•Capítulo Trinta e Oito•
Todos os anos no dia do aniversário do Owen nós saímos juntos. Era o único dia em que nos dávamos a permissão de beber até tarde da noite e trocar conversas aleatórias. Ele nunca foi muito afim de festas, mas pelo jeito as coisas mudaram.
Coloco um vestido branco e faço uma leve maquiagem, encarando o celular a cada cinco minutos, esperando para receber alguma mensagem do Sean. Por mais que Owen more aqui do lado, Sean faz questão de chegar junto a mim lá.
No mesmo segundo em que calço meu tênis (eu jamais usaria saltos, não adianta nem tentar), ele manda uma mensagem dizendo que chegou. Desço rapidamente as escadas pegando o presente do Owen e entro em seu carro.
“Uau, você está linda!”
“Eu SOU linda, Sean!” Brinco, o fazendo rir.
“Que bom que você sabe, Wendy Miller. Vamos?”
“Nós praticamente já chegamos, né querido?”
“Poupamos alguns metros de caminhada, deveria me agradecer.” Reviro os olhos e mordo os lábios. “Vamos logo pois já estamos atrasados!”
Em questões de segundos, estávamos lá. A rua dele estava lotada de carros e sua casa estava aparentemente lotada. Quando chegamos em frente a porta, toco a campainha e o Owen, visivelmente alterado abre a porta!
“Wendy!” O moreno me abraça, quase me erguendo no colo.
“Feliz aniversário!!” Digo o abraçando e assim que ele me coloca no chão, ele encara Sean com um leve sorriso no rosto e o cumprimenta.
“Fala, Sean!”
“Parabéns, Scott!” Sean diz e Owen me encara novamente e eu reparo que a cor azul dos seus olhos tinha praticamente sumido e sua pupila estava maior do que nunca.
“Owen, você se drogou?” Questiono pegando em seu rosto.
“Nossa, tá tão na cara assim?” Ele ri. “Relaxa, Wendy! É meu aniversário! Vamos nos divertir!”
“Madison usou isso também?”
“Ela que deu a ideia!” Ele ri e volta a dançar no meio da multidão, encarando Sean com lágrima nos olhos.
“Ei, linda, calma! Vamos ficar de olho neles, ok? Nada vai acontecer!”
“Ele nunca tinha se drogado, Sean! E nem a minha irmã.”
“Adolescentes hoje em dia usam drogas. É normal! Não que eu concorde, porque não concordo, mas é normal! Não se viciando, está ótimo!”
“E como ter certeza de que eles não vão se viciar, Sean?”
“Wendy, foi uma escolha deles, ok? Vamos curtir a noite, é uma festa! Vamos nos divertir!” Respiro fundo, encarando Owen e Madison dançando. Eu estava com raiva deles, mas não iria deixar isso me afetar.
“Preciso de uma bebida!” Caminho até o balcão, virando os copos que via em minha frente, fazendo Sean rir.
Naquela noite, eu perdi a noção do tempo. Estava dançando loucamente com o Sean, não pensando em absolutamente em nada, até que a Madison vem falar comigo, fazendo eu voltar para minha sobriedade.
“Eu vou ter que ir embora. Aly está vomitando horrores e Any não está em condição de leva-la pra casa.”
“E você está?”
“Eu não bebi, Wendy. Só fica de olho no Owen. Ele não tá muito bem! Vou ver se consigo voltar ainda hoje, mas não sei.”
“Tudo bem, eu fico de olho nele!” Ela sorri e beija minha bochecha, saindo rapidamente dali.
“Você é babá agora?”
“Não, Sean. Sou amiga! Amigos cuidam um do outro!”
“Então vem cuidar de mim!” Ele morde os lábios e então eu volto a beijá-lo. Ficamos assim por longos minutos, mas em um determinado momento quando abri os olhos, percebi que todas as pessoas estavam juntas na frente da escada, gritando para alguém pular.
“O que tá acontecendo?” Me desvencilho do seu toco e caminho lentamente até lá.
Estava tudo muito bom para ser verdade.
Owen estava em cima do corrimão do segundo andar de sua casa, encarando fixamente o chão, com muito suor escorrendo pelo seu corpo. Os convidados estavam em volta gritando para ele pular, o que me deixou indignada.
“Owen!” Grito e subo as escadas rapidamente, me aproximando lentamente dele. “Seja lá o que você esteja fazendo, desce daí, por favor!”
“Não! Não, Wendy! Não vou descer!”
“O que você quer fazer? Pular? Quebrar um osso? Bater a cabeça e morrer? Não faça isso.”
“Eles querem que eu pule. Não tá ouvindo?”
“Eles são um bando de pessoas bêbadas e drogadas que não fazem ideia do que estão falando.” As únicas pessoas que não estavam rindo eram Ian, Otis, Sean e Brittney naquele momento. Eles queriam se aproximar, mas eu não deixei. “Eu não quero que você pule, Owen! Por favor, não faça isso! Segura a minha mão.” Estendo minha mão. Sinto meu coração quase sair pela boca quando seus olhos marejados se conectam com os meus. “Por favor.” Imploro, fazendo o moreno por fim segurar minha mão e descer daquele corrimão. Solto um suspiro de alivio e o abraço fortemente, sentindo meus olhos quase transbordarem.
“Irmão, o que foi isso?” Ian questiona se aproximando, mas Owen, com os olhos arregalados e com a boca entreaberta, apenas olha cada um de nós e caminha lentamente para o quarto.
“A festa acabou, pessoal! Todo mundo saindo!” Sean expulsa todos da casa grosseiramente, o que foi ótimo, pois em questão de três minutos, a casa estava completamente vazia, apenas com nós cinco em pé se encarando.
“É melhor vocês irem.” Falo engolindo seco. “Eu vou falar com ele, mas ele só vai se abrir se estivermos sozinhos!”
“Não espera que eu te deixe sozinha com ele, né?” Sean pergunta me fazendo revirar os olhos, mas antes que eu pudesse falar algo, Ian toma a frente.
“Sean, não é hora para ciúmes. Por algum motivo ele ia pular dessa merda e se tem alguém que ele confia é a Wendy. Vamos deixar eles sozinhos.”
“Ok.” O loiro engole seco. “Qualquer coisa me liga!” Forço um sorriso e faço um sim com a cabeça, me despedindo de todos com um abraço.
Assim que fico sozinha com ele na casa, começo a ouvir seu choro. Subo rapidamente as escadas, o encontrado sentado no corredor, com a cabeça entre os joelhos.
“Ei! Owen!” O abraço fortemente. “Ei, eu estou aqui!”
“Wendy, faz isso parar!”
“Isso o que?”
“Essas coisas que eu estou vendo, que estou ouvindo. Faz parar!” Engulo seco me lembrando que ele ainda estava sob efeito de drogas.
“Eu não sei o que fazer, Owen! Não sei se tem como parar!”
“Deve ter um jeito, pesquisa, por favor! Eu não quero mais te ouvir falando aquelas coisas!” Eu gostaria de saber o que que ele estava me ouvindo dizer, mas seu sofrimento era visível e estava me matando por dentro.
Pesquisando no google, vi que leite pode cortar o efeito da droga, mas isso de ingerido em quantidade. Não penso duas vezes antes de pegar duas caixas na cozinha e levar até ele. Ele toma com dificuldade e tenta hesitar, mas eu não deixo. No fim da segunda caixa, sua respiração estava mais calma, então me sento do seu lado.
“Eu nunca vi pessoas usarem lsd e ficarem da forma que você ficou. Era pra... trazer uma sensação boa, não era? Por isso que é uma droga...”
“Acho que drogas só trazem uma sensação boa se a pessoa não estiver mal. Com pensamentos negativos. Eu não sabia disso... se soubesse não teria usado.” Suas palavras me fazem engolir seco e então eu encaro seus olhos azuis encharcados.
“Você está mal?” Meu questionamento o faz suspirar e desviar o olhar.
“Eu... estou com ansiedade. Não tenho dormido direito e quando durmo, tenho pesadelos onde estou tendo ataques de pânicos. Sei que é besteira!”
“Owen, não é besteira!” Me viro para ele. “Ansiedade é uma coisa séria e você jamais pode menosprezar essa doença.” Uma lágrima escorre do seu rosto. “Desde quando isso?”
“Fazem algumas semanas, mas só fui na psicóloga alguns dias atrás.”
“Por que não me contou antes? Eu podia te ajudar, eu...” Ele me interrompe, colocando o indicador nos meus lábios.
“Você está feliz agora, Wendy. Você merece ser feliz. Não queria te arrastar para o buraco negro que estou vivendo.”
“Mas você é meu melhor amigo, Owen. Se você estiver em um buraco negro, eu não quero estar fora dele. Eu quero estar dentro e te ajudar a encontrar uma saída.” Um leve sorriso se forma em seus lábios, mas em seguida ele volta a chorar silenciosamente. “Madison sabe disso?”
“Não. Ninguém. Você é a única. Não queria preocupar ninguém.” Engulo seco.
“Bom... obrigada por ter me contado. Não esconda mais nada de mim, Owen. Você não precisa...”
“Tem uma coisa que... eu escondo a muito tempo, mas que eu queria te contar, mas não sei como. Eu precisaria estar muito bêbado para isso.” Ele ri, me deixando sem palavras o encarando. “O que foi? Não quer que eu beba, né?’
“Você sabe o quanto que eu sou curiosa, não sabe, Scott? Eu... cuido de você depois. Nada de ruim pode acontecer.”
Eu jamais o incentivaria para beber, mas naquele instante, a minha curiosidade falou mais alto. Eu queria saber o que ele tinha pra falar.
“Meu medo não é ficar bêbado, Wendy. É o que vai acontecer depois. Tem certeza que quer saber?”
“Não posso ter certeza sem saber...”
“Tenho medo que se arrependa.”
“Eu não quero me arrepender por não ter escutado, Owen. Aposto que será pior.”
“Ok. Espero que... tenha sobrado algumas bebidas.”
Depois de mais ou menos uma hora jogando conversa fora enquanto ele bebia, o silêncio se instalou entre nós. Estávamos sentados em sua cama, com uma certa distância entre nossos corpos. Eu não queria pressioná-lo para falar e também não sabia se realmente queria ouvir, mas eu nunca saberia.
“Eu... estava distante ultimamente. Dizia sempre estar com minha mãe, mas... era mentira. Minha mãe nem aqui estava o tempo todo. Eu falava isso por que...” O moreno engole seco e novamente é possível de enxergar lágrimas em seus olhos. “Por que não aguento te ver com o Sean, Wendy. Eu sei que é ridículo, mas é mais forte do que eu!” Minha respiração para por alguns instantes e eu fico mais pálida do que já sou, sem conseguir falar nada. “Eu sei que sou um lixo de pessoa por isso. Fui eu quem caguei com tudo. Eu que fui um idiota com você, que menti pra você, que comecei a namorar sua irmã escondido e...” O interrompo.
“Não se sinta um lixo por isso, Owen! Já passou! Eu já perdoei você!” Passo a mão em seus cabelos na tentativa de acalmá-lo, mas ele tira minha mão nervoso enquanto as lágrimas escorrem no seu rosto. Ele tenta conte-las, mas não consegue.
“Eu sou um lixo sim. Sou um lixo porque fiz tudo isso... pra não ter que dizer como realmente me sinto! Fiz tudo isso porque sou um covarde, Wendy!” Ele se levanta e começa a andar de um lado para o outro impaciente, enquanto puxa seus cabelos.
“Eu não estou entendendo, Owen.” O moreno respira fundo e se senta na ponta da cama, encarando o nada.
“Eu sempre fui apaixonado por você, Wendy. Desde o dia em que nos conhecemos. E esse sentimento sempre me apavorou, porque... olha pra você! Você é tão completa, tão cheia de si, tão decidida... nunca daria a mínima para mim dessa maneira. E eu tive a certeza disso, pois você sempre me recusou, mesmo que fosse em brincadeiras.” Suas palavras estavam confusas por conta do álcool, mas não mais confusas do que as batidas do meu coração naquele momento.
Owen estava se declarando para mim e eu não sabia o que fazer.
“Depois de anos apaixonado por você sem nunca ter um retorno, um pingo de esperança... eu prometi para mim mesmo que iria te esquecer dessa maneira e... ser feliz com outra pessoa. Foi bem na época que sua irmã tinha terminado o namoro com o Jason. Eu não me aproximei dela pois vi que o coração dela estava partido, assim como o meu e a amizade dela acabou me fazendo muito bem. Depois de alguns encontros, percebi que estávamos apaixonados... foi tudo muito rápido! Ela me faz muito bem e eu pensei que isso seria o suficiente, sabe? Mas a questão, é que ela não é você!” Ele se aproxima de mim, fazendo minha respiração parar. “Eu não consigo amá-la do jeito que eu te amo, Wendy.”
“Você me ama?”
“Sempre te amei. Sei que talvez seja tarde demais para dizer e sei que fui um covarde por não ter dito antes. E sei que estou sendo um covarde por estar te dizendo isso bêbado, a verdade é que eu sou um covarde!” Encaro seus olhos, sentindo meu coração palpitar. “Um covarde que ama seus olhos, seu sorriso, seu corpo, sua risada.... um covarde que te ama mais do que tudo no mundo e que mesmo se esforçando, não conseguiu deixar de te amar.”
Eu não sabia descrever o que eu estava sentindo naquele momento. Não sabia dizer se era bom ou ruim e muito menos imaginar o que seria dali pra frente, mas tinha uma coisa que eu sabia. Eu sabia que naquele momento, beijá-lo era a coisa que eu mais queria fazer.
“Fala alguma coisa, Wendy... por favor!” Ele abaixa a cabeça, mas eu a levanto e selo nossos lábios.
Nosso beijo se encaixou perfeitamente. Assim como os nossos corpos. Era como se fossemos feitos um para o outro. Eu sentia meu sangue fervendo e não queria que aquilo acabasse. Eu me senti segura em seus braços, mais do que já tinha me sentido em qualquer outro momento da minha vida.
O que eu estava sentindo naquele momento, era com certeza a coisa mais intensa que já senti em toda a minha vida.
Mas admito que eu estava com medo do depois.
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