só você fica até tão tarde?

— Eu e o Jonas, na verdade. É porque a cozinha encerra mais cedo, então a Amanda e o Caio, que são os garçons, entram antes e saem mais cedo junto com o pessoal da cozinha. Eu e o Jonas começamos mais tarde e, consequentemente, vamos até mais tarde.

Sem se preocupar com a opinião dela, Rick se ergueu da banqueta e passou a ajudá-la. Como estava cansada, ela acabou aceitando a ajuda, visto que o homem era "amigo do dono". Ele separou o lixo, passou pano nas mesas, apagou as luzes e avisou aos casais que a casa estava para fechar. Já eram mais de duas horas da madrugada quando finalmente ele a ajudou a levar o lixo para a caçamba que ficava no beco ao lado.

— Você quer um? — Rick ofereceu a ela um cigarro enquanto estavam do lado de fora.

Ela recusou educadamente, mas acabou ficando por perto, fumando por tabela. Eles contemplaram a noite em silêncio por um tempo, até que ele reuniu coragem para questionar:

— Por que esconde do Júlio que você entende de música?

— Como você...?

— Dá para perceber. Um músico sempre reconhece outro.

Ela ficou desconfiada. Não sabia que esse tipo de percepção se aplicava também a músicos, embora ela reconhecesse que dera mole nos comentários sobre a banda, e era provável que esse era o motivo de ele ter percebido.

— Não é da conta de ninguém.

A resposta pareceu meio frouxa, sem a firmeza costumeira. A verdade era que estava intrigada com o tal produtor. Do nada, o cara apareceu vindo sabe-se lá de onde, comprou um álbum de jazz, palpitou numa banda de rock, passou pano nas mesas, tirou o lixo do bar e agora estava ali fora, todo lindo com aquele coque frouxo no cabelo, aquelas correntes que pendiam na direção da grade da escada onde ele apoiava os braços tatuados, numa postura relaxada e soprando fumaça através daquela boca carnuda.

Do nada, a noite pareceu muito mais quente.

— Só curiosidade. Não precisa ficar tão na defensiva — ele respondeu, então soltou um anel de fumaça e olhou para ela, diretamente nos olhos. Isso a tirou do prumo.

— Fica na sua! Nem toda garota molha a calcinha por causa desse seu lado "fodão da música"!

Ela foi desnecessariamente maldosa e sabia disso, mas detestava ter o próprio comportamento analisado, ainda mais quando se sentia tão afetada por aqueles olhos incandescentes. O ataque sempre fora a melhor defesa para ela, embora nunca fosse admitir a ironia de mencionar a "calcinha molhada" naquele exato momento.

Ele, por sua vez, ficou surpreso com o comentário grosseiro, tanto que permaneceu alguns segundos parado com o cigarro a caminho dos lábios. Não estava acostumado a ser tratado de um jeito tão malcriado por uma mulher, e a postura rude despertou nele um lado beligerante que há muito estava dormente. Depois do choque inicial, ele respondeu à altura.

— É porque você não me viu num palco. Isso talvez mudasse a sua opinião sobre calcinhas... — e tragou o cigarro.

Não combinava com ele esse lado petulante, muito menos esse tipo de resposta jocosa, porém a agressividade gratuita lhe acendeu um pavio. Por pouco ele não riu do rubor que subiu ao rosto da garota, só não o fez porque ficou imaginando a tal da calcinha. Ela desviou o olhar, irritada.

Metido do cacete! Mas foi você quem começou, sua idiota! Não pode reclamar agora. E por que diabos foi falar de calcinha?

Ele a observou desconcertada e quase se arrependeu por revidar. Não sabia que marcas ela carregava, pareciam muitas, o que justificaria essa postura animosa. Ou era isso, ou ela era uma insuportável mesmo.

— Tô brincando contigo, Duda. — Ele retomou depois que a ojeriza deu uma baixada. — Meu lance nem é o palco. Eu prefiro muito mais os ambientes claustrofóbicos cheirando a mofo dos estúdios de gravação. Pode guardar as garras, ok?

Ela deixou de responder o que veio à mente, porque só pioraria a situação já bem embaraçosa por si só. Não sabia por que, mas sempre fazia isso, como um gato de rua que arrepia o rabo quando vê um estranho se aproximar. Ela era assim, e quem chegava perto tinha muito trabalho para permanecer, por isso tantos desistiam e ela estava sempre sozinha.

Rick rapidamente ignorou o assunto e se deteve ali fora por mais um tanto de tempo, e Duda, contrariando a ideia de que não via a hora de se livrar do roqueiro, permaneceu ao seu lado enquanto apreciavam o sereno.

Ele a olhava de soslaio, distraído com a pequena penugem de fios claros que acompanhavam a nuca delicada, e com uma cicatriz na curva do pescoço atrás da orelha, visível apenas porque os cabelos estavam presos no alto da cabeça. A pele branca reluzia ao luar, e o olhar perdido em meio aos traços delicados do maxilar, das maçãs do rosto, da boca pequena e do nariz sardento causaram uma estranha perturbação em seu interior. Ele desejou tocá-la para entender como ela podia parecer tão rija e tão macia ao mesmo tempo.

— Como você vai embora? — ele perguntou, num supetão.

— De Uber.

— Posso te dar uma carona. — Era um pouco absurdo, porque ele morava perto do bar e ela no Centro, mas ela ainda não sabia disso.

— Não precisa.

— Para com isso! Você sabe que eu sou amigo do Júlio, não sou nenhum tarado tentando me aproveitar de você.

Que pena...

— Ok, se faz tanta questão, então vamos.

Desconcertada, ela nem agradeceu antes de fechar o aplicativo. Ela sempre fora muito prática e nunca gostou de ficar argumentando por nada, então trancou rapidamente o bar enquanto ele a aguardava dentro de um SUV estacionado.

Eles levaram menos de 15 minutos no trajeto entre o bar e o prédio onde ela morava. No caminho, Rick sintonizou uma rádio aleatória e tentou conversar, mas ela se manteve lacônica, então ele acabou desistindo.

Duda, por sua vez, se pegou pensando em cheirar as próprias axilas para conferir se estava tudo sob controle depois de ter suado em profusão no ambiente abafado do bar, já que ali dentro do carro o aroma predominante era de um perfume almiscarado misturado ao cheiro do couro dos bancos e tabaco, uma combinação deliciosa, por sinal.

Já em frente ao prédio, ela desembarcou, agradeceu a carona e se afastou ligeira, sem olhar para trás. Subiu os degraus de dois em dois, ansiosa por uma ducha demorada. Quando estava para abrir a porta, levou um baita de um susto por causa de uma bola de pelos encolhida no capacho, na porta do apartamento. Inicialmente ela pensou que era um rato, mas concluiu que era muito grande para se tratar de um.

— Ei... o que tá fazendo aí?

A bola de pelos ergueu os grandes e expressivos olhos verdes para ela.

— Você é um gatinho perdido? De onde você veio e por onde entrou? — Ela olhou em volta imaginando se o felino teria escapado de algum dos outros apartamentos. O bichano levantou do capacho e começou a se enroscar em suas pernas.

— Tá com fome? Vou arrumar algo para você — entrou no apartamento e voltou com um pires de leite. O gato logo atacou a travessa, faminto. — Vá embora, vá! Volte lá pra sua casa...

Ela fechou a porta deixando o gato. Sentiu-se mal por abandonar o bichinho do lado de fora, mas ia fazer o quê? Ele só devia estar dando uma volta noturna, não é o que os gatos fazem? Quando as coisas estão chatas e entediantes, eles saem por aí buscando companhia, comida ou apenas o isolamento, tal qual os humanos.

Deixando isso de lado, ela entrou no banho. Enquanto sentia a água morna, sua mente começou a viajar. Voltou à infância, quando segurara um violão pela primeira vez. A imagem de Henry, seu pai, empurrando seus dedinhos ainda infantes contra o braço de um violão invadiu sua mente.

O pensamento revolvido por causa das perguntas de Rick a fez contornar a ponta dos dedos calejados com o polegar. Tocar era para ela uma faca de dois gumes, tal qual o incômodo do aperto dos dedos numa corda de violão. O ato de pressionar a corda contra o braço do instrumento produzia um misto de dor e prazer, era uma dor que produzia prazer quando as notas soavam, mas o prazer se convertia em dor quando o som se tornava um lamuriar de tormentas, um despejo de sua alma ferida.

Envolta em numa toalha, ela saiu do banheiro e alcançou o violão empoeirado. Tinha um bom tempo que não o resgatava de seu pedestal, esquecido ou apenas ignorado diante de tantos dramas diários. Contudo, alguém a lembrara de que ele estava ali, parado, esperando, com a boca aberta que não dizia nada porque ela não lhe dava voz.

Ela se acomodou na beirada da cama e posicionou o instrumento em uma perna. Acariciou a escala sentindo a vibração e o ruído surdo que as cordas encapadas emitiam ao serem friccionadas. Então posicionou os dedos calejados da mão esquerda contra o braço e tangeu com a mão direita, num dedilhar melancólico e profuso. O som caótico do Estudo nº 1 de Radamés Gnattali preencheu o espaço, fugaz e intenso.

Ela concluiu a peça, depois brincou com alguns acordes num arranjo improvisado de I Put a Spell on You, e até chegou a arriscar usar a voz, que saiu rouca e desgastada como se ela estivesse gripada.

No entanto ela não estava doente. Estava chorando, então desistiu de cantar. Brincou mais um tempo com os acordes, até que a lembrança da imagem dos dedos maiores pressionando os menores sobre braço do violão se transformou, as mãos grandes mudaram de posição, se fecharam até os nós dos dedos ficarem brancos e se moverem fugazmente em sua direção.

A cena sempre se repetia em sua mente, ora dia, ora noite, assim como o ato ocorria quando era dia ou noite. No rosto ela não carregava cicatrizes, mas no corpo, marcas e sequelas de fraturas que causavam desconforto apenas em noites chuvosas. Nada comparado às cicatrizes da sua alma ainda ferida, sangrando e sem possibilidade de regeneração.

Angustiada, devolveu o instrumento ao suporte e abraçou o travesseiro, dando enfim vazão à tristeza. Em posição fetal, da mesma forma que ficava após as surras, adormeceu num sono sem sonhos assim como era sua vida.

***

O medo é uma linha que separa o mundo

O medo é uma casa aonde ninguém vai

O medo é como um laço que se aperta em nós

O medo é uma força que não me deixa andar..."

(Miedo - Lenine)

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