17. if i knew how to hold you i would
— Então você gosta dela?
Nate perguntou, ansioso. Mantinha as duas mãos unidas e os olhos grudados em Leo, esperando sua resposta. Hawkins deu de ombros, desviando o olhar para a televisão da sala que mostrava algum jogo da NHL sem volume.
— É óbvio que gosta, meu Deus — Remi respondeu, focado no jogo. — Eu fui realmente o primeiro a perceber isso? Estava óbvio desde o começo.
— Ah, cale a boca Remi — Leo grunhiu, jogando uma almofada em sua direção. — Você não tem voz de fala. É a pior pessoa para relacionamentos que eu conheci na minha vida.
— Porque você certamente é a melhor pessoa para isso do campus, não é? — Remi devolveu a almofada com mais força do que o necessário, forçando Leo a se defender com as mãos. — Idiota.
— Calem a boca, vocês são dois fracassados — Nate vociferou em alto e bom som, devolvendo a almofada para o sofá antes que um dos dois quebrassem algo da mobília quase escassa da república deles. — Eu posso falar com propriedade. Ok, você gosta dela. E o que você vai fazer agora?
Leo passou a mão pelos cabelos escuros, suspirando profundamente. Nem queria estar falando sobre aquilo, na verdade. Mas era a primeira vez em muito tempo que os três paravam juntos em casa, com long-necks na mesa de madeira e um jogo aleatório passando na televisão. Não conseguiu ficar quieto. Quando percebeu, já estava falando sobre Nina e a aula de ioga da semana anterior.
— Por que vocês não se beijam de uma vez? — Remi falou como se fosse óbvio, apertando os olhos na direção de Leo. — Vocês estão sempre juntos. Aposto que sobram oportunidades para isso.
— Eu não sei, Remi — respondeu, arqueando as sobrancelhas enquanto pensava. — Nós estamos nos vendo todos os dias praticamente, se ficar um clima chato vai ser impossível superar isso.
— Mas sua prova é em três dias e o teste dela em quatro — Nate falou, gesticulando em excesso para provar seu ponto. — Você não vai precisar mais se preocupar com isso.
— E a festa da Delta Phi é logo após sua prova — Remi lembrou, dando de ombros. — Ela é uma Kappa Gamma, deve estar participando da organização.
Pelo menos quatro vezes por ano as irmandades do campus se juntavam para fazer festas em suas casas. Era uma das poucas vezes que isso era permitido e servia para diminuir a competição que havia entre elas. As fraternidades — fechadas, há quase três anos — tinham sumido do campus depois da tensão e dos jogos internos que perdiam as estribeiras.
A questão era que as festas da Delta Phi sempre eram lendárias. Geralmente eram temáticas, ofereciam bebidas que não se pareciam com xixi e a atração musical costumava impressionar os presentes. Apesar disso, Leo não costumava frequentar festas de irmandades. Sempre havia uma desculpa na ponta da língua quando alguém do time o convidava para uma delas.
Agora — sentado no sofá da sua sala com uma cerveja na mão e os olhos variando entre a televisão ligada, Nate e Remi —, ele não estava apenas pensando em ir para a festa da Delta Phi. Ele estava muito ansioso para a quarta-feira, imaginando diversos cenários na sua cabeça em que todos tinham um denominador em comum: Nina Houston-Löwe.
Aquele nome complicado daquela alemã complicada que não saía da sua cabeça complicada.
— Meu Deus, quando você passou o cara que perde completamente os sentidos por uma mulher? — Remi questionou assim que o jogo entrou no intervalo, olhando para o rosto de Leo com descaso. — Não te reconheço.
— Eu acho que ele gosta de verdade dela, Remi — Nate comentou como se Leo não estivesse presente, sorrindo orgulhoso. Estava ansioso pelo momento que ele cairia por uma mulher desde que tinha conhecido Hawkins.
Leo se envergonhou em ser o centro de atenções da sala. Um o encarava como se ele tivesse acabado de ganhar o prêmio de melhor da turma enquanto o outro parecia temer ser afetado por aquele sentimento contagioso.
— Podemos falar sobre outra coisa? — pediu, juntando as sobrancelhas. — Eu só quero voltar a pensar nisso... nela depois de quarta-feira.
— Tem falado com o seu pai? Sobre os olheiros nos últimos jogos? — Remi perguntou, apoiando as duas mãos atrás da cabeça. — Eu vi que você estava conversando com um deles no fim de semana passado.
Hawkins arrumou sua postura no sofá, assentindo em concordância. O olheiro parecia já saber quem ele era e o parabenizou pelo jogo, apesar da derrota. Perguntara se o jogador tinha algum agente, mas a conversa não evoluiu muito depois disso. Muito menos o assunto fora abordado com Sean.
— Ainda não — respondeu, dando de ombros ao encarar Remi. — Estou indo para Boston no fim de semana. Acho que terei tempo para conversar com ele lá.
— Algum problema em casa? — Nate questionou, arqueando uma sobrancelha em direção ao amigo. Ele não costumava voltar para casa no meio do período, apesar do seu pai viver sozinho em Boston.
— Não, apenas uma visita periódica — desconversou, apertando os lábios em uma fina linha. Nate assentiu, satisfeito com a resposta, mas Remi continuava encarando-o como se soubesse da sua pequena mentira.
Leo não era de fazer visitas periódicas. Seu pai passava a maior parte do tempo trabalhando no escritório e sua família só costumava se reunir nas festas de final de ano. Não tinha nenhuma ligação com Boston e por isso tinha se adaptado tão bem em Silvermount.
O real motivo por trás da sua visita era uma consulta médica marcada uns dias antes, logo depois da aula de ioga com Nina. A conversa que tiveram no carro ficou em sua mente por tempo demais, consumindo toda sua paz de espírito. Queria acabar com aquela inquietação de uma vez. Se houvesse um problema com ele — com o corpo dele — queria resolver de uma vez. Não podia se dar o luxo de se lesionar naquela temporada.
— Por que seu pai nunca te apoiou no hóquei? — Nate não conteve sua curiosidade, estreitando suas sobrancelhas. — Eu sei que esse é um assunto que você não gosta de falar sobre, mas...
— Eu queria saber, Nate — Leo cortou o amigo, dando de ombros. Não estava irritado e seu tom de voz transparecia isso, mas não tinha uma resposta para a pergunta. Era a mesma que fazia para si mesmo toda vez que entravam no assunto. — Tenho a impressão de que nunca realmente conheci meu pai. Todo mundo disse que ele se tornou outra pessoa depois que... Minha mãe morreu. Depois que eu nasci, na verdade.
Tudo acontecera de uma vez só. Leo, muitas vezes, tentava entender e justificar para acalmar sua mente barulhenta que tinha sido coisa demais para Sean Hawkins lidar. Mas sabia que a culpa não era sua. Não tinha tomado aquela dor para si, apesar de desejar dia após dia ter conhecido Emma.
— Ele não vai poder continuar com esse pensamento depois que você assinar um contrato milionário — Remi quebrou o gelo daquela conversa tensa ao levantar a própria long-neck em direção aos amigos. — Um brinde ao futuro rookie da NHL.
— É você que já tem um contrato — Leo retrucou, negando com a cabeça. — Vocês dois, na verdade. Se eu não conseguir me tornar um profissional ao menos tenho ingressos gratuitos para a temporada de futebol e hóquei.
— Não esqueça o futebol de campo — Remi completou, apertando os lábios em uma fina linha. — Tenho certeza que a família da sua namoradinha tem ingressos.
— Ela não é a minha namora... namoradinha — Leo vacilou, rolando os olhos.
— Ainda — Nate completou, concordando com Remi. — E você já está completamente sem graça só em pensar nisso.
— Não estou! — tentou se defender, mas suas bochechas vermelhas e seu súbito interesse nos comerciais da televisão diziam o contrário. — Por que eu achei que poderia contar isso para vocês?
— Está desenhado na sua cara, idiota — Remi falou, arremessando a última almofada ao seu alcance em Leo. — Estou vendo isso há semanas.
Leo sabia que era uma batalha perdida tentar convencer aqueles dois do contrário. Tentou colocar toda sua concentração na televisão, ignorando as piadinhas e as provocações que se seguiram até o jogo voltar a ser transmitido.
Era uma batalha perdida, também, tentar negar o que estava sentindo. Aquele sentimento inusitado e estranho que tomava conta da sua cabeça e das suas ideias e que sempre terminava no mesmo lugar.
Nela. Sempre ela.
Nina: A prova é amanhã. Como se sente?
Leo: Bebendo tanto café que acho que criei uma úlcera. Não consegui trocar o meu turno no Ivy e vou ter que fechar o bar. Uma merda.
Nina: Corte o café, idiota.
Leo: Como infernos eu vou me manter acordado sem café? Meu sono também está uma merda. Sonhando todo dia com a Sra. Wes. Sério. Não recomendo.
Leo: Não são sonhos eróticos pelo amor de Deus.
Leo: Meu Deus agora eu estou pensando nisso, eu quero explodir minha cabeça.
Nina: Agora eu também estou pensando nisso. Meu Deus, Hawkins.
Se houvesse um ciclo trágico de coisas que estavam fadadas a darem errado, era exatamente isso que aquela semana se parecia.
Primeiro: eles tinham perdido o jogo do fim de semana. Era suficiente para deixá-lo no seu pior estado de espírito, principalmente se considerado o mal-humor de Remi depois de levar uma bronca do treinador e as reclamações pesadas do último. Patron continuava a dizer que Leo precisava treinar mais, mas se ele treinasse mais do que estava fazendo, teria que se aposentar antes de completar vinte e três anos.
Segundo: a prova de microeconomia intermediária era no dia seguinte. Depois de três semanas pesadas, finalmente estava chegando o grande dia que definiria seu semestre. Não que ele não tivesse estudado o suficiente — com certeza mais do que em qualquer outra época da sua vida —, mas ainda havia a pequena pressão de não ter uma segunda chance. Não se formaria se não tirasse uma nota alta. Essa era a grande questão.
Terceiro, e esse ele odiava admitir: seu tempo com Nina Houston-Löwe estava no fim. Com a prova no dia seguinte e o teste dela na quarta-feira, eles finalmente estariam livres dos encontros por obrigação e Leo teria que assumir que esse não era o único motivo pelo qual ficava ansioso para encontrá-la.
Seu humor estava péssimo naquela tarde. Teve que desmarcar a última aula com a alemã depois de não conseguir trocar seu turno no Ivy, mas tinha ficado com todas as anotações dela dentro do seu caderno. Iria, vez ou outra, aproveitar o baixo movimento para reler os termos complicados e as coisas que ainda não faziam sentido.
Colocou o avental por cima da blusa branca, empurrando a porta que dava acesso da sala dos funcionários para o bar com as costas, desatento. Só conseguia pensar nessas questões que continuavam a perturbar seu sono, como tinha dito a Nina. Não dormia bem há uma semana quase inteira naquela altura.
Até que ele a viu.
Sentada em um dos banquinhos altos do bar, com o queixo apoiado em uma das mãos e um típico sorriso sem mostrar os dentes que só Nina Houston-Löwe era capaz de ter. Sorriu junto com ela assim que entendeu que sua presença ali não era uma ilusão malvada do seu subconsciente, andando em sua direção.
— Posso te ajudar com alguma coisa, senhorita? — brincou assim que se aproximou, notando o caderno preenchido de anotações que ela tinha em sua frente. — A biblioteca não estava aberta?
— Você está querendo me dizer que estudar na biblioteca é melhor que estudar no meio de um bar universitário? — ela arqueou as sobrancelhas em provocação a Leo, sorrindo antes de deixar o lápis que estava segurando na bancada. — Uma água, por favor. Vocês tem café, aqui?
Leo apertou os olhos em confusão, esperando por um explicação que veio logo em seguida.
— E toda vez que passar por mim, você vai responder uma questão. Então eu realmente espero que você já tenha revisado tudo para amanhã.
O plano ficou claro o suficiente na cabeça de Hawkins com essa última informação, fazendo-o jogar a cabeça para trás enquanto dava risada e Nina o encarava com um pequeno sorriso vitorioso nos lábios.
Ela tinha ido até ali para ajudá-lo com seus estudos finais, já que ele não tinha conseguido trocar o turno com outra pessoa para que pudesse ficar em casa estudando para a prova de Econ121 que teriam na manhã seguinte.
— Você só pode estar brincando, Houston — ele sorriu, encarando-a com os olhos castanhos brilhando em sua direção. — Vá para casa. Você também tem prova amanhã e precisa dormir bem. Eu nem faço ideia de que horas irei sair daqui.
— É por isso que eu espero que vocês tenham café, mas eu posso pedir em um aplicativo se esse for o caso — Nina falou com simplicidade, como se não houvesse outra opção e, antes que ele voltasse a falar, levantou um dedo em sua direção pedindo silêncio. — É isso, Hawkins. Eu não irei para casa e você vai ser um ótimo atendente e me checar a cada vinte minutos. Nós vamos revisar até o final do seu turno. Faça isso ou eu serei obrigada a falar a sua supervisora que você deixou uma cliente infeliz. E ah, eu trouxe um omeprazol. Pra sua úlcera. Que na verdade não é uma úlcera porque ela não cria assim tão rapidamente. Para seu desconforto gástrico...
Leo não conseguiu responder nada. Só continuou ali, parado como um idiota, encarando as feições delicadas de Nina que costumava aparecer quando os dois estavam sozinhos. Ela parecia tranquila, relaxada e não uma bagunça completa como ele. Mal tinha penteado o cabelo antes de sair de casa e — agora — isso o pertubava.
— Obrigado, Nina — Leo murmurou, apoiando as duas mãos no balcão de madeira e sorrindo para ela. — Eu acho que nunca te disse isso desde que a gente começou a estudar junto.
— É para isso que melhores amigos servem, não é? — ela apoiou o queixo na mão, brincando e mordendo o lábio inferior para impedir que o sorriso malino escapasse. Gostava daquela brincadeira deles. Gostava dos olhares profundos de Leo e da sensação, que tinha a todo momento, que algo estava crescendo ali. — Um café?
— Posso usar a máquina dos funcionários para isso. Forte e sem açúcar?
— Você me conhece — respondeu, um pouco antes que ele sorrisse mais uma vez em sua direção e desaparecesse pela porta dos funcionários enquanto negava com a cabeça.
Nina aproveitou o momento sozinha para respirar fundo antes de voltar a atenção para as folhas de caderno preenchidas na sua frente. Estar ali se pareceu a decisão mais óbvia quando ele contou a ela que perderia o último dia de revisão, mas agora revirava seu estômago. Estava perdendo uma aula para estar no Ivy. Algo que no começo do período ela considerava imperdoável.
Seus pensamentos saudosos de algo — ou alguém — que ainda nem tinha ido embora foram interrompidos por um alarme estrondoso do seu celular. Deslizou a tela com as pontas dos dedos, digitando um dos dois números cadastrados nos seus contatos de emergência.
— Oi papa — falou em alemão, diminuindo o tom de voz para que as pessoas ao seu redor não a endereçassem segundos olhares. — Tudo bem?
— Prinzessin — a voz de Marco fez um sorriso escapar meus lábios cerrados de Nina. Sentiu falta de casa e de ouvir aquela voz de perto. — Sim, querida. E você? Não nos falamos há algum tempo.
Apesar de preferir suas conversas com seu pai, Nina costumava ligar para Cami com mais frequência. A sua mãe era mais preocupada. Não se contentava em ouvir notícias da alemã por seu marido ou por um dos seus irmãos. Tinha que ouvi-la e, quando possível, vê-la pela câmera.
— Bem, papa — respondeu, apoiando o queixo em uma das mãos. — Como estão as coisas em casa?
Marco Löwe suspirou profundamente antes de começar a contar as boas novas — que Nina já tinha escutado outra vez de Leon. Lukas estava saindo de casa, prestes a seguir os passos da sua mãe na faculdade de medicina na Inglaterra. O evento, por si só, já tinha abalado a estrutura da família Houston-Löwe. Lukas já tinha um contrato em vista com um time de futebol regular da Alemanha assim como seu pai na sua idade. Nina sempre concordava com seu pai, mas daquela vez estava do lado do seu irmão. Sabia que ele não seria feliz se não fizesse seu próprio caminho.
Leon queria visitar Nina e Libby continuava colecionando troféus em casa. Henrik, o assunto mais difícil entre os dois, continuava arrumando confusões. A última — sem nenhuma surpresa — o deixara com um olho roxo.
— E a Mama? — Nina questionou, juntando as sobrancelhas. — Como está?
— Ah, querida... — um longo silêncio fora escutado depois disso. Nina imaginou o que viria a seguir. — Ela está preocupada com você. Muito.
Ficou em silêncio. Queria nunca ter dado motivos para aquela preocupação que sabia que corroía Camille por dentro. Não tinha mais volta.
— Eu vou ligar para ela amanhã — prometeu, engolindo em seco. — Está tudo bem, papa.
— Nós queríamos te ver, prinzessin — Marco falou de uma vez, aproveitando o silêncio de Nina para continuar. — Seria complicado para irmos até aí, mas se você puder vir no próximo mês...
— Preciso ver — limitou-se a responder, levantando os olhos assim que viu Leo passar pela porta dos funcionários. — Escute papa, preciso ir. Falo com você mais tarde, certo?
— Certo, querida — respondeu terno, mas Nina conseguiu sentir o cansaço em sua voz. Não precisava de muitas palavras para saber que ela estava fugindo do assunto. — Ich Liebe dich.
— Ich Liebe dich auch — murmurou como resposta antes de desligar a ligação, sorrindo sem mostrar os dentes para Leo assim que ele parou em sua frente. — Meu pai.
Hawkins assentiu, pigarreando antes de continuar.
— Você vai para a festa da Delta Phi da próxima semana? — perguntou, tentando soar despretensioso. Estava tentando fazer o que Remi tinha falado uns dias antes, apesar de ter quase certeza que estava falhando em ser discreto. Desviou o olhar para a xícara de café dela que enchia, torcendo para que suas mãos não falhassem naquele momento.
— Tenho que ir, estou ajudando na organização — a alemã respondeu, balançando o lápis que tinha nas mãos. — Você vai?
Leo deu de ombros, tentando fingir uma falta de interesse. Era óbvio que ia agora que sabia que Nina estaria lá. Remi e Nate iam para um festa fora do campus, acertada algumas semanas antes com o resto do time de hóquei, mas ele sabia que sua cabeça estaria em outro lugar se os seguisse.
Mais especificamente: onde Nina estivesse.
— Você sabe que é uma festa a fantasia, não é? — ela questionou, mordendo o canto do lápis. — Você precisa pensar em uma fantasia se quiser ir.
— Eu nunca vou fantasiado.
— Sem graça — ela retrucou, rolando os olhos. — Eu posso pedir para alguém te barrar, se eu quiser.
— Eu vou estar fantasiado então — Leo falou, assentindo. — De Leo Hawkins.
— E essa é a fantasia mais chata do campus.
Nina tinha uma sobrancelha arqueada em desafio ao respondê-lo, sorrindo assim que Leo fez o mesmo. Ela mesma ainda não sabia como iria se vestir, mas tinha anotado o telefone de três lojas de fantasia para visitar depois da prova de Econ121. Queria algo diferente das tiaras de bichinhos e looks inspirados em Euphoria que as garotas da Kappa Gamma estavam encomendando.
— Ok, vamos fazer uma aposta — Nina se animou, apoiando o queixo em uma das suas mãos enquanto fitava Leo arquear as sobrancelhas do outro lado do balcão. O jogador pareceu interessado, apoiando seu peso nas duas mãos espalmadas na madeira. — Se eu tirar uma nota maior na prova de amanhã, você vai a festa da Delta Phi com o uniforme completo da Kappa Gamma.
Hawkins jogou a cabeça para trás enquanto dava risada, divertindo-se com a ideia. Sabia que Nina não pegaria leve e o colocaria para usar as orelhinhas de coelho azul para completar o look característico das KKG.
— E se eu tirar uma nota maior?
— Se você tirar uma nota maior, eu vou vestida com a sua Jersey — completou, assistindo-o demonstrar surpresa com suas sobrancelhas escuras. — Eu ainda tenho aquela que você me emprestou no dormitório.
— Oh, achei que você já tivesse se livrado dela — Nina negou com a cabeça, fazendo-o suspirar. — Você sabe que estatisticamente é praticamente impossível que eu tire uma nota maior que a sua, certo?
— Ah, por favor Leo! Estou te ensinando há três semanas para isso. A criatura já superou o criador outras vezes na literatura.
Ele ficou em silêncio, ponderando os termos daquela aposta. Era ridícula, na verdade. Leo Hawkins nunca iria tirar uma nota maior que Nina Houston-Löwe em alguma matéria, muito menos em Econ121. Era um jogo perdido, algo que só serviria para aumentar o ego dela. Mesmo assim, ele queria participar. Seria — no mínimo — divertido.
— Não acredito que vou me submeter a isso — respondeu, rolando os olhos ao vê-la comemorar. — Meu Deus, Houston. Como você faz isso?
Nina fingiu não entender sobre o que Leo perguntava. Mas tinha algo a ver como aquele sorrisinho adorável no canto dos seus lábios, as bochechas rosadas altas e a leve mania que ela tinha de apertar os olhos claros sempre que queria alguma coisa. Era aquele poder enorme que ela tinha nas mãos quando se tratava dele. Aqueles fios transparentes que ele já começara a notar, um pouco antes de ser avisado pelos seus amigos.
É, Leo gostava de Nina. Muito.
— Podemos começar as perguntas? — Nina questionou, já pegando um dos cards que tinha confeccionado de dentro do seu caderno.
— E essa vai ser a pergunta nove na segunda página da prova de amanhã — Leo murmurou, apertando os lábios em uma fina linha e deixando a ruga no meio da sua testa visível. — Pode falar.
Seguiram a noite inteira assim. Às vezes, algum cliente entrava pela porta do Ivy e Leo se apressava para exercer sua função. Mas o baixo movimento de uma segunda-feira o ajudou e antes das duas da manhã ele já tinha fechado o caixa e o lugar.
Nina dormiu no quarto de Leo, mas ele não tirou nenhuma conclusão inusitada naquele feito. Ela já tinha roubado seus travesseiros outra vez, depois de perder o toque de recolher da Kappa Gamma. Hawkins dormiu com Remi, odiando-o pela inquietação dele na cama e a mania insuportável de roubar todos os lençóis, mesmo que Leo estivesse com o seu próprio.
Pela manhã, revisaram fichas durante todo o caminho. Com Leo dirigindo seu Jeep com atenção enquanto Nina, sentada virada para ele no lugar do passageiro, lia em voz alta informações cruciais e decorebas que eles tinham estudado nas últimas semanas. Ele a questionava coisas que não tinham ficado claras o suficiente, parava para cantar um pedaço da música que tocava no rádio — o que fazia Nina dar risada das suas performances —, e adicionava informações quando ela pedia para ele falar alguma coisa.
Quando desceram no pátio da Oak, todos os olhares estavam nos dois. Não porque havia uma mancha de café espalhafatosa no moletom de Nina ou Leo estava particularmente maravilhoso naquela manhã — ele sempre estava particularmente maravilhoso pela manhã, na opinião de Nina —, mas porque os dois sorriam, conversavam e davam risadas como velhos amigos que ninguém entendia porque eram. Leo carregava a bolsa dela nos ombros e ela tocava — muitas vezes —, o braço dele enquanto falava.
— Não vou te desejar boa sorte, porque você não vai precisar — Nina falou ao parar na frente dele, apenas a alguns passos de entrarem na sala.
— É claro que eu vou precisar, Nina — ele retrucou, trocando o peso de uma perna para outra enquanto se mexia, inquieto. Nina sorriu, passando a língua pelos lábios. — Eu preciso de sorte em todos os idiomas que você conhecer.
— Escute, você não vai precisar — ela continuou, arregalando os grandes olhos claros na direção dele. — Você estudou para isso. Só... Tente não se prender tanto a teoria.
Leo assentiu, passando a mão pelos cabelos escuros. Estava nervoso. Não costumava ser um mensageiro do caos, mas se ele não fosse bem naquela prova não se formaria. Isso era importante o suficiente para deixá-lo fora dos eixos, principalmente porque ainda não tinha escutado de nenhum dos olheiros de times profissionais.
Olhou para Nina, forçando um sorriso tenso ao encarar seus olhos. Também não queria desapontá-la. Nina tinha feito um ótimo trabalho arranjando um tempo praticamente escasso na sua agenda para ensiná-lo. Em três semanas, Leo tinha aprendido muito sobre microeconomia intermediária.
— Boa prova, Houston — murmurou baixinho. — Você definitivamente não precisa de sorte.
Nina sorriu, agradecendo com um aceno silencioso. Se pudesse, faria a prova inteira por Leo naquele dia.
— Leo... — segurou no braço dele, sorrindo timidamente quando o jogador voltou os olhos escuros em sua direção. — Good Luck. Viel Glück. Bonne chance. Boa sorte. E eu tenho quase certeza que em espanhol é algo como suerte.
Os olhos castanhos de Leo brilharam em sua direção. Ele sorriu, assentindo como um agradecimento silencioso antes de apoiar as duas mãos nos ombros de Nina e deixar um demorado beijo no topo dos seus cabelos. Ela piscou repetidas vezes, atordoada, quando ele a soltou, esperando que a alemã entrasse na sala para que ele pudesse fazer o mesmo.
Nina terminou a prova antes dele e, como ainda tinha muitas coisas para fazer na decoração da festa da Delta Phi e seu teste no gelo seria no dia seguinte, não pode esperá-lo. Sabia que o gabarito seria divulgado não muito tempo depois, já que era corrigido por uma máquina, e que até o final do dia o resultado já estaria preso no mural de avisos do prédio de economia. Queria estar com Leo quando isso acontecesse — precisava estar — mas mandou uma mensagem se desculpando se não chegasse ao lugar a tempo.
Leo fora um dos últimos a sair da sala. Releu cada questão mais de uma vez, apagando e reescrevendo suas resposta algumas vezes. Sorriu sozinho — em alguns momentos — quando a voz de Nina parecia soar na sua cabeça sussurrando uma resposta de algo que tinham estudado juntos.
Quando entregou a prova, estava confiante. Não tanto quanto ficava antes de um jogo de hóquei, mas algo bem perto disso. Não sabia que conseguiria o oito que precisava — a Sra. Wes era bem rígida quando se tratava dele — mas até deu um sorriso em sua direção antes de colocar a mochila no ombro e seguir para o pátio da Oak.
Não conseguiu fazer mais nada até o momento que viu a professora deixar a sala com seus característicos óculos vermelhos com a folha dos resultados na mãe. Esperou até que ela saísse de perto e três ou quatro pessoas andassem até o mural do prédio antes de fazer o mesmo. Estava tão nervoso que podia sentir as gotículas de suor se formando na sua testa.
Nina conseguiu localizar Leo de longe e apressou o passo quando notou que não havia uma expressão no rosto de Hawkins. Quase tropeçou nos próprios pés ao parar ao seu lado, buscando seus olhos assim que foi recebida com silêncio.
— O que aconteceu? — questionou, apreensiva. Queria ver Leo pulando, comemorando e agradecendo-a, não com aquele semblante. — Não me diga que não deu certo...
Olhou para a lista presa no mural, não demorando muito para encontrar seu número de matrícula. Estava em segundo lugar, com a segunda nota mais alta da sala. Um sólido 9,5 que se juntaria a todas as outras notas altas no seu histórico escolar.
Não estava preocupada com si mesma. Era Leo — e o silêncio incômodo dele — que a deixou trêmula.
— Eu acho que nós temos um problema — murmurou desanimado, apontando um dedo em direção da lista antes de continuar. — Porque agora que eu fui a única pessoa a fechar a porra desse teste, estou de olho na sua vaga de monitora.
*Story 1: A melhor professora da cidade
**Story 2: Você pode adivinhar quem tirou a maior nota da turma?
Chegamos ao fim das três demoradas semanas do Leo e da Nina juntos! Até parece que eles odiaram passar esse tempo juntos, né? hahaha
Gente, eu fico tão feliz de ver tanta gente me acompanhando nessa história. É um desejo antigo escrever algo ambientado na universidade e mesmo muito receosa de estar escrevendo um slow burn eu fico muito realizada em ver que ninguém desistiu de mim (e de dirty laundry, do Leo e da Nina). Obrigada pelo carinho de sempre, pelos comentários e pelos votinhos que vocês tem deixado. Quero saber o que tão achando até aqui.... De coração, esse feedback é muito importante.
Agora FINALMENTE isso chegou ao fim. Próximo capítulo vocês vão dar ALELUIA com o fim desse drama (e o começo de um novo, será?). Espero que tenham gostado ❤
Até a próxima!
P.s: já deixei um SUPER SPOILER DO PRÓXIMO CAPÍTULO NO MEU INSTAGRAM (lulisescreve). Quem avisa amigo é....
P.s2: me sigam no twitter também, eu sou um pouco surtada mas sou legal (ohlulis).
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