Capítulo VI - Quanto maior a luz, maior a sombra
Uma cerimônia solene estende-se no grandioso palácio adornado por inúmeras pedras preciosas provindas de terras longínquas, e nobres de distintas regiões do império são convidados. Instrumentos musicais que emitem sons deslumbrantes ecoam na vastidão da morada do novo imperador, Liu Han, que recebe o trono diante de seus súditos.
Dias antes, Liu Zhao foi encontrado submergido no escarlate de seu próprio sangue em seus aposentos, deixando o trono para o seu único herdeiro. Alguém utilizou as oportunidades criadas pelas consequências caóticas do sequestro do príncipe e o assassinou.
Sob os adornos dourados do chapéu escuro como o hanfu negro enfeitado por detalhes escarlate dele, que balançam diante de seu rosto, ele apenas permanece com as feições frias como a geada que cobre a flora sob o domínio da noite. Liu Han se senta ao lado de um homem pardo detentor de uma postura imponente e olhar distante, que veste um hanfu cinza-escuro adornado por detalhes dourados como as íris dele.
Liu Han esconde a parte inferior do seu rosto com a taça que ele finge beber o líquido dela, para sussurrar algumas palavras ao seu marechal, o homem dos olhos âmbar. Liu Han ajeita os seus cabelos negros e se levanta, após verificar que ninguém o observa, e desaparece nos corredores do palácio. Um instante se passa e o marechal já não está mais na cerimônia.
A festa é finalizada e ninguém os encontra.
O manto do cosmos é estendido sobre o céu noturno, acolhendo os seres vivos em seus braços e concedendo-lhes a chance de repousar ou executar os seus planos. Dois convidados do imperador descem calmamente de uma carruagem, diante do grandioso portão do palácio, que é adornado em ouro e detalhes carmesim semelhantes à coloração das folhas de árvores que caem sem vida no solo. Zhu Huang e o Tigre Branco, o sucessor do líder Zhu, que insistiu em acompanhá-lo, aguardam na entrada.
A noite é gélida e a suave brisa balança os fios de cabelos deles, entretanto o clima não os incomoda porque os mantos sobre os hanfus deles os aquecem. E enquanto eles aguardam, quietos como duas deslumbrantes estátuas de mármore, algumas mulheres os observam e comentam entre si que a lendária fama dos Zhu de serem belos ainda não é capaz de descrever a aparência etérea pertencente a eles.
Um subordinado de confiança do marechal é responsável por recebê-los. Ele quase cai quando se aproxima, entretanto continua a andar, possuindo uma postura encurvada e sorriso forçado enquanto respira rapidamente, tentando mascarar um temor que a presença destes Zhu causaria em qualquer um.
— Licença, meus senhores, eu os convido para entrar no palácio e tomarem posse do último Yang que restou — essa informação coincide com o relatado pela rede de inteligência dos Zhu.
— Apenas o escolte até a saída — ordena Zhu Huang, cruzando os braços.
— Tememos que o prisioneiro escape em nossas mãos.
— Não se preocupe, eu irei buscá-lo! — interrompe-os.
— Zhu Yin! Iremos aguardar fora do palácio.
— Eu falarei com meus superiores para cumprirem o seu desejo.
— Não é necessário este incômodo, eu o acompanharei para buscar o Yang — diz enquanto sai ligeiramente do alcance de Zhu Huang e adentra ao palácio.
Uma fúria incandescente, como a lava luminescente que escorre de um vulcão, exterminando toda a vida que ousa aproximar-se de seu caminho, transborda no olhar de Zhu Huang. No entanto, não há razão para o Tigre Branco ceder espaço ao medo, o jovem sabe que está caminhando em uma armadilha porque não é possível enganar um mestre das mentiras. O Tigre Branco conhece o temperamento jovial do imperador e seu olhar estratégico não o permite envolver-se em problemas quando a resposta para resolvê-lo é desconhecida.
O palácio é imenso e a temperatura interior é aconchegante. O espaço de cada cômodo é vasto. As madeiras são amareladas, adornadas com decorações carmesim e cortinas púrpura. Cada detalhe foi criado pelos arquitetos mais talentosos do império e construído pelos carpinteiros mais habilidosos encontrados. Entretanto, ele estudou a alma desse lugar antes de assassinar o antigo imperador e se lembra do exato lugar de cada tábua do palácio.
O peão do marechal é insistente nas mentiras e afirma estar levando-o ao encontro do prisioneiro. O Tigre Branco sustenta a farsa do servo e continua andando ao lado das janelas até a movimentação tornar-se sutilmente mais agitada, apesar da cautela dos inimigos em ocultar a presença deles, a audição dele é mais aguçada devido a sua visão reduzida.
Ele sorri ao testemunhar a coragem do jovem imperador e aprova-o. Aparentemente, Liu Han não será covarde como o seu antecessor e impedirá o avanço da guerra entre os clãs irmãos. Um dos objetivos foi concluído, no entanto, o Tigre Branco suspende temporariamente a missão de encontrar informações confiáveis sobre os Yang e decide entregá-la para Jing Xiang.
E, antecedendo as ações de seus inimigos, ele escapa do domínio deles pulando a janela e se esconde às sombras da luminosa lua. O Tigre Branco dissipa como um nevoeiro fugaz que desvanece durante a alvorada, ocultando a sua presença até mesmo do olhar da sentinela mais perspicaz. Quase que de imediato, ele pula para dentro de sua carruagem, fazendo o condutor arregalar os olhos dele e procurar a causa do ruído.
— Sou eu — sorri, se sentando.
Zhu Huang ordena que imediatamente conduzam a carruagem para Jinqu. A voz dele ecoa na escuridão, Zhu Yin não havia percebido que ele estava do seu lado e, por um instante, falha no simples ato de respirar.
— Pai…
— Não me chame assim, eu não sou seu pai — seus braços estão cruzados.
— Perdoe-me, todavia quem sempre cuidou de mim é o senhor, por isso eu o considero a minha família — diz com um tom de voz infantil, aproximando-se dele.
— Não imite uma criança — a voz dele aparenta suave —, isso é ridículo…
— Entendido!
— Você deveria ter me obedecido, lembre-se de considerar que sua rebeldia sempre será acompanhada por consequências — a seriedade e frieza retornam em seu tom quando ele profere esta ameaça.
— Pai, eu desejo esclarecer os meus motivos para haver te decepcionado.
— Fale — o Tigre Branco aproxima-se, para assegurar que ninguém escutará o que irá dizer.
— Eu preocupei-me com um amigo, eu não poderia o abandonar… ele é um dos Yang. Perdoe-me, eu sei que eu não deveria me relacionar pessoalmente com algum deles, mas…— para sua atuação ser mais convincente, ele começa a chorar.
— Que audácia louvável — diz sorrindo.
— Eu falhei… eu falhei — o Tigre Branco o abraça — Desculpe-me, como posso recompensá-lo pelo meu mau ato?
◇◇◇
Na biblioteca do palácio, o jovem imperador não resiste ao sono e adormece sentado em uma mesa devido ao cansaço de seu trabalho, o que faz seu servo esperar durante horas para o informar dos resultados de suas ordens. Durante madrugada, quando a iluminação provinda das resplandecentes chamas concede uma confortante luz alaranjada que faz esse grandioso local aparentar acolhedor, Liu Han acorda entre a bagunça de pergaminhos e levanta a sua cabeça.
— Conseguimos vencer? — diz esfregando seus olhos.
— Não, o líder do clã Zhu se recusou a entrar no palácio e o sucessor dele fugiu.
— A estratégia dependia deles estarem no palácio?
— Sim.
— Eu deveria ter avisado mais cedo, o plano ficou incompleto. Tudo bem, eu possuo outras estratégias.
— O senhor precisa de ajuda para realizá-las?
— Eu desejo anunciar amanhã novas leis que estive conversando com o Jun Long, todavia agora eu preciso dormir, há muito trabalho para ser feito mais tarde.
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