Capítulo 83
Jess
No próximo segundo, tudo o que vejo é o pescoço de Jay marcado das mãos de Aaron na minha frente.
Melanie, Jay, Aaron e eu acabamos parando na diretoria depois daquela discussão toda. Acontece que todos os alunos que estavam em volta ouviram as últimas partes da nossa briga, que se resumiram em gritaria e olhares mortíferos.
Todos nós fomos levados para a diretoria para falar o que tinha acontecido naquele lugar.
Primeiro eles chamam Melanie e Jay para conversar, e enquanto isso, fico em silêncio ao lado de Aaron. Ainda não digeri completamente o que acabou de acontecer com a gente.
Eu devia saber que estava sendo traída, aquilo era mais do que óbvio. Me sinto extremamente idiota por não ter descoberto antes. Não posso dizer que não suspeitava nenhum pouquinho de que o Jay não era cem por cento fiel, mas também não esperava que tinha sido com a minha melhor amiga.
"Você está brava comigo?" Aaron pergunta baixo. Talvez esteja inseguro.
Olho para ele e seguro a sua mão.
"Eu... não, não estou. Me desculpa, eu só... tive uma reação exagerada na hora, não sabia direito o que fazer e não estou muito acostumada com esse tipo de situação. Me desculpa, não quis que você pensasse isso. Eu também achava que ele merecia aquilo," solto um pequeno sorriso de lado. "É que minha cabeça estava cheia na hora, não sabia o que dizer ou responder a nada, me desculpa. Não estou brava com você, só fui um pouco surpreendida, mas está tudo bem."
"Tem certeza?"
"Você me defendeu, Aaron. Já perdi as contas de quantas vezes você me defendeu. Não estou brava, estou agradecida. Estou bem, eu juro."
Então vejo um sorriso crescer nos lábios dele e a tensão em seus ombros diminuir.
Dou um beijo nele e arrumo um fio de cabelo que invadia seu rosto cansado.
Mas então vejo Jay e Melanie saindo da sala e se sentando novamente na cadeira. "Entrem," diz Melanie secamente. "Estão chamando vocês."
Eu e Aaron nos levantamos e eu continuo olhando para a Melanie, que me encara com tanto ódio no olhar que não dá pra medir.
Então, como meu cérebro aparentemente já voltou a funcionar e minha voz agora consegue sair da garganta, me aproximo da Melanie e olho especificamente para ela. Também tenho algo importante para dizer.
"Só queria que soubesse que não vou me rebaixar ao seu nível e guardar uma mágoa de você que vai me destruir ao decorrer da minha vida. Não me importo se te ver mais vezes durante o tempo, na verdade seria ótimo te ver e relembrar dos erros que eu nunca devo cometer novamente," suspiro. "Eu aprendi muito sendo a sua amiga, Mel, e conheci você o suficiente para saber que eu não quero mais estar ao seu lado como melhor amiga. Nós sabemos que a nossa amizade nunca havia sido totalmente verdadeira, e isso não foi bom para nenhuma de nós. Então... só espero que você fique bem, e espero que você se conheça melhor e descubra o que realmente o que te faz feliz, porque acredite em mim, com certeza não é essa vida que você está vivendo agora. Consigo ver pelo seu rosto. Não acho que você me odeia, só acho que você esta infeliz consigo mesma. E quando você se achar, com certeza se sentirá melhor."
Melaine treme os lábios e revira o olhar. Ela olha para baixo e fica calada. Eu então me viro para o Jay, que me encara com nojo e raiva estampados no rosto.
"Você também me fez descobrir muita coisa, Jay," digo, e ele revira os olhos. "Mas sobre você não há muito o que dizer. Você ainda é um menino que está preocupado com as coisas erradas. Vire homem." Já estou me virando para entrar na sala, mas me viro para Jay de novo. "Ah, e... eu também estava com o Aaron enquanto estávamos namorando. É claro que não é algo para se orgulhar, mas... achei que você precisava saber."
Por mais que eu queria falar aquilo normalmente, minha voz acabou saindo um pouco rancorosa. Mas creio que isso seja justo o bastante.
Jay deixa cair a boca e me encara com a boca aberta, incrédulo. Mas que estranho, achei que ele já sabia disso.
Solto um sorrisinho para os dois, que ficam sem palavras, e vou até o Aaron.
"Você é um exemplo pra sociedade," ele sussurra no meu ouvido e beija a minha bochecha.
Eu sorrio para ele, orgulhosa por ter sido pelo menos um pouco madura — ou tentado —, e nós entramos na sala juntos.
"Mas as vezes eu queira não ser um exemplo para a sociedade," respondo, pensativa.
Fico feliz de saber que nenhum dos dois encontraram palavras para me responder. Querendo ou não, isso faz eu me sentir melhor. Depois de tanta coisa que eles fizeram eu e o Aaron passar, ou que nós os fizemos passar, o melhor que poderíamos fazer agora é nos afastar um dos outros.
Quando entramos na sala do diretor, explicamos toda a situação e dizemos quem foi que andou pichando a escola. Eles perguntaram como havíamos descoberto aquilo e eu disse que tinha visto ele pichando a quadra no outro dia. E isso explicaria o porquê ele tinha escrito tantas maldades sobre mim hoje de manhã.
Também tento não guardar mágoas do Davi, ele também é alguém que está convencido demais para entender qualquer palavra que eu disser sobre ele agora. Nada do que eu disser a ele vai adiantar a este ponto, e o melhor que eu posso fazer e esquecer isso. Até porque provavelmente não vou ver nenhuma dessas pessoas pelo resto da minha vida.
Mas mesmo que ajudamos a descobrir quem era o pichador que estavam procurando por dias, o diretor ainda não nos perdoou pela briga e pelo Aaron ter sufocado o Jay, e acabamos levando apenas uma suspensão, o que é pouco, já que achei que seríamos expulsos dessa escola.
Eu e o Aaron perderemos algumas provas e não sei se vamos de a chance de fazê-las outro dia, mas felizmente nossas notas são boas o suficiente para passar de ano. Não são as melhores, mas são suficientes.
Depois de sairmos da diretoria, Melanie e Jay não estão mais sentados nas cadeiras, e ficamos dez minutos esperando os nossos pais chegarem para falar com o diretor antes de irmos para casa.
Meu pai chaga primeiro que o pai do Aaron. Minha mãe não veio com ele, provavelmente ficou no escritório e deixou que o seu marido desse mais uma bronca na sua filha, por que brigar três vezes por dia com os pais não é o suficiente.
"Jess!" Ouço meu pai gritando ao se aproximar. "Mas o que é que você fez?"
Eu me levanto quando o vejo e seguro na mão de Aaron por instinto, mas logo me lembro que é meu pai que está parado na minha frente e a solto, mas Aaron a pega novamente e me segura junto ao seu corpo.
"Ela não fez nada, senhor, a culpa foi toda minha," diz Aaron, mas ele mal termina de falar e meu pai me puxa e me separa dele.
"Não, pai!" Grito. "Não foi culpa do Aaron, foi culpa de alguns alunos estupidos, ele não fez nada."
"Você acha que eu acredito nisso, Jessica?"
"Por que eu mentiria sobre isso se nada pode piorar a este ponto?"
Mas antes que meu pai responda, vejo o pai do Aaron chegando e percebo como ele está bravo. Seus olhos e suas sobrancelhas se tornaram a mesma coisa a este ponto.
E antes que ele chegasse até nós, os dois pais são chamados até a sala do diretor. Meu pai olha para mim completamente raivoso e aponta o dedo para mim e para o Aaron.
"Fiquem aqui. E fiquem separados!"
Depois de alguns minutos, os dois voltam ainda mais bravos do que antes, e nem sabia que isso era possível. Eu e o Aaron continuamos abraçados quando vemos eles, sem se importar para o que eles vão dizer.
Levi e meu pai se aproximam de nós e cada pega o seu respectivo filho pelo braço. Eu tento me separar das mãos do meu pai e não consigo, ao contrário de Aaron, que é bem mais forte que o pai dele. Mas ele não se aproxima de mim novamente.
"Me solta, pai!" Grito. Ele me segura com menos força, mas não me solta.
"A partir de hoje, vocês não irão mais se ver dentro ou fora da escola. Os dois ficaram trancados em seus respectivos quartos, porque já percebemos que não há outra maneira de separar os dois. Já que não quiseram colaborar conosco, também não facilitaremos nada para vocês," diz Levi, cuspindo de ira. "Esse romancezinho de vocês poderia resultar em um processo do ex-namorado da Jess. Um processo! Mais um problema."
"Acho que vocês já causaram confusão demais por agora, já está na hora de dar um basta nisso," completa meu pai.
"Vocês não podem fazer isso," protesto.
"Depois da suspensão, vocês irão fazer as provas que faltam e ir direto para casa. Não quero saber se concordam com isso ou não," diz meu pai, me ignorando. "Eu e o Levi já passamos por problemas demais para ver dois adolescentes criarem tantos mais."
"A culpa de todos esses problemas é de vocês, não nossos. Tudo estaria bem se não fosse por vocês," diz Aaron, apontando com violência para meu pai e o dele.
"Se isso fosse verdade, nós não estaríamos perto da falência," responde meu pai.
Falência?
"Falência?"
Mas antes que eu possa perguntar qualquer outra coisa ou me despedir de Aaron, meu pai me puxa e me leva direto para o carro.
Ainda consigo ver Aaron atravessando o estacionamento com o pai dele, mas não há muita coisa que ainda possamos fazer.
Quando chegamos em casa, meu pai faz o que diz e me deixa trancada no quarto. Gritar, implorar ou chorar até a última gota de água que tinha no meu corpo não o convenceu a me deixar sair.
Eu não sabia que estávamos na falência, não sabia que o buraco estava tão embaixo assim. Agora talvez eu entenda o porquê dos meus pais estarem tão desesperados assim, mas o que eu e o Aaron poderíamos fazer se tudo já está aos pedaços.
— — —
Irraaa
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Um beijão e até a próxima 💕
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