Capítulo XII - Todos humanos são boas pessoas, exceto quando o mau recompensa
Os militares caminham, em silêncio e rumo ao acampamento, pelos túneis isolados, onde as sombras escuras dançam pelos ares. O exército está organizado como se estivesse em uma batalha ordinária e ninguém cita o ocorrido para eles, como se ignorassem tudo o que presenciaram.
O Tigre Branco se afasta um pouco de Zhu Huang, que permanece o vigiando como uma águia observando a sua presa, mantém a postura confiante e sobe em uma pedra mais elevada.
— Saúdo-lhes companheiros, quem estiver insatisfeito reúna-se a mim em uma revolução — diz economizando as palavras, para evitar que Zhu Huang intervenha antes dos militares escutarem.
— Quem desejar brincar com meu filho, vá, e aproveite para deleitar-se com a recompensa que terão — diz sorrindo.
— Não é preciso preocupar-se em oferecer algo a eles, eu mesmo irei tirar nosso clã dessa guerra sem sentido e finalmente te matar. No entanto, a ajuda do exército seria necessária, eu não sou capaz de te enfrentar sozinho.
Zhu Huang desembainha o seu pesado sabre e se aproxima do Tigre Branco, entretanto escudeiros bloqueiam o golpe desferido.
— Eu não permitirei que o domínio de horror perdure em nosso clã! — grita um corajoso militar, levantando a sua lança, que é seguido de outros.
— Não temam, sem o apoio do exército, ele não é nada — diz o Tigre Branco.
Aqueles que não possuem família e amigos próximos são os primeiros a avançar, encorajando os outros a prosseguirem ao lado deles diante da vitória certeira. Sem evitar a responsabilidade de ser quem iniciou a revolta, o Tigre Branco assume a frente. Sendo apoiado, ele se aproxima de Zhu Huang.
O Tigre Branco é veloz e desfere diversos golpes, que falham em acertar o alvo. Os ataques do líder são mais lentos, todavia o pesado sabre dele é eficaz em quebrar a armadura do Tigre Branco. Ele tenta acertar os olhos de Zhu Huang e faz um pequeno corte no rosto dele. Seis homens se juntam à luta, e o Tigre Branco abre espaço para eles, que imobilizam os braços do líder. Ele prossegue focado em cortar o pescoço de Zhu Huang que, com chutes, o afasta. Os homens se esforçam para segurar o líder Zhu, que possui uma força extraordinária. Esses atos corajosos dos militares entregam a sensação de segurança para os outros, que aderem à revolução.
— Quem matar os que se aliaram ao meu filho poderá fazer quase qualquer pedido a mim que eu o atenderei — diz em voz alta, para todos escutarem.
Cedendo ao egoísmo que há eras está penetrado na natureza humana, incontáveis militares não pensam duas vezes antes de matar sem piedade os seus estimados amigos. Todos possuem a certeza que a palavra de Zhu Huang é confiável, por isso, não hesitam em cometer tais atrocidades. O tumulto, que antes era grande, aumenta sua proporção devido a homens que se comportam como feras selvagens, corrompendo a pureza da alva geada, que é manchada por rios carmesim. O fatídico odor de sangue dança com o ar, dominando-o. Em efêmeros instantes, inúmeros corpos jazem sem vida, por consequência de diversos ferimentos violentos e cruéis, sobre rios escarlates.
Desordenadamente, os assassinos se reúnem perto de Zhu Huang, entusiasmados pela promessa e, depois do líder Zhu organizá-los em uma fila, eles começam a fazer seus pedidos fúteis. A maioria deseja grandiosas quantias de dinheiro, boas posições sociais, execução de inimigos e outras trivialidades, entretanto alguns utilizam a oportunidade para outras coisas, como um jovem que pede por um bom tratamento médico para sua mãe doente e um esperançoso pai que pede ao líder que se case com sua filha e a trate bem. Todos esses pedidos serão atendidos sem demora.
Nem todos militares se entregaram à insensatez e permanecem na neutralidade, não se uniram à revolução e não derramaram sangue de seus companheiros, eles observam horrorizados e alguns novatos sentem vontade de vomitar. Essa foi a posição adotada por Lan Xiu, que se aproxima de Zhu Yin enquanto os militares se distraem.
— O que te deu na cabeça para agir como um idiota? — sua voz quase é coberta pelos ruídos dos militares agitados — Ei, me responda!
— Desculpe-me — a voz dele é forçada.
— Não.
Lan Xiu o carrega à sua tenda e, cuidadosamente, o deita. Ela pega suas ferramentas médicas e tenta estancar os cortes profundos, temendo que os seus conhecimentos sejam insuficientes para ao menos estabilizar o que é mais volátil e imprevisível que o temperamento do oceano. Ela suspira, tremendo, todavia os ferimentos foram estancados. Ele está apenas inconsciente. Lan Xiu segura a mão de Zhu Yin e se senta ao lado dele.
Yang Wen caminha no acampamento dos Zhu, ignorando os inúmeros oásis carmesim que banham o deserto de corpos, não por frieza ou falta de empatia, a mente dele falha em conectar essas informações. Percebendo que Zhu Huang está ocupado, rodeado de militares que possuem a atenção dele, ele se senta e o espera, observando todo o assentamento.
Zhu Huang atende os seus militares, satisfazendo aqueles que depositaram suas expectativas nele. Ele caminha ao Yang Wen e ambos se cumprimentam respeitosamente, enquanto os Zhu observam com os olhos arregalados. Devido ao entusiasmo ou horror, a presença do marechal Yang nem mesmo havia sido notada anteriormente.
— Eu o capturei, vivo, como o instituído pelo contrato.
— Com essa extraordinária segurança, ele irá escapar — diz sorrindo.
— Então você teria a incompetência de deixá-lo fugir, apesar de estar próximo a ele? — Seu tom é provocante e ele sorri — Um militar está cuidando dele e outros estão de guarda, em breve iremos executá-lo — fala andando, indo para a tenda de Lan Xiu, acompanhado por Yang Wen.
A jovem escuta passos se aproximando e arregala os seus olhos. Ela suspira, coloca a sua máscara e começa a rezar. Lan Xiu esperava que o líder do clã chegaria em breve, entretanto ela pula para trás quando vê o marechal inimigo junto dele e ambos possuem uma postura amigável um com o outro.
— Com tantos ferimentos, ele não corre risco de vida?
— Não, ele é resistente.
— Está tudo bem? — questiona a jovem, fazendo uma reverência.
— Sim, Zhu Weijun, e agradeço por ter cuidado de meu filho.
— De nada, o senhor deseja algo mais de mim?
— Não é necessário, somente descanse, seu trabalho foi o suficiente.
— Eu irei — ela senta do lado de fora da tenda, próxima à entrada.
— Você poderia me esperar um pouco? — diz para Yang Wen — Eu irei coordenar meu clã para retornar a nossa casa com a organização planejada, em breve estarei aqui novamente.
— Está bem, não é necessário ter pressa, eu sou paciente — ele se senta.
— Obrigado por sua compreensão.
— De nada.
Zhu Huang mantém a postura implacável e a mais profunda fúria incandescente domina o seu olhar, como se fosse a lava que escorre de um violento vulcão e reduz a cinzas qualquer ser que ousar se aproximar. Ele sai, determinado a cumprir seus deveres com rapidez, entretanto o perspicaz marechal percebe que, por trás da imponência do líder Zhu, existe uma profunda melancolia. É pesado o fardo de se culpar pela morte daqueles que amou, "eles" se foram e aquele que ficou o traiu e está para perecer por suas mãos. Os dois amigos sobem em uma carruagem, que o destino é o distrito do clã Zhu, onde o Tigre Branco deve ser executado para servir de exemplo a todos que ousarem se rebelar.
— Zhu Huang, o que estava acontecendo quando cheguei?
— Uma rebelião liderada pelo meu filho, todavia, talvez você tenha chegado quando ela acabou — Yang Wen ri.
— Conte-me mais, porque isso me interessou.
— Foi muito rápido, não tenho nada a dizer além de que aconteceu uma luta que durou poucos instantes.
— Você foi veloz em encerrá-la.
— Não ser um mentiroso como você tem suas vantagens — ambos riem — Eu somente prometi que iria cumprir quase qualquer desejo daqueles que se aliassem a mim e eles acreditaram.
— E alguém pediu um casamento com você? — sorri maliciosamente.
— É claro.
— E você irá realizar esse pedido?
— Que outra opção eu tenho? Não foi um pedido absurdo.
— Finalmente! — ri —, finalmente você vai se desencalhar!
— Ser solteiro pode ser mais vantajoso e eu nunca encontrei uma mulher que me interessasse.
— No começo eu pensei assim quando meu pai arranjou meu casamento. Eu odiava a Jingyi. Ela era uma adolescente obcecada por mim e eu obcecado por trabalho, eu não tinha intenções de me casar mas, alguns anos depois, ela roubou meu coração. Hoje, acredito que não há nada melhor que poderia ter acontecido na minha vida. Eu não sei explicar, é estranho, mas você poderá me entender no futuro.
— Espero que sim.
— E não circulará mais rumores de que você é corta-manga¹³, ou de que tem um relacionamento com o Yang Cheng — sorri.
— O que!? — um intenso rubor cobre sua face.
— Não está por dentro das fofocas? — ri.
— Não.
— Você nunca beijou uma mulher — sorri maliciosamente —, apesar de já possuir mais de trinta e cinco anos, é óbvio que começaria a circular estes tipos de rumores.
— Yang Wen… — seu rosto está inteiramente rosado e seu amigo ri ainda mais.
— Zhu Huang, eu preciso falar sobre uma questão importante — diz, ao perceber que eles estão próximos do clã Jin.
— Estou ouvindo — suspira e retorna a sua postura imponente.
— Eu estive pensando que a morte não seria o suficiente para punir o Tigre Branco pelo que ele fez com meus homens — mente, porque não deseja revelar o seu ideal de nunca matar.
— O contrato é imutável.
— Podemos criar um novo.
— Perdoe-me, eu discordo.
— Tem certeza? — A sua voz é áspera, e Zhu Huang compreende que não é uma pergunta.
— Sim, eu sempre cumpro a minha palavra — ele o encara com um olhar frio, que é retribuído, estando prestes a desembainhar o seu sabre.
Yang Wen prossegue, desembainhando sua espada, e desfere um corte na mão de Zhu Huang. O líder Zhu acerta um golpe com o sabre na armadura do marechal. A carruagem balança e eles caem dela. Ambos exércitos, que somente acompanhavam os seus líderes, começam a “lutar”, deduzindo que o teatro ainda continua.
A sinfonia furiosa que carrega os intensos gritos dos guerreiros é espalhada pelo ar e os Jin escutam a música cantada pelo caos. O imponente marechal Jin Yuchen atravessa o portão do clã em seu cavalo branco, junto de parte do seu exército.
— Briguem longe de nosso clã! — ele grita — Venham aqui os líderes! Faremos um acordo! — suas sobrancelhas estão franzidas e o seu rosto avermelhado, como o escarlate que domina a armadura dos militares.
— Eu estou aqui — Yang Wen aproxima-se com rapidez.
— Perdoe-me pelo incômodo, eu não desejo nenhuma inimizade com o nosso irmão Jin — Zhu Huang possui uma postura solene, como se ele não tivesse com a sua armadura quebrada e rosto sangrando.
— Qual é o problema de vocês?
— Temos um prisioneiro, o Tigre Branco, entretanto estamos em desacordo sobre o destino dele — responde Yang Wen.
— Apenas devemos seguir o contrato
— Entendi, então eu fico com ele — diz Jin Yuchen.
— Eu não irei entregá-lo — a fúria no olhar de Zhu Huang é como o escarlate reluzente do sangue que escorre por ele.
— Não é necessário, eu o pego.
O marechal Jin ordena que seus militares adentrem no caos, que logo é extinto porque ninguém ousa batalhar enquanto Jin Yuchen os intimidam. Um general retorna com o Tigre Branco em seus braços, ainda inconsciente.
— Está resolvido, eu o deixarei preso em meu clã.
Ninguém é capaz de se opor.
-
¹³ Uma gíria chinesa para gay.
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