•Capítulo Vinte e Três•
Minha pequena discussão com o Owen, me fez passar a noite em claro. Foi extremamente difícil vê-lo com a Madison naquele jantar. Eu senti meu coração apertar como nunca antes, mas mesmo assim, fingi não ligar para a situação. Porém a verdade era que assim como ele disse, eu daria de tudo para poder voltar no tempo e dizer, naquela noite em que ele dormiu aqui onde assistimos o filme Simplesmente acontece, o que eu realmente sinto por ele, mesmo sabendo que ele não sente a mesma coisa. Pelo menos eu ia estar com a consciência limpa e não sentir essa sensação de que podia estar tudo diferente nesse momento.
Passei minha manhã toda deitada na cama, revendo as milhares de fotos que haviam em meu celular e sorrindo frouxo com algumas delas. Eu estava morta de cansaço e minhas olheiras estavam mais visíveis do que nunca, mas era o meu primeiro dia no novo emprego, então minha aparência merecia um pouco de dedicação. Depois de fazer uma maquiagem, destacando meus olhos com um delineado preto e colocar um batom nude, visto um macacão jeans, com cropped preto por baixo e saio de casa com minha bicicleta.
Quando chego no Sunset, o Sean está sentado com o Otis e aquela garota ruiva novamente. Por algum motivo, ela me intimida, mas obviamente ela não precisava saber disso. Respiro fundo e me aproximo dos três, com um sorriso tímido no rosto.
“Senhorita ninguém, chegando pontualmente! Assim que eu gosto!” O loiro sorri, me fazendo revirar os olhos.
“Sininho, não vejo a hora de ouvir sua voz!” Otis me olha com um sorriso, me fazendo sorrir também.
“E eu estou começando a ficar nervosa.” Engulo seco e encaro o Sean. “Vamos ensaiar?”
“Vamos. Com certeza você precisa de horas de ensaio pra chegar no meu nível.” Ele se levanta todo autoconfiante, me obrigando a respirar fundo para manter a calma. Eu odeio arrogância. “Vamos ensaiar no meu quarto, assim ninguém nos incomoda.”
“Não sabia que você morava aqui.” Falo enquanto o sigo.
“Não é aqui, minha casa é ali.” Ele aponta para uma mansão branca, assim que saímos pelos fundos do restaurante. Era no mesmo terreno e no meio das duas construções, tinha uma enorme piscina. “Bem vinda, Wendy. Sinta-se em casa.” O loiro sorri quando abre a porta para eu entrar.
“Humilde, hein?” Ironizo, soltando uma leve risada.
“Não gostamos de esbanjar nossa riqueza.” Idiota.
Andamos mais um pouco naquele enorme corredor, até que entramos em seu quarto. Um quarto enorme com uma cama de casal no centro. Me dá nojo só de imaginar o tanto de mulher que já passou por essa cama. Era um quarto bonito, mas era inteiramente preto, com poucos detalhes em cinza, deixando o ambiente escuro e um pouco desconfortável.
“Ensaiou a música que eu pedi?” Ele me questiona, me fazendo pegar o meu violão no mesmo instante, pronta para mostrar os arranjos que fiz. “Nem pegue o violão. Esqueceu que não vai tocar? Temos uma banda, querida.”
“Mas eu fiz uns arranjos, que podemos mostrar para eles.”
“Não vai dar, eles têm um show para fazer e vão chegar em cima da hora de começarmos, então não tem tempo de ensaiar.” Bufo cruzando os braços.
“E como é que a gente vai ensaiar?” Ele sorri abrindo o seu notebook.
“Eles gravaram a música, só precisamos treinar em cima dela.”
Pelo visto, trabalhar com esse garoto não vai ser nada fácil. Eu sempre tive cem porcento do controle sobre o que eu ia cantar. Não ter isso em mãos, me desiquilibra totalmente.
Depois de passar a tarde toda ensaiando, chegamos ao que nos olhos dele significa perfeição, coisa que se não chegássemos, não iriamos sair dali nunca.
“Eu estou morta, Sean. Nem sei se vou conseguir cantar, de tanto que forcei minha voz.”
“É sua noite de teste, Wendy. Eu só quis te ajudar, pra ter a certeza de que você vai passar.”
“Teste? Como assim? Eu já não estou contratada?”
“Meu pai é o chefe, ele vai assistir hoje pra ver se você tem o perfil do Sunset, eu tenho quase a certeza de que tem, mas a palavra final é a dele?”
“Se eu larguei meu antigo emprego para não entrar nesse, eu mato você, Sean Parker.” A minha raiva e meu nervosismo, por algum motivo lhe causou risos. “Qual a graça?”
“Você fica linda com raiva, Miller!”
“Vai se f*der!” Bufo, saindo do seu quarto rapidamente.
“Aonde você está indo?”
“Vou voltar pro Sunset, comer algo antes de começar.” Suspiro.
Eu estava muito nervosa, com medo de realmente ficar desempregada. As duas horinhas de pausa que tive, foram sufocantes. Para pessoas com ansiedade, não ter nada pra fazer é o pior castigo. Quando enfim chegou a hora, Sean estende sua mão para mim.
“Você tem que ao menos fingir gostar de mim, Miller. Eles têm que acreditar no que vão ouvir e a música fala de um casal apaixonado.” Reviro os olhos, mais nervosa do que antes e seguro sua mão. “Caramba, suas mãos estão congelando!”
“Assim como o meu coração.” Tento descontrair a mim mesma, mas a distração é útil por míseros cinco segundos.
“Só alguém muito quente para derrete-lo então... bom saber!” Ele pisca enquanto subimos no pequeno palco. Os garotos da banda já estavam posicionados, o que fez meu coração pular para fora do peito. Quando olho para frente, vejo diversas pessoas me olhando, fazendo meu corpo paralisar. Eu nunca havia cantado para tanta gente. Eu nunca tinha cantado para pessoas que realmente estavam interessadas em me ouvir.
Quando eu ia pensar em desistir, Sean entrelaça nossos dedos e me olha com um sorriso. “Mostra seu talento para eles.”
“E se eles não gostarem?”
“Eles vão. Confia em mim.” Concordo com a cabeça, tentando conter minha respiração. “Feche os olhos e finja que estamos no meu quarto. Esqueça as pessoas aqui.” Balanço a cabeça alegando um sim e me posiciono em frente ao microfone, ouvindo a banda começar a tocar, o que era a minha deixa para começar a cantar.
Minha primeira estrofe foi aterrorizante, mas assim que Sean começou a cantar, eu abri meus olhos, vendo todos sorrindo para nós, o que me fez sorrir aliviada. Nós cantamos a música de forma descontraída, fazendo até umas dancinhas não planejada no meio. Eu não tinha reparado na doçura que era sua voz no ensaio, talvez pelo fato da minha raiva dele ser maior naquele momento, mas era realmente linda.
No fim, todos nos aplaudiram em pé, o que fez meus olhos encherem de lágrimas.
“Você foi ótima, Wendy!” No calor do momento, não hesito em lhe abraçar fortemente, como forma de agradecimento pela sua ajuda. “Você conseguiu o emprego!”
“Como você sabe?” Ele aponta para o pai dele, que estava aplaudindo com alguns amigos do lado.
“Ele está sorrindo e isso é coisa rara!”
Sean estava certo, seu pai adorou nossa performance e sem nem pensar, assinou os papeis que o loiro colocou na mesa sobre a minha contratação.
“Seja bem vinda ao Sunset, senhorita Miller.”
“Muito obrigada senhor Parker. Prometo que não vai se decepcionar.”
“Tenho certeza que não!” O grisalho sorri para mim e se retira dali com a papelada na mão.
“Bem vinda ao time.” Sean me abraça novamente, mas eu logo me afasto envergonhada.
“Que voz é essa?” Otis chega com a boca entreaberta. “Sério, Wendy, eu jurei que estava ouvindo um anjo cantar.”
“Obrigada, obrigada! Deus, isso foi tão mágico!” Solto uma risada tímida e lhe abraço.
“O que acha de sairmos comer algo para comemorar?” Sean sugere.
“Adorei! Vamos!” Otis concorda, porém eu nego com a cabeça, soltando um longo suspiro.
“Não vai dar, eu não trouxe dinheiro.”
“Eu pago.” O loiro sorri, encarando meus olhos. “Qual sua desculpa agora?” Rio cínica, pois aquilo não era uma desculpa, eu realmente não estava com dinheiro nenhum ali.
“Já que você insiste tanto minha presença e que vai pagar para mim, eu vou!” Otis comemora e Sean fica sem graça, tentando não deixar transparecer.
Aquela noite foi incrível, demos muitas risadas e comemos muito também. Deu para perceber que o Sean não é tão ruim quanto eu pensava que fosse e que o Otis é uma das pessoas mais hilárias que já conheci.
Mas tudo essa felicidade acabou, quando eu cheguei em casa e vi o Harry parado em frente a minha porta. Assim que ele me vê, caminha rapidamente em minha direção.
“O que você está fazendo aqui?”
“Eu preciso da sua ajuda, Wendy.” Franzo a testa e cruzo os braços, sentindo calafrios em meu corpo. “Eu estou no meio de uma emboscada e só você pode me ajudar!”
“Que emboscada e como que eu posso te ajudar?”
“Uma garota armou pra mim. Ela assassinou um cara e pediu minha ajuda pra esconder o corpo e agora está me ameaçando. Eu tenho três meses para pagar cinquenta mil reais pra ela, senão ela me denúncia. Minhas digitais estão no corpo e na arma, Wendy. Eu serei preso por um assassinato que eu não cometi.” Engulo seco.
“E o que você espera que eu faça, Harry? Eu não tenho cinquenta mil!”
“Mas sua mãe tem que eu sei. Pega dela escondido, eu prometo que pago aos poucos! Por favor, me livra dessa!”
“Não, Harry! Eu jamais roubaria alguém, muito menos pra ajudar você! Você não merece nada que venha de mim, você foi um otário comigo.”
“Qual é, Wendy? Ainda guarda rancor? Esquece isso e me ajuda, por favor!” Ele suplica, me irritando ainda mais.
“Não, Harry. Você que se envolveu nisso, você que arranje uma forma de sair. Eu não vou te ajudar. Boa sorte!” Entro rapidamente em casa e tranco a porta, com medo de ele tentar algo contra mim. Eu não sabia do que ele era capaz. Do lado de dentro, consigo ouvir os seus resmungos e xingamentos, mas os ignoro completamente respirando fundo.
Eu jamais moveria um dedo para ajudar esse idiota. Por mim, ele apodrecia na prisão. Quem garante que não foi ele quem matou?
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