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3 - Ad Libitum

Ad Libitum (ital.): na música significa que o trecho deve ser interpretado à vontade do intérprete, sem prender-se a uma pulsação.

ad.Lib.

Duda tirava um chope da bomba quando o viu entrar no bar. Não tinha como não vê-lo, simples assim. Como ela, várias pessoas também notaram quando ele caminhou pelo salão, principalmente mulheres, que torciam o pescoço para acompanhá-lo enquanto ele se dirigia ao balcão.

Ele pareceu mais alto do que ela se lembrava e trajava a mesma jaqueta de couro, jeans surrados, coturno e uma camiseta preta. No peito, uma corrente e um cordão de couro sustentavam um pingente em forma de palheta e uma cruz celta, sucessivamente. Os cabelos compridos e presos e o olhar de deboche o tornavam ainda mais sensual. Ela tinha uma boa visão dele agora, do rosto atraente, da tatuagem que dava a volta no pescoço e descia pelo ombro. Ela adoraria saber até onde a tatuagem ia.

— Você de novo... Duda, é isso? — Ele tinha um meio sorriso no rosto, e fingia surpresa.

Certamente, não estava mais surpreso do que ela. Duda se manteve calada por muito mais tempo do que seria natural, perdida no sorriso delicioso que ele sustentava.

— Oi... ah... — ela se perdeu no que dizer. Algo entre "Seus dentes são mesmo de verdade?" e "Cacete, quem te deu esses olhos?". Ele continuou sorrindo, até que ela se lembrou do que estava fazendo ali. — Ah, sim... Vai tomar o quê?

Ele achou divertido o jeito confuso dela e, propositalmente, não respondeu. Ela ficou esperando até que outro rapaz a chamou para completar o copo, livrando-a do instante constrangedor.

Ele usou o momento para observá-la no uniforme do bar: uma camisa cor de mostarda com botões na frente e o brasão da casa no bolso. A camisa evidenciava o volume dos seios fartos, e os braços, outrora cobertos de pulseiras, agora estavam ocultos sob uma malha térmica preta. Os volumosos cabelos presos no alto da cabeça num rabo de cavalo deixavam ver a pele alva do pescoço. A boca rosada e bem desenhada não sorria, e uma ruga suave entre os olhos generosamente delineados com lápis preto denunciava que ela estava contrariada com alguma coisa. Quando ela voltou para perto dele, finalmente ele pediu uma cerveja.

— Desculpe. Hoje estou sozinha no balcão, e é sábado! O filho da p... — Em tempo, ela se lembrou que o homem à sua frente era um cliente, então segurou a língua ferina —, o outro atendente não veio, disse que tá com dor de dente. Pior é que a casa nem chegou a encher ainda. Ah, desculpa de novo, isso não é problema seu.

Então foi até outro casal que a chamava. Enquanto a via preparando drinques, Rick se perguntou, pela segunda vez no mesmo dia, por que uma mulher como ela não estava em um palco ao invés de escondida atrás de balcões.

Perguntou-se também por que estava tão interessado na aparência física dela.

— Ei... precisa de ajuda? — ele se atreveu a perguntar. Ela só o olhou com estranheza e continuou concentrada no Negroni que preparava.

Que bela mal-humorada ela é... ele se pegou especulando se ela seria sempre emburrada assim e o que precisaria fazer para arrancar um sorriso dela. Enquanto pensava nessas coisas, viu outra pessoa, com o mesmo talento de atrair olhares, entrar no bar.

— Faaaaaaala brother!

Júlio se aproximou estendendo o braço para um toque de mãos de parceiros. Rick sorriu e se levantou para um abraço.

— Pô, cara! Quanto tempo! — exclamou enquanto dava tapas nas costas de Júlio.

Duda pausou o preparo da bebida para observar os dois aparentes "velhos amigos" se cumprimentando. A imagem daria um belo pôster: Júlio de um lado em toda a sua exuberância afro de lábios carnudos e músculos à mostra, e do outro o próprio Adônis tatuado e barbudo. Ela bem poderia ter um pôster desse em seu quarto para alegrar suas noites...

— Duda, esse é Rick Moreno, um velho amigo! — Júlio se apressou em lhe apresentar o belo homem, como se ela já não o tivesse visto. Visto, analisado, fantasiado...

— Oi, tudo bem? — ela o cumprimentou com um pouco mais de cortesia dessa vez, por estar em frente ao dono do bar. Rick continuou se divertindo com a situação.

— Duda, preciso te falar. Esse é "o cara"! Pena que você não é artista, porque, se fosse, esse carinha aqui ia fazer você voar! — Júlio dava tapas no peito de Rick enquanto falava.

Duda, obviamente, se pegou pensando em como "esse carinha" poderia fazê-la voar.

Desconcertado, Rick olhou para ela pensando no porquê de Júlio, seu empregador, não saber que, de fato, ela era uma artista. Imaginando que ela tinha seus motivos para esconder isso, seguiu jogando o jogo dela.

— Você me apresentou a ela, mas não a apresentou a mim, Júlio. Onde estão seus modos? Sorte que a gente já se esbarrou por aí, não é Duda? — Ele a olhou diretamente nos olhos, e ela sentiu o olhar enigmático enviar faíscas direto ao seu baixo ventre. — Certamente, se você fosse musicalmente talentosa, eu poderia explorar suas habilidades da melhor maneira... — ele concluiu com uma voz suave que, surpreendentemente, ela conseguiu ouvir acima do burburinho de conversas e música do bar. Constrangida com a própria reação, ela pediu licença para atender outro casal que se aproximava.

— Joia rara essa aí — Júlio afirmou quando ela se afastou —, tá aqui no bar tem uns meses, e já é ponta firme até o último sair da casa. Marrenta que só, não dá mole pra ninguém. Gosto dela.

— E mesmo assim você deixa a moça sozinha no balcão para atender a essa galera toda? — Rick indagou, de fato, intrigado com o grande volume de gente que ia chegando ao local conforme a hora avançava.

Além dela, dois garçons transitavam pelo salão e serviam às mesas, mas o movimento maior de pessoas ficava em torno do bar por ser bem próximo ao palco. Rick sempre se surpreendia em como a noite de São Paulo podia ser movimentada e imprevisível.

— Jonas faltou, tá doente ou algo assim. Ela dá conta, sempre dá.

Rick ficou quieto. Mesmo contrariado com a situação, não falou mais nada. Não era um problema seu, afinal.

— Daqui a pouco a banda entra. Você vai ficar direto, não é? Vai fazer um favor pro velho amigo... — Júlio indagou.

— Claro, parceiro. Foi pra isso que eu vim. Mas o que eu posso analizar que você já não tenha avaliado? Você é o melhor pra opinar nessas coisas.

— Mas é o teu nome que circula por aí, velho. Um comentário teu no perfil do bar e eu fico de boa. E tem aquele lance da produção, que te falei.

Rick achava isso no mínimo curioso. Musicalmente falando, Júlio era muito melhor do que ele. A única diferença entre eles, o que fora relevante para ele alcançar mais fama do que Júlio, fora o simples fato de ter morado na Europa. E mesmo essa fama era relativa, já que se saíssem perguntando por aí sobre Rick Moreno, pouca gente saberia quem era ele, afinal, não se tratava de um artista popular.

Produtores não têm nome no cenário musical brasileiro.

— Fica tranquilo. Vou ficar na área — garantiu ao Júlio.

Júlio se afastou para socializar com outras pessoas, deixando Rick sozinho com seu copo de cerveja e sua vista para Duda. Ele permaneceu por ali até começar o show com a banda Dropp, que Júlio tinha feito tanta questão de mencionar.

Rick não gostava quando alguém falava muito de alguma coisa que curtia, pois se sentia sugestionado. Mesmo assim, deu um gole mais longo na cerveja e se preparou para ouvir o grupo.

No começo a banda impressionou, abrindo o show com uma música famosa do Journey. Sempre dava certo, todo mundo cantava junto... algo comum por aí, até aí tudo bem. Quando estavam lá pela quarta música, ele notou que a banda começou a tropeçar nos arranjos. Seria difícil para um leigo perceber, tanto que o povo do bar não ligou muito, continuou bebendo e dançando ao som dos acordes. Mas Rick percebeu, Júlio também; e, pela expressão que fez, Duda também havia percebido.

A expressão contrariada da bartender evidenciava que ela não estava nada feliz com o desempenho da banda. Distraído, perdeu-se no movimento dos lábios rosados enquanto, inconscientemente, ela marcava o tempo com os dentes ao olhar fixamente para o palco, como quem queria subir lá e consertar tudo.

— Acha que se o arranjo estivesse com 5 bpm a menos, eles conseguiriam fazer a frase de introdução sincronizados? — ele jogou a isca para ela que, distraída, respondeu sem pestanejar:

— O problema não tá na velocidade, mas na resposta do guitarrista, que fica distraído com a performance. Se ele não inclinasse tanto a guitarra para fazer a frase, conseguiria atingir os agudos sem perder o "clique". É só uma pentatônica* simples, não tem nada demais... — Quando notou o que respondia, ela arregalou os olhos e o encarou, assustada. Ele apenas sorriu.

— Boa análise. Considerei isso também.

Aturdida, ela engoliu em seco e se afastou dele.

Que vacilo! Vou esganar Alex mais tarde por ser tão exibido a ponto de me fazer falar em voz alta o que pensava, na frente de alguém aparentemente importante no cenário musical!

Mas tudo bem. Tô me lixando pra isso.

Mentirosa!

Alheio ao monólogo íntimo de Duda, Rick continuou ouvindo atentamente a banda, que depois de duas músicas, retomou o ritmo. Interessado, observou o modo como a contrabaixista era excepcional na marcação do tempo, e achou bem bacana a performance dela, que jogava os longos cabelos escuros para frente, cobrindo o rosto e o instrumento enquanto tocava. O vocalista era bem afinado, agitado e encantou o público, principalmente quando pegou o violão. O baterista parecia ter muita experiência e era notório que ele tocava outros estilos, o que enriquecia seu som. O guitarrista era o mais talentoso de todos, porém um tanto quanto exibido demais.

Bom, guitarrista exibido é praticamente um pleonasmo.

Rick percebeu o evidente alívio de Júlio quando o som entrou nos eixos, e não deixou de notar a indiferença forçada de Duda, que continuava servindo os clientes como se não houvesse música tocando. Ele sentiu uma comichão, uma vontade de questioná-la sobre o porquê de ela se esconder quando poderia estar num palco. Antevendo que seria difícil encontrar alguma brecha naquele verniz de descaso que ela ostentava, pensava numa forma de se aproximar, porém sem pressioná-la.

Enfim, após um clássico dos anos 90, a banda Dropp finalizou a primira etapa do show sob aplausos e pedidos de Bis. De fato, se considerasse o carisma do vocalista e a postura geral do conjunto, eles realmente agradavam o público. Só precisavam de um pouco de refinamento, de profissionalismo para agradar outros além do público leigo. Júlio se aproximou, interessado no que o amigo tinha a dizer.

— A equipe é boa. — Rick concluiu. — Os músicos são talentosos, as canções agradam e o carisma geral atrai o público. Não fosse a preocupação com a performance antes de estarem confortáveis com os arranjos, eles conseguiriam fazer um show mais profissional.

— Acha que vale a aposta? — Júlio questionou, ponderando sobre a análise de Rick.

— Acho que sim, preciso de mais tempo com eles, e também de acesso.

Júlio abriu um sorriso reluzente que fez um lindo contraste com a pele escura, e chamou ainda mais atenção das moças que, como vespas, perambulavam ao redor dele.

— O que você acha? — Rick se virou para o balcão e fez a pergunta à Duda, o que deixou Júlio curioso. Ela não respondeu, só fechou a cara e se afastou dos dois homens.

— Por que você perguntou a ela? — Júlio questionou.

— O principal interessado é o público, meu amigo. Esse é o segredo. Se conseguir fazer uma música que agrada tanto a você quanto a essa linda que tá pendurada aí no seu braço — ele afirmou sorrindo para a loira, que retribuiu prontamente —, aí sim você vai alcançar o que quer.

Júlio sorriu para ele, depois para a loira, e pensou no que de fato queria no momento. Com isso na cabeça, afastou-se com ela para algum canto escuro da casa.

Rick acomodou-se numa banqueta no bar, pediu mais uma cerveja, e enquanto observava Duda discretamente, aguardou a segunda entrada do show.

***

Tramas do sucesso, mundo particular

Solos de guitarra não vão me conquistar..."

(Como eu quero - Leoni / Paula Toller)


* Em música, a escala pentatônica, também chamada popularmente de "penta", é a escala formada por cinco notas musicais. Mais precisamente, as cinco melhores notas de uma escala, que você pode tocar à vontade em cima de um acorde e nunca soará "errado".  

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