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17 - Crescendo

Crescendo (ital.): um indicador de que o volume da música deve aumentar gradualmente, criando uma sensação de crescimento e intensidade.


Após o ensaio, Rick foi direto encontrar Júlio no Johnny-John. Ainda que sentisse cansaço pela noite praticamente insone, achou melhor não voltar para casa e correr o risco de cochilar e perder a hora.

Ele não queria admitir, mas também estava evitando ficar sozinho com as próprias confabulações.

— E como andam os ensaios com a Dropp? Já dá pra notar uma puta diferença no som da turma — Júlio perguntou, distraído com alguma coisa debaixo do balcão do bar.

— Eles são bem dedicados, é fácil trabalhar com eles. O que dá um pouco mais de canseira é o Alex, mas ele é guitarrista então é meio que normal.

— Guitarristas e seu ego... Você também não fica muito atrás, fica botando banca de contrabaixista só pra galera não pegar no teu pé — Júlio troçou, mesmo reconhecendo que não era bem verdade. Rick era orgulhoso, mas não do tipo que punha o ego acima do talento.

— Ah, claro! E os pianistas nem precisam se autoafirmar, afinal, se acham os maestros. Ainda bem que não tem teclado na banda, não tenho paciência pra isso.

Júlio deu uma gargalhada, ainda com a cabeça debaixo da bancada. Nesse momento, o telefone tocou.

— Atende pra mim! — Pediu ao guitarrista. Rick se deslocou até o outro lado do espaço e pegou o telefone.

— Alô? Quem é? — A voz de Duda soou no falante e atingiu Rick como um sopro quente. Ele engoliu em seco ao sentir novamente aquele aperto nas entranhas, a garra opressora abraçando o coração, fazendo-o pulsar mais rápido.

— Duda? É o Rick.

Silêncio. Ele imaginou se ela havia desligado na sua cara ou se a ligação havia caído, mas ela acabou respondendo logo depois.

— Quem mais está aí?

Ele suspirou pesado. Oi, Rick, tudo bem? Como você tem passado? Então, sobre a nossa noite juntos... Ele se viu remoendo. Claro que ela não ia melhorar a postura só porque ele passara a noite abraçado a ela, enxugando suas lágrimas e esmagando o desejo inoportuno enquanto tentava não virar a madrugada inteira em claro debaixo de um gato folgado. Engolindo o rancor, respondeu:

— Só eu, o Júlio e uma pessoa da cozinha.

— Me passa pro Júlio, por favor.

Claro. Por que não? Eu vou bem, caso queira saber. Ele resmungou intimamente, irritado com a polidez dela. Há poucas horas ela estava abraçada a ele usando apenas uma camisola e nada por baixo. Agora era como se ele fosse um funcionário qualquer do bar. Ao menos dessa vez ela usou o "por favor".

Que grande incógnita era essa situação entre eles. Isso estava deixando-o literalmente de saco cheio. Contrariado, passou o telefone para o amigo e esperou o final da ligação, se coçando para perguntar o que ela queria mesmo sabendo que não tinha nada a ver com o assunto. Júlio desligou o telefone e esfregou a barba num gesto de impaciência bem comum nele. Rick não se aguentou.

— Tá tudo bem?

— Uma merda. Duda foi assaltada ontem, roubaram o celular dela, agora ela tá travada, sem dinheiro e sem ter como se comunicar. Ela precisa resolver as coisas, mas como tudo estava no celular, ela nem sabe por onde começar. Vou ter que dar um jeito de entregar um dinheiro a ela ao menos para que possa sair do lugar. Acho que vou lá buscar ela na casa dela.

— Eu ajudo. Pode deixar.

Júlio o fitou com estranheza e, então, abriu um sorriso bobo.

— Tá apaixonado.

Rick fechou a cara.

— Teu cu que eu tô apaixonado. Cuida da tua vida!

— Tá amando e tá bravinho, agora — Júlio falou numa voz cantada e irritante. Ele sabia ser bem filho da puta quando queria.

— Vá se foder, Júlio! Onde ela está?

Júlio passou as informações a Rick que, sem perder tempo com a chacota do amigo, seguiu ao encalço dela.

Duda não imaginava que era Rick quem a ajudaria com seu problema. Ela deu graças a Deus por várias razões: ele tinha carro e sabia exatamente como proceder; ele não era seu patrão; ele era lindo e inteligente e, bem...

Ele era ele.

Primeiro, eles foram a uma loja da operadora de celular num shopping-center perto de onde Duda morava. Lá, ela adquiriu um novo chip e bloqueou o número anterior. Rick acabou comprando um aparelho para ela que, sob protestos, resolveu aceitar com a promessa de ressarci-lo posteriormente.

Ela ativou o novo chip, depois foram juntos até uma praça de alimentação. Enquanto ela baixava os aplicativos, configurava as contas digitais e solicitava o acesso ao banco, ele foi até um caixa eletrônico, sacou uma quantia razoável de dinheiro e a entregou a ela.

— Não precisa disso tudo. Só o suficiente pro transporte já tá bom.

— Só pega a porra do dinheiro, Duda!

Ela arregalou os olhos para ele, intrigada com a grosseria gratuita que não condizia com o que ele tinha feito por ela até o momento. Não fazia ideia de que o feiticeiro também tinha farpas sob a manga e achou até engraçado; porque, era a primeira vez numa conversa que não era ela a primeira a dar o coice.

Rick também se surpreendeu em como estava irritado. Desde o bar, com a indiferença dela, ou pela brincadeira sem graça do amigo. Talvez desde antes. Na verdade, ele tinha medo de saber desde quando. Suspirou e tentou falar sem parecer um cretino.

— Me desculpe, ok? Só fica com o dinheiro. Você não sabe quando vai precisar e, qualquer coisa, se você faz tanta questão, me devolve depois que resolver o lance com o banco. Mas não fica grilada, no momento, eu realmente não preciso desse dinheiro nem do valor do celular. Me faria muito feliz se você aceitasse isso como um presente.

— Tá tentando me comprar?

Duda não sabia de onde tinha vindo isso. Foi desnecessariamente cruel com alguém que estava apenas tentando ajudá-la. Ele já tinha dado mostras de que não havia segundas intenções no que fazia. Aborrecida consigo mesma, concluiu que estava apenas reagindo ao dentinho afiado de algum dos seus monstros de estimação flagelando suas entranhas, tentando impedir a todo custo que algo bom pudesse acontecer com ela.

Ele não respondeu, apenas saiu de perto dela e foi até a fila de um fast food. Estava tão puto com ela, consigo mesmo, com todo mundo que achava bem melhor se manter calado. Ele comprou um hambúrguer, voltou à mesa e empurrou a bandeja na direção dela.

— Eu não gosto muito dessa carne... prefiro frango, mas tudo bem, eu... — ele suspirou e voltou para a fila do fast food sem uma palavra. — Ei, espera! Eu como esse mesmo, não tem problema...

Ele a ignorou e continuou na fila, porque não queria conversar. Era certo que deveria ter perguntado a ela, mas não o fizera, então pediu o maldito lanche de frango e o entregou a ela, que o recebeu acanhada. Para ocupar a boca com outra coisa que não fosse um cigarro ou um palavrão, ele acabou comendo o outro hambúrguer mesmo sem sentir fome.

Depois de alimentados, ele conduziu uma Duda apreensiva e sem graça até o estacionamento. Ela estava se sentindo uma megera; porque, com todo o seu buraco negro, conseguira fazer desaparecer o sorriso fácil daquele rosto lindo. Por que tinha que ser tão mal-educada? Cansada de tentar se entender, ficou quieta, assim, não ofendia a mais ninguém.

Recostada no banco do passageiro, voltou a pensar no amigo, Alex. Com ele não costumava ser assim. Eles conseguiam ficar horas e horas juntos sem trocar uma só palavra, e estava tudo bem. Mas com Rick ela tinha vontade de se explicar o tempo todo, mesmo que não o fizesse, e o silêncio sempre parecia alto demais. Para não começar outra conversa, fechou os olhos e se isolou do mundo exterior, concentrando-se em si mesma e no seu pequeno e enfadonho universo.

Rick percebeu que, em menos de cinco minutos, ela estava cochilando no banco do passageiro. Tudo bem, ele também estava cansado pela noite em claro e chegou a ter inveja dela por dormir tão displicentemente. Aproveitando-se de que ela não podia protestar, colocou o carro a caminho da Zona Oeste.

***

Duda acordou em outro estacionamento. Nem tinha percebido que dormira. Rick parou numa vaga e abriu a porta para ela que, ainda sem dizer nada, o seguiu até o elevador. Quando as portas se abriram, ela reconheceu o lugar. Era o flat dele.

— Por que você me trouxe pra cá?

— Você parece cansada e aqui já tá do lado do bar. Eu apenas vou pegar a guitarra e a gente vai direto pra lá, só isso.

Ela aceitou que o argumento dele era perfeito, então relaxou. Enquanto ela o esperava separar os equipamentos, viu um violão de cordas de aço acomodado sobre o sofá e a coceira nos dedos voltou. Ela disfarçou, foi até a janela e, então, devagar, se aproximou furtivamente do instrumento e passou os dedos na escala. Ela não percebeu, mas Rick parara imediatamente o que estava fazendo a fim de observá-la.

Ela estava levemente inclinada sobre o instrumento, os cabelos caíam sobre os ombros, soltos e rebeldes. Só agora ele reparou em como a blusinha que ela usava era apertada e marcava o corpo. A calça jeans era justa e rasgada nos joelhos, e o Converse de cano alto fazia ela parecer ter quinze anos outra vez.

Ele se aborreceu por agir como se a conhecesse desde os quinze anos de idade. Quisera fosse verdade, assim talvez ele tivesse a importância que Alex parecia ter para ela. Viu quando ela enroscou o dedo em uma corda fazendo soar uma nota sol, e se encolher quando percebeu que ele a assistia.

— Desculpe...

Ele não disse nada. Só colocou a guitarra no bag e caminhou em direção a ela. Ele percebeu como ela prendeu o ar quando ele chegou bem perto, estendeu a mão em sua direção e passou direto por ela para pegar o violão. A situação o divertiu um pouco, foi bom saber que podia causar alguma reação nela enquanto ela o deixava a ponto de explodir.

— Por que não toca? — ele arriscou.

— Eu... não consigo mais.

— Não acho que seja isso — ele afirmou enquanto olhava as mãos dela, as unhas curtas da mão esquerda em contraste com as da mão direita, que eram um pouco mais compridas a fim de facilitar o tanger das cordas. Uma pessoa que não tocava não repararia nisso. Uma pessoa que não tocava não deixaria as unhas assim. — Prefere cordas de nylon? Eu tenho um ali, naquele case.

Duda olhou na direção em que ele apontava, porém não se moveu. Ele avançou, pegou o outro violão e estendeu para ela que, constrangida, acabou aceitando o instrumento. Quando o tocou, sentiu um leve tremor percorrendo seu corpo em expectativa e, finalmente, entendeu que era um pouco tarde demais para fingir que não queria ou que não sabia tocar.

Ainda insegura, se acomodou na beirada do sofá e apoiou o instrumento na perna esquerda. Ficou alguns segundos parada, analisando, se preparando, escolhendo, então ajustou as tarraxas para afinar o violão. Respirou fundo e finalmente começou o dedilhado emotivo e suave de Remembrance, uma peça de Sérgio Assad.

Rick sentiu o mundo suspenso à sua volta, como numa cena de luta de Matrix*, quando a câmera gira em torno dos elementos congelados no ar. Ele se sentiu exatamente como um objeto inanimado orbitando ao redor dela, que concentrava em si mesma toda a energia do ambiente enquanto as notas tristes fluíam do instrumento.

Ele já tinha sacado que ela sabia tocar, e o tema não era dos mais difíceis, contudo, era o jeito como ela tocava, a forma como fazia as notas soarem... Se as lágrimas pudessem emitir algum som, esse seria o som delas. Ele sentiu cada agudo como uma pontada em seu peito, cada médio como um sopro morno, cada grave como um abraço. Era como um gotejar da alma, e aquela vontade de chorar que o acometera mais cedo naquele mesmo dia, voltou com força agora, fazendo-o travar a garganta até doer.

Ela finalizou a peça e devolveu o instrumento ao case aberto no chão. Ele se levantou e se aproximou dela. Tinha o coração pulsando como louco, a mandíbula travada e a respiração irregular.

— Quer saber, Duda? Eu não tô mais suportando isso...

Com ambas as mãos, ele envolveu o rosto e o pescoço esguio e a encarou por um instante. Um ofego escapou dos lábios femininos, surpresos pelo toque e pela aproximação. Ele não lhe deu tempo de recuar; resoluto, a puxou em direção a si.

Então a beijou.

***

Quando eu soltar a minha voz por favor entenda

Que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando

Coração na boca, peito aberto, vou sangrando... 

(Sangrando - Gonzaguinha)

___________

* Filme australo-estadunidense de 1999, dos gêneros ação e ficção científica, dirigido e escrito por Lilly e Lana Wachowski.

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