Capitulo XX - As cortinas do palco se abrem para o espetáculo iniciar
O sol se esvai de seu majestoso brilho, e a escuridão domina a humanidade. As nuvens dançam com os ventos no céu, derrubando os pequeninos cristais alvos como a lua em cima das ruínas de um templo abandonado. Essas ruínas são residentes de uma clareira na densa flora de Jinqu e somente o piso e partes das paredes sobreviveram ao assassino de memórias nomeado de tempo. Não há tochas acesas e é quase impossível enxergar sob tenebroso breu da noite.
Passos pesados de dois homens com armaduras ecoam na escuridão, como se eles estivessem anunciando um ao outro a sua chegada. Depois do aviso, os dois líderes de clãs, que chegaram com antecedência, se aquietam e aguardam. O silêncio reina como o soberano mais poderoso dentre os quatro homens que estão escondidos nas sombras e, no exato horário marcado, as tochas acendem como se fosse magia. A luz alaranjada derrota a escuridão e ilumina o centro das ruínas, que será o palco do maior espetáculo que já foi criado.
Esse é o estopim para um duelo entre lendas.
Cada passo dado em direção ao outro é lento e exala perigo, eles se aproximam e começam a lutar. Zhu Huang ataca com o sabre, mantendo a distância. Yang Wen desvia e desfere chutes que são defendidos, depois, tenta se aproximar, e o primeiro golpe do sabre acerta a sua armadura. A batalha aumenta a ferocidade, como se fosse coberta por um véu carmesim, entretanto por trás das cortinas do teatro, eles estão com cautela para não ferir o outro.
Em cima de uma árvore de grande altura, Yang Lian observa os detalhes de tudo que há nas ruínas do templo. Seus olhos percorrem rapidamente até os confins das sombras, procurando por Zhu Yin, quem orquestrou o duelo. Quando vê um vislumbre de algo branco destacando-se na densa escuridão, ele desce da árvore. É necessário um extraordinário cuidado para sua pesada armadura não emitir nenhum som, o ferro poderia tocar em outra parte de ferro, sua espada poderia esbarrar em si, suas botas poderiam escorregar na madeira e diversas outras possibilidades que fazem ele se vigiar para não torná-las reais por acidente.
Yang Lian encosta os seus pés no solo da clareira. Ele é cuidadoso para não pisar em nenhum animal que o atrasaria e caminha para as ruínas e pensa em subir nas paredes, entretanto elas não devem suportar seu peso, na verdade, elas não seriam capazes de suportar nem o peso de uma criancinha, então, ele decide apenas andar próximo a elas, evitando as áreas iluminadas pelas chamas.
Seus passos não são velozes, porque a sua armadura possui o poder de atrapalhar a sua discrição. Se ele não for cauteloso, ela emitirá um ruído que revelaria a sua presença.
Yang Lian continua com seus passos cuidadosos, entretanto pisa em algo que emite um som desagradável, um caracol teve a sua concha quebrada. As sombras não permitiram que ele visse o animalzinho e sua respiração torna-se mais profunda. Ele teme que tenham ouvido, entretanto, talvez, o som do duelo ao lado possa tê-lo encoberto. Por precaução, ele muda de caminho e permanece perseguindo o seu inimigo.
Ele desembainha lentamente a sua ilustre espada, evitando que qualquer ruído seja emitido por ela, porque, se esperasse mais, estaria muito perto para a sua espada ser desembainhada discretamente.
Yang Lian está a menos de um passo de distância das costas de Zhu Yin. O inimigo não está de armadura para possuir uma descrição melhor e ser capaz de mover-se com destreza sem revelar a sua presença. Ele levanta a sua espada e acerta o ombro esquerdo de Zhu Yin. Quando eles lutaram anteriormente, ele percebeu que seu inimigo possui uma destreza maior com o braço esquerdo.
Zhu Yin anda para a frente, retirando a espada de seu ombro, e começa a correr. O carmesim escorre, manchando suas vestes brancas e ele tenta estancar o sangramento pressionando o ferimento com sua mão direita.
Yang Lian evita o perder de vista e corre em direção dele, entretanto a madeira das ruínas estão em decomposição e começam a quebrar algumas tábuas com a velocidade dos dois.
Seus passos são rápidos e a respiração dele é tão acelerada quanto seus velozes batimentos cardíacos. O som da madeira se quebrando é sutil e o faz ter arrepios, porque ele sabe que há um andar abaixo de seus pés, entretanto se os líderes que lutam sem nenhuma delicadeza ainda não caíram, ele também não cairá.
Zhu Yin desaparece da visão de Yang Lian, o que o faz arregalar seus olhos. Ele se aproxima de onde o seu inimigo desapareceu e se lembra que está próximo da entrada do andar inferior. Yang Lian já encontrou esse templo anos atrás porque é de seu costume andar por todas as matas de Jinqu e explorá-las até o último centímetro, entretanto ele nunca entrou no andar de baixo do templo porque perigos desconhecidos poderiam estar a espera dele.
Ele aproxima-se da entrada. Há sombras densas como o breu, não é possível enxergar coisa alguma. Ele decide não se arriscar. Se Yang Lian entrasse, Zhu Yin, que certamente conhece profundamente este lugar, poderia matá-lo sem ao menos ser possível perceber a lâmina se aproximando. Entretanto, Yang Lian odeia dilemas, porque sempre é possível criar outras possibilidades para o futuro.
Ele quebra uma parte das ruínas de uma parede e utiliza a madeira para bloquear a entrada, de maneira que, se alguém passar por ela, irá emitir um ruído para alertá-lo. Ele se posiciona próximo à entrada, aguardando Zhu Yin retornar.
Zhu Yin corre, com os passos mais silenciosos que os profundos suspiros da noite que fazem todas as criaturas adormecerem, como se fosse um gato. No entanto, devido às sombras que mergulham o andar subterrâneo nos braços do abismo e sua visão péssima, ele não é capaz de perceber as tábuas que foram colocadas em sua saída e continua correndo até se encontrar com elas e quebrá-las enquanto atravessa.
Ele parece não se importar em ter sido indiscreto, sua respiração está mais acelerada que um leão correndo em direção à presa, e continua a fugir. Zhu Yin é veloz em pular a única parede que faltava para sair das ruínas, entretanto ele encontra-se com Yang Lian, que acabou de descer de uma árvore.
Ainda não desejando lutar, ele retira uma adaga de suas vestes e a empunha com a mão direita, apenas por precaução. Entretanto, Yang Lian é capaz de segurá-lo pelo pulso sem dificuldades, impedindo-o de escapar. Zhu Yin não resiste, sua respiração está muito mais ofegante do que deveria e ele tosse.
Yang Lian percebe que há uma pequena queimadura recente na mão direita de Zhu Yin e que dele provém um odor de fumaça.
- Fogo! - grita para os marechais escutarem.
O brilho alaranjado mais resplandecente que mil sóis domina as velhas tábuas de madeira que antes eram um humilde templo, sua ferocidade para consumir o seu alimento é maior que a de todas as feras imagináveis e inimagináveis. Com a rapidez de um leopardo, as chamas se alastram nas ruínas, e logo após o aviso de Yang Lian, o piso de madeira começa a desabar.
Os dois marechais correm para saírem do templo, enquanto o chão desaba diante de seus pés. Eles possuem uma postura confiante, como se fosse somente mais um dia normal, porque diversas experiências passadas já os testaram de maneiras muito piores.
Zhu Huang é o primeiro a se salvar, afastando-se das ruínas. As chamas não estão queimando o redor do templo por causa da neve que umedeceu a flora, acalmando a fúria alaranjada.
Em seguida a seu amigo, Yang Wen se aproxima do limite do incêndio e, ao perceber a fragilidade do solo em que suporta os seus passos, ele tenta pular. Entretanto o chão se desfaz e não há nada abaixo dele além de um inóspito mar dourado reluzente e mais agitado que as nuvens de tempestades, fazendo-o cair.
Com destreza, ele segura na beira da terra escorregadia antes dos braços da morte o enlaçar. Zhu Huang segura a mão dele. O fogo começa a consumir sua bota enquanto ele tenta subir. A neve é um obstáculo para Zhu Huang equilibrar-se e é difícil para Yang Wen escalar, entretanto ambos conseguem escapar.
Yang Wen imediatamente retira sua bota em chamas e bate com força em sua calça para apagar as pequeninas luzes que a queimavam. Ele respira profundamente, aliviado por sair do domínio da fumaça que é soprado para o lado oposto.
- Zhu Huang, se eu bato em mim e dói, eu posso me considerar forte ou fraco? - ele sorri e tosse.
- Você pode se considerar um idiota.
- Você está bem?
- Sim, eu não me queimei e não respirei muita fumaça, todavia seria melhor você ir ao médico.
- Isso não é nada não, se um foguinho me derrubasse, eu não mereceria ser chamado de marechal.
- E o seu discípulo?
- Tenho certeza de que ele está com o Tigre Branco em algum lugar seguro.
Uma suave brisa dançante se oferece como uma bela parceira para a fumaça e une-se a ela para apreciar uma esplendorosa música executando belos movimentos. O escuro pilar que cresce mais que bambus, semelhante às nuvens de tempestades devastadoras, é levado ao oeste, em direção aos dois jovens.
Yang Lian está segurando Zhu Yin, para evitar que o seu amigo caia devido à dificuldade que ele possui de permanecer consciente. A respiração dele é profunda e veloz, necessitando um esforço maior que o comum para realizar essa simples ação. Percebendo a fumaça indo ao encontro deles, Yang Lian oferece seu ombro para Zhu Yin apoiar-se e andar com o auxílio dele, entretanto decide que será mais rápido carregá-lo, não é a sua intenção que seu amigo respire mais do fatídico ar que poderia ser mortal para ele.
Com delicadeza, Yang Lian o coloca em seus braços e não se atrasa para escapar das nuvens mais escuras que o breu, residentes das profundas sombras do abismo. As chamas iluminam o seu caminho e aquece a noite gélida, ele anda próximo às ruínas, procurando o seu mestre, e o encontra. Seus passos se apressam ao vê-lo. Yang Wen está sentado e conversa calmamente com Zhu Huang quando ele chega, interrompendo-os.
- Terminei, podemos ir embora.
- Antes eu irei matar o Tigre Branco, não desejo permitir que ele escape novamente - e se levanta, desembainhando o seu sabre.
- Ainda não planejamos o que iremos fazer - se levanta um pouco desajeitado e se apoia nas costas de Zhu Huang.
- Não planejamos quase nada, apenas trocamos algumas mensagens de tarde e não explicamos a situação para seu discípulo porque todos nós já entendíamos nossos papéis. Todavia por que você o defende tanto? Quais são suas intenções?
- Imagino que você ainda não percebeu, eu não mato.
- Por que? Apenas para deixar mais pessoas morrerem? Não me atrapalhe, saia das minhas costas se não eu te derrubarei no chão.
- Ui que agressivo - e ri.
Yangs Lian observa, confuso, e tenta se afastar dos dois sem que o percebam.
- É um assunto sério - ele cumpre o que diz e para de apoiá-lo com suas costas, entretanto Yang Wen consegue se manter em pé sem dificuldades.
- Ei! Me escute.
Zhu Huang vira em direção ao seu amigo e percebe lágrimas caindo dos olhos dele e entende que essa estranha relutância dele é resultado de alguma ferida passada que ainda não teve o sangramento estancado.
- Irá decidir pela emoção?
A sombra de Yang Lian é ocultada atrás das árvores.
- Por que você está presumindo isso?
- Seu ideal é irracional. Somos comandantes de exércitos que já enfrentaram a guerra, nossos militares mataram inúmeros inimigos sob o nosso comando. O sangue sempre nos acompanhará independentemente de nossas escolhas.
- Nem todas mortes eu posso evitar, entretanto as vidas que eu puder salvar, eu salvarei.
- Às vezes, a morte é necessária.
Yang Lian é incapaz de se guiar com certeza na escuridão da floresta, entretanto permanece seguindo a trilha.
- Sempre há outros caminhos.
- Permitir que um assassino possua a oportunidade de continuar matando é outro caminho para você? - argumenta de acordo com os objetivos do Yang Wen.
- Podemos o prender.
- Da última vez, ele escapou.
- Não cometeremos o mesmo erro novamente.
- Cadê o seu discípulo?
- Zhu Huang - um sorriso provocativo enfeita o rosto dele -, me parece que quem agiu pela emoção foi você. Ele certamente escapou enquanto discutíamos.
- Pelo menos, não me envolva nos assuntos que você tiver com meu filho.
- O que?
- Preciso manter a reputação de implacável em meu clã. Eu não posso permitir, por escolha própria, um inimigo sobreviver.
- Você deseja que ele viva? - o silêncio os permite ouvir o crepitar das chamas, que decresce e quase se extingue.
- Vamos retornar para casa, está frio aqui.
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