| 7 | 𝑨𝑻𝑶 𝑫𝑬 𝑪𝑶𝑹𝑨𝑮𝑬𝑴
Se você for eu ficarei
Você voltará, eu estarei bem aqui
Como uma barcaça no mar
Na tempestade eu fico clara
Porque tenho minha mente em você
Tenho minha mente em você
𝙔𝙀𝙎 𝙏𝙊 𝙃𝙀𝘼𝙑𝙀𝙉 | 𝘓𝘈𝘕𝘈 𝘋𝘌𝘓 𝘙𝘌𝘠
Uma filha exemplar não mente. Uma filha exemplar obedece sem hesitar. Uma filha exemplar não levanta a voz. Uma filha exemplar sempre cumpre o que é pedido. Uma filha exemplar tira boas notas. Uma filha exemplar não tem problemas na escola. Uma filha exemplar...
Eu desejava ser mais do que Sorah, a filha exemplar da família Philips. Queria ser mais do que aquela que sempre atende às expectativas. Quero ser eu mesma, mas como posso descobrir quem sou se nem eu mesma sei?
Preciso romper essa bolha, a osbolha que eu mesma criei. Sei que é difícil, e para alguns pode até parecer impossível, pois estão tão acomodados em suas bolhas que não querem enxergar outras possibilidades além das que vivem.
— Ok, recapitulando o plano — falei, tentando confirmar o que havia discutido — depois da festa dos meus pais, eu peço para dormir na sua casa e, daí, quando seus pais saírem, nós vamos para a festa?
— Isso mesmo, fácil — a ruiva disse, sentando-se na minha cama.
— E quanto à Serena? — perguntei, um pouco hesitante.
— Ela disse que vai sair mais cedo para que ninguém desconfie. Ela já estará na festa quando chegarmos — ela respondeu despreocupada, deitando-se na cama.
— Só acho que poderíamos pegá-la antes de irmos.
Ela negou com a cabeça e se sentou novamente na cama.
— Primeiro: ela vai mais cedo para que sua mãe não desconfie. E segundo: nós vamos de Uber, porque se meus pais perceberem que o meu carro não está na garagem, vão saber que fugimos.
Assenti com a cabeça.
Estava ansiosa, enquanto os dias passavam, mal podia esperar pelo meu primeiro ato de "rebeldia".
Pelo que sei, Serena conseguiu convencer meu irmão e Serenity sabe exatamente como devemos proceder sem que ninguém perceba. Pelas palavras dela: "é só a gente dar uma escapulida, fácil."
Minha mãe nunca deixaria que eu fosse para uma festa no mesmo dia do evento de negócios dela. Ela sempre organiza uma festa grandiosa e temos que estar vestidos de acordo com o tema. Hoje, o tema era céu e eu e as garotas fomos às lojas escolher nossos vestidos.
Na maioria das vezes, cada uma se arruma em sua própria casa, mas dessa vez combinamos de todas se prepararem na minha casa para ser mais rápido.
Meus pais ainda não voltaram da viagem, só vão retornar na sexta, e hoje é quinta. Eles também não sabem do que aconteceu na terça e, graças a Deus, os pequenos hematomas do meu irmão desapareceram. Ou seja, não tem como desconfiarem que ele se meteu em encrenca na mesma noite que viajaram.
Os machucados dos amigos dele também diminuíram. O olho do Klein ainda está roxo, e não, não foi o mesmo olho que a Serena socou. E a boca do Luciene ainda está levemente cortada, um pequeno corte, mas nada profundo.
Hoje, para passar o dia, fui para o meu ateliê. Quando preciso me distrair dos meus pensamentos, é lá que sempre fico. Desde pequena, desenhar era a minha maneira de fazer o tempo passar mais rápido, e esse hábito não mudou.
Esta semana tem sido agitada, e eu preciso me expressar de alguma forma, já que falar não tem sido suficiente.
Passei o dia pintando e escutando música, sentindo o que o cantor queria transmitir, a melodia, murmurando baixinho com os olhos fechados.
Quando percebi, havia desenhado um show. Um palco com instrumentos e, ao longe, pessoas cantando e dançando. Sim, dançando. Na minha mente, esse show realmente acontecia, eu realmente estava lá, e me sentia feliz.
Mas então percebi: estava sozinha e infeliz com quem eu era. E eu realmente precisava de ajuda.
Quando dei por mim, já era fim de tarde. Não que fosse cedo quando cheguei em casa depois das compras, mas já estava quase anoitecendo. Então, tive uma ideia.
Um ato de coragem.
Ou de loucura.
No muro perto do ateliê havia uma grade com plantas trepadeiras, e eu a escalei. Subi o mais alto que consegui até chegar ao topo do muro. E o que vi foi incrível.
Da minha casa, dava para ver perfeitamente a roda gigante e o Big Tower de Londres. E o rio refletia o céu que estava em tons de roxo e laranja.
Um pequeno ato de coragem é tudo que preciso.
É tudo que necessito.
Uma hora depois, a escuridão já havia tomado o céu e algumas estrelas começavam a aparecer. Pulei do muro e aterrissei no chão com um baque.
— Ou tá caindo loira e eu nem tô sabendo? — disse Klein, enquanto eu me levantava. — Se machucou?
Balancei a cabeça negativamente, e ele, por alguns instantes, examinou-me com cuidado para se certificar de que eu não havia torcido ou quebrado nada.
— Tem que tomar cuidado, loira. Já basta o cabeça oca do seu irmão — ele disse, tentando aliviar o clima, enquanto olhava para o muro de onde eu tinha pulado. — E então, a vista lá de cima é realmente tão boa?
— É sim. Se quiser, na próxima vez que houver um pôr do sol, eu te chamo. A vista é esplêndida.
Ele soltou um sorriso silencioso e balançou a cabeça em negativa.
— Gosto mais de saber que esse é o seu lugar secreto. Eu já tenho o meu.
Sorri, entendendo o que ele queria dizer.
— Não se preocupa, não vou contar pro seu irmão que a irmã dele tá dando uma de Jane, a namorada do Tarzan — ele falou, se aproximando e colocando os braços ao redor do meu pescoço. — Agora vamos, porque a Margarida já fez o jantar e só estamos te esperando.
Por mais que eu e Klein não conversássemos muito um com o outro, tínhamos uma interação boa. Ele não me irritava ou tirava sarro de mim — como fazia com a Serena —, mas também não me colocava num pedestal onde eu me sentisse desconfortável — como meu irmão faz.
Ele me fazia sentir como uma pessoa normal, com liberdade para fazer minhas coisas e falar sobre assuntos de que gosto..
Enquanto estávamos entrando na cozinha pelo lado de fora, meu irmão entrou pelo lado de dentro.
— Achei sua versão melhorada, Blayne — disse ele, fazendo meu irmão revirar os olhos.
— Onde você estava? Te procurei na casa inteira — seu tom era sério e preocupado.
— Estava no ateliê — respondi, vendo sua feição relaxar um pouco.
Jantamos em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Depois, nos retiramos para nossos quartos. Ao entrar no meu, tirei o caderno de desenho da mochila. Esse caderno era meu diário, ou, como minhas amigas chamavam, o lugar onde eu podia me declarar para Luciene sem que ele soubesse.
Sim, eu o desenhava.
E o que eu poderia fazer se tudo o que ele faz é arte para mim? Ele sempre foi um garoto tímido e quieto, mas com uma personalidade forte. É fechado e observador.
Irônico, não? O observador sendo observado.
Ou o admirador sendo admirado.
Suspirei ao ligar a TV, enquanto Marie, minha gata angorá, saltava para o meu colo. Quando a vi pela primeira vez, lembrei imediatamente do meu filme favorito, "Aristogatas", e da personagem Marie. Assim como a personagem, minha Marie é delicada, mas também agitada. Adora um cafuné e seu lacinho azul — a única diferença é a cor, já que a original usava um laço rosa.
— Talvez amanhã seja meu ato de coragem, Marie — murmurei, acariciando sua cabeça. A gata miou, como se estivesse debochando. — É sério, não importa o que aconteça, amanhã eu vou me declarar.
Assisti a uma série enquanto comia alguns doces, tentando acalmar a ansiedade. Logo, o sono me venceu.
Amanhã, terei meu ato de coragem.
— Senhorita, já está acordada? — Margarida, a governanta da casa, bateu na minha porta.
— Sim, sim — menti, ainda deitada. — Só vou terminar de escovar os dentes e já estou indo — menti mais uma vez.
Levantei rapidamente, troquei de roupa, separei a blusa que Serena me emprestou, arrumei o cabelo e coloquei meu arquinho. Perfeita.
Ao descer, encontrei meus pais na cozinha tomando café. Minha mãe e eu ainda não tínhamos resolvido o desentendimento sobre a grosseria dela com a minha amiga.
— Bom dia, pai. Bom dia, mãe — disse, sentando-me à mesa para tomar café com eles.
— Bom dia. Onde está seu irmão? — perguntou Julius, meu pai. Dei de ombros, fingindo não saber.
— Pensei que ele já tivesse acordado. Geralmente, a Margarida o acorda antes — disse, enquanto pegava o bule de chá e servia minha xícara.
— Eu o chamei, ele e o amigo dele. Mas ambos já tinham saído mais cedo — respondeu Margarida, colocando um pequeno bolo na mesa.
— Eu também já vou, vou deixar vocês descansarem da viagem — disse, levantando-me. Julius acenou com a cabeça, enquanto minha mãe segurava delicadamente meu braço, tentando me deter.
— Podemos conversar antes? — pediu ela, seus olhos azuis cristalizados demonstrando uma súplica. Respirei fundo e neguei.
Para minha surpresa, ela parecia genuinamente desolada com minha negativa.
— Não é comigo que você tem que conversar — falei, pegando minhas chaves e minha mochila antes de sair para a escola.
A escola foi normal, estranhamente normal. Não vi Serena o dia inteiro. Serenity disse que ela tinha alguns compromissos, mas não soube me dizer o que exatamente.
Harper, como de costume, aproveitou a ausência de Serena e Serenity para me atormentar. Isso acontecia principalmente nas aulas de filosofia e sociologia.
Antigamente, éramos um grupo grande. Eu, Serena, Serenity, Harper, Drake, Blayne e Luciene. Mas, inevitavelmente, crescemos e nos afastamos. Harper começou a andar com o grupo "popular" da época e, de repente, fez de mim e das meninas alvo de chacotas. Nunca entendi por que ela espalhou nossos segredos. Serena, como sempre, não deixou barato e deu uma surra nela.
Naquela época, Serena era mais reservada do que agora. Ela nunca explicou por que perdeu a cabeça com Harper naquele dia. Até hoje, nem eu nem Serenity sabemos o motivo.
Depois da briga, Harper se fez de vítima e contou sua versão da história aos garotos, conseguindo afastá-los de nós. Não muito tempo depois, ela e Drake começaram a namorar.
Nós sabemos a verdade — quer dizer, sabemos que não fizemos nada para merecer aquilo. Mas até hoje, Serena nunca falou sobre o que a levou a bater em Harper.
O namoro deles não durou muito tempo. Após a briga, nossa amizade ficou muito instável. Se não fosse pelo fato de eu e Blayne sermos irmãos, duvido muito que ainda estaríamos no mesmo círculo social.
Voltei para casa depois da aula, exausta e com a mente cheia de pensamentos. Enquanto caminhava até a porta, notei que minha mãe e meu pai ainda estavam na cozinha.
— Você está bem? — perguntou meu pai, levantando os olhos do jornal. Sua voz estava cheia de preocupação.
— Só cansada — respondi, forçando um sorriso. — A escola foi difícil hoje.
Minha mãe me observou por um momento antes de falar.
— Podemos conversar agora? — ela perguntou, sua voz suave mas firme.
Suspirei e olhei para ela. — Não sou eu quem tem que ouvir suas explicações — disse, lembrando-me do desentendimento entre ela e Serena.
Peguei minhas chaves e mochila e me dirigi ao meu quarto, deixando meus pais na cozinha. Enquanto subia as escadas, pensei em como a vida mudou desde aqueles dias em que todos éramos amigos inseparáveis. Agora, tudo parecia tão diferente, tão complicado.
— Meninas, alguém me ajuda a arrumar essa merda desse cabelo — disse Serenity, já irritada, enquanto tentava fazer uma trança na parte de trás do cabelo, sem sucesso.
— Como já estou quase pronta, vou te ajudar — disse Serena, pegando um travesseiro e colocando-o no chão para que a ruiva se sentasse. — Sorah, tem borrifador? E preciso também de secador e alguns enfeites de cabelo.
Assenti e fui buscar os itens no banheiro. Meu banheiro era todo branco, com detalhes em porcelanato ripado. As decorações tinham tons claros, principalmente azul.
Entreguei o que Serena tinha pedido e observei a delicadeza com que ela mexia no cabelo da nossa amiga.
— Agora vou secar — disse Serena, pegando o secador. Depois de secar o cabelo que havia umedecido, fez babyliss na parte solta do cabelo.
— Já vão terminar a maquiagem? — perguntou Serenity, levantando-se. — Eu já estou pronta.
Ela estava deslumbrante em um vestido Halter da coleção da Prada, elegante e feminino em tule, com cristais cintilantes. A peça tinha um corpete halter com gola V, fluindo suavemente para uma saia levemente flared. O logotipo triangular na parte posterior completava o modelo sofisticado. O vestido destacava seu cabelo ruivo, que brilhava como uma constelação.
Sua maquiagem era leve, destacando mais os olhos. Parecia uma obra de arte.
— Já estou quase pronta, só falta eu colocar o salto e ajeitar esse coque para que não caia — disse Serena, colocando mais grampos no cabelo até sentir que estava firme, ajeitando as mechas dos dois lados com babyliss.
Ela usava um vestido longo de seda, com corte justo que acariciava sua silhueta. O estilo sem mangas tinha um decote ligeiramente assimétrico, iluminado por um debrum de strass prateado. Seus olhos estavam bem marcados, e seus lábios, com um nude rosado, quase no tom natural.
Ela me lembrava uma nuvem fofa e delicada.
— De onde é mesmo esse vestido, Serena? — perguntei, terminando de fazer o delineado dos olhos.
— Giorgio Armani — disse ela, calçando um par de saltos Louboutin. — Achei o outro pé do seu Pump Slingback, Serenity.
A ruiva fez sinal para Serena jogar, e ela o lançou com precisão.
— E como estou? — Serenity fez eu dar uma giradinha.
O vestido que eu estava usando exalava elegância atemporal. Era feito de cetim de seda dupla face, cortado em viés, com uma silhueta longa até o chão, finalizada com delicadas alças finas. O busto era destacado com pregas e um sofisticado acabamento de contas e strass bordado à mão, enquanto uma costura estilo espartilho nas costas enfatizava minha figura de ampulheta. Fechado com um zíper invisível, o vestido tinha um acabamento refinado.
Diferente do que eu estava acostumada, optei por algo mais escuro. Senti-me muito bem com a escolha da vendedora.
— Está divina — Disse juntando os dedos de sua mão esquerda e beijado, que nem os italianos fazem.
Eu me sentia como o céu noturno. Meus cabelos estavam todos cacheados, cada mecha presa com uma presilha em formato de estrela. Minha maquiagem destacava bem meus olhos azuis e o gloss.
— Meninas, podem nos ajudar? — meu irmão perguntou, batendo na porta.
As meninas acenaram negativamente, quase implorando para que eu negasse a ajuda. Ri, negando, e fui até a porta.
— Meu Deus, que bagunça — ele disse ao ver o estado do meu quarto. — Precisamos de ajuda com as gravatas e os cabelos.
Assim que ele falou, duas silhuetas maiores apareceram atrás dele, trazendo um pouco de gel e alguns produtos masculinos.
— Entrem, a festa já vai começar — disse, dando espaço para eles entrarem no quarto.
Meu irmão ficou perto da escrivaninha, e Luciene sentou na cama.
— Você e Serena vão arrumar os cabelos deles, e eu faço o nó das gravatas — disse Serenity, pegando a primeira gravata que estava perto dela. — É de quem?!
— É minha — Drake gritou de dentro do meu closet.
— Por que caralhos você está dentro do closet da Cindy? — Serena disse, entrando no closet.
— Achei o que eu mais temia, Vampira — disse ele, olhando para os sapatos organizados. — Um closet de sapatos maior que o seu.
— E eu vou querer saber como você sabe disso — O mesmo negou então Serena deu um tapa na nuca dele. — Agora vai se arrumar antes que a gente se atrase.
Peguei meu creme e o borrifador e fui até Luciene.
— Vou fazer uma rápida fitagem no seu cabelo. Como não temos muito tempo, vai ser só por hoje — ele assentiu, concordando.
Sentei-me no banquinho, ficando de frente para ele.
— Você está bonita — ele disse, quase sussurrando. Senti minhas bochechas esquentarem e uma onda de vergonha me invadiu.
— Obrigada — respondi, puxando algumas mechas do cabelo dele. — Hoje você também está muito bonito, embora eu goste mais do seu estilo bad boy.
Ele deu uma pequena risada e me encarou, desta vez com um olhar diferente.
— Essa é sua gravata? — perguntei, pegando uma gravata com bordado de estrelas grandes. Ela vinha com um lenço e abotoadura, combinando com meu vestido azul marinho.
Estávamos combinando, e eu nem tinha percebido. Será que ele tinha notado e por isso me elogiou?
— É essa mesmo — ele respondeu. Com um movimento gentil, coloquei a gravata em seu pescoço, fazendo o nó. — Prontinho, já está pronto para o baile.
Percebi que Serena estava xingando Blayne, dizendo que ele era um banana por não aguentar ela despentear seu cabelo. Serenity quase enforcou Klein ao fazer o nó da gravata.
— Ainda bem que foi você quem fez o nó na minha gravata — sussurrou Luciene, quase como se fosse um segredo, me fazendo sorrir.
— Crianças, vocês estão prontos? — Meu pai entrou, com o cabelo arrumado e um blazer todo amarelo.
— Não sabia que a festa era de fantasia — Klein o olhou e ele o encarou intrigado. — Só falta o chapéu e já já vão se confundir com O Máscara.
Serena não se aguentou e deu uma gargalhada, logo tampando a boca.
— É isso que dá um homem se apaixonar, eles fazem loucuras pela sua amada — disse meu pai, piscando, como se fosse um conselho.
— Por isso que nunca vou me apaixonar — Blayne disse, fazendo um movimento como se cruzasse os dedos.
— Essa eu pago pra ver — Serena disse, sentando-se na outra ponta da cama.
— Vamos, vocês já estão atrasados.
Descemos e ficamos esperando os convidados chegarem. Era só para alguns membros, clientes e associados que contribuem para a Philips Advocacy, a advocacia da minha família.
Os pais das minhas amigas também estavam na festa. O pai de Serenity é um juiz renomado na Inglaterra, e a família Franklin, além de serem amigos de anos, são associados.
— Está linda, Sorah — disse a senhora Franklin, me abraçando. — Você está como um verdadeiro céu estrelado.
— Obrigada, senhora Franklin — retribuí o abraço. — Você viu a Serena? Daqui a pouco é a dança dos sócios e ela não está aqui.
— Ela está com muita coisa na cabeça e pediu para tomar um ar. Daqui a pouco já estará de volta — disse ela, com um sorriso confortante, indo em direção ao Drake, que estava falando com seus pais.
Ela falou algo no ouvido dele, e ele sorriu, concordando e saindo rapidamente, me fazendo perder ele de vista.
— Realmente, azul é sua cor — Luciene disse, se aproximando, me surpreendendo com sua presença repentina.
— Para ser sincera, vermelho fica bem melhor em você — cruzei os braços e ele colocou as mãos nos bolsos.
— Que casal lindo — disse uma senhora de cabelos grisalhos, se aproximando. — Estão até combinando.
— A gente não é um... — fui interrompida pela fala de Luciene.
— Eu estava dizendo agora mesmo que azul fica magnífico nela. Sou um homem de sorte, não? — Ele colocou o braço em volta da minha cintura, me deixando confusa.
— E não vai levá-la para dançar, rapaz? — perguntou a mulher, intrigada.
— Já ia pedir uma dança — ele tirou o braço da minha cintura e segurou minhas mãos. Eu ainda estava receosa do que ele iria fazer. — Meu anjo, concederia a honra de dançar comigo?
— Mas...
— Vá, garota, jovens como vocês têm que aproveitar a vida — ela disse, me motivando. Assenti, aceitando o pedido de Luciene.
Ele me guiou até a pista de dança, seus dedos entrelaçados nos meus. A música lenta preenchia o salão, e logo estávamos nos movendo ao ritmo suave da versão instrumental de "Say Yes To Heaven" da Lana Del Rey. Nossos corpos estavam próximos, e sentia seu olhar fixo em mim, como se tentasse decifrar meus pensamentos.
— Sabe, eu não esperava dançar hoje — confessei, tentando desviar o olhar, mas sem conseguir.
— Eu também não — ele sorriu, apertando minha mão um pouco mais forte. — Mas estou feliz por estar aqui com você.
A dança parecia durar uma eternidade, cada passo sincronizado, como se tivéssemos ensaiado para aquele momento. Meu coração batia acelerado, mas não conseguia deixar de sorrir.
— Você realmente está maravilhosa esta noite — ele disse, a voz suave, quase um sussurro. — E não falo só do vestido.
Antes que pudesse responder, a música terminou, mas ele não soltou minha mão. Olhou profundamente nos meus olhos, como se quisesse dizer algo mais, mas hesitava.
— Obrigada, Luciene. Eu... — comecei, mas fui interrompida por um grupo de convidados que se aproximava.
Ele sorriu novamente, desta vez mais contido, e me conduziu de volta ao grupo.
Assim que ele me deixou onde estava antes, seus pais se aproximaram.
— Você está uma moça bonita, Sorah — disse Marise, com seu sotaque francês.
— Obrigada, você está magnífica também — retribuí o elogio com um sorriso.
Waller, com um semblante mais sério do que de costume, interveio:
— Se me der licença, preciso falar com o imprestável do meu filho.
— Pai! — Luciene tentou protestar. — Não fale assim com ela.
— Ou você me respeita ou farei você me respeitar — Waller encarou o filho com rispidez.
Marise, tentando acalmar a tensão que se formava, segurou o braço do marido:
— Querido...
— Tudo bem, eu já estava indo procurar as meninas — disse, tentando tranquilizar a situação, e me afastei discretamente.
Antes de sair, Luciene se aproximou novamente:
— Anjo... é...
— Eu sei, está tudo bem — respondi calmamente, tentando passar tranquilidade. — Mais tarde a gente conversa, tá bem?
Ele assentiu com a cabeça e voltou a se aproximar dos pais.
Enquanto conversava com alguns convidados, mantive um olho na discussão que se desenrolava na família Petit. A conversa parecia cada vez mais acalorada, e minha preocupação aumentava. Decidi me aproximar discretamente, para intervir se necessário.
Chegando perto deles, ouvi Waller falando com voz elevada:
— Não posso acreditar que você ainda comete os mesmos erros, Luciene!
Marise, visivelmente desconfortável, tentava apaziguar:
— Waller, vamos resolver isso de forma civilizada, por favor.
Luciene, com a mandíbula tensa, respondeu:
— Estou tentando melhorar, pai. Você não vê isso?
A tensão era palpável. Me aproximei um pouco mais, mas sem querer interferir diretamente. Luciene me viu e, com um olhar de súplica, pediu silenciosamente por apoio. Decidi intervir.
— Com licença, senhor Petit, senhora Marise — disse suavemente, tentando não parecer intrometida. — Talvez uma pausa seja boa para todos. Posso levar Luciene para um passeio rápido? Só para esfriar a cabeça.
Waller olhou para mim, ainda com os olhos duros, mas Marise sorriu agradecida.
— Sim, acho que seria uma boa ideia, Sorah — ela disse, aliviada.
Luciene soltou um suspiro de alívio quando nos afastamos da conversa tensa. Caminhamos em silêncio por alguns minutos, até que ele falou:
— Obrigado por isso. Meu pai pode ser... complicado às vezes.
— Eu entendo. Famílias são difíceis — respondi, oferecendo um sorriso solidário.
— E nós? — Ele perguntou, me olhando nos olhos.
— Nós estamos bem — assegurei. — Apenas precisamos aprender a lidar com as tempestades juntos.
Ele sorriu, um sorriso genuíno que me fez sentir que, de alguma forma, tudo ficaria bem.
Enquanto caminhávamos de volta, a música na festa mudou para uma melodia suave. Luciene me puxou gentilmente para a pista de dança.
— Concede-me esta dança? — ele perguntou, já me guiando.
— Claro — respondi, sorrindo.
Dançamos ao som da música, deixando o ritmo nos envolver e esquecer, pelo menos por um momento, todas as tensões ao nosso redor.
→ Oi gente , espero que tenha gostado do capítulo.
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