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22. it's like I'm fighting behind these walls and hiding through metaphors

— Puta merda, Leo, você quer me matar do coração?

Foi a primeira coisa que Remi disse assim que destrancou a porta da entrada da casa que os três dividiam, se perdendo no próprio raciocínio quando percebeu que, além de Leo, Nate também estava sentado no sofá da sala.

Não tinha conversado com o amigo até aquele momento. Depois da briga — e da confusão que o deixara com um olho roxo que até o momento ainda pulsava por trás dos óculos escuros utilizados até mesmo durante a noite —, Remi achou que precisava dar um tempo para Nate. Sabia que o ódio que queimava na íris escura dele naquela noite não iria sumir, mas torcia para que ao menos pudessem estar em um mesmo cômodo novamente sem nenhum atrito.

Nate também não parecia feliz de vê-lo ali. Tinha as mãos cruzadas na frente do corpo, a postura envergada para frente e olhava para qualquer outro lugar que não fosse em sua direção. Leo, que se levantou do sofá assim que Remi chegou, não tinha uma expressão melhor. Olheiras arroxeadas estavam embaixo dos seus olhos e o cabelo estava tão bagunçado que quase pediu uma piada. Quase.

Remi sabia identificar uma situação ruim quando se encontrava em uma.

— O que aconteceu, cara? — questionou, paciente. A mensagem que tinha recebido de Leo poucos minutos antes não dizia muito além de 'Preciso falar com você, venha para casa' e não entregava do que se tratava. — Tinha acabado de chegar no Ivy quando você mandou a mensagem.

— Eu só continuo aqui por sua causa — Nate cortou, olhando na direção de Leo. Remi sentiu a provocação. Não tirava sua razão. — Então se você puder falar logo o que aconteceu, eu...

— Eu realmente preciso que vocês parem de ser dois idiotas e resolvam as pendências de uma vez — Leo o interrompeu, andando em direção ao sofá onde Nate estava sentado e variando o olhar entre os dois. — Certo, Remi errou em não te contar sobre a Claire. Talvez tivesse sido melhor você ter perguntado a ele o que porra aconteceu antes de assumir o óbvio e quebrar as pouquíssimas partes da nossa casa e fugir para Boston como se isso fosse mudar qualquer coisa. Você costumava ser o sensato desse trio, Nate.

Ouviu em silêncio, travando a mandíbula assim que Leo terminou de falar e desviou o olhar — lentamente — em direção a Remi, esperando que ele falasse qualquer coisa.

— E você, Remi... — Leo continuou, suspirando. — Você é muito cabeça dura. Essa confusão só está montada porque você nunca colocou em sua cabeça que você merece que coisas boas aconteçam com você. Como a Claire. E eu não tenho dúvidas que você merecia ela.

Nenhum dos dois outros presentes esperavam a súbita enxurrada de palavras vindas de Leo, então esperaram em silêncio. Havia alguma coisa ali. Eles sabiam disso.

— E é verdade que às vezes coisas ruins acontecem também, Remi, mas não porque merecemos elas — murmurou baixo, usando um tom que beirava a dor. Nate e Remi levantaram o olhar na direção de Hawkins nesse momento, esperando as notícias ruins. Não tinham mais dúvidas que elas existiam. — Às vezes elas só acontecem.

— O que você não está dizendo, Leo? — Nate foi o primeiro a perguntar, mantendo as sobrancelhas quase juntas em um sinal de pena e curiosidade. Remi permaneceu com a boca entreaberta, esperando o que viria a seguir.

Leo suspirou, deixando seus ombros caírem de cansaço. Nem sabia que horas eram. Cansou de se remexer na cama, chutou os lençóis para o chão quando ouviu a porta abrir — indicando que Nate tinha voltado para casa — e mandou uma mensagem para Remi. Estava insuportável guardar aquele segredo. Queria tirar o band-aid de uma vez só. Talvez, no dia seguinte quando acordasse, tudo estaria de volta ao lugar. Talvez fosse só uma brincadeira sem graça ou um pesadelo estranhamente real.

— Descobri que minha mãe tinha uma doença... Algo genético — começou, tentando escolher as palavras mais simples como tinha lido na internet nos diversos sites que encontrou. — Hemofilia. Eu herdei isso dela.

— Puta merda, cara — Remi murmurou, apoiando uma das mãos na parede como se fosse cair para trás. Aquelas coisas não aconteciam com caras como Leo Hawkins. — É grave?

— Eu não vou morrer — Leo falou, desviando o olhar para o teto e dando um pequeno sorriso desconcertado para o nada. Era esquisito estar no sua posição, com seus dois melhores amigos o encarando do outro lado como se ele fosse cair em lágrimas a qualquer momento. — Meu sangue só não coagula da forma que deve. Isso quer dizer que eu posso sangrar internamente por horas depois de uma simples colisão. É, talvez nesse caso eu possa morrer.

— Merda, Leo — Nate se antecipou, a preocupação expressa na sua voz. Podia não entender termos médicos, mas pelo tom do amigo e a sua feição, sabia que não era algo tranquilo. — Não brinque com isso.

— O médico disse que eu não posso mais jogar — continuou, ignorando os olhares assustados que recebia. — E que eu tive sorte que nada grave aconteceu até agora. Sorte. Vocês podem imaginar?

Leo sorriu quando terminou de falar, desviando novamente o olhar para longe. Os outros dois presentes sabiam que ele não fazia isso por achar graça da situação. Muito pelo contrário, naquele momento Hawkins fazia o máximo para não deixar que as lágrimas pesadas voltassem aos seus olhos escuros.

— Então você está saindo do time? — Remi perguntou, mantendo suas sobrancelhas quase unidas. Foi a vez de Nate soltar um murmúrio de irritação.

— Essa é realmente a coisa mais importante que você conseguiu tirar de tudo isso? — Nate o cortou na sequência, rolando os olhos antes de continuar. — Você consegue viver com isso?

Hawkins apenas assentiu, abaixando a cabeça na sequência. Em algum momento perceberia que estava feliz que não tinha recebido uma contagem regressiva do médico. Mas ainda não tinha chegado aquele tempo. Só conseguia pensar que seu sonho — e tudo o que tinha lutado desde que se conhecia por gente — era algo distante, impossível de ser conquistado.

Doía. Um tanto, se ele fosse ser sincero.

Agora ele entendia Nina. Agora ele sabia exatamente o que a alemã queria dizer quando confessou — em seu quarto ao falar sobre seus pais — que não queria ser a pessoa que não conseguiu o que mais queria na vida. Que não queria ser como Marco e sua carreira sem troféus. Ou Cami e sua vida sem diplomas. Nina queria ser a melhor e Leo nunca poderia chegar a esse nível.

— Ela sabe? — Remi questionou, como se estivesse dentro dos pensamentos de Hawkins e soubesse que naquele momento eles voavam até ela. — Nina. Ela sabe?

— Ela estava comigo quando eu recebi a notícia.

— E onde ela está agora? — havia a presença, mesmo que leve, de um tom de crítica.

— Insisti para que ela ficasse no alojamento. Eu preciso de um tempo sozinho agora, Remi. Tem um milhão de coisas na minha cabeça no momento e eu...

Deu de ombros, incapaz de continuar. Leo precisava sentir a enxurrada de emoções que o atingia naquele momento. Precisava sentir dor de quem via seu sonho se despedaçar. Precisava sentir raiva de ser poupado da sua história por tanto tempo. Precisava deixar que a frustração o chacoalhasse, que a ira o tirasse dos eixos e que a tormenta do 'e se' quase o levasse à loucura.

— Você não precisa de um tempo sozinho, Leo. Na verdade, isso é a última coisa que você precisa agora — Remi logo o corrigiu, andando em sua direção. — Eu sei que é injusto e que deve estar doendo para caralho agora, mas confie em mim quando eu digo que não vai doer menos se você estiver sozinho.

Vince falava com a propriedade de quem tinha passado todos os piores momentos da sua vida daquele jeito: sozinho. Depois de Gabrielle ele entendeu o quão mais fácil era ter alguém para segurar sua mão, mesmo que não houvesse palavras para ser ditas. Quando ela se foi, ele sentiu falta dos dedos da francesa — ou de qualquer outra pessoa — apertando sua mão de volta.

— Remi tem razão — Nate falou, pigarreando para sua voz sair mais firme. Levantou do sofá, encarando o loiro antes de voltar a atenção para Leo. — Tente dormir um pouco, eu tenho certeza que isso foi muito para lidar. Mas amanhã, converse com a Nina. Converse com nós dois, se você quiser.

Leo assentiu, exausto demais para retrucar. Por mais que soubesse que o sono não viria tão cedo, podia apelar para um dos antialérgicos que sabia que Remi mantinha na gaveta do banheiro do corredor. De certo não seria um sono tranquilo, mas era o melhor que podia fazer.

Quando Hawkins desapareceu pela porta fechada do seu quarto, Remi desabou no sofá, escondendo o rosto nas suas mãos. Ainda não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Não podia ser verdade que Leo — aquele que ele viu potencial desde o primeiro momento que estiveram no gelo juntos — não estaria do seu lado em uma carreira profissional.

Era injusto. Xingou o universo. Xingou o pai de Leo por não ter falado sobre isso até aquele momento. Se questionou, em silêncio, por que entre tantas pessoas no mundo tinha que acontecer com ele. Com Leo Hawkins. Uma das melhores pessoas que Remi tinha conhecido em sua vida inteira.

— Você gostava dela, Remi? — Nate quebrou o silêncio incômodo entre os dois, fazendo com que o loiro arqueasse a cabeça para encará-lo, confuso. — Da Claire. Você gostava dela?

Não queria lidar com aquele assunto agora, mas seu coração errou uma batida apenas de ouvir seu nome. Era claro que gostava dela. Nunca pensou o contrário.

— Ela foi a segunda mulher que eu mais amei nessa vida — respondeu, apoiando o queixo na mão enquanto encarava o chão. Mesmo sem olhar, sabia que o olhar de Nate queimava em sua nuca. — A primeira não está mais aqui, se você está se perguntando.

— Isso diz o suficiente.

Remi assentiu, engolindo em seco antes de suspirar e ver Nate deixando a sala, sumindo pela escada assim como Leo tinha feito algum tempo atrás. Não sabia se tinha ganhado o perdão do amigo. Não sabia se assumir para ele que tinha, sim, amado Claire mudaria alguma coisa. Não estava com cabeça para pensar sobre aquilo. Claire Duncan costumava frequentar sua mente junto com uma eterna dor de cabeça que não passava nem com o medicamento mais potente para enxaqueca.

Estava sozinho, novamente.

Mas aquele não era um sentimento novo para ele.

Quando Leo abriu os olhos, sentiu os raios solares no seu rosto por não ter fechado a cortina no dia anterior.

Nem se recordava em que momento tinha caído no sono. Lutou contra suas pálpebras pesadas por muito tempo entre um pensamento turbulento e outro até finalmente se render à sonolência, torcendo por sonho nenhum.

Se remexeu na cama até perceber que não estava sozinho no quarto e foi só quando se sentou que conseguiu reconhecer a silhueta que estava do outro lado. Nina, sentada na cadeira de escritório que ele quase nunca usava para estudar, com os pés apoiados na sua escrivaninha e um marca texto preso nos lábios enquanto lia algum livro com atenção.

Sorriu, agradecendo silenciosamente por não acordar sozinho. E também pela alemã teimosa que insistia em ficar ao seu redor quando ele nem suspeitava que era exatamente disso que precisava.

— Devo me preocupar com a segurança do meu quarto? — perguntou com a voz rouca, assistindo-a levantar o rosto assustada e olhar em sua direção. — Ou talvez eu devesse deixar a porta destrancada mais vezes para acordar com você aqui?

Nina sorriu, deixando o livro de lado antes de se esgueirar para baixo das cobertas na companhia de Leo. Aninhou-se ao seu corpo, jogando uma perna por cima da dele e ocupando o segundo travesseiro sem dono que havia na cama, encarando-o durante todo o tempo que mantiveram-se em silêncio. A alemã tentava não se prender muito às olheiras fundas, aos olhos inchados e a feição cansada. Tentava não ouvir o som — alto, dilacerante — do coração de Hawkins se quebrando enquanto continuava a encará-lo.

Era uma tarefa difícil. E a fazia sentir muita falta do sorriso fácil e ensolarado que ele costumava oferecer em sua direção tão pouco tempo antes.

— Não consegui dormir direito — assumiu, levando uma das suas mãos até os cabelos de Leo, acariciando os fios curtos. — Sei que você pediu para ficar sozinho, mas minha cabeça ficou a mil por hora. Saí para uma caminhada e quando percebi... Estava aqui.

Guardou de Leo a informação de que nem mesmo havia tentado dormir. Assim que fechou a porta do dormitório, se livrou das roupas que vestia para o banho mais demorado que já tinha tomado em Silvermount e se esgueirou para baixo das cobertas sem sono nenhum.

Engoliu quatro comprimidos de Adderall e leu mais de dezenas de artigos científicos sobre hemofilia. Também ligou para sua mãe e, apesar de Cami ter estranhado a curiosidade, falou tudo o que sabia. Nina desligou o telefone com o peso no coração de saber que era isso: não havia uma grande saída ou um caminho milagroso que Leo pudesse tomar para voltar a jogar. Sua carreira profissional não teria início.

Levantou perto das quatro da manhã, quando achou que estava sufocando dentro do seu quarto. Correu por uma hora, uma hora e meia, talvez mais. Quando parou na frente da casa de Leo — suada e exausta —, encontrou Remi encostado na porta com um cigarro nos lábios e olheiras tão arroxeadas quanto as dela.

Não trocaram nenhuma palavra antes que ele permitisse que Nina entrasse em casa e subisse até o quarto de Leo, ocupando-se pela próxima hora com um livro aleatório dele que tinha encontrado nas prateleiras. "Le Spleen de Paris". Um livro de poesias. Exatamente como tantos outros que ocupavam espaço no seu quarto em Boston.

Resolveu pegar para ler na intenção de que naquelas páginas amareladas conhecesse mais sobre Leo, entre uma anotação e outra que havia no canto das páginas. Entre post-its e adesivos neon desgastados marcando seus poemas favoritos, Nina podia escutar a voz de Hawkins recitando cada um deles em seu ouvido, como em uma realidade alternativa do que teria acontecido em Boston se o mundo não tivesse despencado na cabeça deles antes.

Como ela queria ser capaz de voltar no tempo, para a calma antes da tempestade, para o dia que dividiram a cama, os sonhos e os beijos como se tudo não fosse mudar no dia seguinte.

— Minha cabeça está latejando — Leo confessou, levando uma das suas mãos até o rosto de Nina, acariciando-o com o polegar. — E parece que eu acabei de fechar os olhos.

— Você deveria tomar um analgésico e tentar voltar a dormir...

— Eu não vou conseguir — murmurou, apertando os lábios em uma fina linha. A engrenagem da sua cabeça tinha voltado a fazer barulho. Suspeitava que aguentaria aquele som alto dos seus próprios pensamentos por alguns dias. — Mas eu ficaria feliz se você pudesse me fazer companhia.

Nina sorriu quando notou que a insistência em ficar sozinho não estava mais lá e se apoiou em um dos braços para deixar um beijo carinhoso no canto do maxilar de Leo. O jogador sorriu, discretamente, passando as mãos pela cintura dela para mantê-la ali, tão perto dele quanto fosse possível.

Fechou os olhos, se acostumando com o barulho alto das batidas do coração dela contra o seu. Adorava poder senti-la daquela forma. Amava tê-la em seus braços, roubando o pouco de sanidade que ainda o restava e, com a sua simples presença garantir que tudo ficaria, outrora, bem.

— Então, quais os planos da minha incrivelmente dedicada e talentosa namorada para esse domingo? — Leo perguntou, retirando uns fios claros do rosto dela enquanto acariciava seu cabelo, guardando cada detalhe que estava a um dedo de distância dos seus olhos.

— Eu queria passar o dia inteiro presa na cama com o meu namorado — respondeu, escondendo um sorriso quando o viu fazer o mesmo. — Mas quando eu voltei para o alojamento ontem as meninas pediram ajuda com a venda de cupcakes que teremos mais tarde. Então eu vou ter que escapar de você por míseros minutos pela tarde.

— Claro, eu tinha quase esquecido que minha namorada é uma Kappa Gamma e tem grandes responsabilidades na vida grega — comentou, sorrindo. — Posso ir com você? Eu costumava ser bom com vendas de garagem.

Nina sorriu, escondendo sua surpresa. O cansaço e o desânimo ainda estavam ali em algum lugar, presos a Leo. Mas ele parecia estar tentando deixá-lo para trás.

Era óbvio que ele era bom com vendas. Nina compraria qualquer coisa que aquele rostinho estivesse anunciando. Desde bugigangas que ela não estivesse precisando até discos de bandas que ela não conhecia.

— Você realmente quer ir?

— Eu realmente quero ir — insistiu, acariciando o rosto dela com a ponta do polegar. — Não acho que passar o resto do dia nessa cama será divertido sem você. E acho que posso usar uma distração.

— Então você é oficialmente um integrante da Kappa Gamma essa tarde — a alemã brincou, deixando sua atenção voar pelo quarto. — Eu tenho certeza que as meninas vão amar a sua presença.

Leo deu risada e aquele som mudou algo dentro de Nina por um segundo ou dois. O frio — pela janela aberta, pelo seu vestido enrolado na cintura graças a movimentação na cama — tinha dado lugar a uma sensação calorosa que subia pelo seu corpo e tingia suas bochechas.

— Só preciso tomar um banho — Leo falou, olhando-a com um biquinho nos lábios. — Você pode esperar um pouco aqui? Eu sinto como se tivesse suado a noite inteira.

Foram os sonhos ruins, Leo quase completou, mas guardou para si mesmo quando Nina começou a tatear a linha da sua clavícula enquanto olhava em seus olhos, assentindo em silêncio.

— Estarei esperando por você lá embaixo.

Quando Leo se trancou no banheiro, Nina ocupou suas mãos com tudo o que pode encontrar: os lençóis que não estavam dobrados, os livros fora do lugar, a mala que tinha levado para o fim de semana. Terminou em um instante e, como ainda escutava o som do chuveiro nesse momento, abriu a porta do quarto procurando outras coisas para ocupar seu tempo.

— Ele acordou?

A voz de Remi vinda do nada assustou Nina, que apertou ainda mais os dedos contra o corrimão da escada que descia na ponta dos pés. Conseguiu enxergá-lo — sozinho sentado no sofá — logo em seguida, respirando aliviada e seguindo seu caminho até a cozinha americana.

— Sim, está tomando um banho — respondeu, abrindo armários aleatórios até que pudesse encontrar uma frigideira. — Nós teremos uma venda de cupcakes para arrecadar fundos para a caridade hoje e ele disse que quer ir.

— Isso é... Isso é bom — Remi murmurou, tossindo por um instante antes de se levantar e entrar na cozinha, dividindo o espaço com Nina. — Precisa de ajuda?

— Seria bom — agradeceu com um meio sorriso, apoiando as duas mãos na bancada à sua frente. — Eu pensei em fazer umas panquecas. Café também seria bem recebido.

— Eu não sei como fazer nenhum dos dois, mas temos ovos na geladeira e uma cafeteira de cápsulas.

— É literalmente só colocar as cápsulas, Remi — Nina murmurou, prendendo um sorriso quando assistiu o loiro dar de ombros.

— Tenho certeza que eu daria um jeito de estragar isso também.

A alemã quis sorrir, mas parou assim que notou o semblante arrasado de Remi Vince. O olho roxo — cortesia de Nate —, não era nem o que mais chamava atenção. Nunca, desde que tinha colocado os pés em Silvermount, tinha visto o garoto mais falado da universidade tão exausto.

— Ele contou a você, não contou?

— Ontem — Remi concordou, apertando os lábios rosados em uma fina linha. — Não paro de pensar nisso. Não consigo nem imaginar como ele se sente.

Nina assentiu, abaixando os olhos para os ovos que quebrava dentro de uma vasilha, notando que seus dedos tremiam enquanto fazia isso. Não sabia se era a atenção de Remi queimando na sua nuca, o Adderall ou toda a situação de estresse que tinha passado no dia anterior.

— Merda — praguejou baixo assim que derrubou parte da clara fora da vasilha, se apressando para conseguir um pano que pudesse limpar o balcão de granito.

— Quantos comprimidos você tomou hoje?

A voz de Remi fez com que Nina parasse de supetão, esquecendo-se das panquecas, do café e do ovo derramado que agora queria escorrer pela superfície.

Não era um segredo que Remi sabia sobre o seu passado. Mas era extremamente bizarro como ele parecia saber que havia um pote laranja de Adderall escondido na sua bolsa, no andar de cima.

— Por que você está perguntando isso? — perguntou, trêmula.

— Ele precisa de você agora, Nina — Remi murmurou baixo, desviando o olhar para a escada só para ter certeza que ninguém estava vindo antes de voltar a atenção para a alemã, dando mais um passo em sua direção. — E o Leo não suportaria mais um segredo.

Engoliu em seco, sentindo a garganta travar. Conhecia aquele olhar que estava no rosto de Remi. Era o mesmo que ele tinha usado no dia do Open house e nada a recordava da pessoa que ele parecia ser ao redor dos amigos.

— Você está me ameaçando?

— Eu estou dizendo que você tem que contar para ele — corrigiu, abaixando o rosto até que pudesse olhar em seus olhos. — E que você precisa parar com essa merda, Houston. Se acontecer alguma coisa com você... Seus pais não vão ser os únicos arrasados.

O coração de Nina ficou tão apertado que ela quase pode senti-lo parar de bater por um segundo. Não gostava de pensar nesse assunto. Não suportaria que mais alguém — além dela — passasse por isso.

— Não é fácil, Remi... — respondeu, travando a mandíbula. — Se eu fico um dia sem ele...

— Besteira, Nina — cortou, negando com a cabeça. A alemã se esforçava para continuar encarando os olhos claros de Remi, mais intimidantes que nunca naquele lugar de pouca luz. — Você é mais forte do que pensa. E se você não consegue fazer por si mesma... Faça pelos seus pais. Eles se importam com você.

Nina abaixou a cabeça, sentindo os olhos encherem de lágrimas. Doía pensar em Marco e Cami, doía lembrar dos dias pesados que passaram em Dortmund depois da sua internação.

— E se isso não for suficiente... Pense em Leo. Você quebraria seu coração.

A frase roubou uma lufada de ar de Nina e quase foi como se ela tivesse levado um soco no estômago. Costumava achar que aquelas ações só influenciavam nela mesma e que mais ninguém sofreria as consequências dos seus atos.

Talvez por isso fosse tão fechada. Talvez por isso nunca se sentira à vontade para compartilhar sua vida com alguém.

Até Leo.

Até Leo aparecer e mudar tudo o que ela costumava acreditar.

— Eu não acho que o Leo pode lidar com quem eu sou sem o Adderall — confessou tão baixo que Remi teve que se esforçar para entender suas palavras.

Falava das mudanças de humor quando estava sem o medicamento — principalmente no desmame —, do sono de longa duração e do esforço que nunca era suficiente para ser a melhor. Falava da sua desatenção, da capacidade de se irritar por qualquer coisa e de não ser mais invencível. Nina seria apenas Nina. Não teria metade dos prêmios que acumulava na faculdade. Não faria trabalhos excepcionais e não se destacaria frente a turma. Quando todos descobrissem a sua farsa, não restaria ninguém.

— Se você acha isso, você não o conhece — Remi retrucou, dando de ombros. — E eu tenho plena certeza que essa é só mais uma mentira que você conta a si mesma para não assumir que você é viciada.

Não conseguiu formular nenhuma resposta à altura das palavras de Remi. Continuou em silêncio, encarando os olhos azuis — sofridos — dele, com a cabeça a mil e os dedos inquietos.

Remi tinha razão. Era claro que ele tinha. Estava acontecendo tudo de novo. Nina aumentava a quantidade de comprimidos por dia, dormia cada vez mesmo e sentia que sempre precisava de mais. Dois não eram suficientes. Três não causavam quase nenhum efeito. Quatro logo se tornariam cinco, seis, dez.

Era questão de tempo até que a cena do ano anterior se repetisse. Quem a encontraria inconsciente dessa vez? Leo? Como ele reagiria ao vê-la daquela maneira? Ele se culparia? Ele continuaria ao seu lado? Ele continuaria ao seu lado só porque ela tinha um problema?

— Ele gosta de você, Houston. Da forma mais pura e sincera do mundo, ele gosta de você — Remi falou, relaxando os músculos dos seus ombros enquanto mudava sua expressão de intimidadora para acolhedora. — E ele... Leo é a melhor pessoa que eu conheço.

Nina assentiu, abaixando o seu olhar para o chão da cozinha, tentando contar as lágrimas que acumulavam no canto dos seus olhos. Talvez aquele fosse seu limite.

— Ele não merece as coisas que estão acontecendo, mas nós não podemos mudar uma merda de doença genética que ele tem... Mas você sabe que não precisa guardar esse grande segredo dele — Remi murmurou mais baixo ainda, tocando o queixo de Nina para obrigá-la a encará-lo. — E sabe que só deixando isso para trás você vai poder amá-lo da forma que ele merece.

Ficaram em silêncio por segundos, minutos. Nina deixou uma lágrima cair, limpando com as costas da mão assim que percebeu uma movimentação vindo da escada de madeira.

Remi estava certo. Não poderia esconder aquilo por muito tempo. Não poderia continuar fazendo aquilo por muito tempo. Não queria decepcionar seus pais, que tinham confiado nela para sair de casa. Não queria decepcionar seus irmãos, que mandavam mensagem de hora em hora para ter certeza que teriam uma resposta.

Não queria decepcionar Leo. Não o dono da risada mais confortante que ela conhecia. Não a pessoa que colocava aquelas malditas borboletas clichês no seu estômago, segurava sua mão como se aquele fosse o encaixe mais perfeito do universo e beijava seus lábios como se fosse feito para isso.

Quando Leo entrou na cozinha, ela se virou para a geladeira e fingiu estar procurando algo até que tivesse certeza que as lágrimas já não estariam mais em seus olhos. Sabia que ele iria perceber se houvesse um sombra de tristeza em seu rosto. Então fez mais uma vez o que estava fazendo pelos últimos meses em Silvermount.

Mentiu e anunciou, com um grande e falso sorriso no rosto que eles teriam panquecas para o café da manhã. 

Já quero começar essa nota pedindo desculpas pela demora! Acho que ficamos um mês inteiro sem atualização e eu prometi que isso não aconteceria, mas esse final de ano foi uma bagunça tão grande e eu acabei ficando sem computador por um tempo. Mas agora estamos de volta com esse capítulo um pouco fofo, um pouco dramático (não era a intenção JURO). Quero saber o que vocês acharam (e o que estão achando dessa reta final da história). Só temos mais seis capítulos até o fim de Dirty Laundry e já posso dizer que vou sentir falta de Nina e Leo? Eu tô tão apegada a eles que tão doendo ter que escrever esse fim.
Obrigada pelo carinho com DL! Eu sou desapegada de números, mas hoje eu fiquei bem feliz de ver que alcançamos 10K de visualizações aqui. Vocês, leitores, fazem tudo por mim ❤
Obrigada pelo carinho de sempre! Se quiserem deixar um comentário, saibam que eu leio todos, um por um e que isso enche meu coração.
Até a próxima (não vai demorar taaanto!)
instagram: lulisescreve twitter: ohlulis (sempre estou falando de DL, nina e leo por lá).

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