Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

37 - Tremolo

Tremolo (ital): efeito que se aplica em uma nota sustentada, repetindo-a muito rapidamente a fim de criar um som trêmulo.


Alex aguardava do lado de fora do portão. O coração estava acelerado e as mãos, úmidas. Tinha demorado 40 minutos só para tocar a campainha, agora não podia simplesmente sair correndo como se tivesse dez anos outra vez.

O portão abriu e uma senhora loira o encarou, muito surpresa.

— Alex?

— Mãe...?

Por um momento, ele pensou que ela ia fechar o portão e deixá-lo plantado do lado de fora. Por um momento, ele chegou a desejar que isso acontecesse.

Covarde!

— Entre.

Ela deu um passo para o lado, liberando acesso a ele enquanto segurava o portão aberto. Alex passou pelo pequeno quintal, depois entrou na ampla sala e foi cumprimentado por uma enxurrada de lembranças, algumas boas, outras nem tanto.

O aroma do piso de tacos de madeira misturado ao cheiro dos temperos que vinham da cozinha, impregnado nas cortinas e no tecido desgastado do sofá antigo que ocupava metade da sala, fez Alex voltar aos oito anos de idade. Era um cheiro carregado de memórias, de uma perspectiva infantil de que existia amor incondicional, desses que tudo suporta e que tudo entende.

— Como você tá, mãe? Tudo bem? — ele perguntou, já que ela não perguntou.

— Vou bem. Caminhando.

Silêncio.

— E o pai? Ele tá bem?

— Sim. Trabalhando.

— Ele trabalha de sábado, agora?

— Ele sempre trabalhou. Você é que nunca prestou atenção.

Silêncio de novo.

— Bom... eu vou bem, caso queira saber. — Ele percebeu que isso ia ser muito mais difícil do que na imaginação dele.

O que esperava, imbecil? Que ela fosse te dar um abraço, aos prantos, dizendo que sentiu saudades? Vê se acorda!

— Que bom que está bem. Está fazendo o quê da vida?

Obviamente ela não perguntou com o que ele estava trabalhando e, sim, o que andava fazendo. Era claro que ela não esperava nada melhor dele.

— Eu tô trabalhando com música, você sabe, mãe. Eu toco na noite, dou aulas e agora gravo também. Minha banda tá começando a fazer sucesso.

— Certo, certo... — ela respondeu, abstraída. — Estou com panelas no fogo, você quer fazer o quê? Quer esperar teu pai? Ele vai demorar um tempo pra chegar.

Ele notou que ela nem o convidara para almoçar. Angustiado, concluiu que tudo não passava de perda de tempo. Só serviu para reavivar mágoas antigas e deixá-lo ainda mais puto com os pais.

Grande ideia, pastor Pedro. Parabéns! Agora, onde é a "boca" mais próxima?

— Vou esperar o pai — respondeu, ignorando todos os impulsos que o impeliam a sair dali como uma barata quando as luzes se acendem.

Mesmo sem ser convidado, ele se sentou no sofá enquanto a mãe se embrenhava na cozinha, e perdeu um tempo ali, contemplando as cortinas cor de pêssego que pareciam do século passado, os quadros de paisagens baratas, os pequenos enfeites de louça que cobriam a mesa de centro feita de cerejeira, e a TV de tubo que provavelmente não sintonizava mais do que dois canais.

Era como se o tempo não tivesse passado nessa casa, como se estivesse congelada numa realidade alternativa. O pensamento causou uma pontada em seu peito. Era exatamente a mesma casa que ele deixara há cinco anos. Constatar que ele sequer notara a passagem desse tempo todo o encheu de tristeza. Não notara que estava ficando mais velho enquanto os pais continuavam iguais dentro da própria redoma, porque ele estava chapado demais para perceber.

Ele conferiu se a mãe estava entretida no fogão antes de dar uma volta pelo espaço. Era engraçado porque ela sempre estava na cozinha. Nas imagens que guardava da infância, ele costumava encontrar a mãe na pia ou no fogão, usando um avental como se fosse uma segunda pele; o aroma de alho e cebola se desprendia dos dedos quando ela acariciava seus cabelos amarelos, e o pano de prato estendido no ombro estava sempre pronto para enxugar um utensílio aqui, um talher ali.

Ah, dona Sofia. O tempo passou, e as convenções continuaram as mesmas. Fora assim com ela, fora assim com a mãe dela, e se ela tivesse tido a alegria de conceber uma filha, seria assim com a garota também. Ou não. Provavelmente a menina se rebelaria na adolescência, enfrentaria os pais com a ideia ridícula de que não queria se casar nem ter filhos, ou talvez fosse lésbica, o que provavelmente causaria a morte dos pais por desgosto.

Alex deu um sorriso e imaginou que seria muito engraçado se eles tivessem tido uma filha lésbica. Ao menos ele teria uma irmã mais foda do que ele. Entretanto ele não tivera irmãos. Era filho único, e isso só piorava as coisas, porque não tinha ninguém para fazer o certo enquanto ele fazia o errado. Toda a expectativa ficara nas costas dele: alguém que os pais criaram para si mesmos, e não para a vida.

Quando ele quis aprender violão, eles acharam "bonitinho", porque ele tinha só dez anos de idade. Era legal falar para os vizinhos que o filho era talentoso, "Um artista, tem que ver que gracinha!". Mas daí ele fez onze, doze, treze, catorze anos de idade... e continuou tocando violão no quarto. Os carrinhos de brinquedo deram lugar a partituras e letras de música; os desenhos nas paredes deram lugar a pôsteres de bandas, e o que era colorido ficou preto e branco.

"Isso é coisa de vagabundo. Levanta a bunda dessa cadeira e vai procurar o que fazer! Acha que vai chegar aonde? Eu trabalho todo dia que nem um condenado para você cuspir no prato que ponho à mesa."

"Você tem que escutar teu pai, filho. Ele é um exemplo, você precisa arrumar serviço, seguir carreira numa empresa. Tem que começar a pensar na faculdade e parar com essa insanidade de querer ser músico."

Sem se dar conta do que fazia, ele subiu as escadas e parou em frente à porta do próprio quarto, incerto se deveria abrir ou não, até que finalmente empurrou a porta. Um misto de mágoa e nostalgia o atingiram de uma vez, levando lágrimas aos seus olhos.

Tudo estava impecavelmente igual. A mesma roupa de cama, os mesmos pôsteres, os mesmos souvenirs sobre a escrivaninha. Parecia um portal no espaço-tempo, um buraco de minhoca que o fez voltar aos vinte anos de idade. Ele se aproximou da janela e conferiu se a calha e o cano de vazão de água continuavam amassados. Óbvio que sim, seu pai trabalhava demais para se preocupar com esses detalhes.

Era por ali que Duda subia quando queria fugir do próprio pai. Ela pulava o muro e geralmente chegava no quarto dele com o rosto inchado, não de apanhar, porque Henry evitava bater no rosto, mas sim de chorar. Ela chorava muito no começo, até chorar menos e depois não chorar mais, apenas subia pela calha e se enfiava na cama dele até o dia seguinte, fazendo-o dormir no chão.

Ele não se importava. Na verdade, apreciava a companhia, alguém que compartilhava de uma vida tão mais infeliz que a dele. Ela subia escondido pela janela porque os pais de Alex jamais permitiriam que uma "marginalizada" como ela pusesse os pés em sua casa perfeita.

"Garota esquisita, só pode ser uma viciada. Vive sozinha, dando mole por aí, certeza que se prostitui também, não tem nem mãe, nunca vai aprender a ser uma boa moça."

Foi assim que os pais de Alex se referiram à Duda quando o viram conversando com ela no portão, então ele sabia que ela jamais seria aceita na casa deles. Entretanto, fora aceita no coração dele, pois quando ele ficara revoltado o suficiente para começar a roubar os medicamentos da própria mãe, fora Duda quem segurara sua cabeça enquanto ele vomitava em banheiros públicos. Fora ela quem correra atrás dele quando um bando de traficantes tentara aliciá-lo para distribuir papeletas de droga pela escola. E fora ela quem recuperara o violão dele no meio dos dejetos quando os pais simplesmente o descartaram na lixeira da vizinhança.

Ele queria tê-la ajudado mais, principalmente quando ela teve que ser levada ao hospital. Angustiado, lembrou-se de como os pais agiram na ocasião, quando ele pedira ajuda a eles para acompanhar o caso dela.

"Não se meta com essa gente! O que os vizinhos vão pensar? Que você está metido com droga junto dela, ou pior, que está fazendo sexo com ela, que horror! Não e não, não quero saber de você trazer esse problema aqui para dentro desta casa! Somos uma família decente, por Deus!"

É, a postura deles foi uma merda.

— Esqueceu alguma coisa? — a mãe o surpreendeu da porta do quarto com um semblante marcado de rancor.

Esqueci, mãe. Esqueci de como a vida pode ser uma merda completa.

— Não, claro que não. Só vim matar a saudade deste quarto, mas descobri, quando cheguei aqui, que não senti saudade nenhuma. Acho que posso ir embora agora. Não vou mais atrapalhar seu dia.

Deu as costas para mãe e foi em direção a porta, pela última vez.

— Fica pra comer. Se quiser, pode ficar.

Parou e ficou dividido. Não que quisesse ficar, absolutamente não, porém estava curioso para reencontrar o pai, só para saber se ele também continuava congelado no tempo. Acompanhou a mãe e se acomodou à mesa, tomando o cuidado de se sentar no mesmo lugar de sempre e com a mesma postura de sempre para não ofender a mulher. Ele comeu o macarrão, e o sabor chegou a comovê-lo. O mesmo gosto da infância, tudo sempre igual.

Um tempo depois do início da refeição, ele ouviu a porta da frente se abrir. Seu coração deu um salto, pois não sabia como o velho reagiria ao encontrá-lo ali. Não tinha planejado estar dentro da casa quando, enfim, o reencontrasse.

— Alex?

João empalideceu quando viu o filho sentado à mesa. O homem já era pálido por natureza, porém conseguiu ficar ainda mais lívido. Alex notou o bigode proeminente, igual, mas com muito mais pelos brancos. A barriga também estava maior, e o olhar mais cansado.

— Pai...

Alex se ergueu da mesa e caminhou em direção ao homem, numa atitude educada. Um silêncio completo se instaurou na copa enquanto o macarrão esfriava sobre a mesa. Sofia enxugava as mãos compulsivamente no avental enquanto João encarava Alex, boquiaberto. Uma eternidade depois, para completo espanto de Alex, o pai deu dois passos e o apertou entre os braços, em prantos. Alex não sabia como reagir, olhou assustado para a própria mãe, que sustentava uma ruga entre os olhos marejados. Provavelmente estava dividida entre ficar com raiva do filho ou do pai.

— Sempre achei que, a próxima vez que o visse, seria num caixão...

— Que trágico... — Alex se sentiu mal com o comentário.

— Você pensou que nós não sabíamos, não é? Que você se drogava por aí. Se não tivesse se metido com esses marginais músicos ou com aquela garota doente, não teria ido por esse caminho...

— Cala a boca, pai! — Alex empurrou João, chocado. O ínfimo momento de calor entre pai e filho se espatifou em mil pedaços pelo piso de madeira. — Não foi a música ou a Duda que me fizeram experimentar essa merda toda. Foram vocês!

Ok, a coisa estava saindo completamente do planejado. Não era para ele falar isso, nem nada parecido com isso. Mas também não sabia o que falar agora que tudo viera à tona.

— Que injustiça! — A mãe, finalmente, se manifestou.

— Eu não vim aqui pra brigar com vocês. Sério. — Alex abaixou o tom da voz e se lembrou das palavras do pastor Pedro: "Inspire, não absorva, expire, deixe fluir. Jogue fora o que é ruim, retenha o que é bom e conte até dez antes de falar qualquer coisa".

— O que veio fazer aqui, então? — O pai perguntou, aturdido.

"...oito... nove... dez."

Alex soltou os braços ao lado do corpo e se demorou por um tempo observando o casal. No rosto deles, restava apenas a expressão melindrada de quem acabara de descobrir um furúnculo na virilha. Não havia compreensão ali, nem afabilidade. As camadas de orgulho eram grossas demais para quebrar e, nesse momento, qualquer tentativa de penetrá-las só ia fraturar ainda mais seus sentimentos corroídos.

— Só vim dizer que vocês estavam certos — Alex respondeu, emocionado. — Eu precisava crescer, aprender, trabalhar e amadurecer. E eu consegui. Este aqui sou eu, adulto, trabalhando, namorando e vencendo o vício. Vim porque pensei que teriam orgulho de mim, mas já vi que não. Espero que, daqui a alguns anos, eu possa voltar, talvez para que conheçam seu neto, se Deus quiser. E que vocês tenham seguido com a vida; que tenham trocado aquela TV; que você, pai, tenha finalmente usufruído do fruto do seu trabalho; e que você, mãe, tenha descoberto o que é pedir uma pizza com Coca-Cola num sábado à noite.

Com isso, Alex deixou a casa dos pais. Do lado de fora, Hannah o aguardava e o recebeu nos braços quando ele irrompeu em lágrimas.

O mundo dá voltas, nada é para sempre, tudo se repete, e ninguém sabe onde sua própria história vai dar. Mas você não precisa estar sozinho no final.

Não mesmo.

***

Caro pai, como é bom ter por que se orgulhar

A vida pode passar, não estou sozinho

Eu sei se eu tiver fé eu volto até a sonhar

Livre pra poder sorrir, sim

Livre pra poder buscar o meu lugar ao Sol"

(Lugar ao Sol - Marcão, Chorão)

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro