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20 - Diminuta

Diminuta: conhecida por criar uma sensação de tensão e instabilidade na música, devido ao trítono, um intervalo altamente dissonante de qualidade instável e inquietante.


Duda tirou o domingo para arrumar o apartamento. O fato de Rick ter passado duas noites ali acabou animando-a a organizar a tralha das caixas jogadas pelo chão e guardar as roupas e a bagunça espalhadas pelo espaço todo.

Não que ela se importasse com a opinião dele, definitivamente ela não dava a mínima, mas era bem constrangedor ter calcinhas penduradas nos registros do banheiro quando um homem ia a sua casa.

Ela não se considerava uma pessoa relaxada, ao menos não no sentido de ser uma pessoa suja, ela apenas trabalhava demais. Mantinha um emprego de segunda a sábado na galeria, cumprindo seis horas ininterruptas de trabalho até às três da tarde. De terça a domingo, ficava no Johnny-John das 18h à meia-noite, e sempre cumpria mais do que isso para acumular horas extras. Em suma, ela não tinha dias de folga, apenas períodos que se resumiam aos domingos de manhã e às segundas-feiras à noite.

O trabalho sempre fora a reação de Duda para tudo à sua volta. Não se tratava de ambição, sempre fora necessidade e fuga. Ela entendera isso muito cedo, quando arrumou o primeiro emprego de auxiliar de telemarketing aos dezessete anos de idade.

Com o primeiro salário em mãos, chegara para Henry dizendo que ia embora. Ele sequer se movera do sofá, terminara de fumar o cigarro e, antes de acender outro, deixara soar as últimas palavras que dirigiu a ela:

"Antes de sair, deixe a chave da casa sobre a mesa e feche a porta."

As palavras ainda ecoavam dentro dela e, em alguns momentos, por breves instantes de incerteza, ela imaginava que ele não a tivesse levado a sério na época. Ela esperava, até ansiava que ele estivesse fazendo algum dos jogos psicológicos que costumava fazer, transferindo para ela a culpa de tudo o que acontecera de ruim com ele. No entanto, quando se lembrava da despedida, ficava claro que ele não se importava de fato.

No final das contas, ela levou as palavras dele para vida. "Antes de sair": de qualquer lugar, relacionamento ou situação... "deixe a chave": o vínculo, a esperança ou apego... "e feche a porta": encerrar o assunto e seguir em frente.

Quando se vira sozinha com um salário-mínimo em mãos, morando numa grande metrópole como São Paulo, se dera conta de que aquilo não bastaria para pagar um aluguel, se alimentar e se vestir. Na época ela tentara ajuda com Alex, porém ele também estava a ponto de ser escorraçado da própria casa, então ela acabara se contentando com uma vaga numa república de mulheres, no bairro do Brás, Zona Leste da capital.

O lugar era minúsculo, um quarto e banheiro num espaço compartilhado com mais oito moças. Ela ficara mais de um ano naquele local que abrigava profissionais do sexo, imigrantes, pessoas comuns e outras estranhas como ela mesma.

Quando conseguiu trabalho na Galeria do Rock, o salário superior lhe permitira locar um apartamento minúsculo a poucas quadras do trabalho. Jorge, seu generoso patrão, ajudara muito com isso, propondo que ela mantivesse o valor do vale-transporte como bônus. Isso e a comissão que ela recebia por venda a ajudaram a adquirir as poucas coisas que possuía no apartamento, cuidadosamente garimpadas em brechós pela cidade.

Depois de dois anos, com os aluguéis em aclive acentuado, chegara a pensar que não conseguiria mais morar no Centro. Na mesma época, Alex fora expulso da própria casa e, sem ter para onde ir, ele chegara a ficar com ela por dois meses, porém a relação deles não dava certo já que Duda não tinha paz nem um segundo sequer com ele escapando o tempo todo para se drogar.

Alex, por fim, conseguira trabalho e, assim como ela no início, resolvera morar numa república. Os anos foram passando, Alex fora se firmando na Banda Dropp e, um certo dia, a indicou para a oportunidade de trabalho no Johnny-John. O salário era ótimo, melhor que o da galeria, então ela conseguiu melhorar um pouco a qualidade de vida.

Atualmente, com o dinheiro que recebia, conseguia pagar o próprio aluguel e ainda ajudava Alex quando ele precisava. Ela até gostaria que morassem mais próximos, porém não tinha como ajudar mais, o custo de vida em São Paulo sempre foi extremamente alto.

Duda se contentava em morar sozinha. Não precisava fazer nada a não ser chegar, dormir, comer e fazer tudo de novo no outro dia. Nunca sentira falta de alguém com ela naquele espaço tão íntimo. Entretanto, nessa manhã, ela se sentia um pouco desanimada por Rick ter saído antes que pudessem conversar sobre qualquer assunto. Ele fora embora cedo e, pela primeira vez, ela desejou que alguém estivesse ali com ela. Não alguém; e, sim, Rick. Ela quis que ele ficasse, mas ele partiu, e ela voltou a dormir.

Ela estava com muita dificuldade de deixar a chave e fechar a porta.

Depois do clima chato no bar, eles não fizeram nada além de se pegar, fosse no chão, no chuveiro, no sofá, na cama... bem, ao menos o apartamento era bem pequeno. Não que ela estivesse reclamando, absolutamente não, mas dormir é uma necessidade inerente ao ser humano. Além do mais, o silêncio dele o tempo todo em que estavam juntos a deixou insegura, como sempre. Porém, ela bem que merecia por ser uma idiota que não falava nada de útil, só sabia resmungar, sempre sob uma capa de orgulho, achando que essa atitude era capaz de protegê-la de tudo e todos.

Mas agir assim não a protegia de si mesma. Os complexos e medos a arranhavam por dentro, não por fora. O fato de ter um homem como Rick interessado nela era assustador e tão improvável que era difícil de acreditar, por isso parecia tão efêmero. A baixa autoestima fazia com que ela se sentisse apenas uma distração, alguém disponível para diverti-lo quando ele tivesse vontade.

O que ela esperava? Se jogara em cima dele na primeira e na segunda vez, e não fizera nada quando ele finalmente tomara a iniciativa. Ela praticamente colocara uma placa de "ME COMA" no pescoço durante os shows enquanto ele tocava.

Enfim, não adiantava perder tempo com isso. Duda começou, então, a arrumação pela estante cheia de livros e revistas ao lado do sofá. Sempre havia um acúmulo de papéis ali, contas de consumo, panfletos e propagandas que, ao invés de jogar fora, apenas empilhava.

Enquanto ensacava a papelada inútil sem prestar muita atenção ao que fazia, encontrou um Pozzoli, um livro de música com exercícios voltados à prática rítmica. Próximo a ele, vários outros métodos de música, livros com repertório de compositores nacionais e internacionais e partituras avulsas. Além do material para violão, como Carcassi, Carulli, também havia muitos livros de piano, como Beringer, Hanon, J. S. Bach, Villa Lobos, Czerny, entre tantos que ela trouxera consigo quando saíra da casa do pai.

Ela não entendia muito bem por que fizera isso, talvez fosse a raiva que sentira quando separara suas poucas roupas e sapatos e concluíra que, além do violão, tudo o que ela possuía de uma vida inteira cabia em uma única mochila. Alex tinha conseguido pegar o carro do pai emprestado para levá-la à república onde ela iria morar e, envergonhada por não ter quase nada para levar, ela pegara algumas caixas que havia separado e colocara nelas tudo o que pôde carregar dos livros, discos, partituras e métodos. Henry sequer erguera os olhos para ela quando se despediu, então nem se importara com o que ela estava levando embora.

Ela estava se levando embora, e ele deveria se importar com a perda ao menos desse bem. No entanto, ela estava longe de ser importante.

Lembrar-se da dor no momento da despedida pela indiferença de Henry fez os olhos de Duda ficarem marejados, e uma lágrima chegou a escorrer, porém ela enxugou o rosto, irritada. Hoje não, não ia deixar a nuvem carregada assombrar seu interior, caso contrário, ela acabaria mais uma vez enrolada no edredom, dormindo até a hora de sair para trabalhar, e a arrumação nunca iria acontecer.

— E você, Gato? Vai ficar aí, só olhando? Você poderia ser mais útil!

Meow...

Duda pegou o felino no colo e ficou um tempo fazendo carinho no pelo macio, até que o bichano, na tentativa de escapar do abraço, unhou seu braço e correu para cima do sofá.

Enquanto o animal de pelos alaranjados a contemplava de longe, ela entendeu aquela história de que os animais são um reflexo dos seus donos. Duda tinha um gato ruivo que queria carinho, mas quando se sentia preso, colocava as garras de fora e machucava os outros, mesmo sem querer machucar.

Ela esperava que, da próxima vez que encontrasse Rick, conseguisse entender melhor o que significavam um para o outro e que mantivesse a língua ferina dentro da boca, ao menos no que dizia respeito a falar.

***

Você tá sempre indo e vindo, tudo bem.

Dessa vez eu já vesti minha armadura,

e mesmo que nada funcione

eu estarei de pé, de queixo erguido.

Depois você me vê vermelha e acha graça,

mas eu não ficaria bem na sua estante.

(Na Sua Estante - Pitty)

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