Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

| 6 | 𝑼𝑴 𝑨𝑪𝑶𝑹𝑫𝑶 𝑺𝑼𝑺𝑷𝑬𝑰𝑻𝑶


Ei, garotos, rock and roll.

Ninguém diz a vocês aonde ir, querida.

Talvez você tenha feito. Talvez você caminhe.

𝑫𝑹𝑰𝑽𝑬 | 𝘙.𝘌.𝘔


Serena abriu a porta com um olhar feroz, claramente nada satisfeita com nossa presença.

— Mas que merda vocês estão fazendo aqui? — disparou ela, a expressão fechada e os braços cruzados, barrando nossa entrada com seu corpo. Seus olhos nos observavam atentamente, não deixando passar nenhum movimento.

— Nina, quem é? — a avó de Serena gritou da cozinha, a voz envelhecida mas ainda firme.

— Persone indesiderate, nonna, non preoccuparti, ci penso già io — respondeu Serena em italiano, a língua materna de sua avó.

A avó de Serena, uma mulher italiana robusta que cresceu na zona rural da Itália, tinha uma história rica e envolvente. A família dela produzia vinho, e foi assim que ela conheceu seu falecido marido, Moretti Franklin. Apesar das dificuldades enfrentadas com a família de Moretti, que inicialmente não aceitava sua origem italiana, ela aprendeu inglês, mas preferia falar em italiano quando estava com os seus familiares.

Nadeline saiu da cozinha e se dirigiu à entrada onde estávamos.

— Eu tinha esquecido de falar — começou Nadeline, lançando um olhar firme para Serena. — Chamei o Drake e seus amigos para tomarem um chá da tarde comigo.

Serena olhou para Nadeline com desconfiança, os olhos estreitados. Já Nadeline devolveu o olhar com uma expressão de ternura.

— Venham, entrem — disse a avó de Serena, pegando nossas mãos com uma gentileza firme e nos puxando para dentro.

Serena deu um suspiro exasperado, mas não ofereceu mais resistência.

Assim que entramos, um enorme Dálmata correu em nossa direção, latindo com uma leve irritação.

— Fale para a Jewel que está tudo bem. São nossos convidados — disse a senhora, tentando acalmar o cão. Jewel continuava a latir, mas Serena deu um sorriso debochado.

— Ela tem um ótimo julgamento de caráter. Talvez saiba o tipinho dos três aí — comentou Serena, aproximando-se da cadela. — Tudo bem, minha princesa. Os caras maus não vão fazer nada — disse, abaixando-se para abraçar o animal, que logo se tranquilizou, aninhando-se contra Serena.

A avó de Serena observava a cena com um olhar de ternura e um toque de preocupação.

— Serena, você já está de saída? — perguntou, com a voz suave mas firme.

— Sim, vou com as meninas comprar o vestido para a festa de sexta. Precisa de algo antes que eu vá? — Serena respondeu, levantando-se e ajeitando a bolsa no ombro.

— Não, querida, só não volte tarde — disse a avó, sorrindo com carinho.

Serena assentiu, dando um leve aceno de cabeça. Seus olhos ainda carregavam uma sombra de desconfiança quando passaram por nós.

— Não se preocupe, vó. Estarei de volta cedo. — Com um último olhar de aviso para nós, ela saiu pela porta sem se despedir, deixando claro seu desagrado com nossa presença em sua casa.

A senhora deu um suspiro leve, mas não deixou de sorrir calorosamente.

— Não se incomodem com Serena. Ela é protetora com a família e a casa — disse, conduzindo-nos para a sala. — Por favor, façam-se à vontade. 

Nos acomodamos na sala de estar, onde a avó de Serena começou a servir chá com uma energia jovial. O aroma de chá fresco e pão caseiro encheu o ambiente, criando uma atmosfera acolhedora.

— Espero que gostem de chá e de biscoitos caseiros — disse a senhora, servindo-nos com mãos experientes e um sorriso caloroso.

Drake pegou uma xícara e sorriu, tentando dissipar qualquer tensão restante.

— Obrigado. Parece maravilhoso.

Enquanto nos servíamos, a atmosfera começou a se tornar mais descontraída. Nadeline, sentada próxima à avó, ajudava a distribuir os pães e biscoitos com um sorriso gentil. A enorme Dálmata, Jewel, agora tranquilo, deitou-se aos pés da avó, observando-nos com curiosidade.

— Então, como vocês se conheceram? — perguntou a avó de Serena, claramente tentando iniciar uma conversa amigável.

— Oh, é uma longa história — começou Drake, sorrindo. — Mas acho que temos tempo, não é?

A avó riu suavemente, assentindo.

— Temos todo o tempo do mundo. Fiquem à vontade para compartilhar.

Ficamos horas e horas conversando sobre nossas vidas, conhecendo mais a senhora que tinha uma áurea maternal, como se fosse uma parente distante nossa. Ela nos acolhia com uma gentileza reconfortante, que aquecia nossos corações.

— E por que seus pais não te apoiam, Luciene? — perguntou a senhora, levantando levemente a xícara de chá e tomando um gole delicado. Seus olhos brilhavam de curiosidade e empatia.

— Eles falam que isso não vai me levar a nada, que sou um delinquente e quero só usufruir do dinheiro deles — respondi, sentindo um nó se formar na garganta ao lembrar da última briga com meus pais. Meu olhar se fixou na mesa, evitando o dela.

A senhora, com seus cabelos grisalhos bem penteados, deu um sorriso compreensivo, como se entendesse exatamente o que eu estava sentindo.

— Sabia, vocês me lembram muito seus pais quando eram jovens — disse ela, seus olhos perdidos por um momento nas memórias. — Meu conselho é: tentem. Não tenham medo do que pode ou não acontecer. Se vocês realmente querem isso, se amam o que fazem, e olhem que vocês fazem isso muito bem. Mostrem para eles que estão errados ao duvidarem da sua capacidade. Uma hora, eles vão ver que estão errados.

Ela colocou a xícara suavemente sobre o pires, seu olhar fixo em mim, transmitindo uma força silenciosa.

— E se eles não verem? E se sempre acharem que não vai dar certo? — perguntei, a insegurança transparecendo na minha voz. O medo de nunca ser aceito pelos meus pais estava sempre presente.

Ela suspirou, suas mãos finas e enrugadas pousando sobre as minhas em um gesto de conforto.

— Sangue não cria família, cria parentes. Família são aqueles com quem compartilhamos bons e maus momentos, e ainda assim os amamos no final. São esses que devemos escolher — disse ela, com uma firmeza suave que me fez sentir um pouco mais esperançoso.

Seu olhar estava cheio de convicção, e de repente, senti que talvez ela estivesse certa. Família é mais do que laços de sangue; é sobre amor, apoio e compreensão mútua. E, naquele momento, percebi que nossa conversa tinha plantado uma semente de coragem dentro de mim.

Serena chegou em casa e, assim que percebeu que ainda estávamos em seu apartamento, seu sorriso se desmanchou.

— Vocês não têm casa, não? — disse ela, dando um beijo na bochecha de sua avó.

— Estávamos tão aconchegados neste lindo apartamento que nem vimos o horário passar — disse Klein, espreguiçando-se na cadeira. Serena revirou os olhos.

— Precisamos conversar, Serena — disse Blayne, e ela olhou para ele, como se já soubesse do que se tratava.

Serena sentou-se na cadeira ao lado de sua avó, que se levantou.

— Eu preciso fazer uma ligação, por favor, fiquem à vontade — disse a senhora, sorrindo.

— Não fiquem tão à vontade assim — cochichou Serena, levando um leve tapa na cabeça da avó. — Ai, nonna...

— Seja educada com minhas visitas — advertiu a mais velha, fazendo Serena revirar os olhos.

A avó de Serena dirigiu-se à escada, provavelmente para ir ao escritório fazer sua ligação.

— Agora que minha avó não está aqui, podem parar de bancar os bons samaritanos, comigo isso não funciona — disse Serena, enchendo sua xícara de chá e mordendo um biscoito.

— Preciso pedir algo para você — disse Blayne, colocando a xícara na mesa. Serena gesticulou para ele continuar. — Quero que você não leve a Sorah para a festa na sexta-feira.

Serena, que estava apreciando seu chá, abriu os olhos verdes e o encarou. Ela parou de tomar o chá, colocou a xícara na mesa, endireitou-se e deu um largo sorriso debochado.

— Que coisa triste, o Blayne não quer que a irmãzinha vá à festa para se divertir — disse ela, com um tom de deboche, fazendo um bico. Blayne revirou os olhos. — Tá bem, eu não levo ela na festa.

Disse isso de forma simples, voltando a tomar seu chá. Blayne olhou para mim e depois para Klein, sem acreditar na palavra dela.

— Prometa — ele disse.

Ela ergueu a mão, fazendo um gesto de voto.

— Eu, Serena Franklin, prometo não levar a Sorah para a festa — disse ela. Blayne sorriu, um pouco mais relaxado. — Para mostrar que estou falando sério, você pode até me levar para a festa.

Eu e Klein sabíamos que ainda havia mais por vir.

— Mas... — Serena começou, mas Drake a interrompeu.

— Sabia que tinha algo em troca — murmurou Klein, fazendo-me dar uma leve risada silenciosa. — Sempre tem algo em troca.

— Mas... — Blayne insistiu, esperando que ela terminasse.

— Assim que eu entrar na festa, você não vai ficar no mesmo local que eu. — Ele a olhou desconfiado. — Se eu estiver na cozinha, você vai para a sala. Se eu estiver na sala, você fica lá fora. Nós seremos estranhos, então nada de querer falar comigo na festa.

Blayne hesitou, mas finalmente assentiu. Serena estendeu o braço para selar o acordo.

— Fechado — disse ela, com um sorriso triunfante.

Blayne apertou sua mão, ainda desconfiado, mas ciente de que não tinha muitas opções. Eu e Klein trocamos olhares, sabendo que essa história ainda estava longe de acabar.



— Tá, galera, vocês obviamente não estão falando da mesma Serena que eu — Drake disse, se acomodando no banco de trás do carro, um leve tom de sarcasmo em sua voz, enquanto arqueava as sobrancelhas com desconfiança. — É muito claro que tem alguma pegadinha aí.

Philips, sentado na poltrona da frente, apertou o cinto com um movimento decidido. — Pode até ter, mas Serena é de palavra, não vai voltar atrás — afirmou, sua voz firme e confiante, como se quisesse cortar qualquer dúvida que Drake tivesse. — E isso já está de bom tamanho também.

Pelo retrovisor, vi Klein erguer os ombros e revirar os olhos, um gesto de exasperação. — O que vamos fazer para conseguir ir nas duas festas?

— Se a Serena for com a gente, vai ter um problema — Klein lembrou, enquanto eu e Blayne trocávamos olhares no espelho retrovisor. — Qual é, estamos falando da Vampira. Ela provavelmente vai querer vestir outra roupa quando sair da festa, e até ela se arrumar vai demorar horas — Eu balancei a cabeça negativamente , rindo do drama dele. Dirigindo o carro com atenção. 

— É só vocês não me esperarem, vão primeiro e eu vou com a Serena. Eu disse que iria com ela, mas vocês não precisam ir comigo.

— Não vamos deixar você ir sozinho com a pequena cobra verde — retruquei, com um tom de voz protetor.

— Se duvidar, enquanto você estiver distraído, é perigoso ela te dar um bote — completou Klein, rindo em seguida.

Chegamos à casa dos Philips e estacionei. Blayne saiu do carro, e Drake veio para a frente, agradecendo antes de sair. — Qualquer coisa, eu mando mensagem — disse, já se afastando. A casa dos Philips ficava perto do apartamento da Franklin.

Voltei a atenção para Klein, que ainda estava no banco de trás, mais perto da minha casa. Ele olhou para mim de soslaio. — Agora que o Blayne infelizmente não está aqui... Vamos conversar.

— Sobre? — Eu o questionei. 

Ele levantou as mãos e gesticulando, tentando imitar um pássaro. — Fadas e pássaros, é claro que é sobre você e o 𝘈𝘯𝘫𝘪𝘯𝘩𝘰 — deu ênfase ao apelido, um sorriso irônico nos lábios.

Dei uma rápida olhada para ele, ao ouvir o apelido.

 — Qual é, acha que eu nunca ouvi? Blayne é muito tapado para não perceber.

— Perceber o que? — voltei minha concentração para a rua, tentando esconder meu desconforto. — Você está fazendo uma bola de neve em algo que já passou.

Klein suspirou cansado, desviando o olhar para o horizonte através da janela.

 — Pode até enganar a si mesmo falando isso — ele disse, sua voz agora baixa e séria, evitando olhar para mim, claramente aborrecido. — Sorah é uma garota legal, gentil e frágil. Se você gosta dela, vai em frente, tem todo meu apoio. Mas... — parei o carro em frente à casa dele — se você gosta dela e não quer arriscar nada, não dá a ela falsa esperança, é cruel demais.

Por fim, ele me olhou, seus olhos cheios de decepção. Fiquei em silêncio, sentindo o peso das palavras de Klein, enquanto ele saía do carro sem olhar para trás.

As palavras de Klein martelavam em minha cabeça enquanto dirigia, passando pelas casas conhecidas do bairro. Com elas, vinham todas as memórias, vívidas e claras.

" — Oi, qual é o seu nome? — um garotinho e uma menina que parecia ter a minha idade se aproximaram e sentaram ao meu lado no parque.

— Luciene — respondi, tentando não parecer chateado.

O garoto fez uma careta. — Parece nome de menina — disse, fazendo-me bufar de raiva. Odiava meu nome.

— Para com isso, Blayne, é feio falar mal dos nomes dos outros — a menina o empurrou levemente e se levantou, indo em direção a uma mulher que eu supunha ser a mãe deles.

Enquanto eu brincava no balanço, Blayne ainda me observava com curiosidade.

— Vamos ver quem balança mais alto? — ele sugeriu, me fazendo confirmar com um aceno. — Você é bem tímido, né?

Confirmei com a cabeça, e ele sorriu largo, um sorriso contagiante.

— Não tem problema, eu não sou. E de agora em diante vou ser seu novo melhor amigo — disse ele, confiante. — Você vai ter dois amigos: eu e o Drake. — Olhei para ele, pensando que Drake era um amigo imaginário. — Ele já já vai estar aqui, ele é mais tagarela que eu.

Eu ri, duvidando disso. Voltamos a brincar nos balanços. Mais tarde, a garotinha veio correndo, seu vestido listrado de amarelo balançando.

— Da natureza do iluminado — ela disse, ofegante. Eu e seu irmão a olhamos, confusos. — Seu nome, significa 'da natureza do iluminado'. Vem da França.

— Você é francês? — ela perguntou, balançando negativamente a cabeça.

— Mas minha mãe é — completei. "

Desse dia em diante, viramos amigos inseparáveis. As lembranças daquela tarde se misturavam com o presente, e o som das palavras de Klein ressoava na minha mente: "Se você gosta dela e não quer arriscar nada, não dá a ela falsa esperança, é cruel demais."

Olhando para o caminho à frente, percebi o quanto aquelas amizades moldaram quem eu sou hoje. Era hora de enfrentar meus sentimentos e tomar uma decisão clara, tanto por mim quanto por Sorah.

Chegando em casa, suspirei cansado, já sabendo o que estava me aguardando. Uns falam que é em casa que se descansa, que é em seus travesseiros que desmoronam. Que é no colo amoroso e carinhoso de seus pais que se reconfortam.

Nunca tive isso.

Marise é a mulher mais medonha, mesquinha, manipuladora e duas caras que você pode conhecer. E olha que coloquei as melhores qualidades que ela tem. E bem, ela é minha mãe.

Meu pai está ocupado demais na empresa dele para se preocupar com qualquer coisa que não seja o próprio trabalho.

Uma casa de bonecas, mostramos o que queremos mostrar. Não a pior face, mas a família amorosa e carinhosa — que nunca fomos — francesa. Minha mãe queria uma menina, tinha tudo para ser a menina de Marise Petit, a melhor estilista francesa. Porém, seus planos foram por água abaixo quando eu vim.

Já meu pai ficou feliz, um herdeiro. Não um filho, não uma nova vida ou o começo de uma família. Um herdeiro, é tudo que eu sou. É tudo que fui para ele, e quando me neguei a administrar a empresa, toda a esperança que ele depositou desmoronou, assim como um castelo de cartas.

Ao entrar, ouvi os passos decididos dela descendo a escada. Seu cabelo cacheado, sempre impecável, balançava levemente a cada passo.

— E o filho retorna a casa — ela disse com um tom ácido. Sua voz era fria e controlada, mas com uma clara intenção de provocar.

Não a olhei de imediato. Fiquei imóvel, deixando o silêncio crescer. Quando finalmente a encarei, minha voz saiu dura.

— Não sei do que está falando.

Ela se aproximou, a passos firmes, encurtando a distância entre nós. Sua presença era imponente, apesar de sua altura menor.

— Acho que devo refrescar sua memória — suas palavras saíram entre dentes cerrados, e pude ver a raiva fervilhando em seus olhos. — Você não voltou para casa, não atendeu minhas chamadas. Querendo ou não, ainda sou sua mãe — ela gritou, os olhos faiscando enquanto gesticulava com as mãos.

Mantive-me firme, minha expressão inabalável. Olhei diretamente em seus olhos, deixando minha frieza transparecer.

— Pare com essa ceninha, não tem ninguém aqui. Sei que você nunca se preocupou comigo, e sei que no fundo tem medo que eu desmorone o legado Petit. — minhas palavras cortaram o ar como lâminas, e vi sua expressão vacilar por um momento.

— Luciene, como pode achar isso? — sua voz, agora murmurada, soava incrédula. Seus olhos buscavam os meus, mas tudo que encontrou foi o vazio.

Ela deu um passo para trás, seus olhos escurecendo com a sombra da dúvida e do medo. Eu mantive minha postura, meu corpo rígido, sentindo a tensão entre nós como uma corda prestes a arrebentar.

— Eu sei o que sou para vocês — continuei, minha voz baixa, mas carregada de uma certeza fria. — E não vou ser mais do que isso.

Quando cheguei em casa, suspirei, cansado, já sabendo o que me aguardava. Meu pai estava na sala, como sempre impecável em seu terno, e me lançou um olhar de superioridade.

— Aí está quem não sabe o caminho de casa — disse ele, sua voz carregada de desdém. — Ainda com esses piercings e esse cabelo...

Revirei os olhos, exasperado. Sempre o mesmo assunto. Minha mudança, não como estou, mas como minha mudança afetou o legado Petit.

— Mais uma vez com esses assuntos? Se não me engano, já está atrasado para alguma reunião — respondi, mantendo a calma enquanto ele descia a escada com a postura rígida, me olhando de forma fria.

Ele parou diante de mim, sua expressão endurecida.

— Você me envergonha — ele disse, colocando a mão no meu ombro, sua voz carregada de desprezo.

— E você me aborrece — retruquei no mesmo tom, desviando o olhar e tirando brutalmente a mão dele do meu ombro.

Sem dizer mais nada, ele pegou sua maleta, deu um beijo rápido em sua esposa e saiu para trabalhar.

Marise se aproximou, hesitante.

— Luciene, seu pai...

Antes que ela pudesse continuar, subi correndo as escadas. Mentiras, explicações, manipulações e mais mentiras.

Corri para o meu quarto e liguei a guitarra. Comecei a tocar, liberando toda a minha raiva, todo o sentimento que estava guardado. Por que...

Por que não me deixam ser eu? Por que não me apoiam? Por que não sou o suficiente?

"— Seu nome significa 'da natureza do iluminado'."

A voz de Sorah ecoou na minha cabeça, meu anjo.

Sempre odiei meu nome. Na época, sempre achei que era esse o nome que minha mãe queria para a garotinha que ela quis ter.

Quando Sorah me mostrou o significado, eu gostei. Pensei que era isso que eu significava para ela. Algo iluminado, uma luz.

Patético.

Sorah foi a única que não riu do meu nome, ao contrário, foi pesquisar sobre o significado para me mostrar. Naquela hora, percebi que ela sempre foi muito otimista com qualquer situação.

Foi ela que me incentivou a tocar guitarra — mesmo sem perceber —, ela que mostrou que posso canalizar meus sentimentos e colocá-los através da música.

Foi ela, sempre ela.

E é por isso que não posso tê-la. Ela não merece essa confusão. Ela merece alguém à altura dela, que não tenha uma família de merda, que não tenha medo de expressar o que sente. Eu não a mereço.

Enquanto eu estava tocando a música, a música dela, fui interrompido por batidas na porta.

— Senhor Petit, eu trouxe alguns lanches para você — a voz da empregada era gentil, mas hesitante, temendo interromper meu momento.

— Ok, pode deixar aí no chão, já já eu pego.

— Se eu deixar aqui, a Lady poderá comer — bufei, irritado, odiando atacar alguém que não tinha culpa dos meus problemas. Por isso, sempre me afastava para raciocinar.

Guardei a guitarra e fui abrir a porta. A servente estava com seu uniforme, de vestido e avental, segurando umas bandejas de macarons e alguns cupcakes, além de algumas frutas.

Tudo o que mais gostava.

— Obrigado, Sasha, você sempre faz tudo que gosto — a mesma sorriu e acenou com um pouco de melancolia no olhar e saiu.

— Ei, Sasha, sabe onde está a Lady?

— Da última vez que vi, ela estava com sua mãe na cozinha.

Acenei em concordância e, durante o trajeto, fui chamando-a. A cachorra, da raça Cocker Spaniel, era branca com manchas marrons e sempre estava com lacinhos, na maioria das vezes vermelhos. Ela veio até mim agitada, contente, provavelmente pela minha chegada.

— Acho que tô precisando de uma amiga. Quer ficar comigo no quarto? — perguntei, sorrindo enquanto ela latia como se estivesse concordando.

— Vou entender como um sim — disse, pegando-a no colo e voltando em direção ao quarto.

Enquanto entrava no quarto, coloquei a cachorra no chão e fechei a porta. Lady, com um andar elegante, foi em direção à minha cama e se acomodou de frente para a TV. Peguei alguns petiscos e ela latiu novamente, ansiosa.

— Já entendi, madame — falei, rindo. Ela latiu de novo, dessa vez como se me repreendesse.

— Desculpa, Lady. Vou colocar o filme.

Escolhi "A Dama e o Vagabundo" — irônico, não? Eu e ela começamos a assistir ao filme enquanto eu comia o lanche que Sasha havia trazido, e Lady se deliciava com seus petiscos.

No meio do filme, uma fala chamou minha atenção: "Até o Vagabundo tem seu Calcanhar de Aquiles. [...] Seu ponto fraco."

Olhei para Lady, que estava absorta no filme, e pensei em Sorah. Ela talvez nem soubesse, mas eu tinha a plena certeza de que ela era meu ponto fraco, meu calcanhar de Aquiles. 

— E eu tinha o meu. Talvez nem ela saiba, mas eu tenho a plena certeza de que ela é o meu — murmurei, sentindo um misto de tristeza e esperança.

Lady virou a cabeça para mim, como se tivesse entendido o que eu disse. Sua presença sempre me trazia conforto, mas nada podia preencher o vazio que Sorah deixava em meu coração. Senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, e Lady, sempre perceptiva, se aproximou, colocando a cabeça no meu colo.

— Obrigado por estar aqui, Lady — disse, acariciando seu pelo. — Às vezes, acho que você é a única que realmente me entende.

Respirei fundo, tentando absorver a serenidade do momento. A casa estava silenciosa, exceto pelo som do filme que continuava a rodar na TV. O tempo parecia suspenso, e por um breve instante, tudo parecia estar no lugar. Mas eu sabia que, eventualmente, teria que enfrentar a realidade e os desafios que ela trazia.

Por enquanto, me permiti apenas existir, ao lado de Lady, absorvendo a paz temporária daquele momento.

• Obriga por lerem a minha obra , espero tenham gostado do capítulo...

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro