Coisas estranhas aconteceram nos últimos dias. Sentimentos estranhos também. Eu estava estranho.

Eu não tinha vontade de levantar da cama e muito menos de sair de casa. Faltei três dias de trabalho, simplesmente por não querer ir. Não sabia porquê eu estava me sentindo assim. Meus pensamentos estavam a mil e eu não conseguia controlá-los. Vira e mexe eu estava pensando em coisas terríveis, da mesma forma em que estava tendo pesadelos todas as noites, quais eram os motivos de eu estar à quase setenta e duas horas sem dormir.

E eu estava sendo impulsivo com coisas que não deveria. Por exemplo... quando vejo a Wendy com o Sean. Minhas pernas e minhas mãos se mexem de forma inquieta. Minha respiração acelera, juntamente ao meu coração. Meus pensamentos começam a gritar comigo. Por isso eu saio, antes que eu faça alguma besteira.

Ontem de tarde, eu estava pensando em tudo isso e resolvi tomar uma iniciativa. Marquei horário com a psicóloga da minha mãe, mas não contei para ninguém. Sempre menosprezei a ideia de pagar alguém para te ouvir falar, mas nesse momento, era tudo o que eu precisava.

Então agora, cá estou eu sentado no sofá com a senhora Elisabeth em minha frente, me olhando com um sorriso simpático.

“Bom, Owen, me conte o motivo de sua visita!”

“Eu...” Não imaginei que seria tão difícil falar. “estou me sentindo fraco nos últimos dias. Não... estou conseguindo controlar meus pensamentos. Fico pensando em coisas terríveis e não consigo afastar meus pensamentos.”

“E que tipo de pensamentos são esses?”

“Meus amigos dizendo que me odeia... minha melhor amiga dizendo que sou a pior pessoa do mundo, que eu nunca vou arranjar um emprego de verdade... que não sou bom o suficiente.” Engulo seco e a mulher suspira, fazendo algumas anotações em sua caderneta e me olhando logo em seguida.

“E você tem dormido, Owen?”

“Sim... e não. Eu tento dormir, mas acordo por conta de pesadelos e não consigo mais dormir.”

“O que você tem sonhado?”

“Não sei, cada noite é uma coisa.”

“Me de exemplos.”

“Eu choro e perco o ar em todos eles e não tem ninguém para me ajudar.”

“Como assim perde o ar?”

“Eu fico nervoso, minha respiração acelera, eu começo a ficar ponta e sinto como se tivesse um peso em minhas costas, me impedindo de ficar em pé.”

“Alguma parte do seu corpo dói?”

“Meu abdômen contraí.” Limpo a garganta nervoso por vê-la escrevendo tantas coisas.

“Tem algo te incomodando, Owen? Alguma atitude de seus pais, dos seus amigos...”

“Talvez... eu esteja com ciúmes da minha melhor amiga.”

“Qual é o nome dela?”

“Wendy.”

“Conta um pouco da história de vocês.”

“Nós... nos conhecemos à dez anos. Sempre fomos inseparáveis, fazíamos tudo juntos. Até que... eu comecei a namorar a irmã dela e não a contei. Ela descobriu da pior maneira e passou um bom tempo sem falar comigo. Isso fez eu me sentir um lixo, um merda! Sem falar que ela me substituiu rapidinho por um idiota qualquer, o que me deixou pior ainda, mas eu não havia pedido as esperanças, passei meses pensando em formas de pedir perdão, mas foi muito difícil. Nada parecia bom o suficiente, sabe?”

“Está usando verbos no passado, então quer dizer que já conseguiu o perdão da garota, não é?”

“Sim...”

“E como vocês estão agora?”

“Amigos, mas... quase não nos vemos. Sempre que a vejo ela está com o idiota do Sean e isso me deixa irritado, acelerado... sei lá! Só sei que não consigo ficar perto.”

“E sua namorada? Quase não citou ela na conversa. Ela te ajuda?”

“Ela não sabe de nada disso. Preferi não contar pra ela, para não preocupa-la.”

“Entendi. E me diga, Owen, o que você sente pela Wendy, Owen?” Sinto meus olhos marejarem com a pergunta, mas limpo as lágrimas antes mesmo de elas caírem.

“Eu... não consigo colocar em palavras. Não sei exatamente o que sinto. Desculpa, não consigo responder.”

“Essa resposta diz muito, meu querido. Tem algo mais que queira falar?” Nego com a cabeça. “Ótimo!” A senhora volta a escrever em seu caderno. Fico parado em silêncio a olhando por quase um minuto, até que interrompo o silêncio constrangedor.

“O que eu tenho, Elisabeth? O que está acontecendo comigo?”

“O que está acontecendo, meu querido, é que você se decepcionou. Pensou que se conseguisse o perdão da Wendy, as coisas voltariam ao normal, mas isso não aconteceu. Ela continuou com o novo rapaz e isso te machucou. Pela forma que você se refere a ele, vejo que você se sente superior, sente que é melhor para ela, o que me mostra que você tem vontade de estar no lugar dele. Sua namorada é uma pessoa que te faz bem, mas você não confia nela. Não quer que ela saiba o que você sente pela Wendy. O que você sente por essa garota, querido, é amor. Quando sentimos algo tão forte e intenso que não conseguimos expressar em palavras, é amor. O verdadeiro amor, não aquilo que as pessoas falam que sentem.”

“O... o que está querendo dizer?”

“Você ama a Wendy, Owen. Mais do que amizade. E ver ela se envolvendo com outro alguém, está partindo seu coração.” Naquele instante, era como se eu pudesse sentir o meu coração realmente partido. Era como se alguém tivesse enfiado uma faca e deixado lá. Tudo estava fazendo sentido.

“E... meus sonhos?”

“Sonhos são sonhos, Owen, mas todos tem um significado. Você está sonhando com a solidão, pois você e Wendy eram inseparáveis e agora estão separados. É normal que sinta como se estivesse faltando sua metade, como se estivesse sozinho. E a respiração acelerada, o peso nas costas, a dor abdominal, são sintomas de um ataque de pânico, querido, mas não é real, é apenas um sonho.”

“E... eu posso ter isso na vida real? Ataque de pânico?”

“Você está com ansiedade, Owen. E ansiedade pode causar sim ataque de pânico, mas apenas se você não tomar os devidos cuidados.”

“Quais? Quais cuidados?”

“Vou te receitar um remédio e você não pode parar de toma-lo, mas o que pode realmente te ajudar, querido, é você ser sincero consigo mesmo sobre o que você sente e tentar fazer algo a respeito. Às vezes você está com o coração partido por ter ficado em silêncio.”

Aquela conversa, fez tudo fazer sentido. Fiquei impressionado com as conclusões que ela chegou, apenas por me ouvir falar algumas coisas, mas admito que fiquei assustado por estar com ansiedade. Nunca pensei passar por isso.

Compro o remédio na farmácia e dirijo até em casa. Quando chego lá para minha surpresa, vejo Madison sentada no sofá com a minha mãe conversando.

“Amor! Onde você estava? Estávamos tentando te ligar!”

“Eu... fui dar uma volta! Deixei o celular no quarto, perdão!”

“E que remédio são esses?” Minha mãe questiona.

“Pra dor de cabeça. A minha está latejando!”

“Me pedisse que eu tinha em casa.” Mad diz, beijando minha bochecha.

“O que está fazendo aqui?”

“Apenas vim te dar um oi e trazer as decorações da sua festa.”

Caralho, minha festa! Tinha esquecido completamente.

“Comprei tudo já, amanhã venho cedo para decorar! Só não esqueça de encomendar as bebidas.”

“Pode deixar!”

“Vocês dois juízo, viu? Quero minha casa inteira quando voltar!”

“Relaxa, sogra! Prometo que vai estar!”

Eu não tinha tanta certeza...

No dia em que dei a ideia da festa, eu
estava decidido a sair dessa bad e me divertir, mas vejo que essa foi a pior ideia que eu tive.

A casa estava toda escura, iluminada apenas por luz negra, qual deixava minha camisa branca extremamente chamativa. Havia tintas neons por toda parte, Madison disse que pintar a cara vai ser a primeira coisa que os convidados vão fazer ao chegar aqui.

“Amor, gostou da decoração? Viu os copos e os canudos neons? E aqueles balões ali? Lindos, né?” Ela havia se esforçado muito pra isso.

“Está tudo perfeito, bebe. Você deveria se tornar organizadoras de eventos e eu estou falando sério!”

“Eu ia amar!” Sorrio e selo nossos lábios lentamente. “Eu comprei uma coisa para que essa seja a melhor noite da sua vida. Sei que você anda meio cabisbaixo e tudo bem não saber o porque, mas hoje, nada e nem ninguém vai te atrapalhar.” Franzo a testa a encarando.

“O que é, amor?”

“Promete não ficar bravo?”

“Diz logo!” A morena ergue um pequeno plástico com dois pedaços de papel dentro. “LSD, Madison?”

“É seu aniversário, Owen! Tudo bem se divertir um pouco! É só uma vez, você não vai morrer!” Em qualquer outro momento da minha vida, eu negaria, mas eu estava tão devastado e com medo de dar merda, que aceitei. Aceitei na esperança de pelo menos por UMA noite, não ficar pensando em coisas ruins.