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25 - Ritardando

Ritardando (ital.): retardando o andamento. É quando a música começa a ficar mais lenta de forma gradual.


Rick conferiu as horas. Passava das 22h e Duda seguia dormindo, o que era impressionante. Ele sabia, porém, que não era proposital nem consciente, era apenas a mente dela pedindo um tempo para parar de pensar, parar de sentir, como uma fuga da alma, um jeito de tornar suportável a própria existência.

Reconhecia que não era o único responsável por esse quadro. Um beijo roubado levava a um bate-boca, até a uma leve fossa, mas não a uma crise dessas. Isso era resultado de muita porcaria acumulada, coisas que ela nunca dissera, mas que ele entendia muito bem.

Preocupado, decidiu pedir algo para ela comer, talvez ela reagisse melhor depois de alimentada. Abriu um App, pediu uma pizza e resolveu esperar do lado de fora do prédio para que pudesse fumar. Desceu, acendeu um cigarro e ofereceu outro a Juca, que descansava por ali.

O cigarro o fez se lembrar de Vanessa e do fatídico beijo roubado. A memória o angustiava, não o beijo em si, mas a expressão de Duda quando deu meia-volta e entrou no bar. No passado, ele jamais teria rejeitado a atenção de uma mulher determinada, muito menos precisaria que tomassem a iniciativa por ele como vinha ocorrendo regularmente mas, definitivamente, ele não queria a vida de antes. Não depois de conhecer Duda. Ele queria era que ela, e somente ela, roubasse dele todos os beijos que desejasse.

Quando a pizza chegou, ele voltou ao apartamento e encontrou Duda sentada na cama com o olhar perdido. Sentiu o coração falhar uma batida ao notar os cabelos desgrenhados e a camisola amarrotada, quase completamente suspensa sobre as coxas. Ela parecia uma criança que acorda no meio da noite com medo dos monstros debaixo da cama.

Só que Duda deixara de acreditar em monstros debaixo da cama assim que percebeu que os verdadeiros monstros moravam na superfície, alguns dentro dela, e esses eram mais assustadores do que todo o resto.

— Achei que você tivesse ido embora... — ela sussurrou quando o viu.

— Eu avisei a você que não ia embora — ele colocou a pizza no braço do sofá —, vem comer.

Ela foi até o sofá e se serviu de uma fatia.

— Você vai trabalhar amanhã? — ele perguntou depois que o silêncio começou a incomodar.

— Supondo que eu ainda tenha um emprego... — ela se esforçava para ingerir a fatia da massa.

— Duda, você sempre... — ele não sabia como começar. Queria encontrar uma forma de entrar no assunto sem afastá-la.

— Eu sempre o quê, Rick?

— Você sempre fica assim? Quero dizer, essas crises... isso acontece muito?

— Não muito. Só quando... O caso é que... Eu não quero falar disso.

— Você pode conversar comigo se quiser, Duda. Eu realmente quero ajudar.

— Não é problema seu, Rick, e quer saber? Você não tem que aguentar isso, a porta tá aberta e você pode ir embora a hora que quiser. — Ela devolveu a fatia de pizza malcomida à caixa e se encolheu no sofá.

— Duda, não... — Ele também deixou a pizza de lado e se aproximou dela. — Não faz isso. Vem aqui, conversa comigo. Você não tem que me afastar, não precisa me afastar...

— Rick... Eu não consigo. Eu ainda tô meio chateada com você.

Rick a puxou para si e a envolveu num abraço. A princípio, ela enrijeceu o corpo, mas acabou cedendo. Um tempo imensurável se passou enquanto a pizza esfriava no braço do sofá e ele pensava numa maneira de fazê-la se abrir.

— Eu já expliquei o que aconteceu, Duda. Você até me deu um beijo, achei que estivesse tudo bem. O que posso fazer para melhorar as coisas entre nós?

— Não importa o que você faça — ela desabafou. Os vampiros estavam alvoroçados dentro dela. Precisava calá-los de alguma forma, mas não encontrava forças. Quando acordara há pouco e não vira Rick no apartamento, a cena toda do beco voltara à sua mente confusa, reacendendo a desconfiança.

Rick se viu angustiado. O vaivém emocional dela era difícil de interpretar, e ele imaginou por um momento que, se ela conhecesse um pouquinho de seu passado, se ele desse esse passo e se abrisse primeiro, talvez ela entendesse que podia confiar nele.

— Minha mãe foi embora quando eu era criança. Eu tinha uns dez anos de idade na época.

A frase escapou, reverberou no silêncio da sala e caiu no vazio do peito dela. Duda não sabia o que ele pretendia e não estava certa se queria saber mais sobre ele. A insegurança e o medo ainda eram fortes.

— Ela era uma mulher da noite, uma profissional do sexo — ele continuou, alheio às questões internas dela. — Nós morávamos com meus avós, os pais dela. Minha mãe quase não ficava em casa, principalmente depois de um episódio específico, quando eu tinha uns seis ou sete anos, não me lembro exatamente.

— O que houve?

Duda percebeu que ele demorava para continuar o relato. De repente, ela se esqueceu do próprio drama e ficou curiosa. Queria saber mais sobre ele.

— Às vezes minha mãe levava alguém para casa — ele continuou, incerto se deveria ter começado o relato, mas era tarde para voltar atrás. — Não sei se eram namorados ou clientes, mas para todo mundo, eram clientes, porque ela já carregava o rótulo de "puta do bairro". Meus avós brigavam muito com ela, mas não tinham voz, sabe? Eles eram bem mais velhos, minha avó teve ela com quase 40 anos. Então, nessa época que ela tinha uns 30, meus avós já estavam com mais de 70 anos. Enfim, ela fazia só o que queria.

— Seus avós, eles já...

— Sim, infelizmente eles já partiram.

— Sinto muito.

— Eu também... Bom, continuando a história, um desses sujeitos chegou a aparecer mais de uma vez por lá, e ele era violento. Da última vez que ele esteve em casa, ele agrediu minha mãe e fez isso do lado de fora da casa, para todo mundo ver. Foi horrível e, mesmo eu sendo tão novo, achei vergonhoso e humilhante. Depois desse dia, ela nunca mais levou ninguém para casa, mas também começou a ficar cada vez menos por lá.

— Que merda...

— Pois é. O que mais me chateia é que eu tive vergonha da minha mãe antes mesmo de entender o conceito. Eu ficava muito pouco com ela, então meus avós me criaram e fizeram o que podiam, porque ela não ajudava muito. Eles também tinham o jeito deles, sabe? Meio broncos demais, mas tudo o que fizeram, eu jamais poderia retribuir. Minha mãe quase não vinha para casa e, depois de um tempo, desapareceu de vez. Meus avós nunca se queixaram de ter que ficar comigo, mesmo depois, quando eu me tornei um adolescente... difícil.

— Difícil como? — Agora ela estava totalmente interessada na história.

— Bem, minha mãe era prostituta; então, na escola, eu era literalmente o "filho da puta". Você conhece o nível de crueldade dessa molecada, hoje até tentam fazer alguma coisa contra o bullying, mas na época em que eu estudava era um pouco pior. Minha mãe de fato era uma puta, e isso não era segredo para ninguém ali do bairro. Eu comecei a dar problemas na escola; porque, veja bem, eu era o alvo perfeito para as mentes doentias deles, então eu tinha que passar por cima e ser mais forte do que tudo aquilo, e a forma como eu fiz isso...

Ele precisou fazer uma pausa pois não sabia como continuar a história. Não podia revelar que arrumava briga todos os dias, que era agressivo, descontrolado e chegou a ser expulso de três instituições de ensino. Numa das vezes, quando ele tinha apenas catorze anos de idade, brigou com um supervisor e chegou a agredi-lo. O homem não prestou queixa, só que, dias depois, Rick bateu tanto num aluno que o adolescente precisou ser hospitalizado. Tal episódio levou Rick à delegacia e...

Definitivamente ele não podia contar isso à Duda. A última coisa que ela precisava saber era que, se ele não tivesse encontrado ajuda a tempo, provavelmente teria se tornado um desses adolescentes que entram armados na escola atirando em todo mundo.

— Como você passou por cima do bullying? — ela o incentivou depois de notar que ele estava muito quieto. Ele continuou o relato, porém com cautela.

— Eu fui expulso da escola, então me apresentaram algumas opções, dentre as quais, um grupo de apoio para crianças problemáticas.

Ele amenizou bem, já que o laudo dizia: "Indivíduo violento com possível diagnóstico de TEI (Transtorno Explosivo Intermitente). Oferece risco tanto a si quanto aos outros".

— Você deve ter sido uma peste... Você não chegou a mexer com drogas, não é? — Ela não imaginava o nível de problemas que ele dava para justificar ser expulso da escola.

— Não. Nunca. Embora o álcool e o cigarro me acompanhem desde os meus dezesseis anos. Bem, concluindo, esse grupo que eu fui obrigado a frequentar me apresentou a música, o que serviu para acalmar meus demônios internos e, com o tempo, tornou-se minha maior paixão. Eu nem sabia que poderia ser bom em alguma coisa, mas evoluí na música e, enfim... foi o que salvou a minha vida.

— Foi dessas pessoas que você ganhou a palheta?

Ele se lembrou de quando o instrutor de violão lhe entregou a palheta da primeira vez, e ele, muito irado, jogou a palheta de volta no professor. Na semana seguinte, o homem lhe entregou a mesma palheta novamente, e de novo, e mais uma vez, e em todas as vezes que Rick se desfazia do acessório, com a mesma paciência e perseverança o professor o devolvia a ele, até que um dia, Rick ficou com a palheta e a usou por muito tempo até transformá-la num pingente.

— Sim. Esta palheta tem um grande significado para mim, é um símbolo de quando eu me encontrei como músico.

— Então, é por isso que você nunca tira isso do pescoço? Porque de certa forma, isso te representa? — Duda segurou o pingente entre os dedos.

— Pode-se dizer que sim.

— Por que está me contando essas coisas? — ela questionou, intrigada e tocada pela história dele.

— Eu tive meus problemas, Duda. Eu estou te contando por que preciso que você me conheça, me entenda e porque quero te conhecer e te entender. O que eu sinto por você... Eu não posso mais ignorar isso. Eu quero entrar aí — ele repousou a ponta do dedo no peito dela de modo suave — nesse lugar que você fecha a todo custo.

Duda sentiu as lágrimas subindo aos olhos. Não estava pronta para se abrir ou para o conhecer melhor. Ela tinha medo do que podia descobrir, do que ele podia descobrir e se decepcionar. As pessoas não mudam, certo? Ela ouviu isso a vida inteira.

"Você sempre vai ser uma inútil!"

"Você nunca vai chegar em lugar algum."

"Você não deveria ter nascido..."

— Você nunca mais soube da sua mãe? — ela arriscou a pergunta, só para afugentar as lembranças.

— Janice. Esse era o nome dela. Ela morreu faz quinze anos, de uma infecção respiratória. Eu tinha dezesseis anos na época.

— E o seu pai?

— Eu nunca conheci meu pai.

Ela concluiu que, dada a sua experiência, ele poderia se considerar afortunado. Foi absorvendo a história dele aos poucos. Uma parte de si queria abraçar a criança abandonada, a outra tinha medo de dar um passo e levar ambos para o abismo.

— A gente precisa cuidar disso antes que infeccione. — Com os dedos feridos de Duda entre os seus, ele tentou desviar a atenção de si. Estava constrangido agora que terminou o relato.

— Não é nada. Eu estou bem, então acho que você já pode ir embora agora — ela desentrelaçou os dedos e fechou as mãos.

Rick sentiu como se um vento gelado empurrasse e abrisse a porta do seu coração com violência, fazendo-a se mover e ranger sem controle, trazendo folhas secas, sujeira... e frio. Muito frio.

Ok. Então vai ser assim.

— Você prefere que o Alex venha pra cá? Parece que só ele consegue cuidar de você — sua voz saiu amarga. Ele nem tinha comentado sobre o beijo que testemunhara no bar ou sobre a alegria dela com o retorno do guitarrista. Sabia que não era bem-vindo na história deles. Frustrado, arrependeu-se por ter dividido a própria história com ela.

— Não é isso, é... Complicado.

Duda, apesar de tentar afastar Rick por medo ou insegurança, ela tampouco queria Alex. Ela queria Rick, e era isso o que mais a assustava. Tinha medo de se abrir, de se entregar e cavar a própria ruína. Ela tinha certeza de que se chegasse ao fundo do poço outra vez, fosse por qualquer motivo, não teria forças para subir novamente, e as sensações que Rick causava nela, a forma como ele invadia os recônditos mais obscuros de sua existência o tornava um forte candidato a levá-la direto para o inferno.

— Duda, eu te... eu não vou embora. Eu vou ficar aqui até ter certeza de que você está bem. Tenta comer, por favor.

Ele não conseguiu dizer as palavras nunca ditas. Preferiu guardá-las para si, pois já havia se aberto demais, se entregado demais e sentia a alma frágil como um dente aberto. Um sentimento de derrota e cansaço o impeliam a fugir e se encolher em qualquer canto longe dela. Entretanto, prometera a si mesmo tentar, então ia continuar tentando.

Duda terminou de comer a fatia como se fosse um zumbi, depois se deitou novamente na cama. Resignado, ele guardou o restante da pizza na geladeira. Não queria forçar a barra, sabia que ela precisava de tempo e não havia como acelerar as coisas.

Sem saber muito bem o que fazer, ele viu o violão no suporte e o pegou sem pedir permissão. Afinou as cordas, testou o braço e então começou o dedilhado lento de um arranjo improvisado de Blackbird, dos Beatles. O som tinha o objetivo de acalmá-la, mas terminou por destilar sua própria angústia.

Duda ouvia as notas tristes e sentia o peito expandir como se não houvesse espaço suficiente. As notas foram gotejando dentro dela e, de alguma forma, amenizaram a dor. Foi como quando se limpa um machucado, a dor é forte no início, mas quando as bactérias param de agir, a dor diminui. Foi como o gotejar de uma medicação em soro na veia, agindo lenta e eficazmente. Talvez fosse assim com a alma. Talvez fosse assim com tudo. Aos poucos, os vampiros se recolheram, e ela finalmente descansou no travesseiro úmido de lágrimas.

Rick percebeu quando ela dormiu e se acomodou no sofá. Não queria impor a própria proximidade a ela. Também não a queria tão perto de si quando sua carne ainda gritava de angústia e desilusão. Sempre estivera sozinho e era bom que entendesse que era preciso mais do que a vontade de um para as coisas acontecerem entre duas pessoas.

***

Rick sentiu uma cócega no peito. Em meio à escuridão do sono, uma leve pressão em seu abdômen o empurrou em direção à consciência, porém ele resistiu. A escuridão o abraçou, atraente e confortável, mas um leve fisgar em seu baixo ventre o impeliu novamente em direção à lucidez, e ele começou a caminhar para o despertamento lentamente, aos poucos ganhando ciência de que não estava sozinho.

Abriu os olhos e a encontrou, sua fada, pairando sobre seu corpo. Como num sonho, a boca rosada passeava por seu peito e as mãos delicadas o tocavam em lugares proibidos. Ele arfou quando ela introduziu a mão por dentro de sua calça, de onde sentiu o sangue pulsar e enviar o calor a cada extremidade do corpo. Então ela foi se aproximando do seu rosto.

Os cabelos, razão da comichão inicial, faziam o passeio de volta pelo seu tórax, distribuindo faíscas, até que a boca capturou a sua, quente, molhada... exigente. Ele sentiu a língua forçando seus dentes, então se lembrou de que tinha mãos e as usou para segurar-lhe a nuca. Enroscou os dedos nos cabelos, sentiu o aroma de pêssegos e a pressionou contra si. Ela gemeu, e só então ele compreendeu que não estava sonhando.

— Duda...?

O sussurro vibrou nos lábios dela, que respondeu interrompendo o beijo e deslizando as mãos por seu abdômen. Os dedos repousaram no cós da calça e a puxaram para baixo, libertando-o, expondo-o em seu total despertamento.

Ele ofegou e segurou-a pelos pulsos. Num movimento rápido, ela o montou, se encaixou e o levou ao limiar da insensatez. Ele a envolveu e foi envolvido por ela. Ele se moveu e a moveu sobre si até não poder mais parar, até que ela desabou sobre seu corpo ao mesmo tempo em que ele se exauria nela.

A respiração arquejante de ambos pôde ser ouvida acima do ruído do trânsito que se acumulava do lado de fora. Ele sentiu a agradável pressão do corpo macio sobre si e captou sob a palma das mãos a leve camada de umidade da pele clara. Aspirou os cabelos fartos e sentiu o hálito quente em seu pescoço. O peito apertou, a alma gemeu, os olhos suaram.

— Eu amo você, Duda.

Sentiu o corpo dela se contrair, depois relaxar e se soltar sobre si. Ela não disse nada, e ele nem se importou, pois quando as palavras ganharam vida naquele quarto/sala cheio de caixas, livros e memórias empoeiradas, a garra em seu peito finalmente se dissolveu e desapareceu nas sombras.

***

Eu queria ver no escuro do mundo,

onde está tudo o que você quer

Pra me transformar no que te agrada,

no que me faça ver

Quais são as cores e as coisas pra te prender

(Quase um Segundo - Herbert Vianna)

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